O Pele e Osso era um homem muito magro que mais parecia um esqueleto ambulante.
Era natural da Serra de Porto de Urso, Monte Real.
Casou com a Júlia Branca, natural da Lagoa da Ortigosa.
Foram viver numa casa muito grande que pertenceu a Luís Barbeiro, dono das melhores terras desta região, mas morreu solteiro e não deixou descendência.
O Pele e osso tinha um rebanho de cabras e o seu ofício era guardá-las pastoreando pelos terrenos baldios, pinhais e nas bermas dos caminhos públicos.
Tiveram seis filhos, cinco meninas e um menino.
A vida era dura mas eles lá iam lutando pela sua sobrevivência.
Era natural da Serra de Porto de Urso, Monte Real.
Casou com a Júlia Branca, natural da Lagoa da Ortigosa.
Foram viver numa casa muito grande que pertenceu a Luís Barbeiro, dono das melhores terras desta região, mas morreu solteiro e não deixou descendência.
O Pele e osso tinha um rebanho de cabras e o seu ofício era guardá-las pastoreando pelos terrenos baldios, pinhais e nas bermas dos caminhos públicos.
Tiveram seis filhos, cinco meninas e um menino.
A vida era dura mas eles lá iam lutando pela sua sobrevivência.
Esta casa não tinha condições de habitabilidade. Estava já em ruínas.
O povo comentava que nas noites frias de Inverno iam arrancando as tábuas e outra madeira para se aquecerem à fogueira.
Só me recordo de ver o telhado apenas por cima da cozinha e dos quartos. A sala da casa estava completamente nua. Não tinha tecto nem outra cobertura.
Ao entrada principal fazia-se pelo alpendre, onde havia uma porta larga que rangia quando a fechavam ou abriam. Esta porta sobreviveu às invernias e temporais porque ficava resguardada por duas paredes grossas de sessenta centímetros aproximadamente.
Como a maioria das casas da aldeia havia um pátio onde guardavam os animais e as alfaias agrícolas.
O povo comentava que nas noites frias de Inverno iam arrancando as tábuas e outra madeira para se aquecerem à fogueira.
Só me recordo de ver o telhado apenas por cima da cozinha e dos quartos. A sala da casa estava completamente nua. Não tinha tecto nem outra cobertura.
Ao entrada principal fazia-se pelo alpendre, onde havia uma porta larga que rangia quando a fechavam ou abriam. Esta porta sobreviveu às invernias e temporais porque ficava resguardada por duas paredes grossas de sessenta centímetros aproximadamente.
Como a maioria das casas da aldeia havia um pátio onde guardavam os animais e as alfaias agrícolas.
Esta família teve bastantes desaires que lhe tornaram os dias pesados.
Uma tarde de Domingo iam visitar alguns familiares à Serra de Porto de Urso e, para atalhar caminho, o Pele e Osso tentou atravessar o rio Liz.
Primeiro, sozinho, entrou na água e procurou caminhar até à outra margem, mas caiu num buraco grande e não conseguiu sair de lá tendo-se afogado. Não sabia nadar nem teve forças para voltar para trás.
Primeiro, sozinho, entrou na água e procurou caminhar até à outra margem, mas caiu num buraco grande e não conseguiu sair de lá tendo-se afogado. Não sabia nadar nem teve forças para voltar para trás.
Sem o marido, foi ela com o filho que começaram a pastorear o rebanho todos os dias.
A Júlia andava sempre vestida de preto.
Naquela casa não se ouviam gritos parecia até que ali não vivia ninguém.
As meninas mais velhas iam à escola e depois iam à lenha procurando pelos pinhais alguns paus secos ou as pinhas caídas no chão.
As mais novas andavam com a Mãe que nos primeiros tempos acompanhou o rebanho.
Os anos passaram e nenhum morreu de fome nem de doenças.
As filhas mais velhas casaram e a família foi ficando mais pequena.
Sem forças e sem as suas filhas para ajudá-la começou por vender o rebanho. Depois saíram desta casa e foram viver noutra casa simples, mas onde não chovia.
Recordo aquele dia em que se pegou com o Carnide na feira dos Desasseis que se fazia nesta localidade.
A Júlia foi à feira vender uns cabritos e tinha prometido ao Carnide que lhe pagaria a dívida, logo que recebesse o dinheiro.
O Carnide, era muito ganancioso e, como sabia que ela não era de palavra, andou por ali perto.
A dívida era referente a batatas, vinho, azeite e outros produtos que o Carnide lhe vendeu fiado.
Assim que lhe dirigiu a palavra a Júlia começou em altos prantos tentando envergonhar o homem de lhe pedir o pagamento da dívida, mas o Carnide manteve-se calmo e disse-lhe alto e bom som para todos ouvirem.
- Não tens que estar nessa gritaria. Sabes que me deves e prometeste pagar-me hoje. Já sabia que eras capaz de te esquivar e deixar-me outra vez sem nada. Não preciso que me dês todo o dinheiro mas dás-me apenas algum.
Divide-se ao meio e ficas com a tua dívida menor, eu também já não perco tudo.
Uma das filhas que presenciou toda a cena disse ao Carnide.
- Esteja descansado, que a partir de hoje, quem lhe vai pagar sou eu. Não quero que ande a pedir contas à minha mãe.
Com todos as filhas casadas e bisavó de muitos bisnetos, morreu silenciosamente como sempre viveu.
Luíscoelho
Os anos passaram e nenhum morreu de fome nem de doenças.
As filhas mais velhas casaram e a família foi ficando mais pequena.
Sem forças e sem as suas filhas para ajudá-la começou por vender o rebanho. Depois saíram desta casa e foram viver noutra casa simples, mas onde não chovia.
Recordo aquele dia em que se pegou com o Carnide na feira dos Desasseis que se fazia nesta localidade.
A Júlia foi à feira vender uns cabritos e tinha prometido ao Carnide que lhe pagaria a dívida, logo que recebesse o dinheiro.
O Carnide, era muito ganancioso e, como sabia que ela não era de palavra, andou por ali perto.
A dívida era referente a batatas, vinho, azeite e outros produtos que o Carnide lhe vendeu fiado.
Assim que lhe dirigiu a palavra a Júlia começou em altos prantos tentando envergonhar o homem de lhe pedir o pagamento da dívida, mas o Carnide manteve-se calmo e disse-lhe alto e bom som para todos ouvirem.
- Não tens que estar nessa gritaria. Sabes que me deves e prometeste pagar-me hoje. Já sabia que eras capaz de te esquivar e deixar-me outra vez sem nada. Não preciso que me dês todo o dinheiro mas dás-me apenas algum.
Divide-se ao meio e ficas com a tua dívida menor, eu também já não perco tudo.
Uma das filhas que presenciou toda a cena disse ao Carnide.
- Esteja descansado, que a partir de hoje, quem lhe vai pagar sou eu. Não quero que ande a pedir contas à minha mãe.
Com todos as filhas casadas e bisavó de muitos bisnetos, morreu silenciosamente como sempre viveu.
Luíscoelho
Meu querido Luís
ResponderEliminarAdoro ler as suas histórias, sempre muito bem contadas e sempre realidade de vida.
Beijinhos
Sonhadora
Mais uma história que nos deixa um sabor amargo na boca, como se todos tivéssemos culpa de todas as histórias verdadeiras de um povo habituado à miséria, ao pouco de cada dia.
ResponderEliminarParabéns por mais esta página de vida.
Um beijo
Querido amigo, você me fez recordar a história que minha mãe e minha irmã, viveram em Portugal, com a diferença que meu pai, não morreu afogado, mas naquela época os maridos deixavam as mulheres e iam correr mundo...e as dificuldades que elas passaram resumem-se bem a tua história...Tenha uma linda semana...Beijocas
ResponderEliminarOu seja: palavra (séria) dada; conversa arrumada!
ResponderEliminarUm abraço
João
Amigo Luis, Lindo texto ou história como a gente lhe queira chamar, mas esta um pouco triste, mas fora disso Gostei,
ResponderEliminarUm abraço
Santa Cruz
Olá querido e inspirado poeta Luís Coelho, que bela, profunda e exemplar esse história. Muito bom! Leitura agradável, parabéns pela qualidade de seus textos.
ResponderEliminarforte abraço
C@aurosa
Amigo Luís!
ResponderEliminarInfelizmente, esta ainda é a vida de muitos casais, de muitas viúvas, de muita gente que nasce e vive pauperrimamente, mesmo trabalhando arduamente.
Triste vida!
Beijinhos
Ná
Me encantan las histórias que cuentas, más aún por ser reales..., aunque triste.
ResponderEliminarPero la vida es así mismo, ni siempre es alegre...
Saludos,
Sergio.
...retratos de tantos.
ResponderEliminarretrato da vida em tantos
cantos.
bj, poeta!
As nossas aldeias estão cheias de histórias assim. É muito bom que haja alguém a contá-las, mas melhor seria, se houvesse mais gente a ouvi-las.
ResponderEliminarContinue!
*
ResponderEliminargostei do teu texto,
histórias simples e reais !
,
lembra-me, aquando miudo,
de um Homem, bom homem
por sinal, com uma alcunha,
que me fazia sorrir, na
forma com as pessoas diziam,
,
olha o Pele e Osso, o nosso
Juiz da Fome ! a referencia
ao Juiz, existem tantas versões
que desisti de saber a
a versão certa !
,
saudações, ficam
Meu caro Luís, uma história de vida dura, de gente guerreira às vicissitudes, uma história de vivências que eu gosto e admiro, para mim dos fracos é que devia rezar a história.
ResponderEliminarO Luís escreve muito bem e de uma forma muito realista.
Bjs,
Manuela
Amigo Luís, relato de vidas difíceis, tantas vezes miseráveis que, infelizmente, continuam realidade, ainda, neste nosso Portugal!
ResponderEliminarregressado de férias, aqui deixo um abraço reconhecido pelas suas visitas e comentários nos meus blogues e, também, pelas mensagens que faz o favor de me enviar.
Pois caro Luis
ResponderEliminaré quando leio coisas assim
que me invade o remorso
de estar aqui sentado
como se de importante
nada se passasse à nossa volta
ou como coisas muito importantes
me prendem a este teclado
Gotei de saber que é sensível à vida de outros, coisa rara nos dias que vão correndo
Todas as nossas palavras serão inúteis se não brotarem do fundo do coração. As palavras que não dão luz aumentam a escuridão.
ResponderEliminarÉ fácil amar os que estão longe. Mas nem sempre é fácil amar os que vivem ao nosso lado.
Madre Teresa de Calcutá
Bons sonhos e beijos meus!! M@ria
Agradeço o carinho de sempre.
ResponderEliminarÓtima quarta e beijos meus!! M@ria
Luís
ResponderEliminarsão estas as histórias que me tocam
porque todos somos
pele e osso
e entre estas duas camadas
há tanto e tão pouco
um rio onde perdemos o pé
uma feira onde perdemos e reencontramos a nossa dignidade
um abraço
Manuela
Estimado e Genial Amigo:
ResponderEliminarA sua narração intensa e fluída encanta e maravilha.
Que delícia extraordinária.
Não fui capaz de parar, tal o interesse colocado no texto brilhante e admirável.
Parabéns. Soberbo.
Abraço amigo ao seu ser e sentir gigantes.
Com o maior respeito e estima pelo que faz de forma iluminada.
pena
MUITO OBRIGADO pela sua amizade.
É recíproca.
Bem-Haja, fabuloso e sublime amigo de bem pelo que é e significa para todos.
Meu querido amigo
ResponderEliminarPassei para deixar um beijinho.
Sonhadora
Bela e triste história querido...muito bem contada por ti...
ResponderEliminarBeijos...
Valéria
Luís. Triste história, porém belíssima. Parabéns. Adoro o que escreve. Beijos.
ResponderEliminarOi Luis
ResponderEliminarApesar de triste , é uma bela história, que retrata a realidade de muitas famílias.
Grande abraço
Olá Luis!
ResponderEliminarÉ a historia da miséria em figura de gente - com muito realismo contada - e que a tanta gente fez companhia em décadas passadas.Vidas sofridas aquelas, que hoje, com um outro cenário, estão a ser reeditadas...
Um abraço amigo.
Vitor
O amor eterno é o amor impossível.
ResponderEliminarOs amores possíveis começam a morrer
no dia em que se concretizam.
Eça de Queiroz
Saudações Poéticas!! M@ria!
Como as estações
ResponderEliminarAssim são nossas emoções
Hora vivemos primaveras
Em outros longos verões
Porém também intensos invernos
E outono em outros momentos
Ataíde Lemos
Amor & Paz....Beijos na alma!!
Mais uma historia implacavel de vida,,,abraços amigo e um belo dia pra ti.
ResponderEliminarEstimado Luis!
ResponderEliminarHistória verídica e triste, que embora diga respeito ao passado, me faz constatar que mesmo nos dias de hoje anda por aí muita miséria escondida.
Narrativa fluída e de quem escreve como se a falar estivesse, pelo que me senti como sentado à tua beira escutando.
Diz da tua sensibilidade, que bem conhecemos através de teus poemas e prosa que nos enternece.
Deixo aqui meu sincero kandando e o desejo de aqui voltar breve À tua companhia onde bem me sinto.
histórias de vidas que a vida nos ensina
ResponderEliminaradorei ler
um beijo
Triste história, bonita e tão real...
ResponderEliminarMe faz relembrar uma pessoa que vai perder parte de suas terras porque o progresso viaja na duplicação de uma rodovia e atropelará a dona e seu terreno e suas lembranças.
Abraços.
Que bonita a sua escrita. Adorei o texto que nos apresentou. Foi uma leitura gostosa, fluída e muito forte.
ResponderEliminarVou continuar por aqui!
MariaIvone
Nas horas tardias que a noite desmaia
ResponderEliminarQue rolam na praia mil vagas azuis,
E a lua cercada de pálida chama
Nos mares derrama seu pranto de luz
Fagundes Varela
BOM FDS.....Beijos no coração!!M@ria
Não me negue as flores,
ResponderEliminarpois, tiro delas a minha essência!
seu perfume, é minha inspiração...
seu colorido, é minha alegria...
sua beleza, é minha vida!
Jacira Cardoso
OBS: Leve este mimo que te ofereço com muito carinho.....M@ria
História com muito salero!
ResponderEliminarBem escrita e com moral ao fundo...
Olá amigo. Gostei da história apesar de triste porque é constante realidade de muita gente. Mais do que possamos imaginar, embora na minha opinião, quem trabalha deveria conseguir ganhar no minímo o suficiente para uma vida condigna ( não me refiro ao supérfluo, mas ao essencial indispensável). Infelizmnte não é assim, e pelo que vejo cada vez pior.
ResponderEliminarBom fim de semana.
Beijinhos
VC escreve muito bem e a leitura é muito agradável. É uma história real, que reflete a vida de tantas outras famílias por esse mundo afora. Quem dera a vida real não fosse tão real assim.
ResponderEliminarBeijos, meu queride