(foto Região de Leiria)
Muitas
nuvens carregavam o céu escondendo as estrelas. O vento começou numa
dança em ritmo crescente.
Que vendaval
aí vem...pensaram todos ao mesmo tempo. Os sons tornavam-se medonhos,
ameaçadores...
Trancaram
as portas e janelas e sentaram-se todos à volta da fogueira que parecia não
quebrar o frio.
Os ventos
entravam pela chaminé e espalhavam o fumo por toda a casa o que era ainda mais
desagradável.
Entre todos crescia a esperança que nada de mal lhes acontecesse. O pai e a mãe
estavam presentes e isso já ajudava os mais pequenos a estarem tranquilos.
O
temporal não escolhe as pessoas. Ricos ou pobres, todos estão sujeitos
à fúria dos ventos e da tempestade.
O pai
estendeu o braço para os proteger, acarinhando-os. No seu olhar havia
esperança. Já tinha passado por outras tormentas. Sabia que tudo iria passar
deixando marcas um pouco por todo o lado.
A casa era simples. As paredes eram de pedra e os tectos de madeira.
O olhar das crianças reflectia insegurança.
Se os
pais não estivessem com eles deixar-se-iam sufocar pelo medo
constante e crescente.
A ventania assobiava nas portas e janelas.
De
repente ouviram outros sons. Eram as telhas da casa empurradas pelo vento a
partir-se na calçada. As árvores na mata, também iam caindo umas sobre as
outras.
Muitas
partiam-se pelo meio e outras eram arrancadas pela raiz.
- Não
chorem...disse-lhes o pai em tom de segredo. Estas coisas merecem respeito, mas
tudo vai passar. As forças da natureza são poderosas...não devemos
desafiá-las...
- Vou lá
fora procurar umas pedras grandes para colocar em cima das telhas do beirado. É
preciso segurá-las com sacos de areia ou pedras para que não se soltem e se
partam no chão.
- E
tu consegues fazer isso sozinho? Perguntou a mulher. Vou
ajudar-te!...Tu vais acertando o beirado e eu chego-te as pedras para as
travar. Vós ficais aqui ao calor da fogueira mas não mexam no lume, disseram
ambos, avisando os filhos...
A casa
era baixa e algumas telhas já tinham caído. Outras balançavam ameaçando rolar
para o chão.
Ele
encostou uma escada e subiu compondo um lanço de telhas. A mulher levou algumas
pedras que o marido distribuiu por cima do beirado para as segurar.
Depois de
reparados os estragos maiores disse:
- Faremos
o resto amanhã... Agora não se vê e sem querer podemos cair.
Arrumou a
escada e voltaram para junto dos filhos.
A
mãe avivou a chama da fogueira para iluminar a casa e
depois espreitou a panela da ceia.
- Vamos
comer a nossa sopa...Está cozida...
Serviu os
mais pequenos e depois os mais velhos. Ela e o marido seriam os últimos.
Chega
para todos... No fundo da panela cresce sempre mais uma concha de sopa. Deus
não nos deixa ficar mal.
O pai
partiu e distribuiu o pão.
Comeram
em silêncio, mas podia ouvir-se o som das colheres raspando nos pratos...
Ninguém
pediu mais. Todos tinham enganado a fome.
Podemos
ficar aqui, à fogueira, mais um pouco. Depois iremos quentinhos para a cama.
Os mais
novos, ouvindo o barulho do vento, foram perguntando:
- O que é
o vento e de onde é que ele vem?
Porque é
que ele faz tanto barulho agora...?
-Pouco
posso dizer para explicar o vento...disse-lhes o pai. Imaginem o
mar com tanta água e tantas ondas, esse é o mundo dos peixes...
Nós
vivemos num mundo atmosférico. É como um mar de ventos, com ondas e tempestades.
Os peixes
não vivem sem água e nós não vivemos sem o ar...
Amanhã
quando acordamos vamos ver as coisas que o vento tombou, partiu ou levou.
Agora
vamos apagar a fogueira e vamos todos para a cama. Está na hora de irmos dormir
sem medo.
Luíscoelho