quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Aniversário/David


 Feliz Aniversário
28/Abril/1984 - 28/Abril/2008
- 24 anos -

O meu primeiro dia aconteceu ao entardecer. Eram 16.45 horas de um Sábado.
A manhã acordou com muito sol e uma temperatura primaveril. Aqui na Aldeia andavam todos atarefados a semear os campos.

Tinham de começar cedo, ainda antes do Sol mostrar a sua força. Depois, com o calor e as moscas que povoavam o dorso e a frente dos animais, a tarefa tornava-se ainda mais penosa.

A Mãe já tinha as tuas roupinhas arrumadas numa mala. Estava no fim do tempo. Quarenta semanas de gravidez.
O pai foi ajudar o Avô no campo. Andava na sementeira na Lagoa d'Água. 

Naquele tempo ele ainda tinha as suas vaquinhas. Fazia todos os trabalhos com elas e elas era mansas e obedientes.
Às vezes dizia:
- As vaquinhas e o carro são o meu tractor e o meu ganha pão !

O pai pegou a rabiça da charrua porque o avô estava aflito com a "dor da ciática". Deitou-se no chão à sombra do carro de bois e pediu que o deixassem descansar.

A tia com os filhos também foram ajudar. O Olímpio, andava à frente das vaquinhas guiando-as nos regos abertos.
A Manuela ajudava a tia Leonilde a semear o milho e a Ilda brincava perto, onde o avô se tinha deitado procurando esquecer as dores.

Cerca das 11 horas da manhã a avó Virgínia foi lá ao terreno chamar-me a dizer para vir para casa. A Mamã já não estava a sentir-se muito bem. O saco das águas já tinha rebentado.

Mudei de roupa e de calçado e saímos em direcção ao Hospital de Leiria. Fomos naquele Renault 5 branco, já a cair de podre, mas que ainda aguentou mais uma década cá em casa.

O Médico que viu a Mamã disse que o melhor seria irmos para a Maternidade Dr Bissaia Barreto em Coimbra. Agora a situação era mais difícil. Lutávamos ambos contra o tempo para que nada de mal te acontecesse. 

Não conhecia muito de Coimbra e teria que ir e ser rápido. O Renault 5 portou-se bem.
Quando entramos, levaram a mamã para uma radiografia, para saberem a tua posição. Depois fizeram-lhe uma cesariana.

Os médicos abriram a barriga da mamã para te tirarem de lá. Já  estavas em perigo. 
Pesavas 3250gramas. Eras gordinho.
Depois deixaram-me ver-te e à mãe que estava cheia de dores.

Recordo o meu olhar para ti. Não sei se era de espanto se era de alegria. Tinhas uma cor avermelhada e eu não te podia pegar ao colo. Apenas podia olhar-te e agradecer a tua vida.

Os anos foram passando e nós mal nos lembramos das tuas traquinices. Procuramos dar-te liberdade para aprenderes e teres as tuas opções. Mostrásmos-te o caminho mas não te forçámos a segui-lo. Aconselhámos-te o melhor que soubemos e pudemos,sem nada te pedir em troca.


Quando foi preciso dar-te apoio estivemos presentes e nos momentos em que os teus erros foram mais graves não te voltámos as costas, pelo contrário procurámos que visses e reconhecesses os teus erros e com eles aprendesses mais uma lição de vida.

Não pretendemos que sejas perfeito, nem que sejas o melhor dos melhores. Queremos que sejas feliz e que aprendas a caminhar na vida com brio pessoal e responsabilidade.
Queremos orgulhar-nos de ti pelas tuas conquistas, pelo carinho que nos guardas, pelo trabalho que consegues fazer.

Gostaria de continuar esta carta.
Vamos escrevê-la todos. Tu serás o escritor principal, mas nós seremos também parte desse livro.

Nesta data, tão especial para ti e também para nós, pedimos a Deus que te ajude a ser sempre mais e melhor. Um homem realizado e um profissional competente e responsável.

Desejamos hoje e sempre que gozes de boa saúde do corpo e da ALMA que é uma parte escondida do nosso SER.
Mil beijinhos do Pai, da Mãe e da Mana e tambem da Avó Carminda.

Luíscoelho
(texto rectificado e corrigido em 2011/12/29)

domingo, 25 de dezembro de 2011

A Ti Catrina


.Era uma senhora baixa e magra, mas de uma alegria contagiante.
Andava assalariada na agricultura para quem lhe falasse.
Vivia com o marido (o ti Jerónimo) no lugar do Casal. Era uma casa grande e com um alpendre largo virado a Sul. 

Aquele alpendre parecia ter sido construído para arrecadar o Sol todos os dias .
Ao fundo e ao meio desse alpendre havia uma porta de madeira com um postigo ou janela mais pequena na parte superior.


Quando alguém lhes batia à porta eles abriam apenas esse postigo pequeno e era por aí que falavam para o exterior.
Só lhes abriam a porta depois de confirmarem que eram pessoas de bem e cheias de boas intenções.


A ti Catrina tinha filhos, mas eu não os conheci. Foram para outras terras, muito novos, e por lá ficaram, construindo as suas vidas.


Eram um casal muito pobre. Parece que quando eram novos, eram mais trabalhadores e mais cuidados com as suas roupas e a sua alimentação.


Recordo-os quando vinham aqui para casa trabalhar. Chegavam cedo  para beberem uma pinga de água-pé. Parecia terem mais sede do que fome ou vontade de trabalhar.


O pai que os conhecia bem, enchia-lhes um pipito de madeira com vinho, cerca de dois litros.
Depois dizia-lhes levem os sachos e vão andando  para o paúl. Comecem a sachar (mondar) o milho que eu já vou lá ter.


Quando o pai chegava com o carro de bois, já eles tinham bebido a pinga toda. O resto da manhã bebiam água. Havia ali perto a fonte do lago, onde corria água fresca todo o Verão.


O ti Jerónimo andava com as calças remendadas. Eram mais os remendos que o tecido original. Ela, a mulher, andava sempre descalça.


Na cabeça usava um chapéuzinho redondo e era lá que segurava as pontas do lenço florido que lhe guardava a cabeça.


A parte da manhã ainda trabalhavam com alguma animação, mas de tarde depois do almoço era muito mais difícil.


Ela começava a provocar o homem. Relembrava continuamente os seus erros, culpava-o por ter gasto todo o dinheiro que tinham e como se isso não bastasse chamava-lhe nomes feios:
- malandro, mentiroso, praticante, bêbado e ladrão muitas vezes....


O homem envergonhado nem lhe respondia, mas de quando em vez mandava uns "roncos" como que a avisá-la...Cala-te! Logo à noite nós falamos...e roncava mais duas ou três vezes...


Recordo uma manhã quando a mãe me mandou levar-lhe uma garrafa de vinho ali ao fundo do nosso quintal.


Quando me viu por perto, enterrou o sacho na terra para ele se segurar. Endireitou-se metendo a costa da mão junto ao quadril e respirou fundo...  depois sorriu-se para a garrafa...


De uma assentada leva-a à boca e chupa, chupa ...mas nada...Tira a garrafa da boca e olha melhor para ela ainda com a rolha no sítio e exclama:
...ora...pois... porrinha...assim não vale...


Nós estávamos perdidos com tanto de riso. 
Imaginem que a rolha não estava segura. Ela teria engolido tudo ou ter-se-ia engasgado a sério.Depois bebeu quase tudo de uma golfada...Fiquei convencido que, se não fosse por vergonha, tê-la-ido despejado de uma segunda vez. 


Por vezes ia sozinha cegar erva para as vaquinhas. Então cantava o tempo todo. Eram canções que se vendiam nas feiras. Fados tristes em quadras ou desgarradas que ela ia repetindo.
..."e a desgraçadinha...pobrezinha...assim ficou"


À noite vinham sempre aqui a casa. Queriam levar mais uma pinga para beberem antes de se deitarem. 


Alguns dias a mãe, com pena deles. dava-lhes um prato de sopa, pois na maior parte dos dias eles apenas bebiam  ou faziam migas de "cavalo cansado." migas de pão com açúcar e vinho.


Depois de sairem o portão grande de madeira, seguiam como um par de namorados, cantarolando algumas cantigas.


Por vezes, no escuro da noite e a coberto das árvores que ladeavam o caminho, ouviam outros passos e de imediato perguntavam:
- Quem vem lá....??? se caminham por Deus e por bem sigam em paz...


Os outros respondiam:
- Somos gente de bem...não fazemos mal... vamos de regresso a casa...


A ti Catrina tinha muito medo dos cruzamentos nos caminhos, onde diziam que apareciam coisas estranhas ou do outro mundo...


Hoje não resta nada daquela casa grande onde viveram e morreram.
Luíscoelho


Nota: o nome da senhora era Catarina, mas todos a chamavam assim - a ti Catrina.


(texto revisto e rectificado em 2012/Dezembro/16)








quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Pobres



Estávamos perto da festa de Natal. O Inverno  fustigava-nos de frio, de chuva e de vento. A humidade prendia-se ao nosso rosto e nem o vento que soprava continuamente a amenizava.

Vai ser mais uma noite para ficar à lareira depois do jantar. Com a fogueira aquecemos a casa e as crianças brincam até à hora de deitar na cama. 
Amanhã vai ser outro dia de trabalho.

Naquela tarde, parece que tinha anoitecido mais cedo. As luzes da cidade estavam todas acesas e, naquela rua, os enfeites de Natal davam mais vida e mais cor às pessoas e a todo o ambiente.

Em passos apressados e com o tempo todo contabilizado, dirigiu-se ao Supermercado.
A mulher, saía do emprego cerca de trinta minutos mais tarde. Costumavam encontrar-se  ali perto todos os dias.

Já perto do Supermercado aproximou-se um senhor bastante magro, barba por aparar e com um aspecto muito carente.
.
- Posso dar-lhe uma palavrinha..........? 
Perguntou entre tímido e também um pouco envergonhado. Parecia que ele próprio lutava para dizer alguma coisa...

- Diga lá, respondeu o outro desinteressadamente 

- Sabe, continuou o pobre homem, estou desempregado, sem dinheiro nem para comer... ...se me puder ajudar com alguma coisa.../... 
...Nem sei o que fazer da minha vida.../...

Os olhos daquele homem brilhavam mais que todas as luzes de Natal juntas. 
- Não posso. Respondeu o outro e continuou o seu caminho.

Entrou no Super e meteu no cesto iogurtes, fruta e leite, mas quando levantou os olhos viu na sua frente o mesmo homem que o abordou na rua.

Agora pareceu-lhe ainda mais magro.
Ele olhava fixamente para a banca da fruta ao mesmo tempo que contava as poucas moedas na outra mão semi-aberta...

Ficou intrigado. Poderia tê-lo ajudado com alguma coisa e dispensado alguns iogurtes e  fruta...afinal em casa têm outras coisas que aquele homem não tem.

Nem sei o que comprou aquele senhor. Foi muito pouco. Parou na caixa e depois desapareceu.

Nos dias seguintes aquela imagem começou a persegui-lo.
Seria Jesus para lhe pedir um pouco de partilha do que temos e somos...????

Aquela imagem acompanhou-o durante muito tempo. Ficou colada aos próprios olhos. 
Todos os dias passava  por ali procurando aquele rosto que nunca mais viu.

Hoje existem muitos pobres na nossa cidade.
Todos nos falam das suas necessidades, mas porque existem muitos falsos pedintes somos forçados a passar adiante e a ignorá-los.

Haverá outras formas de ajudar aqueles que mais precisam sem ser com as esmolas nas ruas.
Luíscoelho
(texto corrigido e alterado em 2011/Dez/14)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Domingos Domingues


PONTO~1.JPG
(foto google)




Domingos Domingues viviam perto da Igreja. Habitavam uma casinha velha, igual a muitas outras aqui da aldeia. Em frente existiam duas figueiras frondosas e retorcidas pela idade.

Viviam da agricultura e tinham dois filhos. O mais velho chamava-se Domingos e o mais novo David. Entre eles havia uma diferença de idade bastante grande, cerca de dez anos ou mais.

O primeiro era um rapaz alto e bem constituído. Tinha feito o exame da quarta classe e  foi aprender a profissão de carpinteiro.

Os pais, tinham muito orgulho naquele filho,  pelo seu porte físico e também pelas suas conversas. Sabia apresentar-se em qualquer lado sem medo e sempre com uma postura convidativa e cativante. 

Falava de muitas coisas que nem todos sabiam porque ele aproveitava os tempos livres para ler bons livros. 


Quando lhe pagavam algum serviço, pela reparação de móveis ou outras coisas que ele sabia fazer, guardava o dinheiro e metia as notas dentro de um livro da escola primária.

Um dia, a mãe, que sabia do seu segredo, desabafou para outras mulheres:
- O meu filho é rico....tem muito dinheiro escondido num livro...
...Assim até eu gostava de estudar...e ver tantas notas guardadas. Parecem novas....!


...Os meus pais, não me deixaram ir à escola. Apenas me deram esta enxada para cavar a terra. ...Só sei fazer isto...puxar terra para os meus pés... e, dizendo isto, a sua voz desaparecia com a emoção...

O Dominguitos namorava uma moça aqui da aldeia e ambos se entendiam. Entre eles havia respeito.

Um dia, foi às sortes com os outros rapazes da sua idade e foi alistado no exército. Os pais estavam ainda mais orgulhosos daquele filho. Com a farda vestida parecia-lhes mais alto e mais formoso.

- O meu Dominguitos...dizia a mãe, é a coisa melhor que eu tenho neste mundo. Só ele me faz  sentir bem. Nunca reclama de nada. Nem da roupa, nem da comida. 
...Às vezes, é ele que pega no ferro, e arranja as suas camisas e calças...

Nesses anos, rebentou a guerra em África e o Dominguitos também foi mobilizado. Era condutor auto e partiu com o contingente para Luanda.

O pai desfez-se em pedidos aqui e alem, onde podia chegar, para lhe desmobilizarem o filho. Não conseguiu. O rapaz embarcou com os outros militares com destino a Angola.

A ti Conceição andava desesperada. 
Chorava e lamentava a sorte do filho noite e dia. Chegou-se mais à Igreja e rogou a todos os Santinhos da sua devoção, que lhe guardassem o seu menino. 
...Meu rico filho..., meu rico filho...não há direito...


Todas as manhãs, corria descalça para a Igreja. Embrulhava-se num xaile preto e  assistia à missa sentada no chão. 


Por vezes as suas preces eram superiores às do Sacerdote e as suas lágrimas corriam apressadas num rosário de pai-nossos e avé-marias.  

O filho, vendo-a assim arrasada e sempre triste dizia-lhe: 
- Mãe, não te amargures mais. Nós vamos para Luanda que é uma cidade grande. Lá, não há guerra. Por favor não chores. Sabes que eu também fico triste por te ver assim....

- Ai meu rico filho... se eu pudesse "deitar fora" esta dor que tenho cá dentro do peito...era a mãe mais feliz do mundo...
...não me leves a mal...mas eu nem sei onde ando. Parece que entrei no inferno...

Depois do embarque do filho, ela quase deixou de comer. O homem ralhava com ela porque nem fazia os trabalhos em casa nem no campo. A ti Conceição andava seca. Ninguém a compreendia nem ela conseguia ouvir ninguém. 

No verão seguinte receberam a notícia de que o  Domingos tinha sido ferido numa emboscada e que foi evacuado para o Hospital Militar de Lisboa, para ser tratado.../.... 

Contaram-lhe a história assim:
"Seguiam todos numa coluna militar e foram surpreendidos pelo inimigo. Os nossos soldados  reagiram e mataram muitos, mas houve um preto que se escondeu atrás de uma árvore muito grande.

O Domingos pediu que não o matassem. 
- «Deixai-o ir...Não o matem...»
Mas esse mesmo preto, atirou certeiro e feriu-o gravemente, deixando-o às portas da morte". 

Esteve cerca de trinta dias no hospital militar, mas não resistiu aos ferimentos.
Faleceu no dia 26 de Julho de 1961, com vinte e três anos.
Foi o primeiro soldado desta freguesia a morrer em África e um dos primeiros a nível nacional. 

Recordo o seu funeral. 
Levaram a urna a casa dos pais, mas não a abriram. As pessoas aqui da terra e de outras freguesias vizinhas choravam com muita intensidade, mas os militares graduados mandaram-nos calar. 
- Silêncio...Silêncio...!
Disseram eles, num tom arrogante. Todos se calaram de uma só vez.

A Igreja, as ruas e o adro estavam completamente cheios de povo.
Respirava-se o medo da polícia. Todos estavam com medo da PIDE, que andava por ali misturada com o povo.


Ninguém arriscava dizer  mal do Estado Novo, nem da guerra que lhes roubava os filhos.
Olhavam-se nos olhos com dor e revolta.
Duas mães abraçadas à saída da Igreja diziam:
-Eles, os nossos filhos, não são nossos...são só emprestados. Depois seguem a vida deles...


Junto ao cemitério os soldados alinhados dispararam três salvas de fogo de espingarda em sua homenagem.

Os pais envelheceram. Ele deixou crescer a barba e a mulher sempre de preto já não ia tantas vezes à Igreja. Afinal os Santinhos não lhe atenderam os pedidos.
Agora queria ir para junto do seu menino....


A ti Conceição morreu pouco tempo depois, não conseguia comer. 
- A comida não me passa daqui para baixo...e apontava a garganta.


O pai Domingos Domingues também não resistiu. O seu coração dava sinais de cansaço. O desgosto matou-os antes do tempo.

Hoje o nome do Domingos consta de uma lista de soldados do Concelho de Leiria, que morreram em África.

A construção de um mural com o nome dos nossos heróis, foi a última homenagem que a Câmara de Leiria  e Governo Civil mandaram construir junto ao Jardim Luís de Camões no coração da nossa cidade.
Luíscoelho

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Reconstruir

(foto google)

São duas horas da manhã. Está frio e o ar húmido. Gostaria de dormir um pouco mais, mantendo-me no calor da cama, mas os pensamentos e os acontecimentos, as políticas e as notícias de cada dia remexem comigo.

Ontem, quis construir um lago, no jardim, ao lado do poço.
Havia uma torneira que corria  directamente para a terra levando a água por uma regueira  para a horta.

Todos os meses semeio e replanto novas coisas para consumo próprio: couves, alfaces, repolho, cenouras, brócolos, alho francês, pimentos e tudo o que se pode criar na terra durante o ano. Este tipo de horta agora renascido nas grandes cidades.

Aquela água é aproveitada para manter as plantas viçosas e bonitas. Depois a água que sobra vai regar as outras árvores: laranjeiras, macieiras, cerejeiras, damasqueiro e oliveiras.

Por outro lado preciso de ter um reservatório de água para uma emergência. Alguns dias a corrente eléctrica falha e ficamos sem água para nós e os animais. 

Tinha pensado em comprar um ou dois sacos de cimento e construir ali um tanque para lavar as verduras antes de as trazer para a cozinha. Iniciei aquele trabalho no Verão passado, mas por ter muito trabalho deixei as obras paradas.

Ontem fui buscar areia, num carro de mão. Juntei o cimento e misturei tudo até ficar com uma cor cinzenta de chumbo. Adicionei água e fui mexendo até que ficasse uma massa moldável e consistente.

Ali perto havia um monte de pedras de paredes antigas.
Escolhi algumas e lá fui dando forma a um lago pequeno. Reboquei as paredes interiores para conservar o lago vedado e no exterior colei as pedras mais pequenas e de formas bizarras. 

É pedra vulcânica arrancada nas encostas onde os meus avós plantaram as vinhas que agora foram abandonadas.
Esta pedra foi transportada, em carros de bois para a construção das suas habitações. 

No final do dia a chuva começou a cair com bastante intensidade. Não sei se o trabalho se perdeu.
Se, hoje, o tempo estiver bom, irei completar aquela tarefa e reparar o que a chuva danificou antes de secar.

Estou ansioso por ver a água a correr numa cascata como se fosse uma nascente natural e depois encher o lago de água cristalina transbordando em queda livre para a horta mais abaixo. 

Se conseguir haverei de anexar aqui uma foto. 
Gosto de trabalhos manuais. Ajudam-nos a entrar num mundo de sonhos e de encanto onde só as crianças e os simples habitam sem maldade nem guerras....
Precisamos todos de entrar nesse mundo, de ser pacíficos, cordatos, honestos e trabalhadores em prol de uma sociedade melhor e mais justa.
Luíscoelho

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Viagem ao Estoril

(foto google)

Em meados de Outubro recebi um convite para um espectáculo no Casino Estoril. O preço era acessível e o programa aliciante. Assistir às melhores coisas, dos melhores espectáculos de Filipe La Féria.
  
Fizemos a nossa reserva e no dia e hora marcada seguimos num autocarro com mais cinquenta e quatro pessoas. O mesmo autocarro que nos haveria de trazer de regresso a Leiria no final do espectáculo.

No programa estava incluído o jantar, bufet, no restaurante do próprio casino. Depois do jantar, andámos um pouco por ali a ver as máquinas e os jogadores.
Tinha uma imagem escurecida de um casino. Nunca na vida tinha entrado naqueles ambientes. 
Entrei sem medos de perder ou ganhar dinheiro. Não iria jogar,  nem arriscar o meu dinheiro naquelas máquinas.

Um salão grande com todo o tipo de máquinas. Alguns jogadores sentados procuravam a sorte. Pessoas pouco identificadas com a penumbra do local. Havia diversas máquinas e diversos preços.

Cada jogador aposta com uma esperança, ganhar e multiplicar os ganhos, mas os prémios parecem ser apenas uma miragem.
Nestes recantos senti medo. Medo de quem se arrisca a perder tudo com a ilusão de ganhar.

Segurei, com mais força, o braço da minha mulher e caminhamos para outra zona sem jogo. Uma área mais aberta, com mais luz e indicando já a entrada para o salão do espectáculo.

Senti-me mais leve, com uma respiração mais cadenciada.
Mas se eu não ia jogar nem tinha intenções disso, porquê tanto nervosismo...??  Sem querer absorvi parte daquela ilusão que se vive junto de cada máquina.

Entrámos na sala do espectáculo e sentámo-nos. Era o 3º balcão.
Mal me sentei, os meus intestinos começaram a dar uma volta. Fortes dores de barriga e bátegas de suor que corriam livremente  pelo rosto e um pouco por todo o corpo. 
Nunca me havia acontecido uma situação destas...

Disse à minha mulher que estava mal disposto e ela segredou-me que saísse e procurasse uma casa de banho, rapidamente.
Passei por detrás das duas filas de cadeiras, desci três lanços de escadas e perguntei a uma das empregadas onde era o WC.
- Além, pergunte aqueles empregados junto da entrada.....

Quase nem foi preciso perguntar mais nada. Indicaram-me  o caminho com muita delicadeza.
Quase a rebentar entrei, fechei a porta e libertei-me daquela aflição. 
- Que alívio e que liberdade...!

Se a liberdade tem preço, hoje senti o seu valor.  
Aprendi ainda quanto vale uma decisão na hora exacta.
O meu grande prémio estava ganho. Com suor, é certo, mas o resultado final, deixou-me muito feliz.
Se me atrasasse mais uns minutos, nem sei bem o que teria acontecido...mas dá para imaginar...

Hoje, revivendo aqueles acontecimentos, dá para rir... parece anedota...mas, na hora, as cores eram muito diferentes. Ufa....
Luíscoelho

sábado, 12 de novembro de 2011

25 - aniversário









Mensagens de rosas, imagens, frases, recados de rosas para orkut


Vinte anos é muito tempo
Com mais cinco ainda mais
Desejamos-te o dobro 
E o dobro desse dobro 
Ou talvez ainda mais. 


Não te damos ouro nem prata
Nem coisas que isso comporte
Mas desejamos-te muita saúde 
Bons amigos, muita vida e boa sorte
E tudo aquilo que a vida tem 
Se souberes viver com Norte.


Beijinhos de todos nós aqui presentes
Recordando os que no tempo são ausentes. 
Luís Coelho, Zézinha, David,Vanessa e Zé Tó


(poema à minha filha que hoje completa um quarto de um século) 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Maria (primeira parte)


(foto google)

Menina e moça a trouxeram da sua aldeia, da sua casa e da sua família. Prometeram-lhe um mundo de felicidade e bem estar. 
Era uma moça vistosa, bonita e simpática.
O patrão, era um homem rico. Viúvo há bastantes anos, desde o nascimento da sua filha. 
A Maria cedo se viu dona de uma casa que não era a sua. Sozinha tinha de dar conta da cozinha, dos quartos e das roupas. Era muito trabalho.

O patrão era dono de uma das casas mais ricas desta região. Era uma casa agrícola mas tinha também uma parte comercial. Revenda e comércio de adubos, roupas e mercearia.
Havia trabalhadores fixos e outros que eram assalariados ao dia ou à semana. Trabalhadores a seco. Não tinham direito às refeições.

Cedo a Maria viu as manhas e artimanhas do patrão. Estava sempre a exigir mais trabalho sem recompensa nem pagamento.
Nesta casa não havia horários para os empregados terem os seus dias de folga ou as horas para descanso. Tinham de estar sempre disponíveis para todo o serviço e com boa cara.

Cedo a Maria conheceu a violência do seu amo que a forçava e a violava a seu belo prazer sempre que lhe apetecia.
Ela era franzina e não conseguia fazer-lhe frente e ele era manhoso e mau. Depois de a trancar num quarto obrigava-a a todas as sevícias de que era capaz. 
No fim exigia silêncio absoluto

A Maria vivia assustada pelos abusos diários e pelas dores que lhe causava, mas deixou-se vencer pelo medo. 
Se falasse ninguém iria acreditar nas suas palavras. Ele era um empresário rico e muito temido. 

Em troca do silêncio foi-lhe prometendo uma casa. 
- Um dia serás uma senhora e poderás viver a tua vida!...
A Maria viu outras moças serem abusadas pelo patrão e aqui as ameaças foram ainda maiores e mais graves.
- Se abrires a boca mato-te. Ficarás sem nada do que te prometi e ninguém acreditará no que disseres....

Foram longos anos de sofrimento silencioso até ao dia em que o velho morreu. Ela também tinha envelhecido. Estava magra e nem as roupas escondiam o seu corpo gasto. 
Pensava no seu íntimo - Agora, que irá ser de mim...?!
As filhas são herdeiras de tudo. Ele não passou de um mentiroso que se aproveitou de mim.

No testamento apareceu uma doação de "usufruto" de uma casinha em ruínas para a Maria. Por morte dela esta casinha pertenceria aos netos do falecido. 

Depois do funeral do patrão a herdeira mais velha, viúva e sem filhos, mandou a Maria, empregada, para a rua. 
- Tens a tua casa vai para lá... Aqui não ficas...
Esqueceu-se de uma vida de trabalho e dos abusos de que ela foi alvo. Ingratidão!... 
-Vou viver de quê...??? Ninguém me pagou, não me fizeram descontos para a Caixa de Previdência...

- A Senhora sabe dos abusos que o seu pai me fez? Julga-me culpada? Engana-se. 
Fui vítima, sem ninguém para me defender....Não podia falar, nem podia fugir....O mal estava feito e todos os dias eu tinha de suportar as dores e o desgosto sem me conseguir libertar daquelas garras.
- Não quero saber de mais nada, respondeu-lhe a herdeira. Hoje mesmo vais sair daqui. Desenrasca-te!

A Maria mudou-se levando consigo algumas coisas que lhe foram oferecendo. Reparou a habitação. Construiu uma casa de banho, e uma pequena horta.

Um dia vieram os herdeiros desta casa com uns papeis para  ela assinar, conta a Maria.
- São coisas das Finanças, não se preocupe. É uma hipoteca. 
Na sua boa-fé assinou sem ler nem pedir ajuda aos entendidos.
A Maria assinou a sua renuncia de usufruto em favor dos herdeiros.
Passados alguns meses, como os herdeiros não pagaram as dívidas, a casa e o quintal foi vendido em hasta pública.

Agora anda desesperada e nem sabe o que vai ser da sua vida.
- Enganaram-me, abusaram-me e agora despejam-me na rua sem nada... A vida foi madrasta má.
- Que mundo cão....que vida triste...
Não se vêem as lágrimas... percebe-se a sua dor e desilusão.
As cores são de um sangue ainda vivo a manchar-lhe os dias ....
Luíscoelho
Nov/2011


  


sábado, 22 de outubro de 2011

Amigos de Portugal

A minha fotografia

O Senhor Duarte passou por aqui, pela nossa Aldeia,  em 19/08/2011. Foi fotografando aqui e ali, sempre que alguns recantos lhe despertavam a atenção.
Juntou fotos das nossas fontes, das flores e frutas que encontrou.

Era uma tarde de Sol e uma temperatura agradável para andar no campo. Atravessámos a Aldeia, mas apenas visitámos alguns recantos.
Subimos a encosta e acabámos contemplando o pôr do Sol numa  vista geral das casas e da Igreja perdidas no verde que ainda nos sobra.
Escrevi algumas coisas, que ouvi contar, sobre a nossa terra.
O Senhor Duarte transformou tudo numa  reportagem com arte e bom gosto.

Aconselho um pulinho até lá.
Visitem !
O passeio é agradável.


http://amigos-de-portugal.blogspot.com/


Luíscoelho

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Era tarde

 
(foto google)

Regressavam a casa depois de mais um dia de trabalho na cidade e de aulas no Colégio. Iam e vinham todos os dias num Renault 5 velhinho, apresentando a marca do tempo nas tintas descoloridas e na ferrugem espalhada um pouco por todo o lado.

O fundo do carro estava roto. Quando chovia a água entrava e deixava os tapetes empapados por alguns dias.
Ao fim de semana abriam as portas e janelas e deixavam-no secar e arejar ao sol.

Os tapetes eram lavados e todo o carro ficava com um aspecto mais bonito. Um dia ao tirar os tapetes viram que a chapa estava muito mais rota do que parecia e era perigoso para as crianças. Não poderia continuar. Algum dos meninos poderia enfiar um pé naquele buraco.

O pai foi buscar duas tábuas, cortadas à medida, e colocou-as ali, de um lado e do outro. Ajeitou os tapetes por cima delas. Parecia que estava o assunto resolvido.

Ao jantar dividiam-se as preocupações. Ouviam-se as necessidades e os recados. Era a melhor hora para se falar das coisas de casa e como as iríam resolver.

Eles os mais pequenos estavam atentos. Pareciam viver cada dia as mesmas preocupações dos pais e quando lhes era pedida colaboração estavam sempre disponíveis e cheios de boa vontade.

Foram-lhes dizendo que tinham de trocar de carro por outro melhor e mais seguro. Talvez este ano se consiga juntar o subsídio de Natal e mais algum que tinham guardado. Vamos procurar saber de preços e de carros.

Nessa semana apareceu uma factura de telefone com o triplo do valor que costumavam pagar. Mais uma despesa para agravar a situação.

Nesse dia ao jantar falou-se da factura. Nunca se gastou assim tanto de telefone ! Não pode ser.....

Um dos rapazes disse:
- Fiz chamadas para Évora e não reparei no tempo. Peço desculpa...foi uma amiga da colónia de férias!...

Sinto muito, disseram os pais.... Vais ter que pagar esta conta.

Por vezes damos cabeçadas que nos ensinam mais do que grandes castigos ou discursos.

No dia seguinte esvaziou o seu cofre, mealheiro. Contou e recontou o dinheiro. Em segredo, pediu aos avós uma ajudinha e ainda antes de se deitar foi entregar aos pais o dinheiro daquela factura de telefone.

Ninguém lhe prometeu castigos. Apenas lhe fizeram ver os seus erros e que esta era a melhor forma de não voltar a fazê-los.

A vida continuou com o mesmo programa. Foram-se dividindo todas as preocupações de casa e da escola.
Os mais pequenos foram crescendo deixando os pais participar  nas suas conquistas e sonhos.

Nesse Natal (1989) conseguiram ter o carro novo. Era o mais barato da Opel, mas para todos foi a melhor prenda.

Luíscoelho