quarta-feira, 30 de junho de 2010

Abril

Surgem os povos sofridos pela fome
Sacudidos por guerras sem rosto nem nome
Vindos dos campos abertos sem sombras
Caminham no silêncio transformando o tempo
Vergados, tristes, esquecidos da força do vento.


Vem a noite de estrelas em seu manto
Semear cravos de esperança e de encanto
E o luar suave que dá cor ao firmamento.
Já vêem recompensas em coisas tantas
E banquetes fartos em mesas brancas .


Surgem ricos e políticos falsos, infestantes
Com mentiras e roubos claros e gritantes
E este povo espoliado oprimindo vão matando.
Abril, Abril sem paz, emprego amor e pão
Sem saúde, sem justiça, respeito e educação.
Abril, Abril que no tempo vão rasgando.     
Luíscoelho


domingo, 27 de junho de 2010

Carícias do vento

A brisa recurvou-se numa carícia
E correu sem se ver nem deter
Encheu-se de ventos audazes
Deixando-nos de novo a sofrer
Porque amamos como somos capazes
Sem nunca desejar ter malícia.


A brisa refresca o sentimento
E o desejo de viver por amor
Quando corre mais perto do fim
Deixa uma marca fria de dor
E leva a melhor parte de mim
Voando na corrida do tempo.


Já não quero as carícias do vento
Que fazem estas  frias correntes
Levando todos os nossos desejos
Desta vida que se faz de sementes
Nem quero a carícia dos beijos
Que são de tristes lamentos
Luíscoelho




sexta-feira, 25 de junho de 2010

Citroen AX

Imagem do google



A Lia concluiu a sua licenciatura no ano de 2008/2009.
Precisava de um carro, pois o velhinho opel corsa, estava tão roto, gasto e cansado que resolveu parar de vez.

Gripou. Não sei se o diagnóstico foi gripe H1N1, das aves, ou outra mais grave ainda. Deixou-o  prostrado, abatido e silencioso. 

Adormeceu à sombra das nogueiras, e foi preciso chamar o reboque para o levar de vez. Custava-me olhar para ele todos os dias e vê-lo assim triste, com as ervas a crescerem-lhe ao redor. 

Costumam dizer por aqui: - "perda que não se vê não se sente"
Outros dizem : - "longe da vista longe do coração"

A necessidade do carro era cada dia maior.
Um amigo nosso tinha um Citroen AX. Também era velhinho. O proprietário tinha muito cuidado com o carro, garagem e as revisões todas feitas a tempo. 

Quem está habituado a um Opel Corsa disel e muda para o Citroen - AX (disel) - não é fácil a mudança e a adaptação.

Andei por aqui com ele até lhe fazer todas as revisões e o deixar o mais operacional possível, para que a Lia se sentisse bem e em segurança.

Definitivamente, não conseguiu andar com ele.
Trocámos. Ela, levou o meu Opel Corsa Swing a gasolina, e eu fiquei com o velhinho.

Ontem à tarde, vinha de Leiria com a minha mulher, na estrada 109, e na localidade de Ponte da Pedra, precisamente por cima da Ribeira do Milagres, parámos na fila de transito.

De repente ouvimos um apertar de travões e a seguir um enorme estrondo.
Olhámos um para o outro no interior do veículo. Aparentemente estávamos bem de saúde, mas os vidros espalharam-se por toda a zona. 

Um silêncio roía-nos interiormente. A minha mulher não dizia palavra. Deixa lá são só latas ....disse-lhe eu para a acalmar.....
Vamos manter-nos atentos..........

Vesti o colete e fui ter com o proprietário do outro veículo.
- Então o senhor não vê o que anda a fazer...? não viu os carros parados...?
- Eu não vi nada....desculpe-me ....e agora vão tirar-me a carta que ainda não fez um ano...?

- Vamos lá atrás colocar o triângulo e procurar resolver tudo amigavelmente.
Nesta hora há bastante movimento e a fila de carros já era longa.
Lembrei-me dos meus filhos. Poderiam ser eles naquela situação.

Com o embate fui projectado para a frente, embatendo na traseira de um taxi - Mercedes.
Parou um pouco mais à frente, cerca de 20 metros. Saíu do carro, fez uma rápida inspecção e seguiu viagem.

Telefonámos ao meu filho que pouco demorou e entretanto fomos preenchendo a participação amigável do seguro.
Passaram duas brigadas de polícia e perguntaram se estava tudo bem. 

Ajudaram-nos a arrumar os carros mais para a direita, para que os outros pudessem circular e seguiram o seu destino.

Veio o reboque e levou o AX para a oficina.

O rapaz ficou a aguardar pelo reboque para o seu carro e nós seguimos, combinando encontrar-nos na oficina onde ele iria deixar o carro.

Fomos ambos ao agente de seguros que nos ajudou a preencher toda a documentação.
Haviam dados errados e campos incompletos, na participação amigável.

Depois de tudo feito ainda fomos levar o rapaz (nasceu a 28/Março/1990) a casa dos pais, numa localidade a cerca de três quilómetros  da nossa residência.

Aos poucos lá foi dizendo que teve muita dificuldade em tirar a carta - licensa de condução - Falhou nos exames de código e na prática de condução.

Disse-nos ainda que estava a concluir um estágio profissional de electricista e o que mais gostaria era encontrar emprego para fazer face às despesas. Terá que suportar sozinho as custas da reparação do seu veículo. Renault Clio.

Há treze anos aconteceu-nos uma situação igual dentro da localidade de Ortigosa. 
Nesse acidente houve perda total do meu veiculo.

A companhia de seguros do culpado era a Tranquilidade. A mesma de agora. Espero que sejam mais rápidos e que sejam mais justos dado que nesse acidente fui roubado descaradamente.

Hoje andei com um carro emprestado. Sentia-me com medo.
Aquele estrondo com o quebrar dos vidros é assustador. 
Nós estavamos no centro do perímetro de perigo, sem qualquer hipótese de fugir ou desviar alguma coisa, vidros, ferros, chapas ....

Nestes meses mais próximos, vou andar ansioso na estrada. Medo de algum distraído, imprudente. 

Os grandes lesados somos nós, pois tínhamos uma viatura para andar com todas as inspecções e revisões feitas e que agora estão transformadas num monte de sucata.

Depois em casa o meu filho, como nos viu tristes, foi relembrando algumas conversas com o outro"miudo" e conseguiu arrancar-nos de todo o filme onde fomos os protagonistas principais.

Diz o nosso povo com razão:
"Sabemos como e quando saímos de casa mas nunca prevemos se voltamos nem como voltamos"

Não foi ainda a nossa vez e por agora escapámos sãos e salvos.
Luíscoelho 



segunda-feira, 21 de junho de 2010

O mar

Ouvi os segredos do mar
Chorados gemidos de dor
Baladas, sorrisos de amor
Que na areia se vinham deitar
E muito devagarinho
As rochas vinham lavar.


O mar chamava por mim
Num canto de embalar
Nem sei se o canto era canto
Se era o mar a chorar
Ou se era eu que de espanto
Já via um mar sem ter fim


O mar balança na ondas
Fazendo um longo queixume
As águas formam correntes
E os peixes fazem cardume
E todos passamos a vida
Tão tristes como contentes
Luíscoelho

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Lágrimas

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Lágrima perdida
Parada, retida
No rosto sentida,
Tem sabor a sal,
A fel e a mel
Na cor do papel
No olhar transparente
Brilha suavemente
Como puro cristal
Na boca bebida
Nunca apetecida 
Até já se consente
Os olhos lavados
De gotas molhados
Brotando a semente
Lágrimas minhas e tuas
Caídas, vencidas 
De tão nobre fonte,
Nunca serão em vão
E sempre terão  
Uma boa razão
Quando correm assim

Luíscoelho


quarta-feira, 16 de junho de 2010

soltei o olhar

Soltei o olhar pensativo
Na madrugada distante.
Deixei-o ir na penumbra 
Que o tempo vai apagando.
Renasceram os desejos,
Os sonhos e as aventuras, 
E o olhar correu campos, 
Subiu montes e viu o horizonte
Bebeu água pura dos ribeiros 
E de todas as nascentes.
Descansou finalmente 
Em prados verdejantes
E desejou viver infinitamente 
Aqueles belos instantes.
Soltei o olhar dos pensamentos 
Dos projectos e encontros,
Dos desencontros e dos sonhos 
Que se mostravam na manhã
Suave e fresca sem prisões. 
Foi livre e belo esse olhar 
Que veio no tempo e ainda vem
Reforçar o desejo de paz e bem
E ninguém pode impedir 
De viver as minhas ilusões.


Luíscoelho

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Minha sina

Ando sem trilho na selva
Onde o cimento se altera
Na cor fria do cinzento
Roubando a esperança
Que adormece na relva.
Estradas longas, sem fim
Feitas de résteas de luz
Que sobram das paredes
Inclinadas no horizonte.
Pedras nuas, frias e cruas 
Que guardam a cor do vento
Nas curvas torcidas à sorte
Ferindo os pés descalços
Que caminham sem norte.
Varandas tristes, sombrias,
Opostas, paradas no tempo
Olhando os passos cadentes
Tristes, tristes inconscientes
Caminhando sem lamento.
Luíscoelho

domingo, 6 de junho de 2010

Avó Materna - Emília Rodrigues


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Nasceu em mil oitocentos e setenta e quatro, no dia 18 de Junho, no lugar dos Conqueiros.

Famílias carentes, mas muito trabalhadoras e respeitadas.

Mourejavam nos campos do nascer ao pôr do Sol, arrancando da terra o seu próprio sustento e dos animais que iam criando para sua alimentação. Porcos ,cabras e galinhas e ainda os bois.

Moça cheia de vida e de orientação para se bastar sem ter de mendigar nada a ninguém.

Cedo foi servir para casa dos Senhores - Alves de Matos - dos Conqueiros. 
Família de Bispos, Arcebispos e abadessas. A mais importante de toda esta região.

Aprendeu regras de trabalho e horários que tinham de ser cumpridos, chovesse ou fizesse Sol, estando doente ou com saúde.

Não soube o que era ler nem escrever. Aprendeu a cozinhar e a remendar as suas roupas.
Aprendeu a amar o seu próximo com respeito e muita delicadeza.
Aprendeu a amar a Deus com toda a sua alma e bastante fervor.

Casou nova e em nada alterou os hábitos de trabalho. Criou quatro filhos, dois rapazes e duas raparigas ensinando-lhes os seus princípios e orientações e obrigando-os ao cumprimento rigoroso dos mandamentos da Lei de Deus e também os mandamentos da Santa Igreja Católica .

Deu-lhes o pão mas soube dar-lhes a educação.
Nenhum filho a deixou envergonhada ou teve a ousadia de discordar da sua orientação.

Logo que pudessem fazer algumas tarefas não os poupava e exigia mesmo que as fizessem bem feitas e com prontidão.

Quando voltavam da escola tinham de juntar lenha para à noite acender a fogueira e cozinhar os alimentos. Deviam também guardar os irmãos mais novos e ir à fonte buscar água para casa.

Casou nova com José Francisco Carnide, carpinteiro de profissão e elemento activo da banda filarmónica cá da nossa terra. Pessoa muito respeitada.

Com o apoio do marido e também sob a sua orientação construíram uma grande casa agrícola, comprando terrenos e valorizando-os.

No dia do casamento, depois da cerimónia na Igreja, era tradição a noiva ficar em casa dos seus pais, e  o noivo ia também para a casa dos seus. 
A boda era separada. Cada um em sua casa e com os seus convidados.

No final da boda, depois da meia noite, o noivo ia com os padrinhos e os convidados, buscar a noiva. Nesta altura, juntavam-se à festa com todos os convidados.

Como a noiva ficou sozinha e a boda ainda estava atrasada, trocou de roupa, pegou numa foice e foi cegar erva para os bois, nuns terrenos um pouco afastados da residência.

Todas as pessoas ficaram admiradas pela sua força e determinação de valorizar o tempo.
Ralharam com ela, mas de nada valeu.
- Hoje, dia do teu casamento, não devias ter feito isto!

- É preciso trabalhar e pronto! O tempo não é de malandragem....! Respondeu a avó com prontidão.

Ficou viúva aos setenta anos. Já tinha casado todos os filhos.
Não se resignou andar de porta em porta, em casa dos seus filhos. Enquanto pôde trabalhou  e manteve-se ocupada.

Lembro-me de a ver aqui por casa, sempre vestida de preto. Até os brincos na orelhas mandou forrar de preto em memória do seu falecido.

Nesta altura, já a avó mal podia andar, e por isso, apoiava-se num pau de marmeleiro muito lustroso.O corpo estava sempre inclinado para a frente e para baixo.

Quando a chamávamos, ela apoiava-se mais naquele pau e torcia a cabeça para nos ver.
- Quem és tu "piqueno"...

Um dia os pais lembraram-se de ir a um passeio. A mãe contou à avó que iriam a Lisboa e a outras cidades.
Desta vez a mãe ia levando umas pauladas o rabo. A avó ficou perdida e furiosa.

- Não tens vergonha de ir passear e com tanto trabalho para fazeres cá em casa...?
Seu estafermo ....!  Mais velha sou eu e nunca lá fui....!  Estás a ouvir...? 

Lembro de ver a mãe dobrada para a maceira onde amassava o pão e atrás dela a avó, com um ar muito zangado e levantando mais a voz do que era costume.

Enquanto barafustava, ia batendo com a ponta daquele pau, no soalho de casa provocando um som de meter medo.

A mãe pensava:
-Agora é que ela me vai bater. Paciência....! Já tenho quarenta anos e ela nunca me bateu. Mas... desta vez ....

Resignada por não conseguir demover a filha deste passeio. lá se foi embora para a sua casa que ficava no extremo da povoação.

Algumas tardes passava-as junto com os compadres Silvas e a Maria que era muito beata e passava os dias e as noites a rezar.

Era ceguinha mas conhecia todos os que conviviam com ela. Não tinha mais família e foram estes os sobrinhos que a acolheram até que Deus a chamou para a outra banda. 


Os gatos eram a sua grande paixão.
Se lhe deixassem até de noite queria dormir com eles.

- Agora vamos rezar o terço, Senhora Emília....?

Reze lá a Senhora, que eu não tenho vagar....! Respondia-lhe logo a avó farta de tanto rezar....!

Recordo a sua casa.Uma habitação rústica, com um alpendre que dava acesso a uma sala ampla e aos três quartos. Ao fundo da sala havia um relógio alto com umas pinturas muito esquisitas e aquele pêndulo sempre a brilhar naquele amarelo que parecia ouro. 

Do lado direito do relógio ficava uma mesa com um crucifixo e um vaso com flores secas. Do outro lado da parede havia um arquibanco com o encosto todo trabalhado de enfeites simples de encaixar. Hoje corresponderia ao sofá de quatro lugares.

Havia uma segunda entrada que dava acesso ao pátio interior e à cozinha sempre muito escura.
Hoje não resta nada daquela casa e toda a família se dispersou, formando outros agregados famíliares.

Luíscoelho


quinta-feira, 3 de junho de 2010

SOS



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Os meus olhos Senhor, 
Andam de costas voltados,
Procuram justiça sem amor,
Procuram o pão sem dor
Procuram o sorriso sem calor.
Peço-Te nesta madrugada 
De tumultos e sombras interiores 
Um coração capaz de amar
Uma vontade de perdoar
E a alegria de saber olhar.
Os meus olhos não são juízes
A minha vontade não é Lei 
Quero que me deixes perdoar
Quero que me ensines a amar
E com amor tudo possa partilhar.
Desculpa este viver atribulado
Sem saber ajudar, ver e ouvir
Quantos caminham nesta estrada
A levar até ao final da jornada
A sua cruz que também é pesada.
Ajuda-me a olhar em frente
E a amar sem me cansar.
Luíscoelho

terça-feira, 1 de junho de 2010

Chamei as madrugadas

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Chamei as madrugadas mornas e frescas,
Presas nos sonhos, com teias de luz,
Saíndo de cavernas cheias de segredos
Quais bosques de sombra verdejante
Onde a incerteza é sempre constante

Chamei as madrugadas frias e secas 
Presas nas nuvens desfeitas em sombras
Chamei, chamei mas ninguém respondeu.
E veio a manhã tecendo espelhos de luz
Afastando as estrelas que o olhar seduz

Meus gritos voaram nas sombras da noite
E o olhar se quedou na frescura das fontes
Os gemidos cessaram na passagem do vento
Bebendo o silêncio do meu pensamento
Que sacia a alma e o meu corpo sedento.

Madrugadas lindas brilhando com Sol
Amanhecendo em melodias de amor e paz
Madrugadas que vão e vem em dias seguidos
Renovando os encantos da natureza em flor
E transformando tudo sempre com amor
Luíscoelho