(foto google)
Era um penedo de granito grande e arredondado e estava colocado do lado direito do portão grande de madeira à saída do pátio. Tenho a certeza que usou
muita imaginação e técnica para transportar aquela pedra até à entrada de casa. Deve pesar
várias centenas de quilos.
Um dia,
em conversa, explicou que aquele penedo servia para obrigar a roda do carro
de bois a afastar-se da parede.
Para entrar e sair do pátio nem sempre se conseguia fazer a
curva de modo que a roda não empancasse na parede.
Mais tarde, quando já não conseguia trabalhar nos campos, vinha sentar-se ali em cima
daquele penedo. Parecia ter criado uma relação de amizade com
aquela pedra. Ali tinha mais liberdade de movimentos e pouco lhe incomodava ver
desperdícios espalhados à sua volta. Não incomodava ninguém.
Aproveitava
o tempo para fazer aquilo que gostava e que a sua imaginação lhe ia desenhando.
Um dia encontrou um molho de fitas plásticas coloridas e resistentes. Estas fitas são utilizadas para apertar materiais de construção - telha ou tijolo, mosaicos, etc.
Primeiro
fez com elas um tapete onde jogou com as cores formando riscas e quadrados
simétricos.
Depois
descobriu que rasgando aquelas fitas, em tiras mais finas, elas ficavam mais maleáveis e
era possível fazer outros trabalhos. Dando asas à sua imaginação
construiu cestos e revestiu garrafas
de vidro de todos os tamanhos e formas.
Todas as
manhãs, depois de tomar o café, ia até ao seu banco de pedra e começava a
trabalhar as suas ideias. Dava gosto vê-lo torcendo as fitas em
volta de uma garrafa ou escolhendo as cores de modo a dar a tudo um ar mais
fino e colorido.
Alguns
amigos vinham visitá-lo. Nessas horas parava os seus trabalhos. Gostava muito
de conversar. A sua memória prodigiosa tinha presente os seus tempos de menino,
de jovem e também de homem activo.
O
respeito era um dever sagrado. Nunca se deixou influenciar pela calúnia nem
pelos boatos infundados. Fazia as suas leituras dos acontecimentos sempre com
muita prudência e manteve-se lúcido até ao final dos seus dias.
Mereceu o
respeito e o carinho de todos quantos conviveram com ele e também puderam
admirar os seus trabalhos.
Hoje, a
rocha continua num canto do jardim. A recordação do avô habita aquele espaço
assim como alguns dos seus trabalhos presentes por toda a casa.
Não se
podem contar os dias em que parou os seus trabalhos para brincar com os netos
nem quantos se deixou embalar nas suas brincadeiras durante as férias grandes
do Verão.
Um dia
fomos encontrá-lo a construir um avião com folhas de cartolina. Usou toda a sua imaginação para construir sem cola nem outros materiais. As rodas são as
tampas das garrafas de cerveja. Está proporcional no tamanho das asas ou do corpo central.
O avião colado aos seus dedos parecia que ia levantar voo para aterrar de seguida nas mãos dos netos que lhe prolongavam a vida e os sonhos.
O avião colado aos seus dedos parecia que ia levantar voo para aterrar de seguida nas mãos dos netos que lhe prolongavam a vida e os sonhos.
Os seus tempos foram difíceis, mas ensinaram-lhe muitas coisas e a sua inteligência protegeu-o do esquecimento.
Julho/2014
Luíscoelho
Esta postagem traz-me à memória as "pedras" como nós lhe chamávamos, para onde íamos brincar em crianças, nos verões passasos nas Penhas da Saúde.
ResponderEliminarUm texto muito bonito. Que bom que seu avô conservou a memória até ao fim da vida. Nada mais triste do que ver um ser que se ama, não saber quem é ou quem são os que o rodeiam. Passei por esse experiência por 3 vezes. Na adolescência com o avô materno, que tão depressa me chamava Ana, nome de uma filha já falecida, como Maria, nome da minha avó, ou Adelaide, uma irmã que perdera ainda criança. Nos anos oitenta passei pela mesma experiência com a avó do meu marido, e recentemente com a minha mãe que depois da morte de meu pai em 2009, até à sua morte em 2011, perdeu a noção de tudo.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Há recordações nas quais jamais serão colocadas "pedra no assunto". :)
ResponderEliminarSentei-me nesta pedra, vendo e sentindo com calma, o quanto por aqui se partilha.
Agradeço e retribuo visita ao meu blog.
Grande abraço e tudo de bom.
Que maravilha de texto e lembranças desse avô que encantava aos netos, trabalhava, pensava na sua vida naquele canto de pedra, onde hoje mora só a saudade, mas essa rodeada de lindas e doces recordações! abração,tudo de bom e é sem´pre lindo aqui estar e te ler!chica
ResponderEliminarTeve sorte porque a inteligência o protegeu do esquecimento. Conseguiu viver os últimos dias da sua vida em harmonia com o seu trabalho e a sua família.
ResponderEliminarUm bom texto... como sempre!
Um belo texto.
ResponderEliminarUm grande abraço
~ ~ Ternas lembranças indeléveis...
ResponderEliminar~ ~ Não é habitual acontecer-me, mas os teus contos deixam-me emocionada.
~ ~ Que bem deve ficar essa memorável pedra no jardim da casa de família que herdaste e que tão bem deves alindar e cuidar.
~ ~ Descobrir a criatividade na terceira idade e fazer dela um estímulo de vida é um caso muito interessante!
~ ~ Pelas características morais que indicas, sei como foi a tua educação e tenho o maior orgulho em ser tua leitora amiga.
~ ~ Ninguém sabe os mistérios que envolvem os encontros, estou muito grata por me ter cruzado contigo.
~ ~ Como deve ter sido bom ter sido neto nessa casa.
~ ~ Continuação de aprazíveis dias estivais com inspiradas páginas da vida. ~ ~
~ ~ ~Luís, excelente fim de semana na companhia dos que te são queridos.~ ~ ~
Lembranças que perduram na memória, agora também aqui partilhada com os amigos.
ResponderEliminarGostei muito de conhecer, assim como a foto dessa pedra que me fez recuar ao meu tempo de criança.
Eu não conheci os meus avôs, partiram muito jovens.
bom fim de semana Luis.
Beijinho e uma flor
Homens de outros tempos, amigo Luís! Muito real e muito poético também. Prosa com o ritmo e o bucolismo da vida no campo. Muito bonito.
ResponderEliminarBeijinhos
Que belíssima lembrança do avô. As pedras, fitas, cartolinas acabaram coladas ao coração, pelo amor que se criou em torno dele...
ResponderEliminarMeu amigo como eu também gosto de voltar muitos anos atrás e recordar meu querido avô, também ele tinha a arte nas mãos e um amor imenso pelos netos.
ResponderEliminarAdorei divagar pelas suas lembranças e conhecer essa pessoa tão especial, o seu avô.
Bom domingo
Beijinhos
Maria
Uma fascinante história, escrita com genealidade. É bom exercitar o nosso cérebro, tendo novas ideias, inspirando-nos naquilo que somos capazes de fazer, como fez o avô da tua história.
ResponderEliminarGostei de ler, amigo Luis!!
Caro confrade Luís Coelho!
ResponderEliminarMais mais vez somos brindados com uma brilhante crônica da sua lavra!
Quem me dera ter sido um dos felizardos amigos do seu avô, que paravam na pedra para tirar um dedo de prosa com ele, bem como ter recebido de mimo uma das peças artesanais que criava.
Procuro sempre estar em atividade, porque deste modo espero evitar ficar sob as garras daquela nefasta doença do alemãozinho.
Caloroso abraço! Saudações lúcidas!
Até breve...
João Paulo de Oliveira
Um ser vivente em busca do conhecimento e do bem viver
Oi luis,
ResponderEliminarBelas reminiscências que jamais vai olvidar enquanto viver. Eu não tenho nenhuma habilidade para artes o meu forte é física e matemática e, em casa o fogão, adoro cozinhar. Sou boa anfitriã.
Pena que coloquei a postagem de hoje tarde, todos pensam que é minha vida e nada tem haver.kkk
Beijos no coração
Lua Singular
Beijos
Lua Singular
Oi luis,
EliminarDesculpe o erro: haver:errado, a ver: certo.
Adorei seu último comentário, eu não sou de responder no blog, mas não aguentei e respondi seu comentário
Obrigada pelo carinho.
Lua Singular
Infelizmente não tive o privilégio de conhecer meus avós, nem maternos nem paternos. Deve ser altamente gratificante a lembrança de dias felizes ao lado deles. Belo e bem coordenado texto Luís.
ResponderEliminarAbraços e uma ótima semana para ti e para os teus.
Furtado.
UN RELATO QUE ES MÁS QUE UNA HERMOSA EVOCACIÓN.
ResponderEliminarUN ABRAZO
Lembranças que são um tesouro que nos acalenta o coração, que saudades de meu avô apenas convivi com um deles o pai de minha mãe, sempre tão generoso, o outro faleceu ainda eu tinha cinco anos, lindo relato Luis adorei viajar e imaginar como seria bom ter uma pedra assim num lugar tão bonito para me sentar e divagar,abraços Luconi
ResponderEliminarCaro Luís
ResponderEliminarSão pedaços da vida dignos de realce. Ensinam-nos a encará-la de modo
a dignificar todos os momentos, em especial esses que enfeitam os dias
de quem já fez o seu percurso e deixou a sua marca.
Foi um belo relato, aliás, como todos os que nos tem trazido.
Abraço
Uma boa semana.
Olinda
Olá,Luis!
ResponderEliminarQue bom envelhecer assim: Com a memória repleta de boas recordações, e ainda energia e vontade de sobra para dar asas à criatividade e ao gosto de fazer.
Bonito relato, com por aqui é hábito…
Um abraço e boa semana.
Vitor
É sempre um gosto ler o que o amigo escreve. Eu tenho muitas saudades dos meus avós.
ResponderEliminarGosto muito de ler o que escreve, porque envolve gente simples, mas muito sábia.
Bj. e o desejo que esteja bem.
Irene Alves
Ah se pudéssemos voltar atrás e SUGAR para dentro de nós as histórias ditas por nossos AVÔS e AVÓS. GRAVAR palavras que quando ditas... Não foram dadas VALORIZAÇÕES à tantas histórias Grandiosas... Exemplos de VIDA e HONrA. Linda história.
ResponderEliminarAmei sua resposta no meu Blog.
Obrigada pelo carinho.
Um abraço.
Olá Luís
ResponderEliminarbelíssimo conto
como já é habitual por aqui
Venho agradecer as suas visitas
eu é que não tenho vindo devolver
o carinho dos amigos
perdoe-me!
Na madrugada do sentir...
aqui estou
e deixo um beijo
felizes os netos que tiveram um avô assim
ResponderEliminarsólido como uma rocha, imaginativo e criador
um abraço
O que serviu para facilitar o trabalho, acabou por proporcionar o descanso tão merecido dos anos da vida.
ResponderEliminarComo sempre um excelente trabalho, de uma grande qualidade narrativa. Plasmando grandes conhecimentos dos meios.
Abraços de vida
Sobressai a ideia de resistência, de perseverança. Há pessoas cuja criatividade não lhes permite parar e sabem manter florida a vida, como um jardim na primavera. Esses são os exemplos que devemos seguir.
ResponderEliminarBeijo
Lídia
Si dejamos alguna obra antes de irnos de este mundo, no seremos olvidados.
ResponderEliminarAbrazos.
Olá,Boa noite,Luís
ResponderEliminarsim, uma maravilha de texto e lembranças desse avô , naquela pedra, rodeada de doces recordações...sabe,penso que é muito divertido ter um "lugar" para se pensar fora dos limites "conhecidos"...pequenas coisas podem ser feitas quase que instantaneamente, coisas maiores podem precisar de tempo para se desenvolver. Então, é deliciar-se com o processo de poder ver a vida transformar-se diante de seus olhos e depois voltar à velha "vida" de sempre...
Obrigado pelo carinho, belo final de semana,abraços!
Benditos os avós que deixam estas lições...talvez escritas numa pedra que, ao ser olhada hoje em dia, farão recordar os verdadeiros valores da vida.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana.
Graça
*Luís Coelho, acredito que teu avô foi uma pessoa inteligente, alegre e carinhosa !!! Com quantos anos de idade ele veio a
ResponderEliminarfalecer ?! Qual era o nome dele ?! Ele era pai de seu papai ou de sua mamãe ?! Fiquei curiosa !!! *.*
Oi luis,
ResponderEliminarPassando para lhe desejar um feliz domingo
Um beijo no coração
Lua Singular
Mais um belo momento feito de pequenas coisas,
ResponderEliminarOs nossos antepassados deixaram-nos legados, que felizmente, alguns estão a trazer novamente à vida.
Um abraço Luís!
A vida e as suas lembranças.
ResponderEliminarBeijo
✿✿° ·..
ResponderEliminarMuita ternura nessa história!
Beijinhos e bom restinho de semana!
✿✿° ·..
Oi tio luis
ResponderEliminarObrigada pela primeira visita no nosso bloguinho
Beijinhos no coração
Mundo dos Inocentes
Luisamigo, Coelho nunca!
ResponderEliminarVenho muito tarde - mas venho. Descobri que tinhas um blogue e como não gosto nada de redes sociais vim até cá ao fim deste tempo todo. E, sinceramente, gostei. Tens uma prosa boa, tens ideias - o que por aí falta... - e sobretudo sabe comunicar. Os meus parabéns, ainda que tardios; desculpa
Entretanto, quero informar-te que , como estás a ver, voltei à tua companhia; o Crónicas das Minhas Teclas está em “hibernação”, mas não está parado; (diz-me sff se gostas deste título e ou não gostas). Se for não, alvitra um título que eu analisarei e se entender que será melhor, o aceitarei. É, pois, um desafio que te lanço. Muito obrigado.
Mas por agora quero dar-te a informação de que já acabei o texto, o Leonel Gonçalves está a ver o dito e… a Raquel também. É uma mulher de armas, sempre pronta a ajudar-me!...
No dia 16 deste mês começa a edição: capa e miolo vão entrar na impressão e, depois, há que pensar na distribuição que seja a melhor. E a publicidade? O editor e eu estamos carentes de euros e será a que for possível; com a participação de quem queira também publicitar junto das Amigas e dos Amigos, o que desde já agradeço muito. Vou ainda tentar junto da malta amiga da comunicação social que façam o que melhor entenderem, ou seja que me dêem uma mãozinha.
Está a ser estudado o local do lançamento; tem de ser mais ou menos espaçoso e com boas condições. E não muito caro… Enfim, trabalha-se. Porém, neste interregno, voltarei a visitar-te e a comentar-te como é meu apanágio. E naturalmente a avisar-te sobre o local, o dia e a hora do lançamento. Quero-te lá: para te ver e/ou conhecer pessoalmente e ver-…te comprar muitos exemplares, pois o Natal vem aí e o livro será uma rica prenda. rrrrrrsssss…
Este texto é único e vai repetir-se pelos blogues e comentadores e colabores que me têm acompanhado; infelizmente não posso avisar e comentar uma a uma ou um a um. Desculpem
Hola amigo, disculpa por no venir a tu blogs la verdad es que yo no participo en los blogs públicos tengo tan poco tiempo se me complica este tipo de blogs varias veces había intentado entrar a tu blogs pero no pude ahora encontré esta entrada bien atrasada y entré, muchas gracias por tu amable comentario, y tu grata visita. Un abrazo que estés muy bien.
ResponderEliminar¡Hola, Luis!!!
ResponderEliminarPrimero agradecer tu visita a mi espacio: Luego decirte yo tengo gratos y grandes recuerdos de mis abuelos. Se sentaban a la vera del fuego, en invierno: en una cocina de piedra grande con un buen brasero, era lo que había por aquel entonces. Ellos si nos contaban cuentos- leyendas y también historias reales. Los abuelos siempre dejaron huella y, nosotros también la dejaremos, unos de una forma y otros de otra, pero todos son recordados.
Ha sido un inmenso placer leer tu precioso relato.
Te dejo mi gratitud y mi estima.
Un beso azul en vuelo. Y se muy muy feliz.
Maravilhoso texto! Parabéns!
ResponderEliminarOlá, Luís
ResponderEliminarBom tudo.
Vim, desejar-te, um fim de semana, bem bom.
Muita Paz. Desejos de alegria. Certeza sim, que independente da tua religiosidade, o Criador, está sempre de plantão, olhando por mim e por ti, e nos convidando, a refletir sempre, que o melhor do mundo, somos nós, os seres humanos. Por isso, somos humanos e, criados, à sua semelhança.
Dito isto, te convido a vim " cumê' um "manuê" cá no meu blogue.
Um abraço.