Conta-se por aí que os Domingues do Casal eram rapazes "vivaços" e sempre bem dispostos. Não havia nestas redondezas quem os igualasse nas brincadeiras, bem imaginadas e representadas com alto grau de perfeição.
As pessoas nem desconfiavam, que tudo quanto eles diziam e faziam, era pura imaginação.
Mais tarde, comentavam com os amigos algumas destas cenas.
Davam ainda mais graça à sua imaginação, e então os amigos rebolavam-se de tanto riso, quer pela graça das partidas quer ainda pelos gestos e falas utilizadas.
No final saía sempre aquela conversa:
- Isto é muito melhor que irmos ao circo.........!
- Oh Mário, conta lá aquela da Fábrica do senhor Carvalho de Monte Redondo.
- No mês de Junho, a feira dos 29, era no dia de São Pedro, o último dos três santos populares. Antigamente era dia santo. Ninguém trabalhava aqui nas aldeias. Aproveitavam o dia para irem à feira vender as suas coisas, criadas no campo, ou ainda, para comprarem uma fatiota nova.
O Mário e o Manuel, eram rapazes de aspecto agradável e com os fatos novos, nem pareciam ser trabalhadores rurais, habituados aos trabalhos mais duros da vida no campo.
Entraram na fábrica, com um ar grave e as mãos cruzadas atrás das costas.
Iam conversando, sem se rirem, e sempre muito compenetrados.
- Dizia o Mário:
-Esta máquina, não pode ficar aqui....Isto, não pode ser assim.... Esta, vamos colocá-la à saída.....
Respondia o Manuel:
- Pois, pois ...O senhor tem razão....Deve-se mudar isto tudo na próxima semana....aquela máquina fica melhor acolá.
Andavam ambos naquele teatro, quando alguém veio ter com eles e lhes perguntou o que é que pretendiam.
Nós, andávamos a tirar as medidas para fazer a montagem da nossa fábrica, responderam prontamente.
O Senhor Carvalho, deu-nos autorização, acrescentou o outro.
Entretanto, foram caminhando para a saída que já estava perto.
O empregado, nem chegou a saber quem eram, e porque andaram ali tanto tempo.
Já na rua, riam alto, e com mais vontade ainda, por terem conseguido o que queriam.
Fingir-se donos da fábrica.
Fingir-se donos da fábrica.
II
Havia em tempos, umas Termas para doenças da pele na Azenha. Ficam ali para os lados de Alfarelos - Coimbra.
As pessoas aproveitavam os meses de Inverno para irem para lá fazer os tratamentos «ir a banhos».
Geralmente passavam lá 15 dias.
No final da primeira semana, alguém da família ia visitá-los e levar-lhes mais coisas para comerem.
Durante a estadia, alugavam um quarto, com serventia de cozinha, numa casa particular.
Durante a estadia, alugavam um quarto, com serventia de cozinha, numa casa particular.
Uma vez, os Domingues, foram lá visitar um familiar.
Embarcaram no comboio na estação de Monte Real, guardando sempre uma saca de pano onde levavam os mantimentos para o seu familiar nas Termas.
No regresso não traziam nada, e então deram largas à sua imaginação. Percorreram todas as carruagens onde conseguiram entrar. Nas estações saíam de uma carruagem e entravam na seguinte deixando sempre uma marca de boa disposição.
Quando o comboio começou a travar já perto da estação de Monte Real, foram perguntar a umas Senhoras (muito finas e distinas):
- Diga-me por favor que Estação é esta...... ?? (eles fartíssimos de saber)
- É Monte Real, responderam .
-Há ....! Monte Real.....!
- Anda, anda mano!... Temos de sair aqui... vamos embora ...... o nosso choufer, está à espera......! E o Paizinho está muito, muito ralado, respondeu o outro.
As senhoras continuaram a viagem e eles saíram muito rapidamente, pois ainda tinham de palmilhar mais de três quilómetros a pé até chegarem a casa, pelas encostas das Ladeiras do Casal.
III
Certa vez, andavam cansados de trabalhar nos campos do Vale do rio Liz.
Estavam cheios de pó e de suor. Então combinaram, ir tomar um banho de água fresca ao rio.
Não se via ninguem por ali. Escolheram um recanto ladeado de amieiros que fazia uma repreza natural de águas muito cristalinas.
Tiraram todas as suas roupas, que guardaram junto de um arbusto, e "descalços até às orelhas" lançaram-se na água, que naquela altura tinha uma temperatura muito agradável.
Alguém os espreitava e os seguia. Assim que os viu a chapinhar no lago foi-se ás roupas e levou-as, sem eles se aperceberem.
Quando foram para se vestir e não viram as calças e as camisas ficaram desorientados.
Estamos perdidos, dizia o Manuel. - Então aquela ...santa .... filha da...levou-nos a nossa roupa toda....e agora como é que vamos para casa.... com tudo à mostra....!?
- Tem calma, Manuel. Vamos estudar como fazer isto sem sermos vistos por ninguém.
É preciso não fazer barulho e ver quando é que podemos avançar.
Dito e feito. Estavam escondidos no ponto onde tinham guardado as suas roupas e agora queriam descobrir outro sítio mais longe do rio e mais perto da sua casa.
Já não eram como Deus os pôs no mundo. Eram homens feitos, com as suas partes púbicas bem evidenciadas. Não queriam ser chacota de ninguém.
O tempo estava a seu favor. Era quase noite, e de noite era mais fácil, esconderem-se na própria escuridão.
Aos poucos atravessaram terrenos cheios de milho e pinhais que lhe davam a possibilidade de procurar outros abrigos.
Chegaram a casa pela noite dentro e já com outro plano vestir-se rapidamente sem serem descobertos pelas irmãs ou os pais..
O Mário estava preocupado com as suas roupas. Faziam-lhe falta e não tinham outra para vestir . Neste tempo só havia a roupa do trabalho no campo, e a roupa do Domingo para ir à Missa "ver a Deus"
Combinaram com a irmã para ir lá a casa da "santinha"....... buscar as suas roupas.
Tão cedo não voltarão a tomar banho no rio e ainda menos completamente nus.
IV
O transporte, nestes tempos recuados, era o burro.
Quando acabavam o dia longe de casa e o cansaço era muito. Montavam-se no burrinho que os traziam de regresso até a casa.
Parecia uma corrida de burros. Uns atrás dos outros caminhando lentamente no escurecer dos dias e de regresso ao doce lar.
Às vezes o compadre dizia :
- Passamos lá em casa para provar a pinga. Não torcem caminho.
As conversas e os copos, por vezes, são inconvenientes e no final de um dia de trabalho nos campos, turvava mais os conhecimentos.
Acreditavam que o burro os levaria sempre a casa.
Um dia enquanto bebiam e conversavam na adega do Armando, alguém, por malandrice, foi trocar os burros de lugar.
De noite todos os burros são pardos, dizem aqui na aldeia.
Quando acabaram de beber o último copo e depois de desejar as boas noites saíram e montaram-se no burro onde o tinham deixado. Nem repararam que não era o seu.
O burro puxava para um lado e o dono para o outro.
Nã pode ser...! isto nunca m´a aconteceu....! Querem lá ver que o burro tá doido...!
Olha olha ,...então ali o burro do Mário, salvo seja, e com a sua licença, tá pró mesmo....!
Nós bebemos e os animais endoidaram....... Nã pode ser....
O Manuel chega-se junto do Mário e diz-lhe :
- Vê lá se este burro é o teu...?
- Vendo bem não me parece....! O compadre deixe-me ver a sua besta....
- Trocaram-nos os animais, tá visto....
Burro para um lado e encontrão para o outro lá se montaram cada um no seu e seguiram caminho. O Manuel e o Mário Domingues iam a pé e seguravam o burro pela arreata.
Não está nada perdido..........Amanhã voltamos ao mesmo.
Ganhamos apenas para a sopa. Cada dia estamos pior....
luíscoelho
Foto do Agro-Museu D. Julinha em Ortigosa - Leiria
ResponderEliminarEstou feliz por ter completando as MIL postagem no blogger UMA PAGINA PARA DOIS e vim agradecer por você fazer parte dele com o seu carinho.
ResponderEliminarAbraços, te desejo uma linda semana
Que gostoso ler os "causos" e expressões tão bem colocadas. A narrativa bem contada faz você entrar na história e viver cada momento. Abraços meu irmãozinho querido.
ResponderEliminarQuer dizer então que o meu amigo andou a arrumar a casa?
ResponderEliminarFizeste bem. Está mais atraente o teu blog.
Sobre os "teus" bons malandros está tudo dito: são as memórias que nos fazem estar vivos.
Abraço
João
Boa semana amigo Luís.
ResponderEliminarGostei como sempre de sua historia,
e também sua nova aparência ,parabéns por seu bom gosto. Um abraço.
Luis
ResponderEliminarAs suas histórias, são sempre uma maravilha, não se conseguem deixar de ler até ao fim, ficamos embebidos na história.
Beijinhos
Sonhadora
Querido amigo, quantas saudades!!! Ha tempos nao vinha aqui, mas estava precisando "passear" um pouco por lugares distantes e desconhecidos, mas que na minha mente, eu os conheço, todos, afinal, tambem sou uma portuguesa, pois que sou casada com um. Beijinho.
ResponderEliminarAh!, gostei muito da nova "cara" do blog, ficou mais lindo. Parabens. Obrigada pelas visitas e seus comentarioss. Beijinho.
ResponderEliminarCaríssimo amigo Luis,
ResponderEliminarNarrativa fluida e que dá gosto acompanhar. Para que esteja de certo modo familiarizado com que eram aqueles tempos e a vida rural, mais facilmente se integra nas histórias aqui tão bem contadas. É elementar que estas recordações são um testemunho valioso por verdadeiras e não ficionadas, e pela bem humorada forma desses "meninos" se comportarem. A vida era dura, muito dura mesmo, a bafejá-la com alegria só mesmo estas coisas singelas mas tão apetecidas.
O meu apreço e um forte kandando
Bonita foto.
ResponderEliminarTem um selo no meu blogue :)
abraço
Olá Luis, uma bonita história gostei muito,e também gostei de o ter lá no meu cantinho, também o estou seguindo para vir por aqui mais vezes,
ResponderEliminarum Abraço,
José.
Gosto sempre de ler estas histórias tão reais, tão regionais :) E conta-as tão bem! Beijinhos
ResponderEliminarLuis
ResponderEliminarEu deliro com as tuas histórias, contadas com arte e engenho e guardadas na memória do coração. Acho que já te disse: fazes-me lembrar o meu Pai que era um óptimo contador de histórias. Faziamos serões com amigos até ás tantas porque as suas lembranças variavam. Até aos 22, relatos da sua aldeia transmontana e amores atribulados, depois,episódios verídicos passados no mato em Moçambique.
Antes de me ir embora, deixa-me dar-te os parabens pelo teu novo portal. Está lindissimo. Quando é que nos convidas para fazermos ali uma "fresquita" ( O meu Pai usava esta palavra...não sei se existe mesmo, nós, os filhos, adoptámo-la.)
Um beijo amigo
Graça
...o que seria de nós sem
ResponderEliminaras velhas lembranças,
como esta que nos conta
tão ricamente aqui?
adoro..
beijo, menino!
Pois que surpresa, novo visual...
ResponderEliminarEu também gosto de mudar, apesar
de já me terem acusado de o fazer.
Está agradável e a história
fez-me sorrir.
Beijinhos/Irene
Luis, amado!
ResponderEliminarVisual novo...achei até que tinha entrado no blog errado rsrs. Suas histórias são sempre um prazer de ler.
Beijuuss n.c.
Rê
www.toforatodentro.blogspot.com
Um belo dia pra ti amigo,,forte abraço.
ResponderEliminarQue delícia ler tuas histórias. Que bela narrativa.
ResponderEliminarJesus te abençõe e ilumine seus caminhos sempre.
Um grande beijo!
Era para te colocar uma pergunta mas vejo que já respondeste.Eu estava a conhecer a foto...era realmente para confirmar a origem...
ResponderEliminarTu fazes-me lembrar o Luis Vaz...de Camões "e se...memórias do passado se consentem..."
Tu tem-las bem vivas, as tais memórias.O meu "arquivo" tem as minhas memórias passadas em pastas não disponiveis...mas gosto de te ler quando nos falas desses tempos que te deixaram boas recordações...
Um abraço
Luis, é para lhe dizer que no
ResponderEliminarmeu blogue http://intemporal-pippas.blogspot.com há um
selo para si.
Desejo que esteja bem/Um beijo/Irene
Olá Direitinho,
ResponderEliminarObrigada pela sua visita. O seu texto está maravilhoso e as lembranças que temos da vida é um historial muito importante e é bom partilhá-lo com os outros, com as cores da nossa sensibilidade.
Hoje as fotografias que coloquei no meu blogue dos Jardins do Palácio, também me trazem imensas recordações de muitos momentos que lá vivi.
Um grande abraço,
Manuela
Amigo Luis, que texto bonito. Prendi-me a ele desde o inicio ate ao fim.
ResponderEliminarAbracos
Fantástico!...
ResponderEliminarSenti-me como por aí, com olores e sabores que então me rodearam. Sim, é que conseguiste levar-me com a tua narrativa por caminhos que então pisei. Sempre é bom o reencontro com o passado, presente.
Pareceu-me ler a Almeida Garrett...
Um grande abraço
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ResponderEliminarLi com prazer a sua história!
Beijos de luz e o meu carinho!!!
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