Perdidos na memória do tempo, mas ainda consigo recordar alguns traços da sua fisionomia assim como das suas conversas aqui em casa.
Andavam à jorna. Iam trabalhar para quem lhes falasse primeiro, ou combinasse primeiro os dias que precisava deste trabalhador.
Vinham também aqui para casa.
Chegavam de manhã, às 09 horas, de enxada às costas e com vontade de «fazer o dia». Alguns dias vinha com a mulher e aqui passavam o tempo ajudando os meus pais nas lides do campo e na cultura da vinha.
Os filhos ficavam por casa entregues a si próprios e outras vezes vinham com os pais a troco de uma sopa e um pedaço de pão.
Eram pessoas pobres e morreram pobres.
A casa onde viviam só tinha telha em metade. A outra parte era descoberta não oferecendo abrigo nem segurança.
Um dia lembro o pai dizer-lhe:
-Dou-te um pinheiro para arranjares a tua casa e para poderem viver melhor nos dias de Inverno. Assim não estás bem nem os teus filhos......Pensa nisso.
O sr Silva nunca mais se preocupou e lá foram vivendo como puderam.
Os filhos cresceram e foram «Servir»
Saíram de casa e foram trabalhar para casais mais abastados que os alimentavam e lhes davam o ordenado no final do mês.
Quando veio a revolução de Abril de 1974, e com os filhos já todos casados a sua vida melhorou um pouco mas seguiram-se as doenças e lá partiram no esquecimento normal do tempo.
A mulher era muito descarada e dizia muitos palavrões e então a minha mãe estava sempre a repreendê-la para não falar assim na frente da crianças.
Um Domingo à tarde vinha com os filhos todos atrás de si e um cesto carregado com um tacho e não sei o que mais. Era arroz de míscaros.
Acomodaram-se na nossa eira e começaram a comer enquanto a minha mãe lhe foi buscar um pipito (bilha de madeira) de vinho de dois litros.
Nós estávamos a olhar e quiseram repartir connosco aquele arroz .
Coitadinhos dos meninos deixa-os comer um bocadinho...., dizia a senhora.
Provámos aquele arroz maravilhoso salteado com os cogumelos - míscaros - e pedacinhos de toucinho entremeado.
Era maravilhoso e parece que nunca mais provei arroz igual àquele.
Outro dia andavam a semear batatas e enquanto os bois lavravam um novo rego o sr Silva pegou numas poucas de alfaces para plantar mas a mãe disse-lhe :
- Sr José, páre lá com isso e vá fazer outra coisa. Isso faço eu !
- Mas não vê Ti Virgínia que não posso fazer nada sem que as vacas dêem a volta...? Se estiver parado é pior para si e para mim também.
Nos ajudámo-los a eles e eles ajudaram-nos a nós.
Ainda hoje somos amigos dos filhos do Sr Silva e eles são nossos amigos também.
O José, o Manuel, a Clarinda, a Emília e o Idalino.
Penso que dois já faleceram.
A Mulher do sr José da Silva chamava-se Emilia, mas todas as pessoas a conheciam por Recta. Ela não gostava nada deste apelido e quando alguem se atrevia a dizê-lo, sujeitava-se a ouvir muitas coisas desagradáveis. Ela tinha uma lingua bem afiada e resposta sempre pronta
luiscoelho
Meu amigo, tudo bem com voce e sua familia? Obrigada pelas visitas ao meu blog, seus comentarios sao sempre pertinentes e fico feliz por saber que voce ler minhas postagens. Estou indo para a Amazonia no proximo dia 10 e só voltarei em 30 e outubro, vou visitar parentes e amigas de infancia e adolescencia, como voce deve lembrar, pela minha identificação no blog, sou filha, neta e bisneta de amazonenses, portanto, volto à terra. Estarei em visitas a tres Estados: Rondonia, capital Porto Velho, onde minha mae e tia moram, vou ao Acre, capital Rio Branco, onde tenho uma tia-avó e muitas primas e vou ao Amazonas, capital Manaus, onde tenho quatro amigas de infancia, estudamos juntas no colegio salesiano Maria Auxiliadora. Bom, caso eu nao "apareça", foi por nao ter podido postar nem mandar noticias. Mas darei um jeito de mandar e-mail. Abraço fraterno e beijinho para toda familia.
ResponderEliminarSão todas essas memórias lindas que nos aquietam. Obrigada pela partilha, Luís. Beijos.
ResponderEliminarRecordar é viver.
ResponderEliminarObrigado pela sua visita e pelas suas palavras.
Um abraço,
Maria Emília
Gosto destas histórias antigas que metrazem um sabor de um tempo, sem dúvida dificil,mas cheio de uma pureza autêntica. Um abraço e uma boa semana Graça
ResponderEliminarA vida é isso mesmo: a memória (as memórias) que dela temos.
ResponderEliminarAbraço
João
Penso que um dos filhos se chamava Idalino, nunca mais o vi...
ResponderEliminarum abraço
Sr Curioso
ResponderEliminarTens toda a razão. O filho mais novo do Sr Silva chamava-se Idalino e por lapso disse Evaristo.
Este Senhor morreu, já lá vão uns largos anos. Se fosse vivo teria agora 58 ou 59 anos. Vocês ainda fizeram a Escola Primária juntos.
Fiz já a rectificação no blogue.