Foto colhida no Blogue Dias com árvores
O pinhal era grande e vasto, cheio de
pinheiros frondosos e de um encanto que nos levava a imaginar uma infinidade de
coisas e animais perdidos na sua vastidão .
Diziam que o pinhal foi mandado semear
pelo Rei D.Dinis – O Lavrador.
Começava para lá dos campos do rio Liz, do
lado Poente, e estendia-se até ao mar.
Era um mundo. Uma mata cerrada,
onde poderíamos facilmente perder-nos.
Havia uma época em que autorizavam
ir lá e trazer carradas de mato. Ainda assim, esses dias e semanas, eram
divididos por todos os lugares aqui perto, de modo a não entrar em conflitos
com os vizinhos.
O mato era utilizado para os currais dos
animais domésticos, criando-lhes camas secas e confortáveis aos bois e aos
porcos ou ainda as aves de capoeira.
Saíamos de casa duas ou três horas antes
do amanhecer. As vaquitas puxavam o carro, indo sempre à frente alguém que conhecia aqueles "aceiros" - Caminhos abertos
no meio do pinhal em linha recta até se perder de vista.
Devíamos estar na mata ao amanhecer
para juntar e carregar. Quando o sol começava a aquecer, as moscas
tornavam-se insuportáveis, para nós e para os animais. Com o calor era
mais difícil fazer as carradas de mato bem feitas.
Havia um certo cuidado em fazer de todo
aquele trabalho com arte. Ninguem gostaria de ser a "chacota" dos
outros.
As entradas e saídas eram sempre
efectuadas junto à Casa dos Guardas.
Os guardas tinham uns ferros e perfuravam
as carradas de mato para se certificarem de que não tínhamos cortado
alguns pinheiros, pois isso era proibido.
No Inverno, tínhamos de seguir a pé para
não enregelar com o frio.
Os pés gretados a pisar o chão quase nem
os sentíamos, mas o desejo de ser dos primeiros e de voltar cedo nem se
reparava na dor.
Um dia já tínhamos a carrada quase
feita, mas o carro deu um "solavanco" e desmoronou-se tudo para um e
outro lado.
Por lá ficámos, a Mãe em cima do carro com
um ancinho, sempre a fazer a carrada em camadas certas. Puxando o mato de um
lado para o outro e segurando as "paveias" que eu lhe ia atirando lá para
cima.
Quando terminámos estava lavado em suor.
Dei uma volta de corda a segurar o mato e ajudei a mãe a descer. Reapertámos a
carrada e começamos a caminhada de regresso.
Com os nervos - "à flor da
pele"- nem conseguimos comer o farnel que levámos.
Graças a Deus que o resto da viagem correu
bem. Comemos então alguma coisa quando chegámos a casa e depois fomos tratar de
outras sementeiras que deviam ser feitas naquela época.
Naquele tempo tínhamos os nossos pinhais
sempre limpos e quando nos dávam este mato no Pinhal do Rei ficávamos sempre
contentes pois era um mato melhor para acamar os currais do gado e para
estrumar as terras nas sementeiras.
Ainda me lembro, contava a mãe, de pedir
aos meus pais para nos deixar ir às Festas do Senhor Jesus dos Milagres e a Avó
disse-me:
- Sim senhor, podem ir, mas primeiro vão à
Mata e trazem uma carrada de mato. Assim foi! Saímos mais cedo ainda e lá
fomos,eu e os tios.
Juntámos, carregámos e voltamos ainda a
tempo de mudar de roupa e fazer um farnel para levar para a festa. Neste tempo
ir à festa era ouvir a missa e o sermão e ainda ir na procissão.
Gostávamos de ficar por lá até à
noite, de ver o fogo de artifício e ainda
nos divertíamos no bailarico.
Outros tempos de sacríficios que vocês
nunca conheceram.
Tantas coisas que os pais nos contavam ao serão, para não adormecermos antes da ceia estar pronta.
Tantas coisas que os pais nos contavam ao serão, para não adormecermos antes da ceia estar pronta.
Luíscoelho
E que tempos de sacrifícios!!!
ResponderEliminarTambém estes são tempos de sacrificio até porque, nessas fainas já poucos se ocupam. Os espaços rurais tendem para o abandono... resta a sua lembrança tão bem transmitida neste post!
ResponderEliminarOlá Luis,
ResponderEliminarpois engano seu, porque eu cortei muito mato.
E trabalhava no campo a cortar erva, a regar o milho, cortar o pendão, arrancar as batatas...
Um dia fomos buscar um carro de mato e não havia animais para o trazer, porque o meu pai não os utilizava para isso.
Então, na frente do carro vinha alguém a guiar o carro e atrás vinham dois a equilibrá-lo, de modo que a dianteira não levantasse...
Eu era muito magrinha e nesse dia vinha eu à frente. A minha irmã mais velha (que era uma peste jajaja) vinha atrás com um dos meus irmãos e vinham na risota... e com a risota deixaram descair a traseira... eu, magrinha como um palito na frente jajaja, ...a frente levantou e eu fiquei pendurada lá no alto...!
Então é que eles não paravam de rir... e eu furiosa lá no alto, porque tinha medo de saltar, até que não aguentei mais... e caí!
Conclusão..., o meu pai bateu-lhes e eu nunca mais me esqueci desta ida ao mato... jajajaja
Ainda hoje os meus irmãos me gozam por causa disso!
Como vê, entendo bem os sacrifícios por que passou!
Um beijo e bom domingo.
Olá Luis!
ResponderEliminarDias difíceis, estes aqui relatados, e que eu consigo visionar lindamente bem,sem esforço, tal como as expressões aqui utilizadas.
Vivia-se então mais em comunhão com a natureza; sem o sabermos e por força das circunstâncias tinha-se, o que hoje se chama, um espírito ecológico. Parece ironia, mas é verdade, a"pobreza" - forçada, e não escolhida - era então a melhor amiga do meio ambiente...
Um abraço amigo.
Vitor
Amei tua narrativa, pois fui lendo
ResponderEliminare visualizando toda a cena, até vi
o exato momento em que o capim virou
do carro... Tu és perfeito ao contar
tuas recordações, elas se tornam
reais e presentes em nossa
imaginação. Amigo, desejo-te uma
linda e abençoada noite! Abraços
Meu querido Luís
ResponderEliminarRecordações e histórias reais, nesse tempo era mesmo assim.
beijinhos
Sonhadora
Luís,
ResponderEliminarEsse seu viver sofrido deve ter te ajudado a ser o homem que és.
Ele te moldou, sensível às sensações e seres do mundo e não te ressecou por dentro.
Hoje ele é nostalgia, que repassas em imágens quase palpáveis, de uma forma tão linda!
Abraços,
Cida.
vir aqui é aprender sempre mais um pouquinho.
ResponderEliminarSó cresce quem sofre e aprende com a dor.
Amei!!!
Querido amigo, você me fez lembrar das coisas que meus pais e minha irmã contavam...exatamente assim como você descreveu...vida dura...difícil...mas que sempre no fundo tinha suas alegrias. Tenha um lindo domingo...Beijocas
ResponderEliminarMuito bela esta descrição de vida, diria mesmo... de "lições de vida".
ResponderEliminarTudo estava a contento de DEUS...aprendia-se a dar valor à Natureza, ao adquirir algum desejo, enfim lutar/trabalhando colaborando com a família numa equipa ímpar.
Por outro lado...evitavam-se os incêndios.
Agora, temos as matas e pinhais cheios de mato e de maldade...pois aqueles que lhes fazem mal...nunca lhes ensinaram a respeitar nem os seus semelhantes com suas vidas e haveres, nem à mãe Natureza.
Por tudo isto...este texto é um sumatório de bons exemplos que todos deveríamos seguir.
Forte abraço de carinho
Um Santo Domingo
Mer
Amigo Luis; Nunca nos esquecemos daquilo que paasemos na nossa vida. mas esses sacrificios continuam hoje, porque, mas é sempre bom recordar o passado.
ResponderEliminarUm abraço
Santa Cruz
Bom dia Luiz!
ResponderEliminarMuito interessante teu post. Obrigada pela partilha. Intenso e visual...
Um bom domingo! Meu carinho,
Rosana
Caro Luis Coelho
ResponderEliminarHá já algum tempo que sigo o seu blogue, embora sem assinar o livro de presenças.
Desta vez o meu caro fez-me reviver ao mais infimo pormenor uma passagem da minha vida, apenas o veiculo que lá em casa se utilizava era a carroça puxada pelo burro. Outro pormenor que lembro eram as picadas de moscardos, prontamente tratadas com a manteiga existentes nas "sandes"
Obrigado pelas recordações
R.Manuel
Lindas imagens, ótima poesia na publicação anterior, e mais uma vez, repito, gosto das suas histórias, elas me reportam a fatos comuns das nossas vidas.
ResponderEliminarEstou avisando aos amigos que fiquei um pouco à parte dos comentários por dificuldades na internet, logo estarei com outra operadora e espero que melhore!
Um abraço, ótima semana
Bonito conhecer sua história...cheia de sacrifícios, sim, mas muitas lembranças boas amigo...
ResponderEliminarTenha um boa semana...beijos...
Valéria
Meu querido amigo...
ResponderEliminarMais uma deliciosa história da tua mocidade, cheia de emoção e saudade.
Que tempos esses, mais naturais, mais humanos, mais lentos...
que dias complicados vivemos agora, resolvendo problemas que não tínhamos antes de tantas modernidades...
Saudades tuas.
Beijokas e uma linda semana.
Olá, meu amigo, já regressei de
ResponderEliminarférias e como já sabe temos mais
um membro na família.Obrigada
pelas suas palavras e por toda
a sua simpatia.
Falar de coisas reais, como
o amigo faz é bom.
Um beijinho/Irene
Olá, meu amigo, já regressei de
ResponderEliminarférias e como já sabe temos mais
um membro na família.Obrigada
pelas suas palavras e por toda
a sua simpatia.
Falar de coisas reais, como
o amigo faz é bom.
Um beijinho/Irene
Olá Luis!
ResponderEliminarEstava Lendo esta história real, e parece que foi a minha, pois também passei por ela, buscar manto para a cama dos animais, para cozer o pão, e a comida, as matas ficaram limpas,sem custos para os donos, e a gente ainda agradecia, e por vezes ainda tinham-mos que dar uma carrada ou duas de estrume. E nesse tempo era muito raro haver um incêndio, também por isso, e quando havia as pessoa mobilizavam-se todas, e apagavam-mos o fogo no mesmo instante. Outros tempos com coisas boas e más.
Tempos difíceis ma que deixaram cores em teu coração.abraços,linda semana,chica
ResponderEliminarEstimado Luís.
ResponderEliminarTempos difíceis, muito trabalho e engenho. Tudo aproveitado ao pormenor.
E como muito bem conta, dessa forma as matas andavam limpas e menos susceptíveis ao fogo que todos os anos varre esse pulmão imprescindível.
Hoje de outras formas, os tempos continuam difíceis, muita miséria escondida e envergonhada.
Mas voltando ao tempo da tua crónica, outra das virtudes desses afazeres, era manter a família partilhando tudo, unida e passando testemunho aos mais novos.
Dificuldades e vida dura, mas por outro lado saudosos tempos, menos materialistas.
Kandando amigo!
Bons e sofridos tempos amigo,,,mas sempre vivos na memoria...abraços de otima semana.
ResponderEliminarÉ nos tempos de dificuldades que mais crescemos e nos fortalecemos.
ResponderEliminarBela a história relatada.
Tenhas uma ótima semana.
Que lindo texto!
ResponderEliminarEssa tranquilidade...
Oi Luis
ResponderEliminarOs tempos eram difíceis, mas renderam lindas histórias como essa. A alegria era mais pura, e precisava-se de muito pouco para ser feliz.
Grande abraço
Meu amigo, e aqui estamos nós agora a ouvir essas histórias, que como disse certa vez, nos parecem tão familiar.
ResponderEliminarSerá nossas origens de Portugal?
Sim, creio que sim, por isso louvo ao Soberano, tão preciosas dádivas.
Linda história. Belas memórias.
ResponderEliminarObrigada pela sua visita. Completei mais um pouquinho, o seu comentário.
Grande abraço.
Amigo, que excelente narrativa. Tempos dificeis, de trabalho e sacrificios.
ResponderEliminarVoltei do Rio de Janeiro e hoje venho especialmente para agradecer as suas carinhosas mensagens.
Bjs do tamanho do infinito
Maria
Luís~
ResponderEliminarEram estórais de vida com esta que nos contou, que eu ouvia aos meus pais e, embora tenha sido criada em Lisboa, via como eram criadas as crianças da aldeia nos meses que lá passava de férias.Era uma vida difícil.
Beijinhos
Lourdes
O pinhal do Rei mandado plantar por D.Dinis...só conheço da História!
ResponderEliminarDas dificuldades dos antigos, conheço-as pelo que leio e pelas palavras da minha avó, contadas aos filhos quando aos 70 anos chegou a Moçambique para viver com eles.
Mas sei que a vida era-lhes dificil por isso dou muito mais valor a tantos heróis desconhecidos.
Graça
...vc deveria escrever um livro
ResponderEliminarde memórias.
ou já tem?
delícia te ler narrando a vida
de maneira poética mesmo em meio
às dores tbm...
bj
Eu quero um punhado de estrela madura
ResponderEliminarEu quero a doçura do verbo viver.
(Caio F. Abreu)
Saudações Poéticas!! M@ria
Amigo esta é mais uma de tantas tão carinhosamente contadas como os serões da beira.
ResponderEliminarAdoro passar por aqui e ler porque saio sempre de alma tranquila, mesmo que sejam as suas histórias eu me revejo noutros tempos, mas com histórias de minha vida muito parecidas.
Abraço fraterno.