sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A ribeira dos Conqueiros



(Foto google)


Anoitecia numa brisa morna de Outono. As cigarras haviam parado o canto. Ouvia-se de quando em quando o piar dos mochos e ainda o coaxar das rãs soltas pelos recantos e poços da ribeira. 

O pessoal regressava a casa depois de um longo dia de trabalho nos campos repartidos daquela várzea fresca e verde.
Todos as casas cá da aldeia tinham ali o seu talhão de terra fértil. 

Nesta época já andavam na colheita do milho, feijão, abóboras e beterrabas. Depois crescia naturalmente uma camada de erva verde que era de bom sustento para as vaquinhas mansas.

Na força do Verão, nos meses de Julho e Agosto, construíam açudes para represar as águas. Depois combinavam entre eles os dias de rega de modo que ninguém ficasse prejudicado.

De quando em quando, no leito do ribeiro, construíam novos açudes. Logo que os primeiros tivessem regado abriam uma comporta no fundo do açude para a água passar adiante.
Muitas noites ficavam por ali de guarda ao açude, embrulhados num capote. Outras noites, quando corria mais água, passavam a noite a regar a terra, pisando com os pés descalços e guiando a água por dentro das leiras de milho verde.

Aqueles que tinham dinheiro mandaram abrir poços e montaram um engenho para tirar água com as vaquinhas. Regavam quando queriam e sempre que precisassem. Mas os outros tinham apenas a água da ribeira. 


Houve muitas guerras e desentendimentos por causa da água. Por vezes a seca era grande e a água era pouca para todas as hortas. Alguns, mais atrevidos, metiam-se dentro dos açudes e abriam a comporta deixando correr a água para a sua horta.

Numa dessas noites, o Charuto meteu-se dentro da represa para roubar a água, mas o vizinho, que estava escondido de guarda, mandou-lhe com a sachola e cortou-lhe o braço.
Já não se entendiam antes, mas agora... Nem eles esperavam este desfecho. 

Um ficou maneta, e o outro não se livrou da cadeia e de o indemnizar por danos pessoais. Ainda me lembro de ver o Charuto com o casaco vestido só de um lado. Do outro a manga do casaco baloiçava-se sem nada.


Nas tardes de Verão enquanto os mais velhos dormiam a sexta os catraios escapavam-se para estas represas e ali aprenderam a nadar e mergulhar em águas limpas.


Na inocência da idade iam para a água descalços até às orelhas e desafiavam-se uns aos outros quem seria capaz de aguentar mais tempo de mergulho ou fazer o maior percurso de natação pela ribeira acima.


Restam-nos algumas lembranças desses tempos e desses terrenos primorosamente trabalhados. Hoje a maioria dessas terras em talhões foi  abandonada e ribeira é um denso matagal de amieiros e choupos além de um denso silvado.
Luíscoelho

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Viagem a Lamego

Este ano quisemos fazer umas férias diferentes. Uns dias na praia e outros de visita pelo país.
Uma das viagens era obrigatória. Visitar um familiar internado na casa de repouso e reabilitação de Aguiar da Beira, no Distrito de Viseu. - Casa Umildasus  -

Dia 15/Setembro - Saída de Leiria 09horas.
A1  e IP3 até Viseu. Seguimos para norte em direcção ao Satão e depois a Aguiar da Beira.
Parámos para almoçar e conhecer melhor a sede de concelho de Aguiar da Beira. 
Aguiar da Beira.JPG




  1. Aguiar da beira - a set on Flickr


    Aguiar da Beira Município português pertencente ao distrito da Guarda, composto por treze freguesias (Aguiar da Beira, Carapito, Cortiçada, Coruche, Dornelas ...


Subimos até ao cimo do Monte de São Macário onde se colhe uma panorâmica geral de toda aquela área.

Depois da visita, na Casa de Repouso, ainda tivemos tempo para visitar Sernancelhe. Uma vila moderna onde o passado está bem cuidado e preservado. Parece poder fazer parte das Aldeias Portuguesas.




O concelho de Sernancelhe


sernancelhe.planetaclix.pt/ - Em cache
Uma guia do concelho e suas freguesias. Fotografias e informações sobre as suas festas e feiras, a história e monumentos das várias localidades.
Visitou esta página em 19/09/11.

Passámos a noite em casa de familiares. Na Sexta Feira, dia 16, 
fomos para Lamego. 
Seguimos em direcção a Moimenta da Beira. Uma estrada com bastante movimento e curvas acentuadas.

Uma paisagem encantadora em todo o percurso. Belos pomares, enfeitam a estrada de ambos os lados mostrando a fruta quase madura. 
Nas encostas mais para cima viam-se grupos de trabalhadores na vindima. 
De quando em quando surgiam belas casas senhoriais resguardadas por muros largos que limitam as propriedades.

Lamego é uma cidade sorridente e de uma paz tranquilizadora.
Visitámos a Sé sem pressa e procurando ler alguma história nos cartazes dispostos ao longo das naves laterais da Igreja.
Catedral de Lamego.jpg

Sé de Lamego – Wikipédia, a enciclopédia livre


pt.wikipedia.org/wiki/Sé_de_Lamego - Em cache -Bloquear todos os resultados de pt.wikipedia.org
Sé de Lamego, foi fundada em 1129. É uma catedral gótica, mantém a torre quadrada original, mas o resto da arquitectura reflecte as modificações feitas nos ...



As pinturas nos tectos e alguns quadros expostos nas paredes merecem um olhar mais cuidado. São obras de grandes mestres e com alguns séculos de vida.

O corpo da Igreja é composto de três naves e toda a construção é de granito cinzento. A decoração das paredes e dos altares estão comedidas pelas imagens dos santos num enquadramento global perfeito e com bom gosto. 

Por toda a cidade via-se uma atmosfera de limpeza geral.



Santuário de Nossa Senhora dos Remédios (Lamego) - Distrito de ...


www.guiadacidade.pt/.../poi-santuario-de-nossa-senhora-dos-rem... - Em cache -Bloquear todos os resultados de www.guiadacidade.pt
O santuário de Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, começou a ser construído em 1750, para ser terminado em 1905, ocupando o monte onde existiu ...

Subímos a escadaria da Senhora dos Remédios. À medida que íamos subindo olhávamos a cidade que se estendia pelas encostas e pelo vale fronteiriço numa beleza de um verde maravilhoso.

A Ermida de N. Senhora dos Remédios é um espaço pequeno, mas muito acolhedor. A grande beleza está em todo o conjunto arquitectónico. Escadarias encimadas pelo templo e ainda toda a arborização envolvente destacando-se dois grandes lagos e algumas grutas de pedra granítica sobreposta.

Aproximou-se a hora do almoço e tivemos de seguir as ordens do nosso organismo. Existem muitos restaurantes. Entrámos e fomos bem servidos. Era uma casa com bastante movimento.

O tempo passa e queríamos visitar mais alguns monumentos aqui perto como o Convento de São João de Tarouca e outro de Cister em Salzedas que está em reconstrução.


MOSTEIRO DE SALZEDAS - Município de Tarouca :: Bem-vindo


www.cm-tarouca.pt/menu_lateral.php?menu_lateral=5...66 - Em cache
Convento cisterciense composto por igreja de planta longitudinal com três naves escalonadas, com cobertura em abóbadas de aresta e ogivais, com transepto ...



Mosteiro e Igreja de Salzedas - SkyscraperCity


www.skyscrapercity.com › ... › Portugal em Imagens › Norte - Em cache
20 publicações - 8 autores - Última mensagem: 16 Jul 2007
Mosteiro e Igreja de Salzedas IPA Monumento Nº IPA PT011820050011 Designação Mosteiro e Igreja de Salzedas Localização Viseu ...

Salzedas é uma pequena aldeia situada no fundo de um vale.

Houve muitas modificações na traça original da Igreja. Tem três naves e é bastante espaçosa. O restante do mosteiro está fechado e não foi permitida a visita.

Fomos ajudados por um voluntário que nos foi dando algumas explicações mas parece que também ele não abarcou ainda toda a história  daquele edifício e dos seus habitantes 
Toda a construção está bastante degradada.

A tarde estava avançada. Tínhamos de acabar as visitas e regressar a casa. O cansaço também nos convidava a parar. Ainda assim, fomos a São João de Tarouca e terminámos as visitas com a chave de ouro. 


Na encosta vê-se uma grande construção de pedra que foi o antigo convento. Restam apenas as paredes laterais. Quando os monges foram expulsos tudo foi deixado ao abandono e ainda antes da venda a privados alguns habitantes aproveitaram para roubar as pedras e outras coisas.

Do lado Sul, na meia encosta, fica a Igreja que tem sido conservada por voluntários.  O exterior e a construção é de granito, mas ao entrarmos dentro da Igreja ficamos boquiabertos por tanta beleza.


Com as medidas de austeridade o IPAR retirou os dois funcionários ali destacados e mandou fechar a Igreja. Até parece que os padres ali destacados são dois voluntários.


Gostaria de partilhar algumas fotos, mas as mesmas não são permitidas e ainda assim não conseguiríamos mostrar toda a beleza e riqueza daquela Igreja.

Agradecemos, ao Senhor que nos acompanhou e facultou a possibilidade de fazer esta visita.


Reiniciámos a viagem para Leiria, onde chegámos já ao anoitecer.   


Ps 
Os links a itálico são retirados do google onde poderão ver algumas imagens, assim como a história de cada monumento

Luíscoelho


Convento de São João de Tarouca

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Igreja de São João de Tarouca, Tarouca, Portugal.
Convento de São João de Tarouca, localizado na encosta da Serra de Leomil, no distrito de Viseu, ergue-se num grande vale, ao fundo do qual corre o rio Varosa.
Inicialmente foi um ermitério mas, em 1152, após a vitória de D. Afonso Henriques sobre os mouros em Trancoso, foi lançada a primeira pedra da igreja conventual cisterciense.
O mosteiro foi o primeiro a ser construído no país pela Ordem de Cister.
O dormitório novo e torre sineira foram construídos no século XVI. A última fase das obras de ampliação do mosteiro decorreu no século XIX. Em 1938 seriam restaurados os retábulos, nomeadamente o de São Pedro, atribuído a Grão Vasco.

[editar]Igreja de São João de Tarouca

De arquitectura românicagótica, com portal renascentista, sofreu progressivas alterações durante o século XVII, nomeadamente na fachada. A plantacruciforme de três naves, sendo a central mais elevada, proporciona volumes articulados, nos quais se endossa a torre sineira. A fachada principal tem o pano de fundo dividido por duas pilastras alientes e é rematada por outras iguais, coroadas por pináculos assentes em capitéis.

Mosteiro de São João de Tarouca, Tarouca, Portugal.
No pano central abre-se um portal de verga recta, encimando por uma imagem e um escudo, ladeados por duas janelas. Os altares são de talha dourada, contendo retábulos de pintura sobre madeira, da qual avulta o de São Pedro, o de Nossa Senhora da Glória e o do altar de São Miguel, dos inicio do século XVI, atribuídos a Gaspar Vaz. Na nave central há ainda um cadeiral em talha dourada, enquanto na sacristia se podem contemplar os valiosos azulejos historiados.
Foi provavelmente o primeiro mosteiro Cisterciense em Portugal.
O seu arquitecto conhecia talvez indirectamente as formas e as proporções da escola românica Bernardina, de origem Borgonhesa. A nave central no entanto parece única as laterais aproximam-se de capelas comunicantes (devido à rectorização provocada pelo sistema construído) e pelos contrafortes percebem-se as naves laterais no alçado.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Assassíno

Estávamos a meio da manhã e numa aldeia pequena as boas e más notícias correm depressa.
Não sei como chegou cá a casa a notícia do assassínio de um homem na estrada Nacional 109 à saída da nossa terra. Sei que éramos ainda muito novos. Idade pré-escolar e que tudo aconteceu durante a manhã.

Corremos atrás dos mais velhos e fomos ver. Alguns foram descalços. Parece que os carreiros de pé  no meio dos pinhais eram ainda mais distantes.

O assassino seguiu a sua presa e foi atacá-la já fora da povoação.
O corpo de um homem com cerca de quarente anos, jazia tombado na estrada, ao lado da sua bicicleta.O sangue fazia uma pintura no pavimento.

O Tóino Serra matou-o com uma faca e deixou-o ali caído na estrada. Por remorsos ou medo foi esconder-se em casa de uns comerciantes, ali perto, onde  aguardou a chegada das autoridades.
Algemaram-no e meteram-no num carro preto que o levou para a cadeia.

Nesta altura o filho que era pouco mais velho que nós, rompeu num pranto que fazia chorar todos os presentes.
- Pai, paizinho porque fizeste isto...??....Vê agora como fica a nossa vida....!!
A mulher era de baixa estatura. Não chorava. Puxou os filhos para si e depois do carro partir meteu os olhos no chão e foram andando para casa.

Porque é que um homem  mata outro homem...?
Esta pergunta ficou sempre presente em mim como uma grande preocupação.
O que aconteceu antes deve ter sido muito grave para ele puxar de uma faca e degolar o outro ali sem dó nem piedade...


Nunca soube a razão porque ele matou o outro. A vitima ia de passagem. Foi à feira dos vinte e nove a Monte Redondo e já vinha de regresso aos Milagres onde vivia com a sua família.

Ele era mau, batia com violência na mulher e nos filhos, mas agora ia preso e ia para longe.
Algumas pessoas diziam:
- Isto são horas do diabo. Horas negras... que nos desgraçam a vida...
Enquanto outros com um ar de maior compreensão afirmavam:
- Na cadeia e no hospital todos temos um lugar...
- Ninguém pense que está livre

Esteve preso cerca de 25 anos. Quando voltou estava velho. As rugas marcavam-lhe o rosto gasto. Já não batia na mulher e os filhos cresceram e fizeram-se à vida. 
Vivia envergonhado. Tinha medo do olhar das outras pessoas. 

O povo dizia:
- Nenhum homem está livre de cometer uma loucura. No melhor pano caí a nódoa.
Luíscoelho