(foto do google)
Passava já da hora do almoço, quando o carteiro chegou ali a casa dos tios com uma carta. Os cães não gostavam do carteiro. Ficavam doidos. Cercaram-no sempre a rosnar e se não fosse o dono ter-lhe -iam mordido a sério.
O carteiro parece que já estava acostumado com estas manifestações caninas.
- Então o que é isso...tanto barulho para nada...Eu não vos faço mal... Estejam caladinhos!
Era um homem forte e corado. Trazia uma sacola de cabedal a tiracolo e vinha numa motorizada vermelha.
Fazia-me muita confusão como é que ele conseguia dar a volta por toda a freguesia que era muito grande.
Tinha que saber os lugares todos e depois onde moravam as pessoas a quem devia entregar as cartas.
Chamava com força:
- Correio....Correi...o...Co...rreio...
Se não havia ninguem metia a carta por debaixo da porta principal.
Depois continuava com a sua corrida de mota até entregar todas as cartas.
Ali em casa dos tios fez o mesmo. Entregou o correio e seguiu o seu caminho, pedindo que açaimassem os cães porque eles poderiam fazer mal a alguém.
Era uma carta do Armandito que tinha sido hospitalizado para uma operação ao estomago.
Tinha ido para Coimbra e depois da operação ainda ficavam uns dias em recuperação.
O tio começou a ler a carta e logo nas primeiras palavras parou de ler impedido pelos soluços.
Os outros filhos que estavam por perto começaram também num grande pranto.
Ele apenas leu:
- Querido pai e manos, espero que se encontrem bem de saúde quando receberem esta minha carta.....
Pensei que o rapazito estivesse pior. Tanta gente a chorar só por aquela primeira frase....
O tio limpou a cara com as costas da mão, respirou fundo e continuou.
- Eu também cá vou indo bem, mas com muitas saudades de todos......
Novamente os soluços aumentaram e parou a leitura da carta. Bem, por este andar, vão chorar muito ainda, a menos que a carta seja pequena.
- Isto são apenas alguns dias aqui. Depois estaremos todos juntos.....
- E quando é que ele sai do hospital pai, perguntou a Maria Júlia...?
- Coitadinho do meu irmãozinho... e choraram todos mais uma vez...
Quando conseguiu chegar ao fim da carta, suspiraram de alívio e começaram a dar beijos no envelope que depois apertavam contra o peito dizendo :
- Meu rico filho, meu rico filho...!
- Oh pai, agente vai visitá-lo se ele não vier para casa nesta semana?... Vamos..!?
- Não temos dinheiro para essas viagens e ele deve ter alta já na próxima semana.
Depois foram contando aos vizinhos e aos outros familiares que tinham tido notícias do Armandito e que estava tudo a correr bem.
- Choramos tanto, tanto...Ferrou-se-nos uma saudade que nem ficávamos bem se não desabafássemos as lágrimas todas. Parece que rebentávamos. Era o mais novo de oito filhos e eram todos muito amigos.
As pessoas respondiam:
- O pior já se passou. Agora é preciso que recupere e que fique bem de saúde.
No início da semana o Armandito teve alta médica e o tio foi de autocarro (camioneta) buscá-lo.
Agora ninguém chorava.
Alguns olhavam para ele tentando descobrir se estava inteiro ou se lhe faltava algum bocado.
Doeu muito menino...? Graças a Deus que já tudo se passou.
Olha, agora come e bebe para te fazeres um homem...!
Luíscoelho
Daqui deu pra sentir o tamanho da saudade e da união da família. Que lindo texto, meu querido.
ResponderEliminarParabéns pelo fiel relato, as riquezas dos detalhes nos transportam para o momento.
Beijo grande e abraço na alma.
Diva L.
Ora viva Luís
ResponderEliminarBoa operação, há que ter esperança e que haja quem saiba fazer as coisas como deve ser.
Um abraço
A força de uma família emotiva e unida foi lindamente expressa aqui!!
ResponderEliminarTu escreves com alma!
ADOREI, como sempre!!! abração,chica
Imagine você que por aqui os Correios estão em greve. Se essa história tivesse acontecido durante uma greve, Armandito teria voltado são e salvo e ninguém ficaria sabendo da cirurgia. A vida é mesmo imprevisível... Um abraço. Angela
ResponderEliminarhttp://noticiasdacozinha.blogspot.com
Antigamente, a comunicação era de doer. Hoje, com todos os portáteis, tudo é melhor. A melhor invenção do século passado foi o telemóvel (celular), depois a web (net). Nada substitui a presença, mas não existe comparação com a espera de horas na companhia telefônica para se conseguir um interurbano. Um abraço, Yayá.
ResponderEliminarOlá amigo, antigamente vivia-se com muito menos mas havia amor, união, companheirismo, se alguém estava doente e acaso tinha crianças as vizinhas se ajudavam. Pela doença de um sofriam todos à sua volta. Hoje, ás vezes nem aos da família ligam. É o salve-se quem puder e se estás mal dizem logo...põe-te bem. Adorei essa missiva. É sempre um prazer enorme lê-lo. Beijos com carinho
ResponderEliminarÉ bom ter regressado! Os seus textos são sempre uma delícia. Fazem bem à alma pela pureza e simplicidade das histórias.
ResponderEliminarAté sempre.
É bom ler-te :) Abraço
ResponderEliminarEu aqui, como sempre, viajando nas tuas histórias.
ResponderEliminarGrande beijo
Luís,
ResponderEliminarA minha era chefe de estação de Correios.
Desde pequeno que vivi ali no meio das cartas, dos postais, da mala que se fechava depois das 6 da tarde (um dia, ainda garoto, escondi os fechos todos. Levei uma malha!!), dos carteiros.
Alguns foram muito importantes na minha vida (a nassa casa ficava por cima da estação).
Depois de a minha mãe se reformar, a estação foi remodelada.
E leiloaram a mobília.
Comprei tudo!
Tenho as secretárias de madeira, e as respetivas cadeiras, o relógio de parede, a sacola, a corneta, os armários, a máquina de somar, ....
Está tudo no meu escritório aí em Portugal.
Um abraço
Um retrato de uma família exemplar que me comoveu.Dá-me ideia que esta união, nos dias de hoje, já se vai perdendo mesmo quando os entes queridos são tão próximos como no caso que referes.
ResponderEliminarVivo há cerca de um ano numa aldeia onde a distribuição do correio ainda é feita assim mas receber uma carta que não seja para pagamento de algo já muito raramente acontece. O telemóvel veio substituir esta forma de comunicar tão impressiva, tão emotiva, tão afectiva e que unia uma família em torno das notícias. Até me fizeste recuar aos textos de Júlio Dinis.Em boa hora regressaste. Saúdo-te, mais uma vez.
Um abraço fraterno
Bem-hajas, amigo!
Felizmente ainda se escrevem cartas, caro Luís. Pena que nem sempre tragam boas notícias
ResponderEliminarabraço e bom fds
Luis
ResponderEliminarA saudade devora.
Saudade, amor,união familiar, são sentimentos fortes demais.
Algo que está por muitos a ser trocado por bens matariais.
Abraço
Estes contos são maravilhosos. Falam de tempos em que havia afecto verdadeiro, comunhão e solidariedade de verdade.
ResponderEliminarParabéns.
Beijinho
Ná
BUENO, EL FINAL FUE COMO IMAGINA; FELIZ!!
ResponderEliminarUN ABRAZO
Amigo LUÍS
ResponderEliminarFaz-me falta as tuas palavras,
a tua compreensão,
os teus miminhos;
do fundo do coração
agradeço a tua presença no meu blog e as palavras deixadas...
Há quem goste,
quem ache as minhas imagens lindas!
eu também,
é a forma que encontro de mostrar o mundo ao mundo,
através dos meus olhos.
Enquanto Deus me der visão!
Porque nada é garantido,
hoje vejo
amanhã como será?
...
Mas...
mesmo assim, só 4 pessoas admiraram as minhas imagens e palavras!
Só 4 pessoas deixaram o seu comentário,
porquê???
Porque as outras não acham interessante...
ignoram!
AMIGO
jamais saberás o que é esta DOR!!!
Porque aqui há sempre muitos comentários;
SABER que existem muitas pessoas que o admiram,
bem como as suas palavras, pensamentos, histórias,
sabe BEM, MUITO BEM.
Faz bem à ALMA
ao EGO, a tudo!
a tristeza acompanha-me.
este é o meu grito de angústia!!!
Quanto às tuas histórias,
dão para reflectir.
Mas, nos dias de hoje,
quem reflecte?
Ninguém...
as pessoas estão a perder os seus valores!!!
São apenas zombies...nada mais.
Estou muito grata.
Um apertado e sentido abraço.
Tulipa (Ester)
A saudade dos familiares fizeram a sua recupearção ser amis rápida...serviu como uma motivação!!! mas nem sempre é assim...eh eh eh
ResponderEliminarAbraço
Antigamente era assim. As pessoas guardavam as cartas com tanto carinho que parecia que estavam cuidando o ente querido. Lembro de uma velhota que conheci há mais de 50 anos, que sempre que recebia carta do filho andava com ela no seio até que chegava a próxima.
ResponderEliminarUm abraço e bom fim de semana
Maravilhoso!
ResponderEliminarAquele que era um Portugal de afetos que já pouco se encontra. Mas é exatamente aqui que encontro alento para enfrentar a crise: talvez assim, os portugueses voltem a ser gente que sente e não da que passa despercebida à dor da pessoa ao lado.
Abraço.
Amigo Luis, deu para sentir o amor imenso que unia essa familia.
ResponderEliminarHoje deixei no meu cantinho “SELINHOS – Presentes dos AMIGOS” - http://maria-selinhos-presentesdosamigos.blogspot.com/2011/10/selo-de-qualidade-este-blog-e.html - um miminho especial é o “Selo de Qualidade”, o seu cantinho merece pois é um espaço onde a qualidade e o bom gosto estão sempre presentes em todos os posts.
Bom fim de semana
Beijinhos
Maria
Meu querido Luís
ResponderEliminarComo sempre as suas histórias quase nos transportam para o sítio onde se passam.
Deixo um beijinho
Sonhadora
Era mesmo assim!
ResponderEliminarTodas as notícias, boas, menos boas e más vinham chegavam por carta!
As péssimas vinham por telegrama!
O carteiro era uma das pessoas mais queridas das pequenas comunidades, através dele estavam ligadas ao mundo!
Abraço
Não se permita entristecer,
ResponderEliminarpor nada nesse Domingo.
Mostre a todos o valor do seu sorriso
aproveite esse Dia para ser feliz
Faça chuva ou Sol estarei sempre aqui para dizer
que te amo.
Um lindo e feliz Domingo.
Beijos no coração.
Evanir
um dia, Luís
ResponderEliminarrecuperaremos esta riqueza dos afectos
que aqui nos contou
um beijo
manuela
*Luís, amigo querido, como você
ResponderEliminarestá ?! Tudo bem ?!
*Luís, que FAMÍLIA BONITA é essa
sua !!! *Meu Deus !!!
A nossa sociedade atual está
CAÓTICA, TRISTE, PERDIDA porque
as famílias estão ACABANDO !!!
Tá uma TREMENDA BAGUNÇA !!! Os
se separam e casam novamente
várias vezes e as crianças vão
ficando JOGADAS, ESQUECIDAS ,
MALTRATADAS !!! Por isso mesmo
que eu me divorciei e NÃO ME CASEI
NOVAMENTE !!! *Deus me livre !!!
*Luís, teu irmão Armandito,
hoje, possui quantos anos e ele
reside onde ?!
*Meu amigo, fiquei um pouco
afastada daqui da Blogosfera por
causa dos trabalhos na escola e por
causa, também !!! , deste
computador que se encontra muito
lento, velho, acabado !!! Preciso
providenciar um novo !!! :D
*Meu amigo, gosto de *Ti e
estou CONTENTE por deixar aqui
este meu comentário sobre esta
tua postagem a respeito da
operação de estômago do teu irmão
caçula !!!
*Luís, fiques com Deus !!!
*Um abraço.
*Beijos também !!! :D
Ó criatura...quase te prdia o poiso!
ResponderEliminarrealmente...era um pouco assim...eu recordo um episódio parecido que aconteceu com uma prima em 2º grau que teve uma apendicite....
nhos
De BShell
Agora, com os tempos difíceis, com as nuvens negras sobre as nossas cabeças, a segurança das pessoas está na família e amigos...
ResponderEliminarComo ficou demonstrado pelo seu comovente relato.
Abraço,
António
Meu caro amigo Luis
ResponderEliminarÉ desses tempos que eu tenho imensas saudades. É verdade que eram tempos mais difíceis, mais isolados, em que as mesmas distâncias de hoje, eram então enormes e qualquer viagem ou ausência, por mais pequena que fosse, dava direito a emotivas despedidas.
Antigamente cultivava-se a amizade com grande intensidade e pode dizer-se que ela (a amizade), era o verdadeiro suporte das pessoas para ultrapassar as dificuldades da época.
Actualmente, todos os valores estão adulterados e a amizade, já não é o que era nesses tempos, pura e incondicional.
Obrigado por mais este exemplo de tempos idos, os da nossa meninice, que foram de facto difíceis mas exemplares no convívio entre as pessoas.
Obrigado e um abraço.
Olá amigo Luis
ResponderEliminarConheço das peripécias que o amor tem. ja sofri muito por levar a sério demais as coisas. mas hoje eu não sou mais tão sonhador quanto fui antes. tenho os pés na realiade, mas de vez em quando gosto de me sentir nas nuvens pela descoberta de um novo amor. é isso que dá sentido a vida. só o amor. não vou me restringir de curtir a vida por deixar de acreditar no amor jamais. enquanto eu viver eu quero amar alguém! isso me completa por que eu na verdade já sou feliz comigo mesmo!
abraços meu amigo
boa tarde
até mais...
Como siempre Luis hermosa historia nos compartes
ResponderEliminarMe encanta leerte
Feliz semana
Un abrazo
Mais um pequeno/grande nada a dar conta da importância do núcleo familiar e de como a unidade e o amor ajudam a superar as dificuldades e a ultrapassar os medos.
ResponderEliminarUm beijo
Um conceito de família que se tende a perder, infelizmente!
ResponderEliminarBeijo
Oi Luís!
ResponderEliminarHoje venho aqui te deixa uma mensagem especial...
Receita de Paz
Ora com mais confiança em Deus.
Trabalha um tanto mais.
Serve com mais alegria.
Age mais caridosamente.
Desculpa as faltas alheias com mais compaixão pelos ofensores.
Usa mais calma, particularmente nas horas difíceis.
Tolera, com mais paciência, as situações desagradáveis.
Coloca mais gentileza no trato pessoal.
Emprega mais serenidade na travessia de qualquer provação.
E, assim, com a benção de Deus, encontrarás mais segurança e paz, nas estradas do tempo, garantindo-te o êxito preciso nos deveres de cada dia, a caminho da vida maior.
(Emmanuel-Chico Xavier)
Deixo com você o meu abraço carinhoso e desejo que a semana que se inicia lhe seja repleta de luz!
A paz esteja contigo
http://hajalluz.blogspot.com/
Amigo Luis,
ResponderEliminarO teu belíssimo conto, sobre o Armandito,fez-me sentir saudades do tempo em que as pessoas se correspondiam, trocando cartas, cartas autênticas.
Um abraço
Passagens e memórias que marcam a vida de forma simples mas sincera.
ResponderEliminarMuito bom lê-lo.
abraço
oa.s
É como se te estivesse a escutar. Narras por escrito aquilo que recuerdo del sussurro de tu voz...
ResponderEliminarUma narração mais com o teu cunho pessoal. Gostei.
Um grande abraço