domingo, 24 de maio de 2015

Não quero mas quero


Não quero acordar-te,
Mas quero ver-te dormir.
Olhar-te bem perto, 
Sentir o teu cheiro
Dizer-te o que sinto sem nunca mentir. 
Quero ver-te por dentro,
Desenhar-te nos sons do olhar,
Passagens por onde entro
Me sento e me deixo ficar.
Somos um lago de sonhos
Nas cores que queremos pintar,
E sem querer nos deixamos andar. 
Mas, se trocados os tempos, 
Os ventos não hão-de parar.
São esperanças tardias 
Que nos enchem a alma no aroma dos dias. 
São olhares furtivos 
Da arte como se roubam os beijos
Que do amor nos deixam cativos.
Quero mesmo acordar-te.
luíscoelho
Maio, 24-2015

domingo, 17 de maio de 2015

Franciete Filipe -Poema de aniversário


Recebi estes poemas no dia 15/05/2015 - dia do meu aniversário natalício.
Aproveito esta publicação para agradecer a simpatia, o carinho e tanta amizade de todos vós.
Bem-hajam pela força de amor transmitida.

Obrigado aos autores dos poemas 
Franciete Filipe e Fernando Gameiro


Para o Luís Coelho
vai a minha
Saudação Amical !...

Que este dia de ANIVERSÁRIO
seja para ele um portal
para anotar em seu diário :
- Aquele que "remoçou"
detem no seu quintal
uma "fonte de águas vivas",
donde jorra um caudal
de FELICIDADES mil
e da juventude, elixir...

Por isso, vai o Luís
seu nome ter em "menhir" !...
E para os jovens, seu "vivencial",
exemplo será no porvir...

Como Coelho, de seu nome será.
Vivendo feliz, a cantar e a rir,
sua terra encantará
e a seus pés, a aldeia verá...

Como parceiro "Ancião",
pelos actuais "meios etéreos"
envio
PARABÉNS !
E desejo longa vida,
para mais um milénio,
com saúde , alegria,
paz
e memória fixe !...

Fernando S.Gameiro
                                                                                             

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Recado à Mãe


Foto de perfil de Mãe Virgínia Rodrigues

Guardo uma mão-cheia
De lindos sorrisos,
De palavras suaves 
E de beijos vividos.
Foram momentos queridos
De aromas silvestres.
Guardo ainda as cores
Com que me vestias 
Nas manhãs frias.
Foram muitas as roupas 
Que o teu olhar me fez respeitar.
E guardo as dores 
Que também me despias 
Nas tardes ventosas. 
Foram camisas rasgadas 
No amor que tu vias.
E aquele calor 
Com que me abraçavas 
E me aquecias.
Foi lá nos teus braços 
Onde aprendi o sabor do pão
E onde encontrei a palavra perdão, 
Tatuagens perfeitas  
Com amor e razão.
Maio.2015.08
luíscoelho


sexta-feira, 1 de maio de 2015

Fórnea - Alvados - Porto de Mós




Era Domingo. A tarde estava amena. Depois do almoço arrumamos a casa. Por todos não custa muito.
Levaram-se os talheres para a cozinha e enquanto um os ia colocando na máquina, outros começaram na limpeza do chão e da mesa colocando uma toalha  lavada e uma jarra com flores.
Parecia que esperávamos por mais visitas durante a tarde.

Vamos fazer um passeio?
- Gostaria de ir à Fórnea. Disse-nos a Lia. Vocês não conhecem e aquilo é muito bonito.
Muitas das nossas actividades como escuteiros foram realizadas naquelas encostas. 
Não é fácil subir a montanha com a mochila carregada. É preciso força e determinação. Visto da base parece fácil, mas o terreno é muito acidentado. Grandes fragas que temos de contornar. 

Em alguns recantos, cercados de muros de pedra solta, existem bois aproveitando a magra pastagem que resiste entre as pedras nuas e secas.
Precisamos de seguir o nosso caminho sem os interromper nem provocar. Nunca se sabe a reacção de um touro.
Um dia estávamos quase no cimo. Um dos rapazes quis aliviar as costas do peso da mochila, mas deixou-a cair por ali abaixo. Depois teve de descer e voltar a subir com ela às costas. Uma pequena distracção atrasou toda a equipa. Ninguém pode avançar sem estarem todos juntos.

Os nossos olhos corriam apressados no serpentear das pedras que formavam um caminho no fundo do vale. Ao lado, num plano mais fundo, havia um ribeiro completamente seco. As marcas da passagem da água eram visíveis. Nos dias de Inverno quando a chuva cai dias e dias seguidos aumenta o caudal do ribeira que agora nos mostra o fundo completamente seco e algumas lages planas e polidas.

O perfume das ervas aromáticas enchia-nos os pulmões. Rosmaninho, alfazema, funcho, erva de Santa Maria ou erva pimenta, alecrim e muitas outras distribuídas graciosamente por entre as fragas.
Parece que a cada subida a alma se tornava mais leve.
Seria um acto de agradecimento a Deus por todas estas maravilhas. 
Aqui a mão do homem ainda não alterou a matriz inicial. A Natureza viva como no início da criação.

Inesperadamente encontramos uma pequena fonte. 
Até parece que Alguém pensou em saciar-nos de água fresca. Alguém que sabia de tanta aridez e achou por bem colocar ali aquela bica para que os passarinhos e todos os outros animais pudessem saciar-se e amenizar a caminhada pela encosta da Fórnea.  

- Alguns metros mais acima e mais à frente vamos parar, informou de novo a nossa guia, a Lia.
Depois a subida é ainda mais acentuada e não existe caminho nem outro trilho que nos leve lá acima. Regressaremos pelo mesmo caminho. 
Enquanto fomos subindo reparámos que o caminho ficava mais estreito. Agora os trilhos tinham características de um carreiro onde se caminha em fila indiana.
Adensavam-se os mistérios próprios da serra d'Aire. Lendas que povoam os recantos mais altos e escarpados.
Histórias que a imaginação popular criou e alimentou dando vida à vida destas Serras do interior de Portugal.

Começámos a descida e no regresso vemos novas cores da mesma paisagem. Reparamos nos troncos das oliveiras. Figuras bizarras, plantadas quase ao acaso, em zonas mais planas e onde a mão teimosa de alguns homens as vão alimentando de podas e  outros cuidados.
Em finais do ano recolhem algum azeite que depois usam nas suas casas. É o ouro daquelas terras.
Este azeite torna todos os pratos mais finos e saborosos. 
Só mesmo quem já provou o bacalhau assado  na brasa e regado com este óleo alimentar poderá dizer que em mais nenhum lugar do mundo tem este paladar, nem este sabor do saber português.

Vimos ainda as figueiras retorcidas pela sede e já sem frutos. Vimos as ameixoeiras  que se casavam com toda a paisagem num verde seco e silencioso.
Finalmente pensei com os meus botões, não querendo quebrar o encanto nem o silêncio de toda a paisagem:
- Isto deve ser muito diferente na Primavera! Todas estas árvores renascem de vida e de esperança.
Quem sabe se poderemos voltar aqui na Primavera para nos enchermos destas maravilhas?

Agora vamos visitar as grutas. Subimos de carro, serpenteando toda a encosta. Lá em cima, depois de parar, olhámos a paisagem circundante e ficámos sem palavras. Não é possível tanta beleza. Parece uma pintura interactiva onde se sentem, alem das cores, os sons e os cheiros.

No interior das grutas a natureza caprichou com outros temas de cores e de formas muito variadas.
Entrei com muita vontade de ver, mas depois, parece que crescia em mim o desejo de sair de lá de dentro. Confesso que não gosto muito de me sentir fechado e sem saber onde encontrar uma saída.
Não há nada melhor do que viver livre com a natureza. 
A foto foi tirada no início da viagem, subindo os trilhos da Fórnea.
Luíscoelho
Maio, 2015 dia 01