sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Neste Natal


(foto google)

Queria neste Natal

A paz entre as Nações
Alegria em todos os lares
Muito amor nos corações
E que cada pedaço de pão
Fosse símbolo do amor
A força viva da vida 
A maior das construções 


Queria neste Natal

O olhar de uma criança
Nos braços de sua Mãe
Sorrindo cheia de vida
E com o brilho que Ele tem
Nos enchesse com sua graça
Com muito amor e muita Luz
Que nos enchesse de esperança.
Luíscoelho  

sábado, 13 de outubro de 2012

Dia da Ascensão



O dia da Ascensão era o dia mais sagrado dos católicos. Afirmavam que os passarinhos neste dia não voavam e como os passarinhos todos os cristãos deveriam respeitar este dia. 
Era uma homenagem ao Senhor Jesus que neste dia subiu aos Céus vivo e ressuscitado.

Cristo venceu a morte e ressuscitou, mas os seus Apóstolos ficaram vazios da força do Espírito Santo e andavam desnorteados. Jesus passou mais quarenta dias ensinando-os e fazendo-os trabalhar.
- "Ide e ensinai o Evangelho. Quem acreditar será salvo. Curai os doentes. Meu Pai que está no Céu, não vos deixará sem recompensa. A força e a Luz do Espírito Santo guiar-vos-à."

Na aldeia os sinos tocaram de madrugada. Aquele som cortava os vales e os montes num toque festivo e convidativo.  Cada um vestiu as suas roupas domingueiras e dirigiram-se para a Igreja.
Era dever dos cristãos ouvir missa inteira aos domingos e dias santos de guarda. O senhor prior até sabia o lugar de cada pessoa dentro da igreja. Se  faltasse alguém ele devia saber porquê.

O pai levou consigo os rapazes e foi para a Capela Mor onde apenas estavam os homens. Ajoelharam-se na pedra fria e gasta e ensinou os filhos a fazerem o sinal da cruz.
Depois levantaram-se e esperaram  de pé e em silêncio que o senhor prior entrasse e começasse a Oração.
Se algum dos garotos olhasse para trás ou fizesse barulho levava um tabefe chamando-o ao respeito.

A mãe entrou pela porta do fundo da Igreja, porta principal, e caminhou com as filhas até meio da igreja onde ainda havia espaço para elas. Como o pai, também ela ajudou as mais novas a fazer o sinal da cruz e a guardarem silêncio.

Ouvia-se um leve murmurar de orações soltas e desencontradas umas das outras. Cada um pedia a Deus por si e pelos seus, pelos vivos e falecidos, pelas searas e pelos animais, pelo tempo e pela chuva que lhes regava os campos.

O sacristão acendeu as velas e logo depois entrou o senhor prior todo ornamentado. Vestes brancas, sinal de festa e de alegria. Pararam as orações pessoais para ouvir uma  língua estrangeira que repetia sempre as mesmas coisas de costas voltadas para a assembleia.

Depois de algum tempo, o senhor padre voltou-se para nós e começou a falar a nossa língua e a dar explicações certamente daquilo que só ele leu e também só ele podia entender.
A segunda parte da liturgia continuou na língua estrangeira que nós não entendíamos.

À saída, no adro, cumprimentaram-se os familiares e amigos,  regressando a casa pelo mesmo caminho.
A manhã passou depressa, sem nada de especial. O pai, depois de trocar de roupa, tratou dos animais e a mãe fez o almoço.

Ao meio dia já os garotos enfadavam a mãe dizendo:
- Tenho fome !...Era o cheirinho fresco do guisado que estava quase pronto.
- Vão chamar o pai e lavar as mãos que eu já levo a comida para a mesa, disse-lhes ela.

- Mãe o que é hoje o nosso almoço ? Cheira muito bem...hum !
- Vá, vão para a mesa. 
Esperaram que o pai entrasse e só depois se sentaram.
A mãe dividiu a comida e recomendou-lhes que não dissessem a ninguém que tinham comido frango com arroz e ervilhas.

- Se os tios sabem que comemos frango chamam-nos estragados.
- Então o que vamos responder ?
- Digam que comeram sopa de feijão e couve e que estava muito boa. Entendido ? Vejam lá se não nos deixam ficar mal.

Toda a sociedade tinha de  se reger pelos mesmos códigos sociais mas dentro de cada família havia uma distância que os fazia ser diferentes.
Como eram saborosos os almoços ao domingo ou dia santo, feitos num tacho de barro que a mãe colocava num tripé na lareira. 
Luíscoelho

(foto do blog de Luísa Alexandra)

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Nagasaki


Hoje, os noticiários,  falaram levemente deste acontecimento - Nagasaki.- 09/08/1945
Esta foi a segunda bomba destruidora. Aniquilou a vida de uma geração. 
A primeira foi lançada sobre Hiroxima. em 06/08/1945, três dias antes.

No dia 9 de Agosto um piloto da Força Aérea Americana deixou cair a segunda bomba sobre Nagasaki.
Ninguém previu os danos, as mortes, a dor e o sofrimento atroz para tantos inocentes.
Porque decidiram para esta cidade uma segunda bomba ? 

Passados tantos anos ainda existem pessoas que sofrem os efeitos da radioactividade.
Os criminosos não foram punidos. 
O Executante enlouqueceu. Morreu em pesada agonia.
As imagens que lhe foram chegando destruíram-no. 
Foi tarde demais. O mal estava feito. 

Estes acontecimentos envergonham-nos a todos como membros de uma sociedade que se diz civilizada. 
O homem é de todos os animais o pior e o mais brutal assassino.
Estas datas não podem passar desconhecidas ou ignoradas. 
Elas Fazem parte da nossa história recente e devem servir para que estes erros não voltem a ser repetidos. 

É preciso que todas as crianças possam nascer e viver com liberdade respeitando as outras crianças independentemente da sua cor, da sua religião ou da sua cultura. 
É preciso que aprendam a religião do amor e do respeito em todas as escolas do mundo. É urgente que aprendam a PAZ. 

- Não matarás.
Não podemos continuar numa sociedade que ensina a matar. 
Não podemos aceitar que esta sociedade continue a lançar bombas no Japão, no Iraque, no Egipto, na África na Europa ou na Ásia.
Não há nenhuma religião verdadeira que mande matar. 
As falsas religiões atribuem a Deus sede de vingança que Ele não tem. Deus é simplesmente Amor. 
As guerras e as bombas são uma negação do amor e do entendimento entre os homens. 

Hoje, como ontem, os homens continuam a fabricar bombas. Atacam-se um pouco por todo o lado desrespeitando todos os acordos e promessas. Retiram o valor à palavra dada. Não se aceitam entre si e atribuem apenas força à força da morte provocada pelas bombas.

Caminhamos para um novo Apocalipse.
É tempo de nos darmos as mãos, de dizermos não à guerra. É tempo de não aceitar governos que apostam na morte como se fosse vida, na destruição como se fosse progresso.
Hoje é o tempo de dizer basta a tantas barbaridades, roubos e devastação do nosso planeta como se isso fosse progresso.
Luíscoelho


domingo, 8 de julho de 2012

O meu tempo


(imagem do google)

Banco de Imagem - passagem, tempo, conceitual, artwork



O meu tempo
É hoje e agora
É o tempo que tenho
Para dizer que vos amo
Porque me fizeram feliz
É o tempo que tenho
Para dizer tantas coisas
Guardadas em mim
Sorrisos que escondi
Palavras que apaguei
O meu tempo
Foi ontem e antes
Ele me marcou 
E também me mostrou 
O que é viver
Pois me fez crescer
E amadurecer
Luíscoelho

domingo, 17 de junho de 2012

O Mar

Olhos d'Agua Beach
(Foto google)

O dia estava a terminar. Sobravam os raios do Sol que prateavam as águas calmas e transparentes da praia. Os veraneantes tinham partido deixando o areal silêncioso.
Restava o Mar. Apenas o mar calmo e vagaroso que vinha estender-se na areia.

Olhámo-nos longamente.
Naquele entardecer havia um convite. Alguma coisa me atraía para aquelas águas cristalinas. Eram frescas sem serem frias e formavam pequenas ondas carregadas de desejos.

Parei na areia molhada de fresco e comecei a despir-me de cima para baixo, deixando as roupas espalhadas na praia deserta, como marcas de um tempo.

Depois fui sentindo a suavidade da água que me cercava e me ia possuindo.
Completamente nú, deixei-me abraçar pelas ondas que se balançavam e me comprimiam.

O mar estava sillencioso e dispensava apresentações. Ambos nos embriagávamos de prazer.
Estendi os braços para agradecer. Queria prolongar estes  momentos maravilhosos.
Finalmente mergulhei ainda mais fundo querendo guardar para sempre a beleza do momento.

Esqueci-me das horas. Os relógios param quando sonhamos, mas as estrelas que se reflectiam nas águas fizeram-me acordar para a realidade.
Não posso segurar o mar nem querer fazê-lo apenas meu. O mar é grande, imenso e é de todos nós.

Nadei até á margem e vendo-me nú senti-me renascer.
As roupas continuavam espalhadas como marcas de uma caminhada.
Repentinamete uma brisa fresca fez-me sentir vergonha.
Com as mãos húmidas,  fui colhendo as marcas espalhadas na areia e lentamente me fui vestindo com a maresia impregnada nas minhas roupas.
Luíscoelho

Nota
As férias foram maravilhosas. O Sol acompanhou-nos todos os dias e a temperatura da água do mar andou pelos 15/18 graus aproximadamente. As tardes foram de visita a outros locais encantadores:
- Vila Moura e a sua Marina
- Faro e a Ria Formosa
- Olhão e a Ilha de Armona
- Albufeira, Praia da Oura e de Santa Eulália.
Em resumo posso dizer que o esforço e os sacrifícios de um ano foram coroados de exito e tudo valeu a pena.
Luíscoelho

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Férias

A manhã acordou triste. A chuva fustiga-nos. Corremos o olhar pelo jardim e vemos o brilho da chuva nas folhas das árvores e nas rosas que bordam um pequeno canteiro de terra.
Pergunto se valerá a pena sair de casa com este tempo ? Assim não dá para praia. 

Foram uns banhos que nos custaram longos sacrifícios e que ainda se vão prolongar nos próximos meses. Sem o subsídio de férias tudo se torna mais penoso. Equilibrar os nossos magros salários é tarefa de muita teimosia.

Junto à porta já estão as malas com as roupas e alguns sacos com provisões para esta semana. Tudo pronto para a partida.
Em silêncio aguardam. Também elas estão em dúvida se esta saída precária para o mar e o sol do Algarve valerão tantos esforços de preparação.

No fundo de cada um existe uma esperança.
- Pode ser que o tempo vire. Que o Sol sorria. Que a chuva se vá para outros campos...
- Existe cá dentro uma esperança de que nem tudo se irá perder e que também precisamos de nos despedir das nossas coisas. Precisamos de nos desinstalar das nossas rotinas e comodidades, dos nossos hábitos...

As férias serão talvez um encontro com o nosso interior. Um tempo de leitura e de meditação...

À sorte. Que seja o que Deus quiser...Disse-lhes em tom de confidência. Aguardem que eu só vou ali dizer adeus aos meus amigos: cães e gatos, cabritos, patos e galinhas...
Depois partiremos carregando outras malas com boa disposição e muita esperança.

Aqui apenas digo by...by...
Para a semana estarei de volta e certamente com uma crónica cheia de sorrisos e muita vida.
Luíscoelho 

terça-feira, 1 de maio de 2012

Abril Liberdade




O mês de Abril era o mês das sementeiras. A vida na aldeia corria na azáfama da agricultura, único meio de sobrevivência das gentes simples do campo.

Desta vez a notícia, no rancho das mondadeiras, era o Tó. Tinha vindo passar férias a casa dos pais e acompanhava-os nos trabalhos do campo. Passava os dias colado à rabiça da charrua, atrás das vaquinhas castanhas.


Tinha sido mobilizado para a guerra na Guiné, já fazia mais de um ano. O rapaz agora vinha magro e seco, com uma cor diferente da que todos lhe conheciam. 


Nesta data, entre 1960 e 1974, o serviço militar era obrigatório para todos os rapazes com 20 anos de idade ou inferior se quisessem alistar-se voluntariamente. 


Aqui na nossa aldeia não havia família que não tivesse tido um filho em África, mas o pior foram as duas mortes em combate. Ambas em Angola. Morreram pela Pátria, diziam as pessoas com medo dos polícias à paisana.
Primeiro o Domingos Mestre e depois o Joaquim Repolho.


A recruta dos jovens consistia num treino intensivo, durante três meses,  para lhes aumentar a resistência. 
Seguiam-se outros três meses de especialidade. Uns eram atiradores, outros especialistas em transmissões, condutores, serralheiros, mecânicos, electricistas, cozinheiros, enfermeiros, médicos e todas as outras profissões de modo que a Companhia  se pudesse bastar.


  No final do primeiro ano eram mobilizados e enviados para a ex-colónias portuguesas Guiné, Angola, Moçambique, Timor e São Tomé e Príncipe. Países em luta pela sua independência.

O Tó dava-se bem com todos. Era uma pessoa popular. 
Como os demais passou pelos treinos militares. Deram-lhe a especialidade de artilharia em Queluz e de minas e armadilhas em Tancos.
Não escapou à sorte e lá seguiu no final do primeiro ano, para       a Guiné Bissau.


Com as armas de artilharia podiam apontá-las para um alvo fixo ou móvel em defesa ou em ataque.
Com as minas e armadilhas a situação era mais perigosa. Estes engenhos, pequenos em tamanho, eram colocados em lugares de passagem e eram autenticas ratoeiras para pessoas ou animais.


Pisar uma mina era sinal de morte certa ou de ficar decepado de uma perna, com rosto desfigurado ou parcialmente destruído. 
Hoje existem muitos soldados marcados pela violência destes engenhos explosivos.


Um dia receberam a notícia da mobilização. Ordem de Serviço do dia (.../...). Número, nome, posto e companhia mobilizado para...data do embarque...
Em cada um existia a esperança de poder escapar da mobilização.
Os homens não choram. Devem ser fortes e aceitar a sorte.

Nesse fim de semana foi a casa visitar os pais e deu-lhes a notícia. 
Não escolheu as palavras. Foi directo:
- Fui mobilizado e vou para a Guiné no final do mês de Dezembro. Será depois do dia de Natal.

A mãe rompeu num choro que parecia que lhe arrancavam o coração pela boca. Conhecia o sabor da partida. Sabia o que era sofrer a ausência dos filhos levados para a guerra.
O mais velho esteve na Guiné três anos. O seguinte foi mobilizado para Moçambique outros três e agora este irá também para a guerra.

- A mãe só conhece os filhos quando nascem. Depois perde-lhes o direito. O estado é o dono. Levam-lhes tudo...fazem-nos carne para canhão... dizem-nos que vão defender a Pátria, mas a nossa pátria é aqui onde nascemos e vivêmos...

O pai em silêncio olhava o filho, enquanto procurava dar alento à mulher, dizendo-lhe:
- Vá lá sossega. O Tó há-de voltar como os irmãos. Assim nesse pranto estás a fazer mal a ti e a ele também. Tens de arranjar coragem e forças para o ajudar.

Sentados à volta da fogueira conseguiam ouvir o silêncio que agora os possuía a todos. 
As brasas perderam o brilho e ninguém fez um gesto para as reacender. A esperança e os sonhos pareciam que se apagavam como as chamas da fogueira.

- Vou deitar-me, disse a mãe.
O Tó ajudou-a a levantar-se e o pai segui-a para o quarto.
Depois sozinho, deu um jeito à fogueira, retirando os cavacos para um lado e as brasas para o outro. Seguidamente dirigiu-se para o seu quarto .   

Estava muito excitado e sem sono. Ouvia ainda o choro da mãe. Compreendia a sua dor, mas nada lhe podia fazer. 
Ela procurava abafar tudo na escuridão da noite. Parecia-lhe que os santos da sua devoção a tinham abandonado.
O Tó arrumou as suas coisas na mala e depois do Natal partiu com os outros camaradas no Paquete Uige rumo à Guiné.


II


Agora, passado tanto tempo, voltou para descansar em casa. Foi nesta data que aconteceu o 25 de Abril.
A guerra tinha-o debilitado fisicamente. A fome e o calor tornaram-se grandes inimigos e os mosquitos que transmitem o paludismo faziam o resto.

Hoje recorda o dia 24 de Abril de 1974.
Encontrou à venda o livro Portugal e o Futuro. Sabia que estava proibido e correu a comprá-lo. À noite deitou-se a lê-lo procurando entender o pensamento do seu autor - General Spínola. 

Adormeceu e voltou a acordar cerca das duas horas da manhã. Instintivamente ligou o transístor, pequeno rádio de pilhas. 
As notícias ou a música ajudálo-iam a retomar o sono, mas aquilo que ouviu acordou-o completamente. O sono desapareceu.

Sentou-se na cama e com o rádio entre as mãos procurava ansiosamente esclarecer-se daquele comunicado constante.... Sintonizava outros postos para confirmar  se o que acabou de ouvir era verdade...

- O Estado Maior, comando geral das forças armadas, recomenda à população em geral que devem manter-se em casa. Toda a situação está controlada e a todo o momento daremos mais notícias.
Esta foi a mensagem que gravou.  

Depois ouvia-se a canção "Grândola Vila Morena" e outras que
até àquele momento também estavam proíbidas.
Não sabia o que fazer nem como obter mais notícias desta revolução que agora já começavam a chamar - revolução dos cravos.

Aqui na Aldeia havia poucas casas com TV e nem todas ainda tinham um rádio. Quando falavam de política era a medo. Sabiam que algumas pessoas eram informadores da polícia do estado. Ninguém devia falar mal de Marcelo Caetano ou de Américo Tomás que seguiam a política de Salazar.

A vida continuou nos campos e poucos ainda se atreviam a falar de uma revolução.
Silenciosamente substituíram alguns chefes das repartições públicas e noutras organizaram comissões de trabalhadores, mantendo toda a máquina do estado em funcionamento.


Durante alguns meses fizeram muitas mudanças. Umas mais perfeitas que outras.
Tomaram fábricas e bancos. Nacionalizaram empresas de transportes e ocuparam as grandes herdades do Alentejo.
Alguns conseguiram subir e instalar-se na política, fazendo-se respeitar, enchendo-se de luxos e guarda costas.


As férias encaminhavam-se para o fim. O Tó tinha de voltar para a Guiné sem saber mais pormenores nem qual seria a sua sorte. No dia da partida comprou os jornais do dia e levou-os para os seus camaradas que quisessem saber as últimas notícias do estado do País.

Os pretos, mais atrevidos, faziam-lhes frente. Alguns diziam:
- Vai lá para a tua terra. Isto aqui é nosso.
Chegaram mesmo a organizar manifestações com os meninos da escola, segurando cartazes e a pedir liberdade e independência... 

Em Maio já começavam a retirar algum armamento militar e pessoal para Bissau. Esvaziaram os aquartelamentos dispersos um pouco por todo o território e organizaram transportes aéreos e marítimos para o regresso de todo o exército para a Metrópole. Lisboa. 

Nos quartéis de origem era feito o espólio e a passagem à disponibilidade sem grandes cerimónias nem perdas de tempo. Eram uns a chegarem e outros a saírem.

Viva a Peluda! 
Gritavam a toda a força enquanto iam saindo, rumo à liberdade e à vida civil. Agora já não eram precisos .
Luíscoelho



sexta-feira, 20 de abril de 2012

A Última Páscoa

Os dias eram longos, longos demais e as noites internináveis. Tinhas adoecido gravemente já fazia quase um mês. 
Depois de uma estadia no Hospital de Santo André em Leiria, mandaram-te para casa ainda mais debilitado. Mal conseguias comer e passavas grande parte do tempo na cama.

Nos teus olhos transparecia sofrimento que escondias num sorriso de paciência.
Nem sabes quanto nos custava ver-te assim e sem poder ajudar-te. Pedíamos por favor para comeres duas colheres de sopa para te aquecer interiormente.
Depois os medicamentos. Eram tantos. Complicado, ajudar-te a tomá-los todos...

Veio a Pascoa e todos te visitaram ali no teu quarto e na tua cama.
Junto de ti tinhas uma caixa com dinheiro que foste distribuindo na mesma quantidade e igualdade pelos netos e bisnetos. Para ti eram todos iguais e todos mereciam esse teu gesto.  

Impressionante como te foste apagando silenciosamente.
Sentimos que era o fim .
Olhávamos impotentes sem que nada pudéssemos fazer para o evitar. Era o destino. 

Corria o ano de 2004. Cada dia mais fragilizado e aceitando o silêncio por companhia.
Dia 20 de Abril, perto da meia noite quebraste o silêncio com um grito que nos acordou.
Tinhas partido. Terminaram os teus dias e os teus sonhos.
Um rosto sereno de quem cumpriu a missão.

Agora sobra-nos o silêncio, a recordação de tantos dias de convívio, de tantas lutas e sacrifícios para que nada nos faltasse.
Sobra-nos o respeito que nos ensinaste e nos fez uma família.

Agora, lá onde moras, peço a Deus que te guarde e te trate bem como nos ensinaste a nós a amá-Lo e a cumprir os nossos deveres sociais, morais e humanos.
Silêncio e paz.
Luíscoelho

sábado, 7 de abril de 2012

A Ti Charuta





(foto google)


Passaram-se já muitos anos. Muitas coisas estavam adormecidas na poeira do tempo que teima em sepultá-las no esquecimento. Lentamente fui recordando a Ti Charuta. A casinha pequena onde viviam, lá em baixo no meio dos pinhais, a caminho do Paúl. 

Ao lado da casa, havia um carreiro por onde as pessoas caminhavam a pé e, logo a seguir, havia o caminho fundo de terra batida para os carros de bois. 
Do lado Sul desse caminho havia uma vedação de espinheiras que limitava a Quinta do Costa Pereira.
Cada Inverno, as chuvas arrastavam a areia do caminho, tornando-o ainda mais fundo e estreito. 

A pobreza e a resignação foram as sombras que agasalharam a família da Ti Charuta. 
Todos os dias víamos o fumo a sair pelas telhas do telhado. Ela tinha de fazer um caldinho para os filhos e o fogão era uma fogueira no canto da casa. 
Com pinhas e alguns paus secos, faziam uma fogueira onde se aqueciam e cozinhavam os alimentos.

Todas as manhãs, depois dos catraios saírem para a escola, ela e o marido iam ganhar o dia, como jornaleiros nas casas dos agricultores desta região.
Ao meio dia, comiam por lá a sua bucha (farnel). 

O pai contou que este casal apareceu por aqui sem nada. Nunca soube de onde vieram. Viviam ambos numa tenda feita com paus e ramos para se abrigarem.
Um dia, o povo, aqui da aldeia decidiu construir-lhes um abrigo melhor. Cada um deu o que podia. Meteram mãos à obra. Construíram esta casinha que eu conheci.

O proprietário deu o terreno delimitado por marcos. Começaram por abrir os caboucos  que encheram de pedras. Eram os alicerces, base das paredes de adobes (barro amassado e seco formando um tipo de tijolo grande).
Depois das paredes feitas montaram o telhado, duas portas e uma janela. Era uma divisão única mas já estavam abrigados das chuvas e do frio cortante do Inverno.
Ali criaram um rancho de filhos no maior respeito que se podia ter. Não se ouviam gritos nem palavras agressivas.

Na Páscoa recebiam a visita do Senhor Padre. Havia uma mesa encostada à parede onde colocavam sempre uma moeda pequena. Era aquilo que tinham. 
O Senhor Prior olhava a moeda e colocava lá mais algumas para que pudessem comprar pão para a ceia deles e dos filhos.
O Sacristão de capa vermelha, metia a mão num saco que ele segurava juntamente com a Cruz e deixava em cima da mesa algumas amêndoas pequenas e coloridas.

Os olhos dos garotos brilhavam com avidez procurando a amêndoa da sua cor preferida. Faziam contas e mais contas mas no final não chegariam para todos. Eles eram muitos e faltavam duas, mesmo tirando o pai e a mãe. Talvez eles não as quisessem.
O homem de capa vermelha não as contou. Não seria mais pobre e poderia ter deixado mais algumas...que pena...

A mãe viu a angústia nos olhos dos filhos. Quando o padre saiu pela porta da casa, ela lançou-lhe ainda um olhar de suplica que ninguém entendeu. 
Os garotos vieram com o pai para a rua e viram  o cortejo dirigir-se para a casa seguinte. A casa da Maria do Rio.


Depois entraram todos e esperaram que a mãe fizesse a divisão. 
Era ela que dividia o pão em fatias iguais, mas as amêndoas, essas eram mais difíceis de dividir. Os garotos iriam reclamar... o pedaço do mano é maior que o meu....

O silêncio corria por toda a casa e os foguetes deixaram de se ouvir. 
Então ela olhou os filhos com o seu ar de mãe e um sorriso de amor e disse-lhes:
- Não chegam para todos, mas todos queremos um bocadinho para recordar este dia.
Vamos parti-las. Depois vamos procurar fazer quinhões iguais.

Estenderam um pano branco na mesa e o pai foi buscar uma pedra. Limpou-a o melhor que pode e depois começou a parti-las uma a uma. A chama da fogueira reacendeu-se. Cada um recebeu pequenas migalhas de todas as amêndoas.
Nos olhos de cada um brilhava uma alegria que seria de todo impossível de descrever assim como o sabor de cada pedacinho do açúcar de amêndoa.

Os anos passaram. A Ti Charuta viu os filhos crescerem e saírem de casa. Depois da Escola Primária foram servir para casas abastadas. Eram todos rapazes e muito trabalhadores. O mais velho foi com um feirante vender calçado pelos mercados e feiras. 
Mais tarde montou o seu negócio. Hoje dizem que é um homem de sucesso.

Os outros seguiram-lhe o exemplo e ouvi dizer também que são pessoas realizadas.
A Ti Charuta morreu velhinha pouco depois do homem falecer.
Levava no rosto a simplicidade e o sorriso de gratidão ao povo desta terra que os ajudou nas dificuldades.


Desta casinha apenas me sobram alguns traços visuais.
Venderam o terreno e lá construíram uma bonita vivenda onde agora vive uma família que veio residir na nossa Aldeia.
Luíscoelho  

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Parvo da Arroteia

Rosas. Fotos
(foto Google)
Estas rosas são o meu carinho para todos
os pobres do mundo




Lembro de ouvir falar deste homem, e recordo como todos se riam das suas partidas, da sua simplicidade e dos seus dizeres.

«dá-me dez... que eu dou-te cinco» 
«Maria dá-me sopa...tenho a barriga a dar horas»
Seriam expressões usadas por ele ou que lhe eram atribuídas.

Não sei o seu verdadeiro nome. Se era António, Joaquim ou Manuel. Apenas lhe chamavam - o Parvo da Arroteia.
Era ainda menino, e já ele passava regularmente pelas aldeias ao redor batendo a todas as portas.

Era velho e caminhava sem pressa. Para ele, parece que o tempo não tinha valor. Os dias eram todos iguais assim como as suas preocupações. 
Com Sol ou com chuva ele caminhava por todos os caminhos sem se enganar ou se perder.


Não era alto nem baixo. Tinha uma estatura normal e a cor das suas roupas enquadravam-se com castanho dos caminhos de terra batida, poeirentos e cercados de grandes silvados.
Agasalhava-se com roupas gastas e desajustadas do seu tamanho ou ainda da época do ano.
A mesma roupa servia para todos os dias, quer fizesse frio ou calor.

Por cima de todos aqueles casacos compridos trazia uns alforges. Eram dois sacos ligados entre si e com cinquenta centímetros quadrados cada um. Enfiava a cabeça por uma abertura no meio deles ficando um para a sua frente e outro para trás. 


Dividia as esmolas pelos dois sacos. Na parte da frente colocava a comida: pão ou carne salgada. 
No saco que ficava nas costas colocavam feijão, batatas ou mesmo hortaliças.

Transportava ainda uma lata para cozinhar um caldo quando não tinha mais nada para comer. 
Quando lhe davam sopa, entornava-a dentro dessa lata e depois bebia-a sem pressa, saboreando cada gole como a melhor coisa deste mundo.

O cabelo e a barba confundiam-se na cor grisalha e emaranhada, não deixando perceber o tamanho de um, nem de outro. A completar o quadro tinha um boné com uma pala que lhe escondia os olhos. 


Um dia pensei, enquanto olhava para ele:
- Que lhe terá acontecido...? Porque lhe chamam parvo...?
Será que tem uma casa...?... e família...?
Perguntas que ainda hoje se mantêm vivas e sem resposta.

Ainda ouço o modo como chamava à nossa porta:
-Truz, truz, truz...Alguém me dá uma esmola por amor de Deus... e das alminhas que Ele lá tem...?
Depois começava numa oração de pai-nossos e avé-marias até que lhe viessem dar alguma coisa.

Recebia a oferta e fazia novas orações agradecendo a esmola.
Depois partia assim como veio no silêncio dos caminhos, apenas seguido por algum cão mais atrevido.

Para ele era indiferente o tempo ou o trabalho nos campos. Vagueava perdido, semanas a fio, correndo todas as casas. 
À noite, procurava um telheiro abandonado, um palheiro cheio de feno para os animais e aí se recolhia para dormir durante a noite. 
Outras vezes procurava um abrigo natural, numa encosta soalheira, protegida dos ventos frios e húmidos do norte.

Um dia, o Parvo da Arroteia caminhava pelo Caminho de Ferro do Oeste. Não viu, nem ouviu o comboio e lá ficou despedaçado. Ninguém sabe se foi ele escolheu este fim ou se foi colhido pela pouca sorte dos seus dias.

Nesse dia o pai fez de ordenança. Foi designado pelo Regedor para estar ali de guarda ao cadáver até que as autoridades viessem e dessem ordem para o levantar e transportar para o cemitério.
A nós não nos deixaram ir ver.

Todos os dias passavam por aqui pobrezinhos pedindo uma esmola por caridade e por amor de Deus, mas este foi o que mais me marcou, talvez pelas histórias que contavam dele.


Um dia passou por aqui um pedinte que trazia um cavalo preso pelas rédeas. Dizia que um grande incêndio lhe tinha levado tudo. Só ele e o seu cavalo se salvaram.
Recebeu a sua esmola e partiu na companhia do cavalo, carregado de coisas, que nem eu sei dizer para que lhe serviam. 
Parece que carregavam o que se salvou do incêndio e que, em cada coisa, havia ainda a esperança de recomeçar tudo de novo.


Cá em casa nunca duvidaram das histórias que por vezes eles contavam enquanto comiam um pedaço de toucinho cozido ou uma peça de fruta.


- Que seja tudo por amor de Deus e também das almas das nossas obrigações...dizia a mãe.
Luíscoelho

segunda-feira, 26 de março de 2012

10 Março


foto google





Vi as tuas lágrimas brilharem
Vi o mar que os teus olhos faziam
Eram penas de amor a morrerem
No silêncio que por eles corriam
Eram momentos de dor e prazer
Marcas que nunca irás esquecer.

Trazias em ti o fel da maresia
Ondas gigantes, correntes do mar,
Ventos fortes de grande rebeldia
E sopravam sem querer parar
Momentos vivos deste acontecer
Preço que um dia foi o teu querer.

Ouvimos o silêncio muito magoado
E toda aquela dor que nele corria
Murmúrios de amor no tempo passado
Neste canto que agora sem ele se fazia
Amor verdadeiro só com liberdade
Respeitando a vida com amor de verdade

Luíscoelho

sexta-feira, 9 de março de 2012

Dia de Reis



Diz a lenda que eram três
Gaspar, Belchior e Baltazar
Vinham lá do Oriente
Guiados por uma estrela
E traziam seus presentes
Para oferecer a Jesus.
Depois de feita a visita
Satisfeita a obrigação
Tomaram outros caminhos

Sem aparente razão
Cheios daquela luz divina
Que iluminava o coração.
Os presentes Lhe entregaram
Com respeito e muito amor

Outro maior receberam
Na hora em que partiram
Viram Jesus, José e Maria
Com simplicidade e magia
Distribuindo calor 
Numa noite muito fria.
Luíscoelho


(Poema revisto e reeditado em 09/03/2012)

domingo, 8 de janeiro de 2012

João


(foto google)


O meu nome é João. Tenho 10 anos e estou a terminar o 1º ciclo. Os outros meninos falam-me das suas mães.
As coisas que eles dizem são tão bonitas. Já eu...,eu gostava muito que tu gostasses um pouco de mim.
Não sei onde estás nem porque não me queres ao pé de ti.

Durante a noite, chamo por ti. Choro para dormir e faço birras constantes. Há quem diga que sou hiperactivo...
Nesses dias e noites a avó abraça-me e dá-me muitos carinhos, mas estes não são os teus...

A minha existência está a complicar a vida da avó. Ela trabalha muito e priva-se de muitas coisas para que eu tenha as coisas de que preciso.

Às vezes leva-me até o trabalho dela para me distrair. É longe e vamos de autocarro, mas para a minha escola que é mais perto vamos a pé todos os dias.

Custa muito naqueles dias quando chove. Os meus pés nadam na água e logo arrefecem. O frio parece que me corta os lábios e o rosto.

Um dia, depois da avó me deixar lá na minha escolinha, fui esconder-me atrás de uma porta para ver chegar os meus amigos com os seus pais.

Oh mãe, tu não sabes quanto chorei ao vê-los abraçados ao pescoço dos pais...Eram tantos os afectos e eu,...sem pai e sem mãe !...

Escuta-me:
-Não quero roupas de marca nem aqueles brinquedos que custam muito dinheiro. Não sou desses!...

Quero apenas ter o teu colo, poder abraçar-te, sentir o teu calor e aconchego. Desejo tanto adormecer e acordar com o teu beijo...sentir as tuas mãos a aconchegar-me a roupa.

Hoje sentei-me aqui a pensar em ti e porque me deixaste com a avó e o pai. Ele também não tem tempo para mim. Diz ter sempre muito trabalho.

Outro dia, a avó estava tão arreliada comigo, que me disse:
- João, se eu pudesse e soubesse da tua mãe, eu levava-te lá, para junto dela. Talvez assim deixasses de cismar tanto com ela.
Sempre a mesma história...sempre...sempre...é demais...eu já não aguento. Irra...

Pode ser que um dia ela queira vir ver-te!
Que se lembre de ti!
Tem calma, um dia vais ver a tua mãe ou ela virá ver-te a ti...

A avó contou-me que existem muitos meninos como eu e outros ainda pior. Porque será...??

O tribunal entregou-me à guarda da avó. Tu estavas lá e não te revoltaste...será que já não gostas de mim...?

Por favor, vem visitar-me e deixa-me brincar contigo,nem que seja tanto tempo quanto foi aquele em que olhaste para mim no tribunal, sem uma lágrima no teu rosto...

Um beijo do João (teu filho, ainda te lembras ,não lembras?!
Luíscoelho
(texto revisto e rectificado em Janeiro/2012)

Os meus meninos


David e Lia

Os meus meninos são de oiro
Por eles trabalho e luto
Também neles me revejo
Num sonho com que labuto
Aquilo que foi meu desejo

Quero que saibam trabalhar
E que o façam com amor
Quando se ama o que se faz
Os resultados são um primor
São de alegria e de paz 

Ensinei-lhes boas regras
O respeito por obrigação

Que nunca devem desistir
De uma boa razão
Que nos seus dias surgir.

Quero que acreditem neles 
Sem ter de ferir ninguém
Nem esperar por padrinhos
Melhores serão os caminhos 
Que os levam mais além.
Luíscoelho

(texto revisto em Janeiro/2012)

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Ana


Foto google


Entre duas taças de sopa, senti que te aproximavas e que querias contar-me a tua história. A sopa não era nada de especial, mas tudo o que foste dizendo foi pesado demais .

Gostaria de saber porque me escolheste. Lentamente, com a suavidade do vento, confidenciaste-me os teus segredos, pedaços de ti. Notas tão íntimas que não relatas ao teu médico, às amigas de infância nem aos teus familiares.

Todos os dias, pareces ganhar coragem e soltas um pouco dessa cor preta com que te vestes diariamente, protegendo-te.
Olho dentro dos teus olhos e sinto a tua delicadeza e doçura.
Dou comigo a imaginar o quanto serias mais bela antes de te deixares enfeitiçar pelas dúbias palavras de amor que te conduziram a teias de mágoas pesadas e traiçoeiras.

Ao ouvir-te, vou construindo dentro de mim uma outra pessoa, mais bonita. Não consigo deixar de me preocupar com os teus problemas e as tuas angústias.
Imagino a tua dor e o vazio desse mundo onde te escondes, repleto de medos que te perseguem e o sofrimento que tu própria alimentas.

O teu filho, o Carlitos, partiu num momento crucial: quando mais precisavas dele.
Nada, nem ninguém o conseguiu substituir na tua vida...
Aquela estrada foi traiçoeira. Os sonhos que o acompanhavam e iludiam naquele dia, não lhe deixaram ver a carrinha naquela  curva da estrada. Foram estes os seus últimos sonhos.

Demoraste a revelar-me tantos pormenores. Sentia que não confiavas em ninguém. Em ti persiste o medo que alguém possa ainda levar o teu Carlitos, O menino que ainda mora em ti.

Agora já ninguém o alcançará. Transformou-se numa estrela brilhante que te enche a alma de luz. Está perto de ti...e não te quer ver a chorar.
Quer-te mais bonita ainda, para assim, poder emitir o brilho do seu orgulho.

O teu menino continua jovem. Os anos não lhe fizeram as marcas que vemos em nós. Continua também a dar-te razão pela coragem que tiveste ao fugir do pai dele: um homem mau, destruidor de um lar e lentamente de duas vidas. O ciúme também mata.

Queria tanto ajudar-te mas não sei.
Limito-me a ouvir-te e a dizer-te que muito admiro essa tua coragem. 
Lentamente irás conseguindo viver a tua própria vida e naquelas noites sem dormir, quando a saudade aperta os teus pensamentos, terás sempre uma estrela a sorrir para ti. 
Luíscoelho


(Texto revisto e alterado em Janeiro/2012)