sábado, 29 de maio de 2010

A gata malhadinha

Estávamos no mês de Maio. A temperatura era suave, própria dos dias de Primavera.
A gata, malhadinha, tinha parido, algures no palheiro e ninguém conseguia chegar aos gatos, sempre atentamente guardados e protegidos pela gata mãe.

Os dias foram passando, e numa tarde da passada semana, quando ninguém esperava, a malhadinha,  veio colocá-los num canto, junto da máquina de lavar roupa e, descansada, deitou-se a dormir uma soneca.

Eram duas gatinhas brancas e uma amarela e branca. Todas de olhos azuis, e com ares de poucos amigos.

Sempre que viam alguém aproximar-se, fugiam e não havia nada a fazer. Ficavam quietas, em silêncio num canto onde ninguém as pudesse importunar. 

Bastava um miar da mãe, para  saírem do seu canto e, todas à uma, agarravam-se às tetas da gata que não largavam até estarem satisfeitas.

Foram dias de adaptação ao nosso quotidiano na família. Mais uns quantos para alimentar. 

Por outro lado a graciosidade dos bichanos não nos deixa de modo algum indiferentes. As suas corridas e as suas tropelias, são autenticas acrobacias de marionetas, que nos despertam a curiosidade e nos arrancam largas gargalhadas.

Apareceram pretendentes  para ficarem com os animais.
Como já temos seis, não há necessidade de ficar com mais estes agora. 

No fim de semana fui mudar o carro e a gata  seguiu-me.
Saí do carro, e fui à minha vida. 
Mais tarde tive necessidade de voltar a sair e então reparei que a gata tinha ficado presa no portão automático.

Os gatos passam por cima do portão e das paredes e pouco se importam que esteja aberto ou fechado, mas desta vez escolheu passar quando o portão se fechava sozinho e fê-lo na pior altura.

A célula do automático que trava o portão, está a uma altura superior ao tamanho de  um gato. Daí  a gata ter ficado presa e sem hipótese de alertar ninguém. Ficou com as goelas apertadas.

Nem sabia o que fazer pois gostava muito desta gata pelas suas cores branca,amarela e preta, mas também pela sua amizade a todos nós.

Facilmente se deixava agarrar e até os mais pequeninos gostavam de lhe fazer festas ao que ela sempre correspondia com toda a simpatia.

E agora o que vai ser destes gatinhos...? Sem mãe e ainda tão pequeninos...!
Comecei por lhes dar água e migas de pão com leite.
Se comerem salvam-se, mas se não comerem será pior para eles.

No fim do primeiro dia verifiquei que tinham comido tudo, mas ainda assim fiquei na dúvida se teriam sido eles ou o guloso do tobias. Um gatão que está sempre de olho nas melhores coisas que aparecem.

Procurei um sítio onde o tobias não pudesse entrar e então era vê-los felizes a comerem.
Um dia, ao almoço, sobrou carne de frango. Tirei-lhe os ossos e fui levar-lhe a carne.

Começaram a comer com sofreguidão e fazendo aquele barulho típico dos gatos com medo que alguém lhes tire o seu pedaço de carne.

Para os poder domesticar agarrei-os e coloquei-os numa jaula com água e farinha e todos os dias brinco um pouquinho com eles para os tornar sociáveis.

Parece-me que já estão livres de perigo. Já se habituram à ausência da mãe
Talvez os venham buscar na próxima semana. Espero que os tratem com carinho.

Esta semana irei ainda tentar dar-lhe um banho com água morna e champô insecticida, para eles ficarem com um ar mais bonito. A mãe lambia-os e eles ficavam mais brilhantes.

Pode ser numa tarde de Sol bonito que eles tenham o seu primeiro banho e eu fique com as mãos ainda mais arranhadas e mordidas. São coisas que deverão ser feitas por uma questão de higiene.

Não salvei a mãe, mas salvei os filhos.

Cria-se uma empatia entre os gatos e eu. Só fico satisfeito quando eles se dão pelo nome e se tornam meus amigos.

Geralmente isto acontece em poucos dias. Os animais aprendem a conhecer-nos e a gostar que os mimem com pequenas festas no dorso ou na parte do pescoço.

Os gatos afeiçoam-se às pessoas que os tratam e são reservados com as restantes, afastando-se por precaução ou timidez.

luíscoelho

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Pesar as palavras

Pesei as palavras com os olhos
E medi-as nos passos do tempo.
Escolhi as que andam no vento
E prendi-as no pensamento.
Palavras leves, livres, universais
Palavras duras, pesadas demais,
Palavras de dor e tormentos reais,
Palavras soltas dos pensamentos, 
Sopradas sem bons sentimentos,
Onde os passos se tornam lentos
E as medidas vão ficando vazias.
Mas todos sabemos falar e cantar
Palavras belas e cheias de amor
Palavras simples sem raça nem cor
As que fazem um mundo melhor
Conquistando a concórdia e a alegria
E nos ensinam a certeza de amar.
Luíscoelho

terça-feira, 25 de maio de 2010

Quem sou eu





A minha voz perdeu-se gota a gota,
Na chuva e na terra ressequida,
Com os gritos do vento enlouquecida,
Atirou-se em vendavais de saca rota,
Semeando as palavras que não disse.


Andei sem nada, agarrando os próprios gritos,
Vesti as cores de árvores imaginárias,
Desfolhei os ramos de folhas solitárias,
Senti as mãos tecendo aqueles ritos,
Esvaziando no olhar as sombras tristes.


Ouvi o chão respirar de pensamentos,
E as folhas que se enchem de lamentos.
Já não sei a cor dos lábios que beijei
Nem das vidas e tormentos que passei
Pergunto apenas quem sou eu aqui presente ?


Luíscoelho

sábado, 22 de maio de 2010

Salamanca 2ª parte




Catedral de Salamanca, uma rua e um melro nas flores - Abril/2010
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Os rios do tempo

O tempo passou, e marcou aqui e ali,
Com beijos claros, suaves, profundos,
Um rosto de horas paradas, já idas, 
Perdidas no lento correr destes rios,
Que gemendo se tornam mais frios,
Nas noites que escondem os mundos.


Cantilena  simples, sem rima nem sina,
Nascendo num choro de silêncio e paz,
Ouvindo a brisa suave que anda no ar 
Nas noites escuras que de estrelas se faz.
E cantando alegre sem medo e sem norte
Por vales e montes descendo a colina 
  
As correntes pesam os leves gemidos 
Que cruzam os tempos de muitos sentidos
É um grito que sai de dentro do mar
Com outro que vem do bosque a brincar
E caminhando sempre no vale do tempo
Agarrando a certeza que nos faz amar
Luíscoelho

Salamanca - Abril/2010




Alem da beleza dos monumentos existem lindos canteiros de flores e todo o espaço envolvente limpo.
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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mataram-me o coração

Perdi o meu olhar,
Mataram-me o coração.
As mãos ficaram presas
No meio de tanta ilusão,
Sem esperança nem certeza
Ódio, guerra e avareza 
De tantos nossos irmãos


Os pés andaram errantes
Pisando o chão que se via,
No olhar de uma criança,
Em busca que não alcança
E a fome que adormecia,
Num desespero constante
Morrendo em lenta agonia.


Ouvi os ventos soprando 
Metais e bombas sem dias,
Nos campos de guerras frias.
Ouvi os gritos morrendo
E tantos meninos correndo,
Na dor de tanta agonia
Por pão, paz e harmonia.
luíscoelho

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Sonhos

Perdi-me no tempo e andei com os ventos
Nos campos de trigo e searas maduras.
Passei e sonhei em prados e montes
Vi campos floridos de sombras e fontes.
Desci muito fundo e subi às alturas
Na doce ternura daqueles momentos.


Prendi-me nos  ramos erguidos ao céu
E colhi o perfume nas manhãs frias.
Vesti-me com os raios do sol nascente
E  gotas de orvalho, cristal transparente
Cantei livremente por noites e dias
Com todo o amor que Deus me deu


Cantei o silêncio soprado das nuvens
E tantos sorrisos na brisa da manhã
Esqueci as mágoas que tristes vivias
E aquelas dores que também trazias.
Com toda a coragem que vivo e sou fã 
Vesti-me de novo com outras roupagens.
Luíscoelho

terça-feira, 11 de maio de 2010

Retalhos da vida

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Hoje tenho vontade de falar de ti. Não sei bem o que escrever nem como fazê-lo. 
As coisas que nos contavas, dava um livro muito grande. Um romance. Um grito de coragem. 

Aos poucos revejo os quase sessenta anos de convívio de encontros e desencontros.
Relembro os teus conselhos, os teus pontos de vista. A tua experiência de saber estar e saber viver.
Relembro a tua capacidade de ouvir e aconselhar o caminho melhor.

Não terei lágrimas suficientes para chorar a tua partida. Quero apenas recordar sempre a tua serenidade quando nos olhavas com o azul doce e profundo dos teus olhos.

Nem sempre estivemos de acordo e sabias que eu não tinha razão, mas deixavas que eu fizesse como queria e desse asneira. Depois mostravas-me como eu estava errado e ajudavas a reconstruir  tudo de novo.

Quantas noites te tirei o sono porque ficavas acordado a pensar como resolver os meus problemas. Às vezes, quando acordava, já tinhas iniciado algumas tarefas que eu devia fazer e sorrias dizendo:
- Agora tu vais ajudar-me. Tenho ali uma coisa que também não consigo fazer sozinho.
Bonitos estes dias em que brincávamos construindo o meu futuro.

Recordo algumas frases:
«nunca peças a quem pediu e não sirvas a quem serviu»

É um ditado popular que transformava a tua vida. Eras incapaz de ir ali ao lado pedir uma ferramenta emprestada, um punhado de sementes ou outra coisa que fosse necessária nessa altura.
Procuravas sempre ver todas as outras soluções. Acabavas resolvendo tudo sem pedir nada aos outros.

Muitas vezes as pessoas emprestavam, mas ficavam com medo que não devolvessem ou que as danificassem. 
Sempre nos ensinaste a resolver os nossos problemas e a não ter medo de enfrentar as situações adversas.

Quando casaram em 1943 não tinham tudo aqui em casa e o forno para cozer o pão fazia-lhes muita falta e numa noite enquanto ceavam a mãe disse-lhe:

- Luís, amanhã vais comigo a casa da minha mãe para cozermos o pão.
- Está bem, mas será a última vez. Na próxima semana, já teremos aqui tudo pronto para fazeres o pão cá em casa. O forno vai ser concluído ainda hoje ou o mais tardar amanhã.

Levantaram-se cedo e lá foram eles até ao outro lado da povoação. Um levava a lenha e a água e outro a farinha e os restantes ingredientes. Enquanto a mãe amassava o pão o pai acendeu a fogueira no forno e foi vendo se aquecia até a massa levedar.

Ajudava ainda a colocar as bolas de pão no forno e depois regressava  a casa. 
A mãe ajudava a avó enquanto o pão cozia no forno.

Nessa tarde, foi procurar o pedreiro e combinar o dia em que o mesmo poderia vir concluir o o nosso forno. 
Só faltava mesmo a fornalha.

A mãe dizia que eras teimoso, mas  essa  teimosia era positiva e era o teu próprio selo. Enfrentar as situações e resolvê-las com dinamismo e simplicidade.

Recordo também a tua calma frente ás adversidades. Não era fácil aborrecer-te.
Sabias desculpar como ninguém e ainda ajudar a que as outras pessoas compreendessem as falhas humanas.

Lembro daquela vez que andávamos todos na vinha e a mãe foi, levar-nos o almoço. Aquilo era um piquenique ali sentados na terra à sombra das videiras mais altas.

A mãe pousou o cesto no chão. Estendeu uma toalha e chamou-nos para almoçar. Foi dispondo as coisas em cima da toalha e só então viu que se tinha esquecido dos pratos. Quando reparou na sua falta começou com lamentações. 
- Mas que esquecimento o meu ....e agora  como é que posso dar-vos o almoço...?

Lembro de lhe dizeres:

 - Deixa lá isso, nós temos cá a comida, vamos inventar uma maneira de nos safarmos como pudermos. O mais importante trouxeste. Não te estejas a mortificar !
Duas pessoas podem comer na tampa da panela da sopa. Leva pouco, mas vão acrescentando como quiserem

Outros dois podem comer no tacho da carne. Retira-se a carne para outra coisa.
Quem não gosta da sopa pode começar a comer o "conduto" e parece-me que já estamos mais ou menos entendidos.

Vamos lá pessoal que a seguir querem dormir a sesta e o calor vai apertando.

No final todos acharam graça e a mãe acabou sorrindo com a brincadeira.

Outro dia continuarei com mais histórias que fazem os retalhos da vida.
Luiscoelho




domingo, 9 de maio de 2010

Jesus

Posted by Picasa
Procurei-te na noite escura
Busca louca, ambiciosa e dura
O tempo e o vento me impedia
De procurar-te nas coisas que via.
O Sol era avesso à minha procura
E o relógio em profunda agonia
Tornava maior esta minha loucura.
Acenderei velas na encostas do tempo
E pedirei à Lua que segure o vento
Guardo a certeza de te reencontrar
Aqui ou além em algum outro lugar
Quero amar-te sem nenhum lamento
Nestes caminhos torcidos de vento.
Procurarei estradas viradas a norte
Caminhos batidos sem arte nem sorte
E outros para o sul, a leste e a poente
Seguirei sempre o coração presente.
luíscoelho

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sombras da noite


Lentamente a luz desaparecia
No entardecer calmo do dia.
A terra parecia adormecer
Nas asas dos pássaros esguios,
Cruzando os céus com seus pios
Na procura dum sítio para se acolher
Um ramo seguro para adormecer.

As árvores giravam em rodopio
Dançando com as aves perdidas
E por entre os ramos se agitavam 
Naquela luz a esvair-se em fio.
O tempo emudeceu as que gritavam
Nas tintas matizadas  e adormecidas 
Das telas mais perfeitas e coloridas. 


As estrelas brilharam no céu,
O silêncio veio abraçar- nos
Escondendo os olhos num véu. 
Luíscoelho

terça-feira, 4 de maio de 2010

Escrever com o vento

Posted by PicasaFoto na Igreja de Santo António do Olivais - Coimbra

Quero escrever-te com o vento 
E a  força das minhas mãos
Coisas simples cá de dentro,
Geradas com amor no coração.
Quero escrever o que vivo e sinto
Correr-me nas veias e no pensamento
E ainda aquelas que o vento leva e eu consinto
Porque me rasgam num emaranhado labirinto.
Quero escrever as esperanças, 
Aquelas que a saudade não apagou
Porque estão vivas nestas lembranças
Que se levantam com os tempos e as mudanças.
Quero escrever as grandes alegrias
As coisas boas que vivemos e fizemos
Abraçados no amor das manhãs frias
Esquecendo a força desse mar de ventos
Que nos acorda nas areias de lamentos.
Quero escrever tudo quanto me dizias
Porque as sombras do vento são vazias.
luiscoelho

domingo, 2 de maio de 2010

Mami

Ser mulher é lindo
Basta nascer
Ser esposa é belo
Basta amar
Ser Mãe é difícil 
Basta sofrer
(Paula Pinto)