Imagem colhida no Google
Em finais de Setembro ou nos primeiros dias do mês de Outubro, aconteciam as vindimas.
Juntavam-se as famílias Carnide com a família Coelho e faziam aquele trabalho trocando tempo entre eles. Dois dias para um, e logo a seguir para o outro. Era uma festa.
Quando não chovia e o Sol aquecia as encostas das vinhas era tudo muio agradável.
Andavam alegres e aquele coro de vozes misturadas, falando todos ao mesmo tempo, nem dava para perceber o assunto de algumas conversas.
Recordo que o pai costumava levar o carro de bois com uma dorna de madeira e na traseira do carro metia um grande molho de feno para ir dando às suas vaquitas durante o dia.
Geralmente chegavam todos ao mesmo tempo. Retiravam as vaquitas dos carros e iam prendê-las numa sombra próxima, dando-lhe alguma palha para irem comendo, pois iriam passar o dia por ali. A vinha era grande e as uvas estavam muito bonitas sem moléstia nem outras doenças.
Começavam aquele trabalho na parte da vinha junto aos carros de bois para não danificarem as outras uvas e seguirem sempre por filas certas.
Logo no início faziam o sinal da Cruz e uma pequena oração.
Depois diziam: - Vamos lá com Deus. Que Ele nos ajude e que tudo corra bem.
Os poceiros começavam a ficar cheios e logo faziam uma lista de quem iria levá-los. Corria a vez por todos. Despejavam para dentro da dorna e com uma pedra ou um giz marcavam um risco, por cada poceiro, nos aros de ferro da dorna para saberem sempre a quantidade de uvas colhidas em cada vinha.
As qualidades das uvas parece que eram diferentes em cada zona. Mais coradas e doces nas encostas e menos adocicados nas partes mais frescas onde a vinha era mais forte e os cachos eram maiores.
A tia Maria pegava num cesto e andava mais à frente escolhendo os melhores cachos para guardar e irem comendo até perto do dia de Natal.
Outros cachos eram secos no forno. Depois de cozerem a broa de milho limpavam o forno e metiam uma camada de uvas.
Com o calor do forno as uvas ficavam quase secas e conservavam-se todo o ano. Passas de uva.
Tinham vinhas espalhadas por esta região. Recordo algumas nas Picotas, Sachieira, Valfojo, Farreca, Barros da Pedreira , Baralha e Mata.
Todos tinham dois talhos de vinha nos Verdeiros que eram herança do avô Carnide.
Quando o calor começava a apertar, apetecia sentarmo-nos na sombra de alguma videira, mas logo ouvíamos uma chamada de atenção.
Vamos lá meninos a cortar uvas para o cesto e apanhar também os bagos do chão.
Logo outro, mais alem, dizia:
- Olhem que uma velhinha fez uma pipa de vinho com os bagos das uvas ...sabiam..?
- Verdade...? Coitadinha da senhora...fartou-se de apanhar bagos do chão...........
Longe de nós pensar que todo o bom vinho só é feito com os bagos das uvas.
Havia também assalariados que vinham trabalhar por conta dos donos das vinhas e muitas vezes também traziam os filhos, mas não havia tempo para brincadeiras.
Por vezes a navalha saltava-nos e acontecia um corte nas mãos ou nos dedos. Lavavam com água fria e embrulhavam a mão, com um trapo, a tapar o corte.
Por vezes os mais pequenos choravam e alguns mais velhos brincavam com eles dizendo:
- Cuidado ... por aí só vão sair as tripas maiores ...que as mais pequenas não cabem.......
O almoço, à uma hora da tarde, era sempre o mesmo todos os dias da vindima.
Uma cebolada com sardinha salgada assada. O prato era um naco de broa de milho cozida na véspera que cada um agarrava e ia trincando juntamente com a sardinha e a cebola.
O sabor salgado da sardinha ficava amenizado com o picante da cebola crua. Podiam repetir e pedir mais broa e mais sardinha.
Bebiam água do barril, bilha de barro com um pequeno gargalo, que andava de mão em mão e outros bebiam vinho por um pipito de madeira que também ia passando por todos.
As tardes parece que passavam mais rápido. Antes do anoitecer começavam a juntar tudo, para fazerem a viagem de regresso. Ao serão ainda tinham de pisar as uvas e fazer a transfega para os balseiros grandes onde fermentavam.
Chegávamos a casa noite cerrada, contando as estrelas no céu, mas ainda assim felizes com a alegria do convívio com os tios e os primos que considerávamos como a nossa família.
Sentíamos e vivíamos como se fossemos todos irmãos na mesma casa.
Luíscoelho
Se alguém quiser recordar fotos destes tempos deixo aqui o link que poderão visitar. São muito parecidas com as que fazíamos por aqui.
http://sernancelhe-vila.planetaclix.pt/Vindimas-page-00001.htm
Se alguém quiser recordar fotos destes tempos deixo aqui o link que poderão visitar. São muito parecidas com as que fazíamos por aqui.
http://sernancelhe-vila.planetaclix.pt/Vindimas-page-00001.htm
Querido amigo, minha irmã e minha mãe, sempre contavam dessa época da vindíma, ou seja, a colheita das uvas. E que é um trabalho muito desgastante. Mas ao final de cada dia tudo era uma festa. Beijocas
ResponderEliminarOlá. Na casa dos avós era assim, tinhamos um enorme lagar pois os meus tios eram 13 mais os criados que lá viviam, muitas vacas e ovelhas, uma égua e um burro nos melhores tempos...
ResponderEliminarLembro que a tia Maria do Céu fazia um almoço digno dos deuses, ia no carro de bois pois tínhamos vinha até longe, em muitas lameiras. Amei assistir, e quando era mais perto iam todos a casa almoçar na farta mesa da casa D'adega com bancos enormes de madeira...
Bela lembrança que daqui a pouco os nossos netos não vão saber o que é vivenciar da mesma forma que nós.
Abraço da laura
Se não formos nós a cuidar da próxima geração com o que é que eles poderão contar? Queremos um mundo melhor, e para isso vamos usar a técnica mais velha do mundo que é sensibilizar as pessoas dos seus actos e costumes que prejudicam as outras. Obrigado pelo comentário amigo.
ResponderEliminarMuito a propósito, sim senhor. Há que esmagá-los, aos bagos, e assim se faz o vinho...
ResponderEliminarAbraço
João
Meu amigo belo texto sobre as
ResponderEliminarvíndimas.Obrigada pelo que envia
por email. Eu quis provocar discussão no meu blogue. Não me
ofendo nada.
Bj./Irene
Caro Luis
ResponderEliminarComo me consegue comover até não conseguir evitar uma lágrima rebelde, não de tristeza mas um misto de alegria e saudade, ao ver alguem retratar tão bem, momentos e "estorias" que tambem são minhas.
Senti profunda saudade ao recordar a capacidade que as pessoas tinham em se ajudarem mutuamente não só nas familias mas com os vizinhos e amigos, nas vindimas, na lavoura em geral mas tambem noutras necessidades. Lembro-me no enchimento por Ex: da placa da casa que se construia a pulso.
Caro Luis, obrigado por mais este seu momento, que afinal é de muitos de nós.
Abraço
Amigo Luis,
ResponderEliminarGostei de ler este magnífico texto, sobre as vindimas, ao qual transmites como sempre o teu cunho muito especial.
As vindimas fazem-me retomar o tempo da minha infância e adolescência em Trás-os-Montes e no Douro Superior.
... Famílias permutavam entre si a mão de obra. Outras, mais abastadas, tinham um feitor que procurava o pessoal [mulheres e homens] para a jeira.
A quantidade das uvas era medida em canastras, onde eram despejadas em cestas de uma asa pelas mulheres, sempre a tagarelar ou a cantar.
As canastras eram transportadas por bestas de carga [duas, uma de cada lado].
Depois de pisadas as uvas pelos homens no lagar, o vinho mosto era transportado para a adega em cântaros, sobre uma rodilha [vulgo sogra], à cabeça das mulheres e despejado por um um homem, através de grande funil, nas pipas e toneis, sendo prèviamente registados a gis, em grupos grupos de cinco, nos aros do vasilhame...
Não me alongo mais amigo...
Um abraço,
Jorge
Olá meu querido amigo, que bela e "frutíferas" recordações. Sempre nos traz saudades de momentos importantes de nossa vida. Parabéns pelo belo texto. Um bom final de semana.
ResponderEliminarforte abraço
C@urosa
Oi Luís
ResponderEliminarFico maravilhado quando você narra esses tradições. Deve ser muito trabalhoso, mas muito divertido também.
Grande abraço
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarSuas histórias nos remetem a um passado de lutas, dificuldades, porém recompensado com a felicidade e o prazer por aquilo que fazemos com alegria e satisfação.
ResponderEliminarAbraços.
Lindas uvas de epoca,,,bom relembrar desses tempos...abraços de bom final de semana pra ti.
ResponderEliminarUm texto onde pude visualizar as vindimas e todas as suas voltas...
ResponderEliminarMentalmente, regressei a outras vindimas, diferentes mas felizes, vividas em Tras os montes...A família era grande e a alegria também ...
Beijo
Graça
Caro Luís,
ResponderEliminarestes momentos permanecem para sempre na memória de quem os viveu.
Beijinhos,
Ana Martins
Ave Sem Asas
De uma certa forma, tens razão.. O "Amo-te" faz todo o sentido ter o hífen quando partilhado com alguém.. Eu amo os meus pais, a minha família, mesmo do "amo-te", mas amo o Bruno do "Amote", porque entre nós não há espaço para mais nenhum Amor vindo do "amote".
ResponderEliminarTambém gostei deste teu cantinho :) Vou seguir-te *
Obrigado Luís a carocha é que me pegou esta malvada constipação ela depois de uns dias dolorosos já está bem melhor. beijo e bom fim de semana
ResponderEliminarOlá Luís!
ResponderEliminar"Recordar é viver" como alguém já disse, gostei dessas coisas que se diziam aos moços quando choravam.
e da velhinha que fez uma pipa de vinho com bagos de uva.
Aqui um grande lavrador, que tinha muita vinha, antes de morrer disse ao filho, filho das uvas também se faz vinho
Olá, Luis!
ResponderEliminarMais uma vez, lendo o que escreve,recuo uns aninhos atrás no tempo, normalmente ao mês de Setembro, altura em que na minha área tinham lugar as vindimas.
Então, no tempo dos meus avós, era como o Luis aqui descreve; um misto de empreitada, dura para alguns,e de festa de familia que sempre acabava com uma grande almoçarada ... mas só depois de todo o trabalhinho feito.
Para os mais pequenotes, como eu,era um dia bem passado ... não sendo sequer necessário trabalhar muito para ganhar o almoço.
Gostei da descrição desta vindima doutros tempos.
Um abraço amigo.
Vitor
sempre encantadoras estas estórias, amigo Luís...
ResponderEliminarVenho desejar-te um óptimo fim de semana e deixar o meu abraço a todos
Demaaaaaaaais esse, seério mesmo!
ResponderEliminarAbrçs
Luís
ResponderEliminaras vindimas eram uma festa também para mim!
tenho dúvidas se alguma vez apanhei mais de que um cacho ou dois, mas divertia-me imenso...
obrigada por nos trazer estas histórias de vida!
um abraço
manuela
Era assim, hoje esta tudo mais impessoal, os laços estão a ser cortados, parece que nada já se faz por prazer, com harmonia, partilha e amor
ResponderEliminarBj
Amigo. Como é bom recordar os bons momentos de nossa vida. Cada pedacinho de nossa história tem um significado especial. Beijos e obrigada sempre por sua amizade.
ResponderEliminarSr. Luis, como nao encontrei o seu mail em lado nenhum, deixo aqui o meu comentário para que me possa ceder o seu mail para podermos falar do joaozinho, por favor, é muito importante, eu levo o joaozinho ai, mas primeiro temos que falar...fica aqui o meu mail por favor digame alguma coisa paulamartins82@gmail.com Obrigada
ResponderEliminarPaula Martins
Olá amigo! Adorei teu texto, me trouxe informações que eu desconhecia... É sempre um enorme prazer te ler, suas palavras são ricas em saberdoria e criatividade... Obrigada por seu carinho e recepcitividade! Carinhos... Bjsss
ResponderEliminarPaula
ResponderEliminarAcrescentei o meu email ao perfil.
Aguardo pelas notícias
Olá amigo Luis... doces e belas lembranças... lindo teu escrito!
ResponderEliminarParabéns! BOm fim de semana, abraços com carinho de paz e luz! Rosana
OLÁ LUÍS
ResponderEliminarComeço por agradecer a sua visita e as simpáticas palavras que deixou no meu blog.
Sim, de facto as fotos da Igreja de Cacela Velha são bonitas, e tal como o Luís fiquei curiosa em ver o seu interior.
Só que...é como em todo o lado deste país, as igrejas estão fechadas a sete chaves, por causa dos roubos e...não foi para mim, possível ver essa preciosidade.
Quero também dizer que, estou há 1 semana sem computador, pois no sábado passado pifou; mandei arranjar e dizem que foi o disco que foi ao ar...
Gostei de ler a história das vindimas. Obrigado pela partilha.
Bom fim de semana.
Um abraço.
São tradições que não se devem perder...
ResponderEliminarBeijo d'anjo
Amigo Luís!
ResponderEliminarFelizmente eu ainda vivo dias muito parecidos todos os anos.
O carro de bois já não se usa, nem há mais bois na corte...aliás já não há corte!
Mas há uvas e vindima e muita alegria, sim
Aqui também há quem diga que com os bagos de faz mais uma pipa de vinho, mas ficam para as galinhas :)))
Foi muito bom recordar,
Obrigada.
Beijinhos
Ná
ola ...obrigada pelas palavras que deixou no meu blog...é sempre bom ter força de alguem de fora....um abraço ...saudades....
ResponderEliminarLuís querido amigo, sempre uma alegria imensa ler seus textos...uma viagem no tempo gostosa demais em suas histórias...
ResponderEliminarDoce domingo...beijos...
Valéria
Sim, de facto é uma opinião válida. Mas naquele meu post refiro-me a algumas pessoas que só escrevem aquilo que os outros querem ler. Ou escrevem aquilo que acham que os outros vão gostar e achar belo. E eu não acho correcto. Não porque nem sempre o que sentimos é bonito ou engraçado. Daí aquele meu post e aquela minha opinião.
ResponderEliminarPassa as vezes que quiseres. Estou sempre aberta a criticas e opiniões! (:
Amigo Luis: Linda recordação eu tambem recordo esse tempo das vindimas no Douro e na minha aldeia Baião Douro Litoral, ainda hoje vou a vindima mas que agora ja não é como dantes, mas tenho lindas recordaçoes.
ResponderEliminarUm abraço
Santa Cruz
Que delícia de texto !
ResponderEliminarTransportou-me também, para as vindimas da minha infância, estas mais a sul, muito mais a sul, em Vila Nova de Milfontes. E pelo teu texto é muito enriquecedor verificar como, tendo por base a mesma tarefa, ou seja a vindima, os costumes eram diferentes.
Por exemplo, as sardinhas eram substituidas pelo porco, que era vítima de matança no próprio dia.
Eram dias magníficos, esses.
Luís
ResponderEliminarHá dias tirei umas fotos que me parecem muito apropriadas ao tema.
Da janela do meu quarto...indiscretamente, enquanto os casais que vivem na quinta ao lado faziam a vindima aqui na encosta sobre o vale do Lis, na zona dos Lourais - Barreira.
E fiquei a rememorar os tempos em que eu participava activamente nas vindimas nas terras da minha avó e dos meus tios lá no Casal de Ribafeita em Viseu. Anos 60!
Bela e sugestiva narrativa.
Um grande abraço
António
Precioso e Admirável Amigo:
ResponderEliminarAs vindimas, também as vivi.
Eram instantes ímpares de trabalho saudável.
VOCÊ fascina, delicia e encanta pela beleza do seu texto sublime.
MUITO OBRIGADO pela sua amizade que é recíproca.
Bem-Haja, pela beleza expressa no meu blogue que adorei.
Abraço amigo ao seu talento magistral e enorme pela sua forma como lida com a Literatura, em que se "debate" extraordinariamente com ela de forma sublime.
Com respeito, estima e consideração.
Sempre a lê-lo com atenção por criar Posts de pureza e beleza imensas.
pena
Excelente!
MUITO OBRIGADO pela honra da sua pura amizade de pessoa de bem.
Adorei. Parabéns.
A festa das vindimas com o saber e o sentir de quem ouve o pulsar da terra e não duvida da sua indelével generosidade.
ResponderEliminarUm beijo
Vindima em família ainda é mais saboroso que a hora de provar as uvas!
ResponderEliminarUm grande abraço, Paulo.