quinta-feira, 29 de maio de 2014

Vem ajudar-me

(foto google)

O dia foi longo e foi pesado. Passei o tempo na reflorestação. Havia espaços onde os pinheiros morreram com o bicho que ataca a madeira verde e outros que alguém destruiu fazendo uma passagem indevida.
No fim ainda deu para cortar algum mato mais alto dando um aspecto mais cuidado àquele pequeno espaço.
Cheguei a casa quase ao anoitecer. Depois de um banho bem quente, vesti o pijama e sentámo-os à mesa para jantar. 
Estávamos sozinhos. Já não esperávamos por ninguém e também não tínhamos planos para sair à noite.

Depois das notícias sentei-me na cadeira para ver o correio da Internet. Não gosto de acumular muitas mensagens. Poderão existir algumas notícias importantes ou outra coisa que seja necessário responder. Depois, quando o sono começa a encher-me os olhos, procuro o caminho da cama. Geralmente não faço grandes saraus. Prefiro as madrugadas.
O telefone tocou e como estava perto atendi de imediato.
- Quem é? Perguntou a minha mulher do outro lado?
- Foi a minha irmã que caiu no jardim e não consegue levantar-se. Vamos ajudá-la.
Entre as nossas casas e quintais existe apenas uma pequena rua.

Abrimos a porta e como já estava um pouco escuro e não a víamos  começámos a chamar:
- Aonde é que estás?...
- Aqui mais à frente! Respondeu.
Estava de joelhos, agarrada a uma estaca de madeira, já sem forças para se levantar.
Esta situação não é nova. Arrasta-se já faz algum tempo. Não entendo porque é que ainda não procurou um especialista. Está lúcida e apesar de não ser rica tem possibilidade de pagar os exames médicos.
A médica de família, aqui da aldeia, não manda fazer exames médicos a ninguém. Contenção de despesas. Sem saber a origem e a gravidade da doença não se pode fazer um tratamento eficaz.

A situação pareceu-me grave.
A perna esquerda parece ter perdido a elasticidade e sem qualquer aviso dobra-se e ela cai estatelada no chão completamente desamparada. 
Pegámos de um lado e do outro e colocámo-la de pé.
- Agarra-te a mim para te ajudar a caminhar, mas novamente voltou a cair.
- Que vida a minha! Olhem para isto...
Não chorava, mas nos seus olhos brilhava uma grande tristeza.
Respondi-lhe:
- Estamos todos no mesmo barco. O anos já nos pesam muito e ainda não fizemos os setenta.
O pai dizia com alguma graça «Nunca pensei que a velhice pesasse tanto»

A minha mulher entrou em casa com ela. Ajudou-a a tomar banho e depois de lhe dar os medicamentos e de a deixar no quarto saiu fechando as portas.
Vai passar a noite sozinha. Não adianta levá-la às urgências. Nas novas políticas de saúde não lhe resolvem o problema. Seria mais uma a encher a sala ou os corredores dos serviços hospitalares.
Os filhos casaram e os netos não têm tempo para estar com a avó ou ajudá-la a fazer algumas tarefas domésticas ou até no jardim.
Hoje, os filhos deverão levá-la a um médico particular e saber quais os tratamentos que deverá efectuar.

Os nossos velhos e o seu isolamento é um grito SOS que não tem resposta clara.
As políticas aproveitam-se dos velhos para obterem votos.
Nas campanhas eleitorais entram nos lares e distribuem beijos e abraços, prometendo  o prometido e enganando-os com mais promessas.
Existem lares de acolhimento, mas economicamente não são acessíveis a todas as bolsas e nem todas as pessoas estão preparadas para deixar o seu lar e as suas coisas. 
Os centros de dia são mais económicos, mas as respostas são apenas para metade do tempo.

Penso que devemos pensar positivo e viver cada dia como um presente maravilhoso que Deus nos oferece gratuitamente.
Não vencemos a nossa debilidade física, mas mantemos um espírito aberto e pronto para novos desafios. 
Quando chegar a nossa vez, saibamos aceitar com simplicidade dado que a revolta apenas agrava a situação. 
Luíscoelho
Maio/2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

O luar de Maio


(foto google)

Neste mês, Maio, os dias foram grandes e as noites passaram depressa. O Sol esteve radiante e a temperatura foi quase de Verão.  
A Lua cheia deu uma claridade branca que encantava as noites e o nosso olhar viajou para lá dos vidros das janelas. O Céu esteve limpo e quase dava para contar as estrelas dividindo-as em grandes rectângulos como se fosse possível limitar a imensidão do Céu .  

No silêncio da madrugada fui ver a Lua. Parecia um amanhecer. Viam-se as sombras das árvores e o recorte das montanhas bordando o horizonte em linhas oblíquas ou verticais de grande profundidade. Parecia uma enorme toalha que caía sobre toda a terra até onde os nossos olhos alcançavam.
Os cães emudeceram e o silêncio era divino.  

Foram três noites de luar prateado. Quadros únicos. Pinturas vivas e de perfeição plena. Cada pessoa podia descobrir novos ângulos ou recortes poéticos que enchiam a alma de harmonia e de cor.   
O luar estendia-se sobre os campos semeados, onde germinavam as sementes num sonho cheio de vida.
Foi bom ter acordado mais cedo. Foi bom ter bebido o encanto do luar e toda a magia que o mesmo exerce sobre nós.
Luíscoelho
Maio/2014


quarta-feira, 14 de maio de 2014

Medos


(foto google)

Esta manhã apeteceu-me escrever. Parece que às vezes tenho necessidade de escrever. Soltar de mim ideias e personagens que me povoam. Também existem medos. Alguns são tão grandes que ainda não os ultrapassei. Só de os recordar já me assustam.
Existia um papão que vinha agarrar-nos se nos portássemos mal.
Depois falaram-me de Deus que via tudo. Ninguém podia dizer mentiras nem tirar nada aos outros porque Ele via tudo e castigava. 
Acreditei, mas com o tempo, aprendi que esse Deus de que me falavam não estava sempre com atenção. Muitos dias devia estar a dormir uma soneca. Não via os disparates, nem a gravidade dos erros das pessoas mais velhas, dos chefes das nações e de todos quantos viviam à margem das leis - assassinos, larápios, pessoas de má vida…

Não falo daqueles que nos assustavam com a sua voz poderosa e com cara de maus.
Ai de ti se mexes aí...corto-te as mãos...
Então um frio gelado varria-nos de cima abaixo...ufa...
Alguns dias dei comigo a pensar.
- Porque será que este Deus todo poderoso e que só quer o bem das pessoas permite que os pobres continuem pobres e os ricos cada dia mais ricos e exploradores?

Mais tarde disseram-me que Jesus, o Filho amado de Deus, era nosso irmão mais velho e que era nosso grande amigo. Era amigo das crianças, dos jovens e dos velhinhos, dos doentes e de todos. 
Disseram-me que Ele renovou os mandamentos dados a Moisés no Monte Sinai. Os mandamentos são um conjunto de leis que nos ajudam a viver bem com todas as pessoas e respeitar a vontade de Deus.
Mais tarde vi que algumas pessoas vivem segundo os seus interesses e usam uma linguagem de conveniência.
- Uma linguagem - Louvado seja Deus
- Outra linguagem - Venha a nós o que é bom
E ainda uma terceira
- Perdoai as nossas dívidas enquanto nós sacamos a quem nos deve e a quem não deve.

Aconteceu amar este Jesus. Apaixonei-me por Ele e pela Sua vida. 
Acreditei que Ele estava por perto, que me amava e me dava forças para vencer tantos medos. 
Hoje continuo a amar este Jesus. Sei que Ele vive e que é amigo de todos. Jesus ama também aqueles que O insultam e dizem mentiras. Ele ama e perdoa, mas um dia fará justiça. Cada pessoa terá de prestar contas do que fez durante a vida. Depois haverá prémio ou castigo para sempre.
As vaidades deste mundo não passam para o outro lado onde apenas existe paz e amor, ou silêncio e paz.

Existem dias em que me parece que Deus devia castigar muita gente. Gente que vive explorando os povos e as nações.
Pessoas que fazem negócio com o Seu Santo Nome e se servem disso para viverem como príncipes nesta vida…
Devia castigar sem piedade aqueles que têm obrigação de denunciar as mentiras e as falsidades políticas, mas ficam calados por medo ou por conivência.
Acredito que Deus castigará aqueles que O desprezam e que mentindo roubam e matam inocentes.
Deus castigará aqueles que não respeitam a Natureza mas glorificará a todos quantos O amaram e serviram, fazendo o bem a todos os povos.

Luíscoelho
Maio/2014

quinta-feira, 8 de maio de 2014

B I - Cartão de Cidadão

Em Janeiro passado, o meu Cartão de cidadão caducou. Não reparei na validade e por pouco me safei de uma série de peripécias muito desagradáveis. 
Quando dei conta da situação, dirigi-me aos respectivos Serviços. Já na mesa de atendimento, a funcionária explicou-me que o meu nome de origem,  no assento de nascimento, está  - Luiz - com um Z.
Reclamei, dizendo-lhe que sempre me ensinaram desde a Escola Primária e ao longo de toda a vida que o meu nome foi sempre - Luís - com um S.

A funcionária disse que eu poderia continuar a escrever como sempre fiz, Luís, usando o S, mas no BI - Cartão de Cidadão - iria aparecer Luiz com Z.  
Explicou-me ainda que agora e baseadas numa Portaria eram obrigadas a respeitar a grafia original do assento do Registo de nascimento.
- Foi sempre assim, retorqui-lhe. O erro foi do senhor que escreveu Luiz com o Z em 1947. Deviam corrigir o livro e não alterar o nome das pessoas, agora passados sessenta e muitos anos. Isto é absurdo...
Com muita paciência explicou-me que poderia manter a grafia ,como estava e vinha fazendo, mas que deveria ir à outra sala e pedir às funcionárias que eu queria continuar a ser e a escrever Luís. 

Comecei a ficar confuso e a duvidar da tal "Portaria não sei das Quantas". Revoltado, apenas pensava que isto são coisas de quem não tem mais nada de útil para fazer na vida, senão complicar a vida das pessoas de bem.
- Olhe menina eu não vou a lado nenhum. Querem assim... façam assim...como mandam esses senhores que fazem as leis. Não respeitam as pessoas. São uns "bardameKos" que não sabem fazer nada de útil na vida.  

Passado dias recebi um ofício para ir levantar o Cartão e agora sou uma pessoa diferente. Não sei se chego a ser Português Arcaico, Romano, Árabe...ou outro do lado de lá... Talvez agora seja Grego e com enormes dívidas públicas que eles inventam todos os dias...
Agora fica assim, mas quando for renovar o Cartão, daqui a cinco anos, haverei de ser Luís, com um S bem português que não torce nem se amola, duro e puro como a alma lusitana que se estende Aquém e Alem Mar, mas nunca por uma Europa de "bardamerKos" sugando aos pobres para encher os ricos...
Luíscoelho 
Maio/2014


sábado, 3 de maio de 2014

Para ti Mãe

(poema de Luís Coelho e fundo fotográfico de Joaquim Duarte Silva)