sexta-feira, 31 de julho de 2009

Naquelas noites escuras, frias e ventosas
Escondidos na roupa quentinha da cama,
Ouvindo a força da chuva a bater nas janelas,
Parecia querer esmagar-nos a todos
E naqueles momentos levar-nos com elas.
Abrindo o olhar lento nas manhãs chuvosas,
Naquele quentinho que sobrava da cama,
Espreguiçava os braços e as pernas tortas
Com aquele vigor e sabor que corria nelas
E com toda a magia que sempre nos mostras.
Rebolando-se sempre em voltas gostosas
Por mais um tempinho no sabor desta cama
Mas, as horas chamam no tempo a passar,
É tempo de erguer e já a correr ir trabalhar
Neste acordar em cada dia, sempre a renovar.
A escola, o emprego e a vida enganosa
São tantos motivos para sair desta cama,
Lutando no tempo que temos e somos
Por coisas mais justas e um mundo melhor
Que sempre sonhámos em tempo pior

luiscoelho

segunda-feira, 27 de julho de 2009

areia fina

Deitados na areia fina e fresca da praia
Ouvíamos o mar cantando as suas cantigas
De tristeza, saudade ou lembranças antigas
Nossas mãos se cruzaram e se apertaram
No medo e nos sonhos que os desejos criaram
A brisa soprava a aragem fresca do mar
Abraçando-nos com muita ternura
Num manto suave de grande formosura.
Nosso olhar se torcia de tão finos desejos
E em pensamentos trocámos uns beijos
As ondas cantaram com mais força
Partilhando connosco a felicidade
E ensinando-nos a viver a realidade.
As palavras secaram na fonte da imaginação
E o silêncio cresceu e deu força ao coração.
As nuvens passaram lentas e pesadas
Vestindo-nos as roupas do bem e da razão
Acreditando o momento desta nossa união
Por mais que eu viva nunca poderei esquecer
Estas tardes na praia que nos fizeram viver.
luiscoelho

domingo, 26 de julho de 2009

Caminhando

Caminhado sem pressa no campo deserto
Descobri o meu amor junto à mansa fonte,
De águas muito puras, cristalinas gotas,
Correndo em bica lenta, pausada e triste
Que minha sede deixaram esquecida
E no peito me abriram maior ferida.
Queria beber dessa água transparente e pura
Que corre em gotas de encantos mil
E que meus lábios incendiaram de loucura.
Se pudesse pelo menos molhar a sede
Refrescá-la e adormecê-la nesta corrente
Que vai pingando e caindo copiosamente.
Caí na terra húmida das tuas lágrimas
Procurando uma só gota de esperança.
Procurei o cheiro do perfume encantador
Desse amor que foi ficando na lembrança.
Acordei molhado, gelado e triste e abraçado
Por tantos dos meus sonhos acorrentados
Que no tempo e aos poucos foram levados

luiscoelho

Chamando alegremente

Andei por aí te chamando alegremente
Subindo aos montes e alongando a vista
Descendo aos vales e sempre te procurando
Neste querer que nos faz amar sem cessar
Acreditando que voltarias mais rapidamente.
Olhei as águas transparentes dos regatos
E nelas apenas vi o Céu e as estrelas cintilantes.
Deixei-me escorregar naquela água lentamente
Que a tua sombra me escondiam certamente
Molhando a alma e seguindo na corrente
Mas nada arrefecia o amor desta paixão
Que me mata e me arrasta nesta dor e solidão.
Passei horas, passei dias nesta luta e sofrimento
Como foi duro e muito triste aquele tempo.
Caminhando sempre ao sabor desta loucura
Que faz das nossas vidas do amor uma procura.
Olhei para lá dos montes para ver se se te ouvia
Mas a tua sombra fugia nas águas frescas e frias
Destes ribeiros que correm quer de noite quer de dia.
Nunca perdi a esperança nem a coragem abalou
Mas uma certeza ficou - o nosso amor não acabou!

luiscoelho

Domingo de Julho

Acordei cedo e andei a navegar,
Percorri caminhos conhecidos,
Blogues novos e desconhecidos,
Comentei aqui e ali, sempre a dar,
Um um sopro de ajuda e um sorriso
No meu entender simples, aberto
Cheio de amizade e bem conciso.
Nem sempre vemos como escrevemos,
Não entendemos outros pensamentos,
Porque os comparamos e os limitamos
Nas coisas que também sofremos.
O meu sentir é maior que o teu
E sempre só dou razão ao meu.
Hoje quero abrir as portas,
As varandas e todas as janelas
Sonhar com coisas boas e belas
Mandar estrelas e luzes de amor
A todos quantos sentem na pele,
E na família o sofrimento e a dor.
A todos envio um abraço com calor
Com o desejo rápidas melhoras
E aquele acreditar no futuro
Boa sorte e muitas e boas horas

luiscoelho

sábado, 25 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

pensamentos

A árvore dos pensamentos
É muito alta e espaçosa
Tem uma vida presente
Sem saudades enganosas.
Tem ainda outras vertentes
Dos sonhos quando acordados
Que nos fazem estar contentes,
Com as conquistas passadas.
Os pensamentos movimentam-se
Em correntes interligadas
Não se podem separar
Pois deixam de ter sentido.
As razões se bem pensadas
Não dão frutos proibidos.
A árvore dos pensamentos
Fica mais bela e frondosa
Quando eles são positivos,
A vida é mais gostosa.

luiscoelho

terça-feira, 21 de julho de 2009

nuvens de pensamentos

Os pensamentos passam
Voam muito rapidamente

Mas nestas suas passagens
Fica a música alegremente.
A música dos pensamentos
Também é muito insistente
Pois quer que todos aprendam
Os seus bons ensinamentos.
Os pensamentos se cruzam
Tantas vezes sem razão
Mas se estivermos atentos
Veremos que não foi em vão.
Quando temos muitas ideias
Devemos estudá-las bem
Para não fazer asneiras
Que nenhuma razão tem.
Os pensamentos saíram
Numa simples brincadeira
Isto de fazer boa poesia
Tem de ter arte e maneira.
Se alguém quer entender
Que não fique só a ler
Pegue em papel e tinta
E comece a escrever.

luiscoelho

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Amizade-2

Nesta semana da amizade
Quero abraçar os meus amigos,
Recordar mesmo os antigos,
Reviver tanta saudade.
Neste simples momento
Que corre sem voz no tempo,
Recordo tanta amizade
Que nunca irá no vento.

Os ventos são mensageiros
Que levam e nos trazem
Mensagens bem coloridas
De amor em corpo inteiro.
Aos meus amigos presentes
Aos de longe e aos ausentes
Desejo tudo de bom e bem,
Muita saúde e paz também.
A amizade não é um dia
E também não é um mês,
A amizade é uma vida
Que trocamos muita vez.
luiscoelho

domingo, 19 de julho de 2009

arvore de pensamento

Os pensamentos formam uma árvore
Com as raízes cravadas neste chão
Os ramos são apenas imaginação
Da árvore do saber e da razão.
A seiva é o alimento que fortifica

Vem pelas raízes que a procuram
E sobe pelo tronco que a sustenta
Até aos ramos pois a todos alimenta.
Bebemos do passado grandes lições
Que vieram de antigas gerações
Os frutos são aquilo que hoje temos.

Limados por tantas situações.
Estes ramos são iguais a muitos mais
Crescendo no desejo de aprender

Tantas coisas, em tantos manuais.
A árvore dos pensamentos
Dá-nos muito que pensar
Eles sendo mesmo nossos
Ninguem lá poderá entrar
Nem tão pouco adivinhar.
luiscoelho

sábado, 18 de julho de 2009

brisa do entardecer

Brisa morna do entardecer
Suavemente caindo neste anoitecer
Carregada de sorrisos e palavras
Pequenos gestos e silêncios graves
Que se ouvem perdidos no vento
Que nos traz a saudade encantada
Na penumbra do esquecimento.
Aragem fresca com aroma das flores
Espalhadas nos campos escurecidos
E renascendo nos corações agradecidos.
Encanto perdido no agradável silêncio
Das palavras, dos gestos e pensamentos.
Aragem refrescante que alimenta
O cheiro da terra e das sementes
Que o piar das aves acalenta
Brisa leve que me afaga os sentimentos
Buscando no sentir das emoções
Que nos enchem de finas recordações .

luiscoelho

Desfolhada

Posted by PicasaEm finais de Julho as espigas de milho estão quase maduras e programa-se a semana para começar a cortar a palha ainda com a espiga.
Os dias começam cedo. Há muito trabalho e tem de ser feito antes que o calor aperte. Estão todos prontos ainda mal se vê. Cada um com uma foice começa o trabalho segurando a palha junto da espiga e cortando-a em baixo bem rente ao chão. Exige-se rapidez e capacidade de segurar na mão várias canas de milho que depois se voltam para trás em molhos sempre ordenadas no mesmo sentido. Quando parece já haver o suficiente para uma carrada metem-se os bois a puxar o carro pelo meio dos molhos de milho e dá-se início ao carregamento com alguma técnica de modo a que se possa levar a maior quantidade e que o carro fique também bonito, pois outros nas mesmas lides farão comentários que um lavrador não gosta de ouvir.
É preciso estar sempre alguém na frente dos vaquinhas pois elas podem fugir e também porque quem anda em cima da carrada pode desequilibrar-se. Quem está em baixo pega nos molhos de milho e manda-os ao ar em direcção ao que estiver lá em cima do carro, de modo a que aquele os agarre e os coloque no sítio certo da carrada, travando-os e sobrepondo-os uns aos outros em camadas certas. Chegados a casa procura-se uma sombra para deixar esta carrada e voltar lá para trazer outras cargas, enquanto se puder aguentar o calor e as palhas não se desfazem por estarem demasiado torradas pelo sol. É preciso também saber descarregar sem perder muito tempo e deixando toda a carrada certa e direita. Primeiro desapertam-se as cordas que apertavam todo o conjunto ao carro. Depois com um maço de madeira tiram-se todos os foeiros do carro (são paus afiados que estão nas laterais do carro de bois e que servem de suportes para a palha não cair do carro). Quando tudo está preparado retiram-se os bois lentamente enquanto um homem segura o cabeçalho do carro levantando-o para cima de modo a que bata com a traseira no chão. Depois fazem-se rodar as rodas para a frente para que toda a carrada escorregue pelo leito do carro e fique assente no chão. Então já se pode levar o carro novamente para outro transporte.Depois do almoço e nas horas de maior calor sentam-se todos à volta da palha deixada em casa para retirar as espigas para os poceiros e que vão sendo levadas para a eira para num serão à noite se fazer a desfolhada. Atrás de cada pessoa amontoa-se outro molho de palha que vai para o barraco onde se guarda ou ainda em medas para servir de alimentação aos bois.
A desfolhada é feita por convites avisando os vizinhos e outros conhecidos. Sentados no chão da eira e entoando cantigas de roda e outras ao desafio vão enchendo os cestos com as espigas de milho que são levados para a outra parte da eira para acabar de secar. O candeeiro de petróleo vai alumiando com muita dificuldade pois a luz é fraca e o monte das espigas é grande. De quando em vez ouve-se o dono a avisar: Oh pessoal cuidado não me deixem as espigas perdidas na palha. Os rapazes andam sempre na esperança de encontrar uma espiga vermelha para dar um beijo à rapariga de quem mais gostam. Às vezes uma pessoa mais velha passa uma despercebidamente para criar confusão. Não se pode encher toda a eira pois ainda vai haver bailarico quando o trabalho terminar.
O convívio com todos foi bastante agradável e o final foram avisando: Se puderem e fizerem favor amanhã é para mim, dizia o Ti Lopes, depois de amanhã sou eu a descamisar o milho dizia a São do Morgado do Casal e assim se ia fazendo alguns trabalhos comunitariamente.
Os rapazes juntavam para o lado as folhas da espigas e o tocador de realejo começava os primeiros acordes. Via-se o brilho nos olhos da juventude que dando as mãos começavam com as cantigas de roda cantando e dançando como sabiam. Os mais novos juntavam-se ao grupo e iam aprendendo as cantigas e os passos. As estrelas e o luar davam um romantismo e um encanto especial a estas noites que se foram perdendo no tempo e também no esquecimento dos mais novos que nunca tiveram oportunidade de conhecer estas pequenas maravilhas da vida em anos passados aqui na aldeia. Os mais velhos entretinham-se a falar das suas coisas e iam deitando um olhar por vezes maroto aos mais novos nos seus passos de dançarinos.
luiscoelho

sexta-feira, 17 de julho de 2009

As cordas do vento

As cordas do vento me prendem
E me sacodem desabridamente
Puxadas pelo tempo que traz e leva
Que me seduz e me desconsola
Que me arrasta e me afasta
De tudo quanto quero e procuro.
O vento sacode as coisas paradas
Desatando as amarras esquecidas
Ele vai acordando as saudades
E levando as mágoas adormecidas.
O vento não pode parar
Nem tem casa onde morar
Passa os dias sempre a correr
E as noites sem nunca adormecer.
Nunca o podemos segurar
Nem nunca o podemos esquecer
Os seus gestos fazem-nos tremer
E nunca o podemos vencer.

luiscoelho

Sementeira


Naquelas madrugadas ainda frescas do mês de Abril, o pai levantava-se cedo, calçava as socas de madeira e ia dar a primeira ração de feno seco às suas vaquinhas.Depois carregava o carro de bois com tudo o que era necessário levar para o campo, charrua, grade, uma enxada para cada um, as sementes e ainda o adubo.Depois de ter tudo preparado vinha à cozinha e comia um prato de sopa. Todos comiam da mesma sopa, que nesse tempo era o nosso café.
Como era engraçado quando o pai soltava as vaquinhas para o pátio. Quase sempre, iam á pia grande, beber água e logo o pai as segurava com a açoga que as ligava entre si e sempre na mesma posição. Nunca se podiam trocar a direita para a esquerda ou viceversa pois assim não trabalhavam. Depois ia buscar a canga com as piaças. Era o jugo. Depois de lhes colocar o jugo, era só metê-las a puxar o carro. A canga era uma peça de madeira que se metia no cachaço da vacas e que depois com as piaças enleadas nos chifres bem junto à cabeça do boi ficavam prontas a puxar o carro ou a charrua.
Estava tudo pronto. Nós saltávamos para cima do carro e lá seguíamos a viagem.
A mãe ficava mais tempo pois tinha de arranjar uma merenda e o barril de água para levar e ainda tinha de tratar dos outros animais que ficavam presos todo o dia.
O nosso cão o «fogito» seguia atrás de tudo, de rabo no ar, e sempre muito atento
Os caminhos eram estreitos e ladeados por grandes silvados onde as vaquinhas se encostavam para espantar as moscas que nesta altura apareceiam em grandes quantidades.
Chegados à Lagoa de Água o pai escolhia um sitio para deixar o carro e tirar as vacas para puxar a charrua. Parece que em tempos muito recuados existiu aqui uma lagoa, pouco profunda, de que resta ainda uns dois metros com água todo o ano. Uma vala mais funda que limita o nosso terreno serve de esgoto quando chove no Inverno.
O mais velho, dos quatro filhos, ia à frente dos bois, para segurá-los e guiá-los pelo limite do terreno, abrindo o primeiro rego.
Está tudo pronto, dizia o pai, ora então vamos lá ao trabalho e dizendo isto benzia-se e pedia a Deus ajuda para que o dia corresse bem e sem acidentes !
Nós ouvíamos e também o imitávamos fazendo o sinal da Cruz.
O primeiro rego era sempre mais complicado pois iamos a direito ao extremo da terra, mas não tinhamos marcas para nos guiar.
Estava dado o início do trabalho. Agora era andar toda a manhã para cima e para baixo guiando as vaquinhas pelo rego aberto enquanto o pai segurava a rabiça do arado guiando sempre com aquela tabela para que a terra voltasse para o lado oposto a leiva e o rego ficasse sempre aberto sem emendas para o rego seguinte.
Às vezes as vaquitas torciam para o lado de fora e o pai não conseguia segurar a charrua.
Havia uma repreensão e tínhamos de andar para trás com as vacas de modo a recomeçar o rego no ponto onde saltou fora.- Errada -
A mãe, com o cesto do milho pendurado no braço, lá ia ao lado do pai, semeando alternadamente os regos do milho. Parecia que ia contando os bagos e os passos para que a sementeira ficasse bem feita e sem estragar muitas sementes. Semeavam para cá. Quando voltavam a mãe dáva-nos o cesto com as sementes e vinha adubando o rego atrás da charrua.
O calor e a monotonia davam-nos um cansaço muito grande e só nos apetecia estar à sombra do pinheiro manso ou então voltar para casa.
A meio da manhã paravam uns quinze minutos para dar descanso às vaquinhas e também para matarmos a sede com água e ainda comer alguma coisa. Uma bucha ! Geralmente ovo frito e uma fatia de broa de milho.
Voltando novamente ao trabalho sem perder muito tempo. O descanso era só para as noites longas quando íamos para a cama depois da ceia.
Voltávamos para casa ao meio dia, quando o calor era mais forte.
A mãe acendia uma fogueira para nos fazer o almoço e o pai ia tratava das suas vaquinhas.
Nós aproveitávamos ainda para fazer uns jogos ou umas corridas de esconde esconde.
Depois do almoço havia a sesta. Dormiam nas horas do maior calor.
O pai, antes de dormir, voltava a dar mais uma ração às vaquinhas.
Cerca das três horas da tarde voltava a emparelhar as vaquitas e a metê-las ao carro e lá íamos nós para a sementeira do milho que demorava sempre uns dez dias.
Já rente à noite deixava-se de lavrar a terra para passar com a grade de madeira pelo terreno semeado.
Ficava tudo certo e liso sem sementes à vista dos passaritos.
Era a hora de regressar a casa. Alguns dias deitados no carro de bois adormecíamos pelo caminho.
Então o pai acordáva-nos para virmos para a cozinha para o pé da mãe até que a ceia ficasse pronta.
Três semanas mais tarde o milho já tinha nascido e era necessário sachá-lo, tirar as ervas daninhas e aconchegá-lo com terra para que crescesse melhor.
Aos oitenta dias o milho já estava quase maduro e era necessário tirar as bandeiras para que a espiga ficasse mais forte. Esta parte do milho era aproveitada para dar a comer às vaquitas. Umas vezes comiam-no ainda verde mas a maior parte era guardada seca.
Agora era só esperar mais uns dias para que as espigas acabem por ficar maduras e secas para começar a cortar a palha rente ao chão.
luiscoelho

segunda-feira, 13 de julho de 2009

cantar a vida

Neste dia a terminar escrevi por brincadeira
Aquilo que me lembrou e que veio a calhar
Romances, fadigas, desgosto e canseira
Tudo quanto a minha pena sempre quis anotar
Aquilo que aconteceu foi bom e veio por bem
Como a sorte acontece àquele que a não tem.
Não quero ser pensador nem fazer filosofia
Apenas quero cantar a vida com alegria.
Gostava de ensinar que nos devemos amar
E quanto mais amasse mais ainda possa dar.
Ninguém me pode dar aquilo que já é meu
Nem eu pretendo roubar aquilo que já é teu.
Se nos respeitarmos sempre com muito rigor
Viveremos em paz, em concórdia e amor
Haverá saúde e pão e alegria nos corações
Mas se ainda achares pouco haverá outras razões.
luiscoelho

domingo, 12 de julho de 2009

Uma roseira bravia
Perdida sem fidalguia
Seu aroma emanava
E a todos convidava
A sua beleza descobrir
E com ela se vestir
Com amor e simplicidade
Nos princípios da verdade
Da bondade e mansidão.
Mas ninguem quiz entender
Nem parar só para ver
Tão simples e grande lição
Tão directa ao coração.
Andando sempre a correr
Sem sentido nem razão
Nunca se vai encontrar
Aquele amor verdadeiro
Que nos enche por inteiro
E a vida nos faz amar.

luiscoelho

Rosas de saudade

Uma rosa me chamou
E baixinho me falou
Agora mesmo aqui
Neste jardim pequenino
Que eu cuido desde menino
E outra rosa se juntou
Para juntas me falarem
As maldades que se fazem
Nestes jardins de verdade
Onde só entra quem tem
Muito amor e simplicidade.
Muitas outras se juntaram
E todas juntas cantaram
Canções tristes de pesar
Por estes homens que andam
A destruir sem parar.
As rosas assim me contaram
O desgosto que choraram
De acompanhar os meninos
Tão lindos e pequeninos
Aos campos de sofrimento
Todas as que não tem paz

E também não tem pão
Por tudo quanto lhes roubam
E pelo mal que a guerra faz.

luiscoelho

sexta-feira, 10 de julho de 2009

ler/escrever

Não sei se escrevo
Aquilo que sei dizer
Mas tambem não sei dizer
Tudo quanto sei escrever.
Escrever é vida,
É passatempo, terapia.
Escrevendo imaginamos
Aquele tempo de alegria
Sonhamos com aquilo
Que desejariamos ter
E também com as coisas
Que gostaríamos de fazer.
Neste sonho de criança
Perdida e adormecida,
Neste balouçar do tempo
Quero estar acordado
Na vida e pensamento
Quero amar as coisas boas
Agora conseguidas
Sem nunca chorar
As oportunidades perdidas.
Escrevendo lembrarei
O passado e o presente
Tantas coisas que já fiz
E aquelas que tenho em mente
Dizendo sempre o que fui
E também aquilo que sou
Ajudando quem me lê
Que o faça correctamente.

luiscoelho

quinta-feira, 9 de julho de 2009

neste momento

Anoitecia lentamente
As sombras corriam apressadamente
Misturadas no entardecer
De mais um dia a empalidecer.
A luz perdida pelas nuvens
Formava cordões transparentes
Que trespassavam as ramagens
Das árvores e dos pensamentos.
Os olhos perdiam-se na imensidão
Buscando alguma explicação
Com lógica ou razão
Para tanta maravilha, beleza
E magia nesta passagem.
Os pensamentos misturavam-se
Apressadamente numa simbiose
De luz quebrada pelo anoitecer.
As sombras desapareciam
E tudo ficava enegrecido pela noite
Na angustia das perguntas sem resposta
Dos porquês destas mudanças.
Se mãos pudessem atar
A beleza destes momentos
E guardá-los no cofre da alma
E todos quanto se cruzam com o vento
Redescobrissem a maravilha do tempo
No baloiçar das horas neste momento.

luiscoelho

segunda-feira, 6 de julho de 2009

poetas

Ser poeta é ser marinheiro
Neste mar de amar a cantar
As coisas que temos no peito
Escrevendo-as sempre a rimar.
Nas ondas dos meus pensamentos
Navego de velas ao vento
Procurando um porto de abrigo
Onde possa cruzar-me contigo
Perdidos na espuma do mar.
Ser poeta é amar sem querer,
É sofrer sem compreender,
É esconder-se na vida e não ser
Um marinheiro de amor a valer.
Ser poeta é nada entender
Mas é sobretudo amar com paixão
Aquele amor sem explicação
Que tem a nascente no coração.
Ser poeta é sobretudo perceber
Que o coração tem razões
Que a razão nunca pode entender

luiscoelho

domingo, 5 de julho de 2009

luar de esperança

Olho a lua brilhando nas noites de solidão
E lhe faço uma súplica por minhas mãos
Recurvadas em prece e profunda oração
Nascendo do fundo da alma e do coração.
Olho a lua nas noites claras de luar
E lhe envio o desejo de viver e amar
Sem tempo a perder e sem nunca parar
Nesta luta constante que tudo quer abraçar.
Mas o luar se apaga com tristeza e agonia
Nestas horas longas de pesar ou de alegria
Só lhe peço que me cubra com seu manto
E que leve para longe a dor e aquele pranto
Que a saudade me trás em cada dia.
A lua brilhando no olhar de cada criança
Me ensina a amar com fé e esperança
E aceitar cada dia de mudança
Numa crescente e total confiança.
Este luar brilhando suavemente
Alumiando os lençóis onde me deito
Que se esconde de dia sem arte nem jeito
Mas que eu canto com a força do peito

luiscoelho

Flores em sofrimento

Posted by PicasaNaquela manhã de Julho, com temperaturas de Verão, a tia Rufina estava radiante. Pintou os olhos , as unhas das mãos e dos pés e enfeitou-se com as suas jóias de ouro.
O conjunto das roupas combinava perfeitamente com as tintas e o brilho das jóias nas orelhas, ao pescoço e ainda as pulseiras nos dois braços. Somos colegas de trabalho há muitos anos. A nossa maior cumplicidade vem daquelas conversas ocasionais em que nos tornamos confidentes um do outro, partilhando problemas e procurando algumas soluções, talvez as mais ajustadas no nosso caso. Nestas pequenas conversas, muitos dias à sombra dos pinheiros e à vista de toda a gente,tornámo-nos cúmplices um do outro abrindo o tesouro da alma onde guardamos sofrimentos, alegrias e ainda aquelas inquietações que nos fazem procurar ajuda nos amigos de verdade, pois sabemos que não brincam com os nossos sentimentos, nem vão abrir mão destas conversas com os outros. Não podemos dar conselhos um ao outro. Apenas podemos ouvir aliviando a ansiedade e tanta angústia armazenada no fundo da alma. Na última conversa percebi um pouco a atitude da tia Rufina transcrita nas suas palavras:
«o meu homem pode ter muitas amantes mas nunca terá nenhuma mais asseada e bem arranjada como eu».
Do seu olhar saíam faíscas de revolta, ira ou nem sei dizer o quê....Tantos anos de trabalho, tantas desculpas e perdão e o seu homem ainda não se emendou de andar atrás de outras mulheres gastando o que tem e o que não tem, levando para casa os bolsos vazios e na cabeça o derespeito pela esposa e as filhas já crescidas.
- Mãe diz-nos porque não te separas do pai....?
- Ele já te fez muito mal e nunca vai emendar-se....
- O que irá ser deste pobre se o abandonar...?Todos os dias me preocupo em fazer aqueles pratos que ele gosta, em ter a casa limpa e bem arrumada quero que ele nunca tenha motivos para dizer mal de mim.
- Já me bateu muito e me deixou marcas e mazelas muito grandes no meu corpo....
- Já não terei mais medo ou vergonha.....As nossas poucas conversas são apenas para lhe pedir algum dinheiro para as despesas da casa como a água e a luz. Perdi o medo dele....
Os seus olhos flamejavam!..............E o silêncio ficava no ar sem reposta nem conforto.
A tia Rufina ainda não tinha acabado:
- Vou escrever um livro, vou contar a minha história para que saibam o que tenho passado.
Numa das últimas conversas perguntei-lhe:
- Se não és feliz, vai à tua vida e vive como sempre fizeste com muitas amantes para te comerem e destruírem. Vai... e embebeda-te para te esqueceres do mal que me tens feito e também às tuas filhas....se é isso que queres vai.....Dá-nos ainda uma razão porque não nos deixas em paz.................Então o homem diz-lhe:
Tu és limpa e muito asseada alem de seres muito trabalhadora e eu nunca te vou deixar! Novamente o silêncio parecia cair dos ramos dos pinheiros como um tecto que nos protegia dos olhares indiscretos à nossa volta. Há pessoas com uma cruz muito pesada e sem qualquer esperança de que fique mais leve ou menos espinhosa no futuro. Nem todos tem coragem desta mulher que luta para ter um pouco de felicidade e dar às suas filhas e já um neto uma imagem bem diferente de tudo aquilo que vive diariamente.
- Olhe que chegou a infectar-nos a todos lá em casa com doenças venéreas e fui eu que tive de lhe marcar uma consulta e pagar os tratamentos.Se alguma de nós se sentasse na cadeira ainda quente, ficava logo com aquela doença....que vergonha que passámos............
Olhe tia Rufina penso que esse comportamento poderá trazer um pouco dos traumas de guerra. Marque-lhe uma consulta num especialista e veja se consegue tratar-lhe da reforma por invalidez, pois mais dia menos dia acabará por ter esse peso ali em casa e terá de alimentá-lo bem como aos seus vícios. Mais nada me ocorreu para rematar este encontro na nossa hora de almoço.
O meu coração sangrava também, e só pensava o porquê desta situação ..... ?
Por vezes, quanto mais fundo estamos, menos vemos e menos vontade temos de sair dessa situação.Um tratamento fará bem a este senhor e como a esperança é a última a morrer pode ser que ainda vá a tempo de salvar o pouco que lhe resta da sua família.

«Os nomes não correspondem aos verdadeiros por motivos de respeito»

sábado, 4 de julho de 2009

Lua

A Lua formosa e arredondada vai no ar
Arrebatando pela a noite o meu olhar
Que fica preso, pensativo e a mirar
Aquela luz a que chamamos de luar.
Olhando para cima construímos
Pensamentos de poetas e pensadores
Sabedoria do povo e construtores
E agonia dos desencantados de amores.
Porque vais assim tão rápida e altiva
Fazendo-nos andar por aí e a cantar
Esse luar prateado que nos quer enganar
E por amor também nos faz penar ?
De tantos pensamentos ao luar
O meu olhar de cansado adormeceu
E os sonhos me levaram ao Céu
E vi que o brilho é do Sol e não é teu.
A Lua é uma deusa ou moira encantada
Que anda perdida , desmaiada e nua
Esconde-se da minha vista e da tua
Mas tanta imaginação é sempre sua.

luiscoelho

anoitecer

Entardecia lentamente,
O ar tornava-se mais leve,
Soprando a brisa suavemente
Transformando este anoitecer.
O cheiro da terra lavrada
Traz tantos pensamentos
Que explodem em correntes
Que nos fazem amar estes momentos.
Neste entardecer pachorrento
A noite envolve e abraça
Tudo e todos num só vento
Adormecidos no canto dos sonhos
Tecemos um manto de estrelas
E com ele navegamos outros mundos
Mais justos, mais belos e risonhos.
A noite é sempre boa conselheira

Nela perdemos todas as canseiras
Sonhamos tantas coisas desordeiras
E renascemos jovens com maneiras.

luiscoelho

sexta-feira, 3 de julho de 2009

EU

Olha-me...
Sou apenas eu.
Não sou mais do que aquilo
que vês em mim.
Não sou empresário,
não sou diplomata,
não sou deputado
nem sou mais
do que aquilo que sou.
Sou apenas eu...
Se te interessa que seja só eu
então, olha-me mais
e descobre-me
Procura em mim
aqulio que sou
e se descobrires que precisas de mim
e que sou importante para ti
então....
faz-me sabê-lo....
(autor desconhecido)

Nota
Ontem estive a folhear apontamentos do meu tempo de militar. Encontrei este poema e quiz postá-lo aqui pois me pareceu muito bom.