terça-feira, 31 de agosto de 2010

comportamentos

A família Ferreira tem dois filhos, criados com muito carinho, respeito e muita dedicação.
Cedo se manifestaram completamente opostos.  Temperamentos diferentes.

Ambos são prestáveis e carinhosos. 


O primeiro preocupa-se em criar muitos amigos.

Dono de uma certa teimosia e aversão aos conselhos dos pais. Parece que quer descobrir o mundo todo sozinho. Um mundo à sua maneira. 


As suas brincadeiras cativavam os mais novos e os mais velhos. À sua volta há sempre um grande círculo de amigos.

O outro é um pouco tímido, mas lutador
Dedicou-se aos estudos, á música e ao desporto.
Procura amigos com qualidades humanas e morais, escolhendo-os e marcando-os pelas suas características interiores, independentemente das sua cor, raça ou credo.

Não é muito falador, nem extrovertido. Cria pólos de contacto e convívio através da música ou actividades desportivas que ocupem os espaços livres e onde todos se sintam bem.

Aos poucos, estes meninos, foram sendo senhores da sua própria vida, escolhas e decisões. Liberdade com respeito.

O primeiro começou cedo a sentir dinheiro no bolso. o que nem sempre é positivo.
Pensou logo em gastá-lo no arranjo de uma mota velha. Depois vieram as corridas e os "cavalinhos" andar com a mota só na roda traseira.

Muitos dos seus amigos seguiam-lhe os passos e deram-lhe conselhos negativos.
Vai mais uma "rodada"...?   (cerveja)

Não se pode trabalhar de dia para estragar à noite. Muitos se aproveitaram da sua bondade e simplicidade.

Os pais vivem preocupados porque gostariam de lhe moldar mais e melhor a sua personalidade, mas nem sempre sabem como fazer para não entrarem em conflitos. 


Existem vícios, que ou se cortam logo pela raiz, ou então, eles vão marcando terreno e controlando a vida das pessoas que teimam em não ver. O álcool é um deles.
  
Os sonhos impedem de ver realidade. Não adianta fingir que - "está tudo numa boa"
Será que vai aprender com o tempo e a idade os próprios erros....?


Ouvem tantas conversas vazias e interiorizam tantas anedotas, certamente ouvirão também momentos de paz, que lhes recordarão os bons conselhos e as preocupações constantes da família.


O amor incondicional dos pais vai lançando as sementes e vivendo na esperança.  
Os conselhos são por vezes palavras mágicas. Há um coração que nos liga e um amor que vai  sacudindo as situações menos agradáveis.


Não, não...por aí não deverás ir...acorda  e aprende enquanto é tempo..................  
Luís coelho

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Queria beijar-te




Queria  beijar-te
Com a suavidade do vento
Que corre livre como o pensamento
Ou como orvalho da manhã
Cristais puros de vida sã. 
Queria abraçar-te
Com os raios de Sol 
Iluminando as madrugadas 
E transformando-as em alvoradas 
Queria olhar-te
Para alem da alma
E sentir a força de viver
Que está em ti sempre a renascer
Queria ouvir-te
Palavras de amor
Com sinceridade e muito calor
E ainda as outras que silenciamos
Quando por amor as guardamos.
Queria falar-te 
Tudo quanto sinto
Dizer que te amo 
E que por amor não minto
Luíscoelho 

sábado, 21 de agosto de 2010

Tempo

O tempo que o tempo faz
Desfaz-se na volta do tempo
E de muito mais é capaz
Neste tempo de guerra e paz
De fome, dor e sofrimento
E de tantas coisas mais
Sem qualquer consentimento.


O tempo é como um rio
Vai passando e arrastando
Quanto na vida vivemos
E na corrente vai levando
Os dias presos num fio
Os sonhos e os desejos 
E tudo quanto fazemos.


O tempo é como as flores
Nascem viçosas e bonitas
Cheias de vida e de cores
Com o tempo se adornam
De coisas bem mais catitas
Cheias de requintados odores
Que nos movem e motivam. 
Luíscoelho

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Pele e Osso

O Pele e Osso era um homem muito magro que mais parecia um esqueleto ambulante.
Era natural da Serra de Porto de Urso, Monte Real.
Casou com a Júlia Branca, natural da Lagoa  da  Ortigosa.

Foram viver numa casa muito grande que pertenceu a Luís Barbeiro, dono das melhores terras desta região, mas morreu solteiro e não deixou descendência.


O Pele e osso tinha um rebanho de cabras e o seu ofício era guardá-las pastoreando pelos terrenos baldios, pinhais e nas bermas dos caminhos públicos.


Tiveram seis filhos, cinco meninas e um menino. 
A vida era dura mas eles lá iam lutando pela sua sobrevivência. 
Esta casa não tinha condições de habitabilidade. Estava já em ruínas.   


O povo comentava que nas noites frias de Inverno iam arrancando as tábuas e outra madeira para  se aquecerem à fogueira.
  
Só me recordo de ver o telhado apenas por cima da cozinha e dos quartos. A sala da casa estava completamente nua. Não tinha tecto nem outra cobertura.

 Ao entrada principal fazia-se pelo alpendre, onde havia uma porta larga que rangia quando a fechavam ou abriam. Esta porta sobreviveu às invernias e temporais porque ficava resguardada por duas paredes grossas de sessenta centímetros aproximadamente.


Como a maioria das casas da aldeia havia um pátio onde guardavam os animais e as alfaias agrícolas.   

Esta família teve bastantes desaires que lhe tornaram os dias pesados.

Uma tarde de Domingo iam visitar alguns familiares à Serra de Porto de Urso e, para atalhar caminho, o Pele e Osso tentou atravessar o rio Liz.


Primeiro, sozinho, entrou na água e procurou caminhar até à outra margem, mas caiu num buraco grande  e não conseguiu sair de lá tendo-se afogado. Não sabia nadar nem teve forças para voltar para trás.

Sem o marido, foi ela com o filho que começaram a pastorear o rebanho todos os dias.

A Júlia andava sempre vestida de preto. 
Naquela casa não se ouviam gritos parecia até que ali não vivia ninguém.


As meninas mais velhas iam à escola e depois iam à lenha procurando pelos pinhais alguns paus secos ou as pinhas caídas no chão. 
As mais novas andavam com a Mãe que nos primeiros tempos acompanhou o rebanho.


Os anos passaram e nenhum morreu de fome nem de doenças. 
As filhas mais velhas casaram e a família foi ficando mais pequena.

Sem forças e sem as suas filhas para ajudá-la começou por vender o rebanho. Depois saíram desta casa e foram viver noutra casa simples, mas onde não chovia.


Recordo aquele dia em que se pegou com o Carnide na feira dos Desasseis que se fazia nesta localidade.


A Júlia foi à feira vender uns cabritos e tinha prometido ao Carnide que lhe pagaria a dívida, logo que recebesse o dinheiro.
O Carnide, era muito ganancioso e, como sabia que ela não era de palavra, andou por ali perto. 


A dívida era referente a batatas, vinho, azeite e outros produtos que o Carnide lhe vendeu fiado.
Assim que lhe dirigiu a palavra a Júlia começou em altos prantos tentando envergonhar o homem de lhe pedir o pagamento da dívida, mas o Carnide manteve-se calmo e disse-lhe alto e bom som para todos ouvirem.


- Não tens que estar nessa gritaria. Sabes que me deves e prometeste pagar-me hoje.  Já sabia que eras capaz de te esquivar e deixar-me outra vez sem nada. Não preciso que me dês todo o dinheiro mas dás-me apenas algum. 


Divide-se ao meio e ficas com a tua dívida menor,  eu também já não perco tudo.
Uma das filhas que presenciou toda a cena disse ao Carnide.


- Esteja descansado, que a partir de hoje, quem lhe vai pagar sou eu. Não quero que ande a pedir contas à minha mãe.


Com todos as filhas casadas e bisavó de muitos bisnetos, morreu silenciosamente como sempre viveu.
  
Luíscoelho

sábado, 14 de agosto de 2010

Caminho

Caminho na vida devagar
Porque o destino se faz a caminhar
Olhando as estrelas a brilhar
Neste tempo sem tempo de parar. 
Amo a vida porque gosto de viver
Neste amar que tudo quer oferecer
Queria ainda tantas coisas entender
Perdoando o que se deve esquecer.
Sigo a cantar de alegria e emoção
As coisas que à vida sentido dão 
Nascem flores no jardim da razão
Semeadas por amor, com coração.
Também os dias tristes acontecem 
Pois nestas caminhadas já se tecem
E tantos desencontros só se devem 
Àqueles que do amor se esquecem.
Caminham os dias de suave amanhecer
E os  passarinhos voando no entardecer
Dançam as noites com estrelas a nascer
E toda a vida num presente a acontecer. 
Luíscoelho

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

A minha dor

A minha dor
Vai comigo a onde eu for
Segue-me surda nos lamentos,
Cega nos dias e pensamentos
Acompanha-me no que faço
E nunca me larga o passo.
A minha dor 
É fogo ardente de amor
Nasceu e vive comigo
Faz-me sofrer de castigo
Apaga a leda alegria 
E em tudo a contraria
A minha dor 
É chama fria sem cor
E sombra repetida
Não tem peso nem medida
Não tem forma nem razão
Vive dentro do coração


Luíscoelho

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

As coisas que nos contavas



Posted by Picasa
R.I.7= Regimento de Infantaria Sete
2ª Companhia - nº132 







A nossa aldeia era o nosso mundo. Aqui nasciam, cresciam, casavam e por aqui ficavam na memória dos vivos, durante alguns anos. Depois tudo morria na poeira do esquecimento.


Quando alguém ia para o hospital de Coimbra ou Leiria, ou quando os rapazes iam cumprir o Serviço Militar, toda a aldeia vivia num alvoroço. Todos falavam da mesma preocupação.

No dia 21 de Março de 1934 foram para a tropa, (serviço militar) o José Ervilha, o Luís Coelho, o José da Silva e o Joaquim Cagano.
Amigos íntimos e sempre prontos para se valerem uns aos outros nas dificuldades.


O irmão mais velho do Luis Coelho queria por tudo meter uns pedidos para ele não ir para a tropa, mas o pai impôs-se terminantemente, dizendo que queria ir e que esse era um assunto apenas seu.

O José da Silva tratava o Luís Coelho por irmão. Sempre mantiveram uma grande amizade e um profundo respeito. 

Na véspera da partida,  apanharam uma bebedeira, (piela) que os deixou completamente desorientados e alguns em delírio.
O Joaquim Cagano desconfiou do José Ervilha e jurava que o ia matar.....!

Mais uma cambalhota, em total desequilíbrio, e logo recomeçava com as ameaças.
- Foi ele que me empurrou ..... Foi ele... foi,...mas eu mato-o....filho da mãe sem vergonha...e desfiava um rosário de imprecações porcas e provocadoras.

Os outros, mais equilibrados, pediam-lhe que fosse dormir, que já era muito tarde, mas ele era de uma teimosia, que ninguém lhe conseguia dar a volta.


Quando estava já perto de casa desembaraçava-se dos companheiros e antes de cair novamente, renovava as juras anteriores...mato-o, eu mato-o...
Não me chame eu Cagano.....

O Ervilha, mais pacato, levaram-no para casa de modo a não se meterem numa luta de galos, mas com o Cagano, as coisas estavam difíceis. Temiam que fizesse alguma besteira.

Haviam já combinado juntar-se todos no adro da Igreja, depois do almoço, para se irem apresentar ao quartel a Leiria.
Já ninguém se lembrava dos acontecimentos da noite anterior, ou faziam de conta que era assunto encerrado.

Cada um levava as suas coisas, e lá foram a pé, para o Quartel.

A Aldeia ficou mais triste pela partida, mas eles foram cheios de esperança num futuro diferente daquilo a que estavam habituados.

Os anos passaram, mas as recordações desses tempos parece que as vivemos "ontem" Estão ainda frescas na nossa memória, contava o pai.


Mais uma foto do pai à direita do José da Silva. O pai era o 132 e o Silva era o 133
Luíscoelho