quarta-feira, 31 de março de 2010

O amor não tem medida



O amor não tem medida
É tudo quanto se dá
Uma mão cheia de nada 
Com o coração a transbordar.
Sabes quanto gosto de ti
Disto não podes duvidar
Olha-me assim como sou
Sem te querer enganar.
Este amor é verdadeiro,
Leal e muito sincero,
Como simples mensageiro
Só vai até onde eu quero.



Os teus olhos são perfeitos




Se me vês sem falsidade
Mas logo nascem defeitos 
Quando renasce a maldade.
Assim redobro o meu canto
Para os teus olhos cativar
Não renoves o meu pranto 
De não te poder amar.

luiscoelho

sábado, 27 de março de 2010

Citroen


O meu carrinho. Como era lindo aquele popó, azul escuro, com um tecto de abrir.
As portas, estavam encaixadas num só eixo, ao meio do carro. As da frente abriam da frente para trás, e as outras abriam detrás para a frente.
Tinha uma condução leve e muito agradável.
O Victor comprou aquele carro na sucata. Reparou o motor, mandou-o pintar e depois enfeitou-o com uns extras que o embelezavam bastante.
Parecia novo. Era dos primeiros carros fabricados em Mangualde.
Apaixonei-me por ele.
Nunca me tinha acontecido nada assim. Este carro mexia comigo.
Há gostos para tudo. Há quem goste de tabaco, de bebidas. Há quem goste de roupas e também há que goste de carros, dos mais caros e potentes.
Aprisionar-me por um carocha quase com a minha idade não é normal.
Foi amor à primeira vista. Fiquei de cabeça perdida pelo carro, e já só pensava nele.
Parece que naquelas semanas perdi o apetite. Não suportava a ideia de o ver a passear outros, de não me ligar importância como se o carro tivesse alguns sentimentos ou pudesse tomar decisões.
Isto não é normal...! ( pensava eu nas noites em que me via a passear com ele ).
Que sonhos lindos.... 
Não tem explicação para tanta casmurrice.

O Victor, queria vendê-lo, e eu queria comprá-lo.
Estava de todo ceguinho. Não via que estava a dar todas as minhas poupanças  por um monte de sucata sem valor comercial. 
- Quanto é que estás a pedir pelo carro...? Perguntei
- O preço são quarenta mil escudos. Sem o rádio e  pronto pagamento, respondeu o Victor de uma assentada e  rematou ainda:
 - Não dou garantias de nada pois o carro é velho. Foi reparado, mas ainda assim, o material desgasta-se e está sempre a pedir alguma coisa.
Perguntei quando poderia entregá-lo.
- Já no próximo sábado, respondeu.
Conforme estava combinado, lá fui naquele sábado procurá-lo. 
Levava as notas num molho, contadas e recontadas para que nada faltasse e estivesse tudo certo.
Eram notas de mil escudos, a nota de valor mais alto nesse tempo.
Entreguei-lhe o dinheiro e ele deu-me as chaves do carro com uma breve explicação do funcionamento das mudanças, luzes, arranque, travões, etc.
Ele também gostava muito do carro e estava a custar-lhe a separação.
Resumiu a conversa ao mínimo indispensável. Guardou o dinheiro e entrou em casa.
Eu olhava para o carro com o coração a bater num ritmo mais do que acelerado.

Sentei-me, respirei fundo e pensei:
- Vamos seguir as indicações e tudo vai correr bem.
Puxei pelo encosto do motor de arranque. Estes carros tinham um cabo que puxava um dispositivo do sistema eléctrico para o arranque do motor, como se fosse a chave de ignição.
Ouvi aquele trabalhar ritmado e leve parecia uma canção.
Procurei a mudança para sair daquele beco apertado. Uma vez para trás, e depois, já dá para sair. 
O meu nervosismo era inexplicável.
Há, que maravilha!.... Que prazer....correndo estrada fora.
Tinha até vontade de parar, e dizer a todos : Tenho um carro...! É meu....
Parece que toda a Aldeia devia saber e partilhar a minha alegria.
Não sei descrever os sentimentos e as emoções que me invadiam em catadupa.
Estacionei o carro, mesmo em frente da casa dos meus pais. Preocupado que não estorvasse a ninguém. 
Parece-me ver ainda a cara do pai quando me viu chegar com o Citroen.
Olhou, mediu e disparou:
-Podias esperar mais algum tempo, e comprar uma coisa melhor......
Não gostou do carro, pensei eu, após ouvir aquele comentário.
- Pai, este carro por agora vai servir e depois se verá !
Nem eu sabia o que me esperava com tantas avarias. Eu e o Citroen, nos próximos cinco anos, vamos fazer uma linda história.

As mudanças estavam num braço colocado no centro do carro e ao lado do volante . 
Puxando esse braço para o condutor, entrava a primeira mudança. A segunda era para a frente. Para o lado oposto e com as mesmas posições era a terceira e a quarta.
A marcha atrás tinha tambem um toque especial.

Os vidros das portas da frente eram compostos por duas partes e quando se queria ter a janela aberta dobrava-se a parte inferior para cima encaixando-a na outra parte fixa.

Quando o dispositivo de arranque não funcionava tínhamos de recorrer a uma manivela que encaixava na parte da frente do motor fazendo-a rodar com força até arrancar.
Em tempo de chuva o carro nem sempre arrancava e então tínhamos de recorrer à manivela com muita frequência.
Aconteceu também fazê-lo de empurrão, pela estrada fora ou ainda quando era possível estacionar numa descida. Com o tempo fui adquirindo conhecimentos e estudando os segredos do carro.

Um dia fui ao cinema com outros jovens conhecidos.
Quando saímos, perto já da meia noite, o carro não pegava.
Então, desengatei as mudanças, e encostando o ombro no lugar da porta empurrei com força até ganhar balanço. Entrei de seguida no carro e meti a 2ª mudança e ele começou a andar.
Estávamos no coração da cidade de Leiria e a essa hora ainda havia muita gente a passear nas ruas Era Verão e a temperatura era agradável.  As pessoas riam-se do espectáculo com o carro e diziam:
-Oh pá isso antigamente andava com dois cavalos.......! 
- Pois, pois, mas agora precisa de mais um.... respondi, com desembaraço.
Esperei que os meus amigos entrassem no carro e regressamos a casa.

Uma manhã, quando ia para o trabalho, dei boleia a duas vizinhas, de meia idade, (cinquenta anos) que iam para a cidade.
Seguíamos pela estrada 109, quando um camião em sentido contrário se atravessou e nos bloqueou a estrada para fazer uma ultrapassagem. Encostei-me o que podia para a direita, de modo a que não nos esmagasse a todos e travei o carro. As bermas da estrada estavam cheias de buracos e lombas e o Citrêen começou aos balanços grandes conforme passava pelas covas e cabeços.
As senhoras gritavam desesperadamente:
- Ai, N. Senhora nos valha que morremos todos..........Jesus nos salve...... Já depois do carro parado ainda elas gritavam cada uma mais do que a outra apertando a cabeça com ambas as mãos.
As portas abriram-se e uma grande poeira entrou para o carro.
Estávamos todos com medo...
Naquele instante, ao fundo da ladeira, depois da curva do Loural, apareceu a brigada da Polícia que mandou parar o motorista do pesado.
Vieram até ao Citroen e indagaram se estávamos todos bem, se não havia feridos nem estragos materiais. 
- Sr condutor veja se tem alguma coisa partida na sua viatura......
Fiz uma inspecção rápida e não encontrei nenhum estrago relevante. 
- Então pode continuar a sua viagem. Disse o Polícia.


O casamento do David Mestre
Abeirou-se de mim um dia e com um ar delicado perguntou-me se queria ir ao seu casamento e se poderia transportar os noivos após as cerimónias na Igreja da Gândara dos Olivais.
Assim fizemos. 
Após as cerimónias os noivos entraram no carro e andámos por aí com o descapotável .
Eles estavam felizes.
Nesse tempo não eram ainda muito frequentes as fotografias dos noivos, da boda e outros passeios.
Não me recordo mesmo de ver um fotografo naquele casamento. Sei que tinham construído uma casa nova e não tinham dinheiro para muitas coisas.
O David Mestre e a esposa ficaram muito gratos e ainda hoje falamos nesse dia e na amizade que nutríamos uns pelos outros.

Aos sábados de manhã a mãe costumava ir ao mercado da Vieira de Leiria fazer a venda de algumas coisas cá de casa.
-Batatas, couves, feijão, alguns frangos ou coelhos, milho e até alguns ramos de flores.
O pai, viu no carro uma maneira de irem mais rápido e directos ao mercado.
Assim na sexta feira de tarde, começavam a preparar e a juntar as coisas que queriam levar para vender e no dia seguinte era só carregar e seguir viagem. 
Estava tudo pronto e as portas fechadas. Então punha o carro a trabalhar.
A mãe sentada atrás e o pai ao meu lado iniciávamos a viagem que demorava mais ou menos tinta minutos. Ajudava a transportar as coisas para dentro do mercado e depois vinha sentar-me no carocha  a ler um livro até que a venda estivesse concluída.

Um dia no regresso, o pai lembrou-se de cortar umas giestas na mata nacional para trazer para casa. As giestas deveriam ter 1,50 de altura e também eram as que tinham mais folhagem. Com elas fazia vassouras para a eira. 
Limpava os toros que amarrava com arames ou cordéis e depois com elas varriam as sementes da eira. Por vezes com os ramos mais pequenos faziam outras vassouras para usar em casa.
Para transportar aquelas giestas grandes no Citroen tinha de abrir a capota e com cuidado ir metendo os paus para baixo e a rama como tinha mais volume para cima, exterior do carro.
A mãe, agora, sentava-se ao pé de mim, e o pai, sentava-se atrás para segurar aqueles pés das giestas.
Nem no Carnaval se viam carros assim enfeitados.
Parecia que a floresta ia em andamento pela estrada. Hoje seria impensável repetir estas proezas. 

Passados uns quatro anos o carro estava com um aspecto novo mas com o coração cansado.
Falei com o mecânico que se prontificou a repará-lo, mas também não dava garantias. Os sinais de cansaço eram já evidentes e após uns quilómetros voltaria a parar. 
- Ora esta....! Que vida a minha...! Não queria por nada separar-me do meu carocha.
Havia vários interessados, mas não me compravam a amizade que eu lhe tinha, nem me curavam o desgosto de o ver ir com novo dono.
Uma tarde quando o limpava o meu primo Victor Coelho pediu-me para ir dar uma volta com ele. Tinha acabado de tirar a carta naquele ano e não queria gastar muito dinheiro. 
Eu compro-lhe o carro por vinte mil escudos. Vou gastar quase outro tanto para o conservar em condições de andar na estrada. 

Tinha de aproveitar esta oportunidade, para não perder mais e deixar o carocha seguir o seu curso e o resto dos seus dias.
O novo dono ainda andou uns seis meses com o carro mas tambem acabou por vendê-lo e eu perdi-lhe o rasto.
Hoje gardá-lo-ia com todo o carinho. São preciosidades de outros tempos.
Sei ainda que a matricula iniciava com as letras AE
luiscoelho

quinta-feira, 25 de março de 2010

Aquilo que eu queria

Aquilo que eu queria
Encontrar em ti
Era amor para dar
Mas não sei o que vi
Ou se apenas descobri
O teu amor a mudar.
Ergui-me sem nada
De pensamentos vazios
Sem desejos nem vontades
Para com tudo acabar.
Misturei-me nas estrelas
Que cintilavam rebeldes
E deixei-me amortalhar.
Não irei ao teu encontro
Nada tenho para dar 
Parece que nem aqui
Deus guardou o meu lugar.


luiscoelho

terça-feira, 23 de março de 2010

Silêncio

Silêncio lento 
Que me trespassa
Vestido de luar
De suaves encantos
Ensina-me a amar.
Nas feridas abertas
Há presentes de dor
Com roupas vermelhas
E palavras frias 
Que não trazem amor.
Os pensamentos correm  
Das montanhas azuis
Quase por magia
E da luz que alumia 
Palavras vazias
Que sufocam a voz
De palavras nuas. 
A noite no silêncio 
São gritos ausentes
Que se fazem presentes 
De silêncio e paz
Deixa-me sonhar
luiscoelho

segunda-feira, 22 de março de 2010

"bater um papo"

Gosto de ler todos os comentários que me fazem e digo que tem sido maravilhosos comigo.
Certamente alguns carregados de boas vontades e não tanto pelo merecimento que possa ter alguma coisa escrita com os meus parcos conhecimentos e simplicidade que me caracteriza.
Leio também muitos comentários nos blogger que sigo, ou que encontro ocasionalmente, e reparo que fazem comentários aos comentários.
Será que há necessidade.....................?
Este é um ponto de vista pessoal. Cada um fará como entender.
Por vezes encontra-se: -  50 comentários, quando na verdade os comentários foram apenas 10.
Quando escolho alguma coisa para postar no blog, já estou a dar a minha opinião ou se escrevo é algo que vivo e me preocupa naquele momento.
Os comentários apenas reforçam aquilo que escrevi ou me dão dicas para corrigir, fazer mais e fazer melhor.
Desculpem este reparo. 
É a minha, e só minha opinião, e pior um pouco é que ninguém me pediu o recado.
Se alguém, precisar de me dizer algo mais que não queira fazer no Blog, é só dizer e dar-lhe-ei o meu =e-mail=
 Luís Coelho

domingo, 21 de março de 2010

Amar com tempo

Amei-te com tempo
Dançando na chuva
Sem nenhum lamento
Nem um só queixume
Corri sem parar
Por dias e noites
Abraçado ao vento
Para te amar
E não te perder 
Do meu pensamento


Amei-te com força
Que tenho por dentro 
Que canta e proclama
O amor de quem ama
Que veio com o tempo
Balouçando na brisa
Ou na dança do ventre
E com amor te avisa 
Aqui estou para sempre
luiscoelho

sábado, 20 de março de 2010

Incompreensões

Hoje, recebi uma critica, que acho injusta e injustificada. Fiquei triste. Senti necessidade de me rever nos comentários. Ler novamente o que escrevi.
Nada encontro com malícia, desprezo ou que me faça mais do que aquilo que sou. 
Nunca fui arrogante com ninguém. 
Sempre fui acarinhado por todos os meus colegas e superiores nos trabalho.
Aqui na blogosfera , também tenho recebido, carinhos que não esperava, mas que aceito e retribuo. 
Talvez tenha dito algo sem interesse e apenas por brincadeira para tornar mais leves determinados assuntos ?
Fui mal interpretado...?
Estou confuso e sem saber o que pensar.
Deixo o assunto dormir pois ao acordar, muitos dias, temos novos olhares. 
Tanto nos poemas, como nos textos, tenho o cuidado de não ferir ninguém. Deixando de parte a política e religiões
Temas de tricas e intrigas sem fim nem proveito para ninguém.
Aceito, quando erro e me dizem que não gostaram ou que fui incorrecto. Dou a todos o que sou e o que tenho e peço ajuda a todos também sem  ter vergonha por não saber tudo.
Não sei mentir, ou fingir uma coisa diferente, só para ser agradável.
Aqui, talvez, a minha mulher tenha razão, dizendo
- És muito primário. Dizes tudo. É preciso guardar silêncio, mesmo quando ele nos doí......
Agora, penso que se estivéssemos frente a frente, e me conhecesse como sou, nunca me diria palavras tão duras. 
Um erro não se paga com novo erro.
Nestas situações quero aprender mais e fazer melhor em cada dia. 
Se fui incorrecto peço humildemente as mais sinceras desculpas. 
Não quero perder a amizade de ninguém, ninguém, ninguém....... 
luiscoelho

sexta-feira, 19 de março de 2010

São José

São José um homem simples,
Bom, honesto e trabalhador
Não juntou grandes riquezas
Nem viveu outras grandezas
Caminhou amando a verdade
Defendeu os perseguidos
Os famintos e desvalidos
Com sabedoria e vontade.


Deus entregou-lhe Maria 
Moça bela, sem fidalguia
Que os homens queriam matar
Porque um dia engravidou
Sem aquele amor que sonhou
Nem ao seu noivo desgostar.
São José com carinho a protegeu
A guardou e sempre a defendeu.


Depois Deus entregou-lhe Jesus
A beleza e a verdadeira Luz
Dando-lhe força para caminhar 
E nos sonhos a coragem de amar
Fugiram das grandes inimizades,
Das muitas injustiças e maldade
Levando sempre a Sagrada Família
A viver em Deus - a grande Verdade.
luiscoelho


quarta-feira, 17 de março de 2010

terça-feira, 16 de março de 2010

Bater do coração

Bate, bate coração
Devagar, pausadamente
Não vives mais tempo
Correndo apressadamente
Dou-te as minhas mãos
Com carinho  e paciência
Fazendo aqueles balanços
Que não tem qualquer ciência
Afagando esse pulsar 
Amaciando essa ansiedade
Que depressa quer chegar
Sem tempo para descansar
Bate , bate coração
No meu peito a despertar
Fazendo a vida mais bela
Com amor, sempre a cantar


Se é dor há-de passar
Se for alegria há-de chegar
Se for amor vem para ficar
luiscoelho

domingo, 14 de março de 2010

Despedida



O nosso colega Luís
Finalmente aposentou-se 
E resolveu festejá-lo 
Pagando-nos o almoço 


Agora deixamos de ouvir:
- Falta muito para as cinco ? 
Trabalha quando apetece 
Cultiva o branco e o tinto 


Tem tempo para a leitura 
Para a escrita e os versejos 
Faz aquilo que mais gosta 
Satisfaz os seus desejos


Internet e cozinhados
Assim se passa o tempo
A cultura e o desporto
São o melhor alimento


Beijinhos e felicidades
De todas as tuas colegas
Companheiras de jornada
Mas nunca te esqueças delas.....


Elisa Martins - Isabel Costa - Ana Nogueira - Célia Agostinho - Fátima Brandão - Margarida Santiago - M José Nogueira - Fátima Simão - Lurdes Salgueiro - Rosário Veríssimo - Celeste Gonçalves - Arminda Saraiva


Antes:
Túlia Guimarães, Berta barreira, Jorge Pedro, Diamantino Narciso, Luís Duarte, Leopoldina, Fernanda Batista, Odete Madeira, Pilar, Palmira Arede, Zulmira Heleno e Julia Búzio.


Antes:
M. José Rino, Manuela Lopes, Victor Castanheira, Júlia Moniz.


Antes:
Manuel José Soares, Edite Ruivo, Fernanda Assis, Fernanda Espírito Santo, Gracinda Franco, José Ferro Cunha, Judite Eulália, Fernando Silva da Gândara, Fernanda Marques, Isabel Figueira, Fernando Silva da Batalha. Fernando Malhó, Fernando Seco, Eulália, Amélia (pelo menos quatro) Luísa Pinto, Júlia Carapinha, Alice Peralta, Raquel Marcos, Estanqueiro......


As primeiras pessoas que me receberam e ensinaram:
Vitorino Vieira Dias, Isabel Caseiro, Lúcia Pequerrucho, Adelaide Machado, Otília Prior, Míquelina.


Certamente esqueci de alguém, mas esses são que tenho gravados no coração e outros, seguiram já no infinitamente para Além.


Almoço em 2010/02/02 - Versos da Elisa Martins 
Seguem-se assinaturas

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quinta-feira, 11 de março de 2010

Sementeira

Madrugadas frias
Tapando o Sol
Que se esconde
Na bruma mole. 
Mas que lindos dias
De trabalho e luta
Nesta terra amada.
Levanta-te agricultor
Vem amar a terra
Vem fazer amor, 
Atirando as sementes 
Na terra lavrada
Os ventos são brandos
O calor aperta
Acorda e trabalha
Pela hora certa. 
Traz contigo a força
Que faz mover a terra
Traz contigo a alegria 
Que mais amor gera
No mais fino trato
Que a terra encerra. 
luíscoelho

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Toninho

A Ti Carminda conta que os irmãos do Caciano, seu marido, emigraram para o Brasil. Venderam tudo o que tinham, juntaram o dinheiro e embarcaram na aventura de uma vida melhor. 
Um sonho que seduziu muitos homens daquela aldeia da Beira Alta, na decada de 1930/1950.
Ficou apenas o Caciano, o José, mais conhecido pelo tio Zé Lambão, e a irmã mais nova. Deotília a quem chamávamos tia Badeira.
Gostava de saber todas as novidades e andava sempre com o reportório actualizado.
Os restantes cinco emigraram para o Brasil de onde nunca mais voltaram.
A irmã, casou uns anos mais tarde, com o António Pirícas.
Eram jornaleiros e viviam com muitas dificuldades.
As jornas eram baixas e o dinheiro desaparecia sem se saber por onde, nem em quê.
Ficava todo na Taverna onde compravam o arroz e o petróleo e também a "pinga" para empurrar a "bucha" de manhã e à noite.
Fico encantado com a força desta gente, que vive com tão pouco.
Amassa o pão de cada dia com as próprias lágrimas e tempera-o com a força dos seus braços cavando aqueles canteiros de terra em volta das fragas. 
Vivem com uma alegria ímpar e inigualável.
Em dias de festa e romarias nas aldeias vizinhas, eram motivos suficientes para entregar a Deus e aos santinhos as suas dores, as tristezas e até a guarda dos seus animais.
Viviam nestes dias de uma alegria contagiante, participando nas missas e procissões, mas também nos bailarícos pela noite dentro. Por vezes levavam um farnel para passarem mais tempo na festa.
Na alma de cada um mora um sonho.
Ainda virão dias melhores. Teremos mais dinheiro e uma vida menos arrastada. Sonhavam em cada dia, em cada madrugada em que se levantavam para mais um dia de trabalho.
   Nasceu-lhes um menino que veio completar a alegria deste casal.
Era a coisa melhor que eles tinham. 
E faziam contas. Um dia, na nossa velhice, sempre temos alguém que olhe por nós....!
Os filhos, eram uma mais valia . Trabalhavam para os pais até à idade de se casarem. 
Costumavam casar a partir dos vinte anos e só a seguir ao casamento é que faziam uma vida independente.
O seu menino , um dia a brincar com uma foice, (citôira) cortou-se no maxilar inferior. Tinha nesta data oito anos de idade e começou aqui o seu longo calvário.
A mãe lavou-o e desinfectou-o e tudo parecia normal. Passados alguns dias o menino apareceu com um tumor no maxilar e a cara muito inchada.
Foram ao doutor, mas como a situação piorava de dia para dia, o doutor mandou-o para Lisboa para outros médicos mais entendidos.
Ficou internado e a fazer tratamentos durante muito tempo.
O pai, sem dinheiro, para fazer face às despesas correntes, emigrou para França. 
A mulher , lá foi aguentando as viagens para Lisboa, na esperança que aqueles doutores lhe salvassem o seu menino. 
Os meses foram passando e os médicos, foram retirando algumas partes infectadas.
Melhoras não havia sinal nem as dores diminuíam.

Passados cerca de cinco anos o Toninho já não tinha língua nem todo o maxilar inferior. 
Uma enorme ligadura  apertava-lhe um penso entre o nariz e o pescoço, substituindo o espaço do maxilar inferior. A ligadura era apertada no cimo da cabeça.
Para esconder aquela personagem pouco vulgar arranjaram-lhe um boné grande com abas laterais.
Quando parecia estar com a doença controlada, foi com a mãe à procura do pai.
As melhoras foram poucas e cedo teve de recorrer aos hospitais franceses, passando mais tempo dentro do hospital do que em casa com os pais.
Daqui em diante só vinham a Portugal no Verão, mas houve algumas férias, que ficaram por lá, dado que o seu menino estava hospitalizado ou não tinha forças para fazer longas viagens.
Os anos passaram.
Os pais estavam arrasados. Cansados de tantas viagens, e regressaram a Portugal.
O estado de saúde, foi-se agravando progressivamente.
Passava os dias sentado num cadeirão a ver os programas da TV. Tinha então 36 anos
Alimentava-se com uma seringa de alimentos líquidos, e ainda trocava diariamente os pensos.
A mãe adoeceu naquele ano. Foi hospitalizada com uma pneumonia.
O Toninho também tinha piorado.
Agora era a tia Carminda que diariamente lhe trazia a sopa e o leite.
Morava longe e era penoso fazer todos os dias a caminhada através da serra.
O seu sacrifício era recompensado pelo olhar do Toninho. Aqueles olhos brilhantes, parece que falavam quando via a tia abrir a porta do quarto.
A tia  nunca se esquecia de lhe levar uma garrafa de leite fresco e um termo com sopa de cereais que já tinha feito nessa manhã.
Sentada na beira da cama, enquanto descansava as pernas da viagem, via como ele estava mais calmo e como se deliciava com aquele leite fresco. 
Os olhares que trocavam, eram certamente as suas conversas íntimas. A tia já sabia ler pelo olhar o seu estado interior. 
Antes de sair, já o deixava sentado num cadeirão diante da TV. Aconchegava-o com uma manta de lã e colocava perto dele uma garrafa com água.
Nos seus gemidos de silêncio parecia dizer-lhe:
- Deixe lá ....! Depois eu levanto-me e vou procurar...
Segurava as mãos da tia Carminda como a querer que lhe aquecessem as suas ou talvez a pedir que ficasse ali mais um pouco fazendo-lhe companhia.
Como se entendiam bem....Chegou a levar a lã e as agulhas e ficar por ali mais uma hora só para o ver mais feliz!
Numa manhã gelada quando a tia chegou o Toninho estava tombado para o lado.
Ainda procurou dar-lhe o leite que ele tanto gostava, mas já não conseguiu.
Com carinho fechou-lhe os olhos. Fez-se silêncio.
Chamou o pai para ajudar a lavá-lo e a vesti-lo, mas o desgosto atirou aquele homem para a rua , bem longe daquele quadro.
Apenas se ouviam as orações da tia Carminda enquanto o lavava e o vestia.
Terminou o seu calvário......
Pediram autorização ao hospital para a mãe vir ao funeral do filho. Estava tão debilitada que olhava sem saber porque estava ali, e porque lhe estavam a levar o filho.
Voltou para o hospital logo a seguir ao funeral, mas faleceu ainda nessa semana.


PS - homenagem a todas as mães que perdem um filho e ainda aos filhos sem mãe.
luiscoelho

sábado, 6 de março de 2010

Amo um amor que não tenho

Eu amo um amor que não tenho,
E a ele me abraço tantas horas a fio
Agarro-o no tempo que passa, 
Soltando-o ao vento sem piu.
Choro amando um sonho perdido,
Canto nas noites geladas de frio.
Espero sentado no sopro do  vento,
Um beijo quente a dançar de vadio.


Eu amo um amor que não tenho,
E caminho num mundo vazio
Arranjo asas para o acompanhar
E nunca o perder sem arte nem brio 
Meus olhos são cegos, ceguinhos
Apaixonados jamais querem ver
Que este amor não me vai valer
E os seus beijos só me fazem sofrer


Eu amo um amor que não tenho
E com ele me mato se no mar me banho
Por ele viverei por amor de viver
Pois só quem ama poderá entender
luiscoelho 


sexta-feira, 5 de março de 2010


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Balança Decimal


Balança, balança
segura não cai
O peso vem certo
 se a mão lá não vai
Só mostra o que tem 
o que lá está
 Nunca o que te convém
Balança, balança
amiga fiel
Teu peso é justo
como doce é o mel
Se na vida fizer 
fiel da balança
Certamente hei-de ter
mais vida com esperança
Balança, balança 
p´ra cá e p´ra  lá 
Mas se não parares
bom peso não dá
luiscoelho
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quinta-feira, 4 de março de 2010

Pedaços



O tempo corre apressadamente
Rasgando-me a alma em  pedaços
Lentamente devora e devassa o espaço
Apagando os ais dos sentidos
E dos nervos formados em aço.

Tantos dias perdidos sem eira nem norte
Desfazendo a angústia dos pensamentos
Vividos no sabor amargo da sorte
Que se arrasta levemente no tempo
Despedaçando os melhores sentimentos

Este tempo que vai, voa e não volta
Transporta também os gritos sem vida
Nas fantasias da alma adormecida
E acordam as madrugadas frias e loucas
Que se tecem de horas boas mas poucas

Agarro os pedaços perdidos, dispersos
Soltando as dores que ficaram perdidas 
Na alma vazia de amor e penas sadias 
E com eles canto este canto em versos
luiscoelho

segunda-feira, 1 de março de 2010

Os Domingues do Casal

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Conta-se por aí que os Domingues do Casal eram rapazes "vivaços" e sempre bem dispostos. Não havia nestas redondezas quem os igualasse nas brincadeiras, bem imaginadas e representadas com alto grau de perfeição.
As pessoas nem desconfiavam, que tudo quanto eles diziam e faziam, era pura imaginação.
Mais tarde, comentavam com os amigos algumas destas cenas.
Davam ainda mais graça à sua imaginação, e então os amigos rebolavam-se de tanto riso, quer pela graça das partidas quer ainda pelos gestos e falas utilizadas.
No final saía sempre aquela conversa:
- Isto é muito melhor que irmos ao circo.........!
- Oh Mário, conta lá aquela da Fábrica do senhor Carvalho de Monte Redondo.
 - No mês de Junho, a feira dos 29, era no dia de São Pedro, o último dos três santos populares. Antigamente era dia santo. Ninguém trabalhava aqui nas aldeias. Aproveitavam o dia para irem à feira vender as suas coisas, criadas no campo, ou ainda, para comprarem uma fatiota nova.
O Mário e o Manuel, eram rapazes de aspecto agradável e com os fatos novos, nem pareciam ser trabalhadores rurais, habituados aos trabalhos mais duros da vida no campo.
Entraram na  fábrica, com um ar grave e as mãos cruzadas atrás das costas.
Iam conversando, sem se rirem, e sempre muito compenetrados.
- Dizia o Mário:
-Esta máquina, não pode ficar aqui....Isto, não pode ser assim.... Esta, vamos colocá-la à saída.....
Respondia o Manuel:
- Pois, pois ...O senhor tem razão....Deve-se mudar isto tudo na próxima semana....aquela máquina fica melhor acolá.
Andavam ambos naquele teatro, quando alguém veio ter com eles  e lhes perguntou o que é que pretendiam.
Nós, andávamos a tirar as medidas para fazer a montagem da nossa fábrica, responderam prontamente.
O Senhor Carvalho, deu-nos autorização, acrescentou o outro.
Entretanto, foram caminhando para a saída que já estava perto.
O empregado, nem chegou a saber quem eram, e porque andaram ali tanto tempo.
Já na rua, riam alto, e com mais vontade ainda, por terem conseguido o que queriam. 
Fingir-se donos da fábrica.

II

Havia em tempos, umas Termas para doenças da pele  na Azenha. Ficam ali para os lados de Alfarelos - Coimbra.
As pessoas aproveitavam os meses de Inverno para irem para lá fazer os tratamentos «ir a banhos».
Geralmente passavam lá 15 dias. 
No final da primeira semana, alguém da família ia visitá-los e levar-lhes mais coisas para comerem. 
Durante a estadia, alugavam um quarto, com serventia de cozinha, numa casa particular.
Uma vez, os Domingues, foram lá visitar um familiar.
Embarcaram no comboio na estação de Monte Real, guardando sempre uma saca de pano onde levavam os mantimentos para o seu familiar nas Termas.
No regresso não traziam nada, e então deram largas à sua imaginação. Percorreram todas as carruagens onde conseguiram entrar. Nas estações saíam de uma carruagem e entravam na seguinte  deixando sempre uma marca de boa disposição.
Quando o comboio começou a travar já perto da estação de Monte Real, foram perguntar a umas Senhoras (muito finas e distinas):
- Diga-me por favor que Estação é esta...... ?? (eles fartíssimos de saber)
- É Monte Real, responderam .
-Há ....! Monte Real.....!
- Anda, anda mano!... Temos de sair aqui... vamos embora ...... o nosso choufer, está à espera......! E o Paizinho está muito, muito ralado, respondeu o outro.
As senhoras continuaram a viagem e eles saíram muito rapidamente, pois ainda tinham de palmilhar mais de três quilómetros a pé  até chegarem a casa, pelas encostas das Ladeiras do Casal.

III

Certa vez, andavam cansados de trabalhar nos campos do Vale do rio Liz.
Estavam cheios de pó e de suor. Então combinaram, ir tomar um banho de água fresca ao rio.
Não se via ninguem por ali. Escolheram um recanto ladeado de amieiros  que fazia uma repreza natural de águas muito cristalinas.
Tiraram todas as suas roupas, que guardaram junto de um arbusto, e "descalços até às orelhas" lançaram-se na água, que naquela altura tinha uma temperatura muito agradável.
Alguém os espreitava e os seguia. Assim que os viu a chapinhar no lago foi-se ás roupas e levou-as, sem eles se aperceberem.
Quando foram para se vestir  e não viram as calças e as camisas ficaram desorientados. 
Estamos perdidos, dizia o Manuel. - Então aquela ...santa .... filha da...levou-nos a nossa roupa toda....e agora como é que vamos para casa.... com tudo à mostra....!?
- Tem calma, Manuel. Vamos estudar como fazer isto sem sermos vistos por ninguém. 
É preciso não fazer barulho e ver quando é que podemos avançar.
Dito e feito. Estavam escondidos no ponto onde tinham guardado as suas roupas  e agora queriam descobrir outro sítio mais longe do rio e mais perto da sua casa.
Já não eram como Deus os pôs no mundo. Eram homens feitos, com as suas partes púbicas bem evidenciadas.  Não queriam ser chacota de ninguém.
O tempo estava a seu favor. Era quase noite, e de noite era mais fácil, esconderem-se na própria escuridão.
Aos poucos atravessaram terrenos cheios de milho e pinhais que lhe davam a possibilidade de procurar outros abrigos. 
Chegaram a casa pela noite dentro e já com outro plano vestir-se rapidamente sem serem descobertos pelas irmãs ou os pais..
O Mário estava preocupado com as suas roupas. Faziam-lhe falta e não tinham outra para vestir . Neste tempo só havia a roupa do trabalho no campo, e a roupa do Domingo para ir à Missa "ver a Deus"
Combinaram com a irmã para ir lá a casa da "santinha"....... buscar as suas roupas.
Tão cedo não voltarão a tomar banho no rio e ainda menos completamente nus.

IV

O transporte, nestes tempos recuados, era o burro.
Quando acabavam o dia longe de casa e o cansaço era muito. Montavam-se no burrinho que os traziam de regresso até a casa. 
Parecia uma corrida de burros. Uns atrás dos outros caminhando lentamente no escurecer dos dias e de regresso ao doce lar.
Às vezes o compadre dizia :
- Passamos lá em casa para provar a pinga. Não torcem caminho. 
As conversas e os copos, por vezes, são inconvenientes e no final de um dia de trabalho nos campos, turvava mais os conhecimentos.
Acreditavam que o burro os levaria sempre a casa.
Um dia enquanto bebiam e conversavam na adega do Armando, alguém, por malandrice,  foi trocar os burros de lugar.
De noite todos os burros são pardos, dizem aqui na aldeia.
Quando acabaram de beber o último copo e depois de desejar as boas noites saíram  e montaram-se no burro onde o tinham deixado. Nem repararam que não era o seu.
O burro puxava para um lado e o dono para o outro.
Nã pode ser...! isto nunca m´a  aconteceu....! Querem lá ver que o burro tá doido...!
Olha olha ,...então ali o burro do Mário, salvo seja, e com a sua licença, tá pró mesmo....!
Nós bebemos e os animais endoidaram....... Nã pode ser....
O Manuel chega-se junto do Mário e diz-lhe :
- Vê lá se este burro é o teu...?
- Vendo bem não me parece....! O compadre deixe-me ver  a sua besta....
- Trocaram-nos os animais, tá visto....
Burro para um lado e encontrão para  o outro lá se montaram cada um no seu e seguiram caminho. O Manuel e o Mário Domingues iam a pé e seguravam o burro pela arreata. 
Não está nada perdido..........Amanhã voltamos ao mesmo. 
Ganhamos apenas para a sopa. Cada dia estamos pior....
luíscoelho