(Foto google)
Anoitecia numa brisa morna de Outono. As cigarras haviam parado o canto. Ouvia-se de quando em quando o piar dos mochos e ainda o coaxar das rãs soltas pelos recantos e poços da ribeira.
O pessoal regressava a casa depois de um longo dia de trabalho nos campos repartidos daquela várzea fresca e verde.
Todos as casas cá da aldeia tinham ali o seu talhão de terra fértil.
Nesta época já andavam na colheita do milho, feijão, abóboras e beterrabas. Depois crescia naturalmente uma camada de erva verde que era de bom sustento para as vaquinhas mansas.
Na força do Verão, nos meses de Julho e Agosto, construíam açudes para represar as águas. Depois combinavam entre eles os dias de rega de modo que ninguém ficasse prejudicado.
De quando em quando, no leito do ribeiro, construíam novos açudes. Logo que os primeiros tivessem regado abriam uma comporta no fundo do açude para a água passar adiante.
Muitas noites ficavam por ali de guarda ao açude, embrulhados num capote. Outras noites, quando corria mais água, passavam a noite a regar a terra, pisando com os pés descalços e guiando a água por dentro das leiras de milho verde.
Aqueles que tinham dinheiro mandaram abrir poços e montaram um engenho para tirar água com as vaquinhas. Regavam quando queriam e sempre que precisassem. Mas os outros tinham apenas a água da ribeira.
Houve muitas guerras e desentendimentos por causa da água. Por vezes a seca era grande e a água era pouca para todas as hortas. Alguns, mais atrevidos, metiam-se dentro dos açudes e abriam a comporta deixando correr a água para a sua horta.
Houve muitas guerras e desentendimentos por causa da água. Por vezes a seca era grande e a água era pouca para todas as hortas. Alguns, mais atrevidos, metiam-se dentro dos açudes e abriam a comporta deixando correr a água para a sua horta.
Numa dessas noites, o Charuto meteu-se dentro da represa para roubar a água, mas o vizinho, que estava escondido de guarda, mandou-lhe com a sachola e cortou-lhe o braço.
Já não se entendiam antes, mas agora... Nem eles esperavam este desfecho.
Um ficou maneta, e o outro não se livrou da cadeia e de o indemnizar por danos pessoais. Ainda me lembro de ver o Charuto com o casaco vestido só de um lado. Do outro a manga do casaco baloiçava-se sem nada.
Nas tardes de Verão enquanto os mais velhos dormiam a sexta os catraios escapavam-se para estas represas e ali aprenderam a nadar e mergulhar em águas limpas.
Na inocência da idade iam para a água descalços até às orelhas e desafiavam-se uns aos outros quem seria capaz de aguentar mais tempo de mergulho ou fazer o maior percurso de natação pela ribeira acima.
Restam-nos algumas lembranças desses tempos e desses terrenos primorosamente trabalhados. Hoje a maioria dessas terras em talhões foi abandonada e ribeira é um denso matagal de amieiros e choupos além de um denso silvado.
Nas tardes de Verão enquanto os mais velhos dormiam a sexta os catraios escapavam-se para estas represas e ali aprenderam a nadar e mergulhar em águas limpas.
Na inocência da idade iam para a água descalços até às orelhas e desafiavam-se uns aos outros quem seria capaz de aguentar mais tempo de mergulho ou fazer o maior percurso de natação pela ribeira acima.
Restam-nos algumas lembranças desses tempos e desses terrenos primorosamente trabalhados. Hoje a maioria dessas terras em talhões foi abandonada e ribeira é um denso matagal de amieiros e choupos além de um denso silvado.
Luíscoelho
Luis, é uma delicia ler o que escreve e o modo como escreve. Vivemos cada palavra, cada caminho, cada pormenor. Magnifico!
ResponderEliminarBom fim de semana
abraço
oa.s
Caro Luis
ResponderEliminarMais uma bela narrativa com a tua capacidade nata de relembrar pormenores aparentemente insignificantes, mas que nos trazem à memória aspectos das nossas vidas.
abraço
Leve como a agua...beijo Lisette.
ResponderEliminarLuis
ResponderEliminarExcelente estória!!! Mais uma que me faz reviver a minha infãncia.
Pois conheci algumas pessoas que se zangavam do tipo de se odiarem por causa das águas de rega, ou isso ou as mudãnças dos marcos, esse era outro assunto de grandes zargatas.
Eu passava horas e horas com 10 aninhos a tirar agua da vala com um cabaço para regar o milho, feijão, alfaces, pepinos, e outras coisas mais ali numa terra do meu pai perto da Carreira.
As ervas que crescianm depois das colheitas chamamos-lhe a melhãm.
Também eu, o meu irmão combinado com os outros das nossas idades estavamos sempre ansiosos pela hora da sesta para irmos para dentro do colector que vem de Monte Redondo e passa à sismaria e vai pelo campo penso que até à Vieira.
Ao contarmos estas coisas aos miudos de hoje, pensam que estamos a inventar.
Abraço bom fim de semana
Oi, amigo sonhador, esses teus relatos me deixam às vezes triste, as lembranças são bonitas,sim*
ResponderEliminarmas no final "a ribeira" não existe mais ...
É lamentável isso!
Em todos os lugares do mundo destroem a natureza, as coisas lindas desaparecem ou por abandono ou em nome do progresso.Estão acabando com as Matas do Brasil que nos fazia tão bem, os rios estão secando também e eu fico pensando que era melhor viver há algumas décadas atrás .
Beijo da amiga brasileira Mery*
silvados e choupos
ResponderEliminare o coaxar das rãs
suspendo a respiração e mergulho na ribeira dos Conqueiros
um abraço
manuela
Sempre muito bom te ler, Luís.
ResponderEliminarBeijo e ótimo fds.
EXCELENTE SU RELATO. SIEMPRE UN GUSTO VISITARLO.
ResponderEliminarDISCULPE AMIGO, EL ANTIVIRUS SIGUE PONIENDO EN ALERTA SU BLOG, AHORA POR ESTA DIRECCIÓN: acazadamariazita.blogspot.com. SÓLO DEBE USTED ELIMINAR DICHA DIRECCIÓN.
UN ABRAZO
Água e vedações eram quase sempre motivo de desavenças.
ResponderEliminarA certa altura pensei que o vizinho tivesse era pegado na caçadeira.
Belo relato, como sempre.
Bom fim de semana.
Muito interessante este desfilar de recordações.
ResponderEliminarO mais engraçado é que são estas coisas aparentemente sem qualquer importância, aquelas que vamos lembrando pela vida fora com mais saudade.
Um abraço e bom fim de semana
Estou a ler e a sentir-me na minha terra onde isto ainda se vai passando. Muitos poços foram abertos ao longo dos anos e a maior parte dos agricultores já não precisa de aguardar pela sua vez de regar. No entanto, outros ainda partilham o mesmo tanque de rega.
ResponderEliminarA ribeira já não é o que era mesmo em anos de chuva. O caudal foi diminuindo mas ainda há quem se atreva a um mergulho ao som das cigarras ou do coaxar das rãs e do canto dos grilos.
Belo texto!
Bem-hajas!
"Nunca desesperes face às mais sombrias aflições de tua vida, pois das nuvens mais negras cai água límpida e fecunda."
ResponderEliminarProvérbio chinês
Bom Fds... Beijos & Flores! M@ria
VOU TENTAR MAIS UMA VEZ....MAS CREIO QUE NÃO CONSIGO DEIXAR O MEU RECADO.
ResponderEliminarGOSTO DE COMENTAR, GOSTO DOS SEUS TEXTOS, TEEM TUDO A VER COMIGO!!!
PELAS VIVENCIAS QUE PARECEM SER MUITO PARECIDAS.
1 BEIJO LÍDIA
Mais uma das suas maravilhosas histórias bucólicas...
ResponderEliminarAbraço
Delicioso momento para... e aqui vou eu rumo às Ciências da natureza ... tantas temáticas introduzir, com a beleza e o encanto da qualidade das belas palavras.
ResponderEliminarAbraço.
Querido amigo é sempre um prazer ler as suas crónicas e divagar pelas suas recordações. Outros tempos em que o sentido de posse era levado bem a peito e a distribuição de água era motivo de muitas desavenças.
ResponderEliminarBom domingo
Beijinhos
Maria
Suas postagens são crônicas primorosas sobre lugares e pessoas e a passagem do tempo. Muito bonitas. Algumas palavras me são desonhecidas e tenho que ir ao dicionário buscar o significado, o que é bom, pois vou aprendendo. Linda foto de um lugar bucólico. Abraço, Angela
ResponderEliminarhttp://noticiasdacozinha.blogspot.com
É preciso ser poeta para se ver tanto detalhe em situações que as pessoas comuns não vêem. é preciso ter sensibilidade para escrever poemas ricos em tanta beleza. acho inteligente como você escreve. realmente, tem alma de poeta! um verdadeiro escritor!!!
ResponderEliminarboa noite amigo Luís....
Bom Domingo...
As memórias ..fazem parte do nosso "ser" e 2estar"!
ResponderEliminarBj
Lindo texto que me fez lembrar tempos de infância, em que meu avô por vezes no meio de uma imensa escuridão ia cortar a água para a sua represa, para mais tarde regar aqueles pedaços de terra onde punha todo o seu amor.
ResponderEliminarNasciam belos frutos que com muito carinho me acompanharam na infância e até há alguns anos atrás.
Grata por me trazer à memoria outros tempos.
Um abraço.
Ailimer
O meu amigo descreve tudo com tanta atenção aos pormenores que visualizo como se de um filme se tratasse.
ResponderEliminarVelhos tempos de escassez que decerto se irão repetir, infelizmente.
beijinhos
Caro amigo
ResponderEliminarMais uma bela narrativa dos tempos da minha meninice, em que tudo era difícil e abissalmente diferente dos dias de hoje.
O tema é-me familiar porque também eu recordo imensos episódios relacionados com a partilha da água ao longo do ribeiro que passava na área da minha terra natal. Lembro-me de "escaramuças" entre famílias que por causa da água não se falavam.
Estas suas histórias têm o condão de me fazer recordar e reviver por alguns momentos, esses episódios dos meus tempos de criança. Obrigado, amigo.
Muito bonito! Era assim mesmo que aconteceia. Claro que não tenho conhecimento de experiência feito como o Luis, mas pelas leituras dos nossos autores realistas que fui lendo.
ResponderEliminarMuito bonito e ecrito de uma forma verdadeiramente realista e natural.
Parabéns pelos seus dotes.
Beijinho
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