segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Porquê - Expliquem-me

Não há pão
Mas há fome
Não há dinheiro
Mas há guerra
Não há Justiça
Mas há assassinos
Não há cadeias
Mas há roubos
E todos os dias
Em todas as horas
Vemos as mãos que amassam 
Estas palavras de figurantes.
Vemos as mãos que roubam,
Que matam a inocência
E os sonhos das crianças.
Vemos mas já não acreditamos 

Passarinhos

Passarinhos a voarem
E de ramo em ramo a saltar
Que bonito vê-los assim 
Tão felizes a cantar. 
Sua graciosidade e beleza
Nunca pára de encantar
Se eu fosse passarinho
Com eles iria voar,
Andaria pelos ramos
Bem perto do teu olhar
Tão feliz e tão contente
Que nunca iria poisar.
Um passarinho me disse
A liberdade é um dom 
Que bem devemos cuidar
Ela marca-nos a vida 
Como um grito sem ter som.
Os passarinhos são lindos
Com as penas a brilhar
Irei amá-los sempre 
E por nada os vou trocar .

luiscoelho

domingo, 29 de novembro de 2009

Uma rosa

Do teu rosto belo e sorridente
Que encanta os meus dias
Caiem gotas de poemas
Tão finos e transparentes
Que me deixam preso a ti
Num sonho e desejo de amar
Tão grande que eu nunca vi 
Mas que quero alcançar.
Vou escrevendo e apagando
Os mais tristes de passar
Que vem naqueles dias
Em que não te posso ver
Nem tão pouco posso colher
O teu sorriso encantador.
Este amor que nunca viste
E aos sentimentos resiste
É uma mistura de várias cores
Em gotas cristalinas de amor
Naquelas madrugadas sem rosto
Quando estou perto de ti
Tão perto e com tanto gosto
Que ninguem pode impedir
De uma rosa beijar
luiscoelho

sábado, 28 de novembro de 2009

Imaginação e arte


Posted by Picasa
As construções mais antigas de casas na Aldeia eram feitas de barro e pedra obedecendo aos conhecimentos técnicos adquiridos pela experiência e passados de pais para filhos.
Primeiro abriam os «caboucos» = Fundações = onde colocavam as pedras maiores que serviam de base a toda a construção e lhe davam segurança.
Depois subiam as parede exteriores até à altura de poderem construir um tecto de madeira.
Subiam depois as paredes laterais até poderem fazer o madeiramento e colocar as telhas.
O Interior das habitações era de madeira e em muitos casos de barro entaipado.
A base ou o soalho destas casas era construido em cima de vigas de madeira que por sua vez assentavam em cima de grandes pedras niveladas.
 As tábuas encaixavam-se umas nas outras e eram pregadas nas referidas vigas.
Escolhiam sempre a  melhor madeira, a mais antiga e bem conservada. Eram pinheiros seculares com bastante cerne onde não entrava o caruncho e não apodreciam com o tempo e a chuva.
Lembro de o pai falar na =caixa de ar=
Consistia em deixar um espaço entre a terra e o sobrado da casa por onde o ar circulava livremente de modo a que a madeira do sobrado ou soalho da casa não apodrecesse.
Estas caixas de ar obedeciam a medidas rigorosas pois o ar deveria circular sempre e não ficar condensado e a criar humidades.  Nas paredes exteriores abriam buracos de(30x30) aproximadamente para entrada e saída do ar. Para proteger a entrada de bicharada colocavam umas grelhas de pedra ou de ferro. O Pai mandou fazer estas grelhas com as iníciais do seu nome e as iníciais do nome da mãe, conforme constam nas fotos acima. 
Esta é a grelha com o nome da mãe e a seguinte é a do pai.
Todos se admiravam da capacidade que o pai tinha para ser diferente pela positiva.

continuação


Posted by Picasagrelha com o nome do pai

Folha de papel pardo

Preso nas minhas asas doridas
Pelas lutas do vento e do tempo
Aquieto-me no silêncio escuro
Ouvindo apenas o barulho das letras  
Correndo em descargas electricas.
Quero reter e guardar estes gemidos
Numa folha de papel pardo
Transformado em saco ou pacote
Onde fiquem as palavras e as letras
Que já não cabem em mim.
Preso na saudade que areja o quarto
E levanta o pó e as folhas desalinhadas 
Vou sacudindo umas palavras frias
Nas letras desagregadas que me fogem.
Lentamente o som fica moribundo
Com o peso das letras sobrepostas
Que me escapam entre os dedos
Rebeldes e saturados destas ventanias.
luiscoelho

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A Beata do Rego

Esta noite não conseguia fechar os olhos naquele sono reconfortante que nos faz esquecer as mágoas e as agruras de cada dia.

O sono que nos liberta das preocupações diárias e daqueles desejos de alcançar algo mais e melhor na nossa vida ou ainda de organizar tudo para que o nosso trabalho seja menos cansativo e mais bem feito.
Não sei porquê, mas no meio de tantos pensamentos, recordei parte da minha infância, aqui na aldeia. Recordei os meus amigos da Escola Primária, os nossos vizinhos e também algumas figuras características desse tempo.
Hoje recordo melhor uma velhinha sempre vestida de negro da cabeça aos pés. - A Beata do Rego.
Na cabeça, trazia sempre um lenço preto que lhe escondia completamente o rosto não deixando ver a sua cara.
Para ela seria normal viver assim.
Para nós crianças a coisa era muito diferente e a curiosidade era cada dia maior.
Porquê assim vestida?
Certamente teria vivido um grande desgosto, pensava eu, pois não encontrava explicação para tanta tristeza.
Vivia aqui perto numa pobre casa, húmida e também escura por falta de janelas.
O que haveria dentro daquela casa e como poderia aquela senhora viver lá sozinha e sem ter por perto os seus familiares.
Eram perguntas que me iam enchendo a cabeça.
Nessa data era impensável para mim viver sem pai ou mãe que nos protegessem e guardassem dos malfeitores e fossem principalmente nossos amigos.
Esta Senhora parece que já não tinha família.
Recordo que algumas vezes e por caridade os meus pais a chamavam para fazer uma tarde aqui no campo a cegar o feno para os bois ou a colher algumas sementes, pois ela não era capaz de fazer muito mais pela sua debilidade física. Alem de comer aqui um prato de sopa davam-lhe o salário correspondente.
Não falava quase nada, mas se lhe perguntassem alguma coisa respondia sempre com muita delicadeza. Parecia até ser uma senhora com muita educação.
Vi-a, muito dias, na Igreja em profunda meditação.
Nesse tempo havia missa logo ao nascer do dia.
Era celebrada em latim. Não sei se alguém percebia alguma coisa mas a Fé tem destas coisas. As pessoas iam e cada uma rezava como entendia.
A Beata do Rego estava lá com as suas vestes e o seu ar de recolhimento.
Comungava sempre. Coisa que a maioria das pessoas só fazia pela Páscoa ou datas especiais.
Depois de todos saírem da Igreja, aquela senhora ficava ainda horas esquecidas fazendo as suas meditações. Nesse tempo as Igrejas estavam abertas todo o dia.
Um dia perguntei ao pai:
_ O que lhe aconteceu para andar sempre naquele luto e com tanta tristeza...?
Então o pai lá foi dizendo algumas coisas, mas não sei se entendi tudo.
_ Quando ela era nova, era muito bonita e quis ser freira. Foi para um Convento, mas passados uns anos mandaram-na embora e como nunca se casou ficou assim triste e sozinha.
Ela era uma pessoa rica. (rico era nesse tempo ter muitos terrenos)
Vendeu tudo e só ficou com esta casita para viver, mas parece-me que deve chover lá dentro, continuou o pai.
_ Ela não é capaz de arranjar nada e também não pede ajuda a ninguém.
Vive mortificando-se para ganhar o Céu com sacrifícios.
Conta-se que ela teve um filho de um padre e que foi por isso que a puseram fora do Convento.
Se tinha dúvidas ainda fiquei com mais. Então e o filho?
Ninguém sabe. Respondeu o pai.
Ficamos ambos em silêncio. O pai continuou o que estava a fazer e eu, que não estava satisfeito, mas também não conseguia fazer nova pergunta.
Recordo ouvir como piada = sementeiras da Beata =
Eram aquelas sementeiras que algumas pessoas faziam. Num canto pequeno de terra semeavam couves, batatas, feijão, milho e nabos.
Resultado não se criava nada, pois as sementes germinavam e morriam não tendo espaço para crescerem e se desenvolverem.
Outra frase ainda:
=Ali, na da Beata=. Identificavam um terreno comprado à senhora.
Um dia pelo Natal fomos levar-lhe alguma lenha para a fogueira, assim como outras coisas que a mãe colocou num cesto: batatas, pão, azeite, feijão e algum toucinho salgado.
Entrámos por uma porta muito grande e fomos andando por um corredor esburacado até uma parte onde a senhora estava sentada e embrulhada num xaile preto. Esta devisão devia ser a cozinha.
Entregámos as nossas coisas e saímos novamente fechando aquela porta grande de um verde aguado.
Certamente terá ficado a rezar por nós que lhe levamos alguma coisa para comer.
A lareira parece que já não era acesa, há muitos dias.
Parece que também não tinha nada para comer, nem dinheiro para poder comprar.
Hoje certamente ninguém a deixaria ali a morrer de fome e de frio.
= Para trabalhar não tinha força e para mendigar tinha vergonha=
Foram os seus vizinhos mais próximos que lhe foram levando uns caldinhos de sopa enquanto viveu na maior pobreza.
Não sei o verdadeiro nome da Senhora.
Para nós foi sempre a Beata.


luiscoelho


quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Aniversário - Maio 2009


Posted by Picasa
As minhas raizes vindas do tempo
Com origens que não sei nem entendo
Amando a vida agora no presente
Olhando o passado levado no vento
O passado é presente naquilo que sou
No que recebi e em tudo o que dou
O passado é presente em tudo o que faço
No que aprendi e pelo que me enlaço
As minhas raizes estão no futuro
No desejo de dar e querer amar
Nos filhos criados com sabor
Lançados nas lutas de sonhos e dor 
As minhas raizes vão num Céu a provir
Na esperança de um futuro melhor
Mais justo, fraterno  e com mais amor
E com todo o bem que eu construir
As minhas raizes foram sonhos passados
Projectos de vida e desejos vividos
Insatisfação por alguns não realizados 
Mas sempre feliz com muitos conseguidos

luiscoelho

Alvorada

Madrugada de luz e de paz
Quando os olhos serenos se abrem
Nas emoções que nos trás.
Veio a alegria e o amor ficou
Querendo dizer no papel
Toda a força que lhes dou
Madrugadas frias e quentes
Vividas no tempo e nas mentes
Amando a vida assim como sou
Cantando estes pensamentos
Perdidos na noite e no tempo
Madrugadas de amor e carinho
Que nos acordam de mansinho.
Manhãs feitas sonhos de menino
Que transformam a noite
Nas mais belas alvoradas.
luiscoelho

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Sono

O sono bate-me à porta
Não sei recusá-lo
Esconder-me dele.
Jogamos partidas
Algumas divertidas
Vou abrindo os olhos
Mas ele fecha-os.
O cansaço vai crescendo
A boca bocejando
E os olhos chorando.
Parece que vou resistir
E continuar a lutar
Quero um poema concluir
Será que vou conseguir?
Parece já um jogo de tracção
Ele tomba para lá e eu para cá
Deu-me mais uma lição
Tem razão, nós somos humanos.
Fechei as persianas dos olhos
Boa noite.
luiscoelho

Saudade

Não sei se a saudade vem
Com a que me quer bem
Ou se já seguiu viagem
Deixando-me só e sombrio
Que de pensar me arrepio
Pelo medo e pelo frio.
A saudade vem assim
De mansinho até a mim
E deixa uma dor sem fim.
Saudade não vai embora
Pois só chegou nesta hora
E irá cantar agora
Aquela música de saudade
Com um coro de liberdade
Que nos enche de felicidade.
Saudade palavra bela
E todos pensamos nela
luiscoelho

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Vem cantar


Vem comigo cantar um poema
Que a vida tece em cada dia
Seguindo um rumo e um lema
Vencendo a dor com valentia
Vem viver e amar com liberdade
Que sempre devemos querer
Escolhendo a felicidade
E amando mais que o dever.
Vem comigo cantar um poema
Contruindo uma vida melhor
Fazendo dos passos compasso
Que nos guiam com maior vigor.
Vem fazer as mais belas canções
Com o ritmo agradável do amor
Cantando sempre as mais belas
Que todos sabemos de cor.
Vem comigo cantar um poema
Com o amor que temos no peito
Onde as rimas façam de cordas
Tocando sempre a perceito
luiscoelho

Posted by Picasa

domingo, 22 de novembro de 2009

A minha caneta escreve lenta
Letras que escorregam no papel
Desagregadas e desordenadas
Tantas vezes com laivos de fel.
Parecem seres finos, feitos de cordel
E dançando na cor das tintas
Carregadas com sabor a mel.
A minha caneta escreve apressada
Aquelas letras em vagas coloridas
Os pensamentos já não entendem
A força das letras comprimidas
Todas juntas em ondas de papel
Ou sozinhas em sombras invertidas.
A minha caneta dorme com imaginação
Escrevendo em sombras refrescantes
Descansa recriando novas histórias
Vividas em prados verdejantes
Muito belas e profundas nas memórias
luiscoelho

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A noite vem

A noite vem devagar
Caminhando com encanto
E afagando os fios de luz
Com o seu suave manto.
Tudo guarda serenamente
Convidando-nos a amar.
A noite vem sorrindo
Abraçar-nos completamente
Escondendo o rosto e o nome
A quantos quer despertar.
No silêncio da noite
Ouvimos baixinho segredar
Naquele jeito de amor
Que a noite quer recordar.
Despidos de todas as formas
Ouvimos a noite a cantar
Qual sereia adormecida
Que na noite vem completar
luiscoelho

Recantos

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Silencio perdido

O silêncio corre perdido
Atravessando espaços
E cortando ventos
Amando e ferindo
Recriando pensamentos.
O silêncio de um olhar
Perdido de inquietações
Que a distância pisa
De tantas perturbações.
O silêncio tortura-nos a alma
De guerras e violência
De fome envergonhada,
De dor vivida em desgarrada,
De perdas e tritezas sentidas
Carregadas de dor nas partidas.
O silêncio marca o tempo
Que o tempo de silêncios já fizeram
E em cadeias de palavras nos prenderam
No silêncio esquecido de amor
Mastigando as palavras mais queridas
Revivendo só as datas pela dor.
luiscoelho

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Cantarei a dobrar

Quero escrever-te um poema
Enchendo-o de emoções
Simples e frágil como a pena
Mas com a fúria dos vulcões.
Depois de escrito cantá-lo
Com vida, alma e coração
Para que possas escutá-lo
Com leve e sentida emoção.
Quero escrever-te um poema
Cheio de cor, rima e alegria
Onde as letras façam a faena
Num espectáculo de magia.
E depois quero chorá-lo
Num fado de triste saudade
Pois te recusas a amá-lo
Por vergonha ou por vaidade.
Quero escrever-te um poema
Com tudo o que me vai na alma
De sonhos puros em gema,
Desejos vivos em chama.
Cantarei tudo a dobrar
Com mais força e muita vida
O amor tem de acordar
Quando lhe damos guarida.
luiscoelho

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Amar dói

Neste amar que te quer bem
Procurei-te em todo o lado.
O coração bate certinho
Quer estar sempre juntinho
Do meu jeito apaixonado.
Neste amar perdidamente
Ando muito envaidecido.
Quero-te mais do que a mim
Neste amor que não tem fim
Ou terei enlouquecido ?
Neste amar que é penar
Que nos dói mas que é bom
Vamos sofrendo a pensar
Que rumo podemos dar
Ao nosso amor de encantar.
Quero muito continuar
Amando-te sem nunca parar
Ainda que possas julgar
Que é loucura de crianças
Que chegam com esperanças
De todo o mundo mudar
luiscoelho

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Imaginação

Posted by Picasa
Dei asas à imaginação
Sou o carro que a conduz
Entra e sai quando quer
Sobe e desce quando entende
Porque as asas são de luz.
Asas que não tem penas
Mais leves que o pensamento
Mais rápidas do que os ventos
Trazendo-me a qualquer hora
Coisas boas de finos momentos.
As minhas asas me abrigam
Me protegem e me guardam
Nas ruas frias e desertas
Nas casas vazias sem gentes
Em sonhos tão pertinentes
De coisas simples e secretas
Que insensíveis nos matam.
Procuro alinhar as asas
Por princípios com razão
Que me guardam a alma
Bem perto do coração
luiscoelho

sábado, 14 de novembro de 2009

Carmita

Primavera de 1955.
Tínhamos regressado da escola.
Era uma tarde como todas as outras. Antes das nossas brincadeiras também tínhamos algumas tarefas a cumprir, que os nossos pais nos marcavam.
Nesse dia fomos tirar água do poço.
O Henrique, que era o mais velho, devia ter uns doze anos, foi ao curral soltou as vacas e aparelhou-as.
Primeiro prendia-as com a "açóga". É uma corda metida nos chifres dos bois e que os prendiam um ao outro de modo a que se pudessem segurar. Depois colocava a "canga" ou jugo. Pedaço de madeira com correias presas aos chifres e ficavam prontas para puxar o engenho de tirar água do poço.
Geralmente as vacas procuravam o jeito, pois não trabalhavam se lhe trocássemos as posições.
A da esquerda sempre na esquerda como a da direita sempre nessa posição.
Antes ainda eram presas com outra corda ao madeiro (cabeçalha) no centro do poço, para não puxarem para fora daquela circunferência.
Costumávamos gastar duas horas a fazer este trabalho.
Esta tarde cabia-me a mim andar atrás das vaquitas para fazê-las andar sempre à volta do poço movendo o engenho e puxando sempre no mesmo ritmo a água para regar o milho e a horta, couves e feijão.
Logo que a água límpida começou a correr, o Henrique, descalço e com um sacho às costas sumiu-se por dentro do milheiral, pisando sempre os buracos das toupeiras e encaminhando a água pelas leiras de milho verdejante.
As filhas dos nossos vizinhos-Júlia Branca viúva do Pele e Osso- vinham até aqui para brincarmos ou para estudarem em conjunto pois eramos quase todos da mesma idade.
Nessa tarde a Carmita subiu para cima do poço e apesar dos meus gritos a chamá-la ela caiu lá para dentro. Mais ou menos 15 metros de profundidade.
Fiquei sem saber de mim também.
A mana que estava em frente da porta a estudar quando ouviu os meus gritos começou a gritar também. Parou as vaquitas .
O Henrique, assim que nos ouviu, veio logo para junto de nós.
Foi buscar uma corda e segurando-a numa ponta mandou o restante para dentro do poço e pediu á menina para se agarrar à corda para não se afogar.
Pediu à mana que fosse a correr chamar o tio Joaquim que morava ali perto.
Parece que estou a ver o desembaraço do tio.
Desapertou as calças e tendo ficado só com as ceroulas brancas desceu pelos alcatruzes até ao fundo do poço.
Pegou a menina ao colo e viu que estava tudo bem pois a queda foi amortecida pela água e porque a Carmita caiu a direito sem tocar nas paredes nem em nada.
À volta do poço já se tinham reunido muitas pessoas.
O tio recomendou lá de baixo:
_ Vão buscar um cesto, poceiro de vime, prendam-no com cordas e mandem-no cá para baixo.
Pegou na menina e colocou-a dentro do cesto e deu ordem para a puxarem com cuidado.
Quando estava fora de perigo a mãe da Carmita pegou-lhe ao colo e levou-a para casa para a enxugar e lhe trocar de roupa.
Recordo o tio contar que quando tentou agarrar a menina ela não se largava da corda. Tão grande era o seu medo.
Foi um susto sem consequências mais graves, mas servi-nos de lição a todos e nunca mais nos deixaram andar por ali sózinhos naquelas tarefas.
Os nossos pais só souberam à noitinha destes acontecimentos.
Andavam longe a trabalhar e ninguém os foi chamar.
Em 1961 o pai meteu um motor eléctrico no poço e uns anos depois construiu-se uma placa de cimento para o vedar completamente.
Quando nos encontramos por aí, a Carmita e eu, nem falamos desta história pelo medo que ainda hoje habita na nossa memória.
O medo foi tanto que nunca consegui descer ao fundo de um poço.
luiscoelho

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

olhares trocados

Procurei-te no tempo
Num desejo crescente
Sentindo os teus olhos
Num brilho atraente
Com a força de amar.
Pedi-te um beijo
Com todo o carinho
Num sonho acordado
Muito de mansinho
Revivendo o passado
No tempo de amor.
As estrelas no Céu
Brilhantes de luz
Teciam um veu
Que nos encobria.
De olhares trocados
Num medo inocente
Queríamos ser presente
Nos dias passados
luiscoelho

sem sono

Os olhos carregavam a dor do sono,
E seguiam os passos que a noite trazia.
O rosto pesado o semblante fazia
Levando-me preso nas sombras vazias
Não quero barulho, nem ventos baldios
Quero amar sem cama e sem rendas
Não quero caminhar nas pedras com fendas,
Nem adormecer com outras contendas
Quero o amor dos teus braços sadios.
Este sono que me anima e me tenta
Saiu pela porta aberta na força do tempo.
Marcou-me na face o amor e o desgosto
Levou-me o encanto do meu pensamento.
Correndo num grito perdido no vento
Procuro na alma algum sentimento
Daquele descanso que faz as noites
O adormecer pelas manhãs dentro.
luiscoelho

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Parabéns Lia Raquel
Nesta data querida
Muitas felicidades
Muitos anos de vida

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

viver o momento

Deixei-me levar nas correntes do vento
Apressadas, suaves, lentas e estridentes
Subindo, subindo até deixar este mundo
Amando e vivendo sem qualquer alimento
Ou sofrendo acordado nas horas do tempo
Que passa e gira muito rapidamente.
Se eu pudesse fugir cavalgando este vento
Ou pudesse agarrá-lo, amarrando-o a mim
Nunca mais sentiria tão profunda agonia
Que me lembra e me mostra que tudo tem fim
Neste voar dos dias amando com alegria
Ou sofrendo nas quedas que cabem em mim
Jamais faria o tempo parar. Viveria o momento !
luiscoelho

terça-feira, 10 de novembro de 2009

mãe

As lágrimas corriam apressadas
Deixando marcas nas rugas da face
Alguma coisa veio com disfarce
Medi as rugas largas feitas estradas
Perdi-me em rios de águas cristalinas
Tão puras, suaves e brilhantes
Caindo em cascatas de diamantes.
Com o coração a bater devagar
Aconcheguei-me e murmurei baixinho
Mãe porque estás assim a chorar ?
Quem foi, sem querer, que te fez magoar ?
Olha para mim e dá-me um beijinho
Talvez olhando me sonhes menino
Talvez te esqueças que estás a chorar
Talvez possamos voltar a brincar.
luiscoelho

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Olhares perdidos
No tempo passado
Agora vividos
Num corpo magoado.
Trocaste-me por outra
Que eu vi a teu lado
Já nem me sorris-te
Num medo falhado
Do amor que vivêmos
Num caso acabado.
As lágrimas secaram
A dor desapareceu
Tudo o que vivemos
Nunca me esqueceu.
Aquilo que quero
É ver-te no Céu
Muito longe de mim
Para acabar de vez
Esta dor que me mata
Já lhe quero o fim
Pois é insensata.

luiscoelho

domingo, 8 de novembro de 2009

tristes momentos

O teu olhar parado, pausado e lento,
Olhando as estrelas sumidas de esperança
Onde tivemos uma banca de magia
E fazíamos renascer a fé e a confiança
De uma vida mais feliz com amor e alegria.
Nossos olhos se cruzaram pensativos
Procurando aquela vida em correria
Quando as estrelas nos sorriam e guiavam
Por caminhos mais largos e expressivos
E onde os nossos desejos se conjugavam.
O teu olhar lento e triste ficou perdido
Buscando aquela estrela e a banca de magia
Onde os sonhos de ternura nos agasalhavam
E procuravam aquele espaço de amor vivido
Que nos guiava e alimentava o respeito e a simpatia.
Os meus olhos acordaram os teus tristes lamentos
Ouvindo-os no silêncio das matracas dos pensamentos
Que me acordam estas passagens tristes e frias.

luiscoelho

vem comigo

Vem comigo,vem agora!
A saudade me aperta,
Nem sei o dia, nem o mês,
Nem tão pouco a hora.
Os sentidos me mordem
Quero que tu, só tu e eu
Agarrados os acordem.
Vem, vem agora não demores.
Abraça-me, beija-me.
Afasta os meus temores.
Esta ansiedade é dura
Me gasta de saudade
Me consome, confunde
E destrói a amizade.
Vem beijar-me e abraçar-me
Naqueles carinhos gostosos.
Esquece as pedras das ruas
Tão secas, tão frias e cruas.
Lava-me no suor do teu corpo
Para que o sinta e não minta
Que estou vivo e não morto.
luiscoelho

Beijos & beijos

Beijo de amor que nos surpreende
Que nos apaixona e tudo pretende.
Beijo de saudade que nos acorda
O passado nos trás, o bem nos recorda.
Beijo de carinho é sempre um miminho
Que nos acalenta mais um pouquinho.
O beijo do dia é um cumprimento
Quando te vejo no meu sentimento.
O beijo da noite com maior emoção
Quando nos unimos num só coração.
O beijo do adeus fazendo a partida
Na mágoa que leva e na dor que fica.
Um beijo que é beijo é sinal com vida
E presença, lembrança sempre repetida.
Há beijos que ficam marcados no rosto
E outros nos deram profundo desgosto.
Há beijos e beijos por qualquer razão
Mas os verdadeiros nascem no coração.
luiscoelho

sábado, 7 de novembro de 2009

Canto de noite ou de dia
Nas horas que entender
Canto as dores ou a alegria
E tudo o que me acontecer.
Canto agora simplesmente
As coisas que quis fazer
Ou aquelas que piamente
Acreditei poder tecer.
Cantos simples e modestos,
Até dos tristes gemidos
Cantarei apenas os restos
Para nunca sejam esquecidos.
Cantarei como os pardais
Quando fazem os ninhos
Alguns dias a sorrir
Outros sem nada demais
Mas todos sempre a pedir
Por outros que hão-de vir
Mais belos e a sorrir
luiscoelho

Manhãs

Manhãs de silêncio paralisante.
Um galito canta mostrando o dia,
Garantindo atrevido a noite cessante
E apagando as estrelas por magia.
Os poemas e pensamentos desaparecem,
Adormecidos no papel e no brilho da tinta.
E os olhos cansados nas noites percorridas
Se abrem nas cores que a verdade me finta.
Neste acordar e adormecer espaçadamente,
Fazendo viagens perdidas nos vales e montes
Regresso à fonte onde bebo perdidamente
Servido em copos de bebida transparente.
As mãos da madrugada me acordam de frio
A bater nas janelas abertas à vida
E me fazem amar com mais força e mais brio
Aqueles instantes de manhãs repetidas.
É o sono, o cansaço, a dor que se espreguiça
Que me faz balançar nas palavras perdidas
Na cor transformada em azul dobradiça
Correndo a cidade com pontes partidas
Saltando do sono e da realidade vividas.
luiscoelho

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

As coisas que vimos

Recordo aquele sábado à tardinha. Andávamos todos por aqui à volta de casa e no quintal.
Uns corriam outros sentados liam e estudavam. Era Abril, com uma temperatura muito amena e agradável.
A mãe fazia a vida de casa e o pai andava nas sementeiras.
Entretanto, chegou apressada, a Srª Clemência Caixeira para falar com o pai ou a mãe.
Como o pai estava por perto ela disse-lhe logo ao que vinha:
_ Sr Luís, a sua filha, bateu na minha, e eu só a vinha avisar que não quero que volte a fazer isso. Coitadinha da minha filha chegou a casa com a cara muito vermelha.
A filha = Olívia, era mais nova que a minha irmã e nessa data as professoras pediam aos mais velhos para ajudarem os mais novos a fazer os trabalhos de casa.
Elas estiveram ambas a estudar e não vi nem gritos nem choros naquela tarde. Muitos dias juntavam-se aqui em casa um grupo de meninas que gostavam de estudar e brincar com a mana.
O pai, foi apanhado de surpreza e diante daquela recomendação, nem pensou em mais nada.
Não mediu a totalidade da história nem a sua veracidade.
Chamou a mana Leonilde e só lhe disse:
_ O que fizeste foi mau e não voltas a bater naquela menina!.....Entretanto deu-lhe umas palmadas no rabo.
Parece que ainda os estou a ver, ali na frente do portão grande de madeira. A mana com as palmadas dobrada para trás em desequilíbrio e a saia da mana a levantar-se embrulhada na mão do pai
A Mana aos gritos só dizia:
_ Oh Pai, eu não lhe bati! Estivemos a estudar. Ela quando entendeu foi-se embora.
Entretanto, a Srª Clemência, já satisfeita com a vingança, foi à sua vida de regresso a casa.
A mãe que viu e analisou toda a situação, de dentro de casa, saiu ao encontro do pai e disse-lhe:
_ Nunca mais voltes a fazer o que fizeste hoje.
Ouves os recados dos outros e só tens que lhes dizer que vais falar com os teus filhos e resolver os assuntos. Hoje foi esta, amanhã pode ser outra e tu não falaste primeiro com os teus filhos, nem viste toda a verdade.
Só viste um lado. Castigaste a menina na frente daquelas pessoas e isto nunca se faz!...
Deixavas a senhora ir-se embora e só de pois de falar com a menina é que tomarias uma decisão.
Ainda que a castigasses era aqui dentro de casa sem ser enxovalhada na frente de outras pessoas.
O pai ouviu e só comentava:
_ Já é tarde e nada posso remediar.
As coisas ficaram por aqui e não se voltou a falar no assunto. A mana e a Olívia, encontravam-se na escola, mas nunca mais foram amigas nem a outra voltou para nossa casa estudar.
Passados todos estes anos, recordo aquela cena, os gritos da mana que me doeram na alma e tenho saudade daquela delicadeza e bom coração da mãe.
Quantos erros se evitariam se junto às mãos de um pai estivesse sempre a delicadeza e um coração terno de mãe !
luiscoelho

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Posted by PicasaUm passeio pela mata e junto ao amar.
Belezas naturais que fomos descobrindo.
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

A fonte do teu amor

Quero beber o teu amor
Senti-lo dentro de mim
Saboreá-lo lentamente
Num prazer que não tem fim.
É suave o sabor do teu amor,
Agradável ao olhar com alegria
Mexe cá dentro de nós
Com infinita magia.
A fonte do teu amor
Nunca parou de correr
Nasce e morre sorridente
Para quem lá for beber.
Este amor não mata a sede
Não satisfaz nem contenta
Quanto mais dele bebemos
Mais sede se acrescenta.
Meus olhos por aqui ficam
Sem saber o que fazer
Se vivo do teu amor
Sem ele fico a sofrer.
luíscoelho.

domingo, 1 de novembro de 2009

Amor que palavra bonita
Transmite paz e confiança
Quando se vive em amor
O sofrimento é esperança,
Não há medos que assustem
As dores viram alimento
As dificuldades não vencem
Esta vida em movimento.
Amor faz-nos rejuvenescer
Torna os sonhos coloridos
Sempre, sempre a crescer
Com novo e redobrado vigor,
Correndo por vales e montes
Procuro a água fresca nas fontes
E sonhando construo pontes
Com mais vida e muito amor
luiscoelho