sábado, 22 de outubro de 2011

Amigos de Portugal

A minha fotografia

O Senhor Duarte passou por aqui, pela nossa Aldeia,  em 19/08/2011. Foi fotografando aqui e ali, sempre que alguns recantos lhe despertavam a atenção.
Juntou fotos das nossas fontes, das flores e frutas que encontrou.

Era uma tarde de Sol e uma temperatura agradável para andar no campo. Atravessámos a Aldeia, mas apenas visitámos alguns recantos.
Subimos a encosta e acabámos contemplando o pôr do Sol numa  vista geral das casas e da Igreja perdidas no verde que ainda nos sobra.
Escrevi algumas coisas, que ouvi contar, sobre a nossa terra.
O Senhor Duarte transformou tudo numa  reportagem com arte e bom gosto.

Aconselho um pulinho até lá.
Visitem !
O passeio é agradável.


http://amigos-de-portugal.blogspot.com/


Luíscoelho

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Era tarde

 
(foto google)

Regressavam a casa depois de mais um dia de trabalho na cidade e de aulas no Colégio. Iam e vinham todos os dias num Renault 5 velhinho, apresentando a marca do tempo nas tintas descoloridas e na ferrugem espalhada um pouco por todo o lado.

O fundo do carro estava roto. Quando chovia a água entrava e deixava os tapetes empapados por alguns dias.
Ao fim de semana abriam as portas e janelas e deixavam-no secar e arejar ao sol.

Os tapetes eram lavados e todo o carro ficava com um aspecto mais bonito. Um dia ao tirar os tapetes viram que a chapa estava muito mais rota do que parecia e era perigoso para as crianças. Não poderia continuar. Algum dos meninos poderia enfiar um pé naquele buraco.

O pai foi buscar duas tábuas, cortadas à medida, e colocou-as ali, de um lado e do outro. Ajeitou os tapetes por cima delas. Parecia que estava o assunto resolvido.

Ao jantar dividiam-se as preocupações. Ouviam-se as necessidades e os recados. Era a melhor hora para se falar das coisas de casa e como as iríam resolver.

Eles os mais pequenos estavam atentos. Pareciam viver cada dia as mesmas preocupações dos pais e quando lhes era pedida colaboração estavam sempre disponíveis e cheios de boa vontade.

Foram-lhes dizendo que tinham de trocar de carro por outro melhor e mais seguro. Talvez este ano se consiga juntar o subsídio de Natal e mais algum que tinham guardado. Vamos procurar saber de preços e de carros.

Nessa semana apareceu uma factura de telefone com o triplo do valor que costumavam pagar. Mais uma despesa para agravar a situação.

Nesse dia ao jantar falou-se da factura. Nunca se gastou assim tanto de telefone ! Não pode ser.....

Um dos rapazes disse:
- Fiz chamadas para Évora e não reparei no tempo. Peço desculpa...foi uma amiga da colónia de férias!...

Sinto muito, disseram os pais.... Vais ter que pagar esta conta.

Por vezes damos cabeçadas que nos ensinam mais do que grandes castigos ou discursos.

No dia seguinte esvaziou o seu cofre, mealheiro. Contou e recontou o dinheiro. Em segredo, pediu aos avós uma ajudinha e ainda antes de se deitar foi entregar aos pais o dinheiro daquela factura de telefone.

Ninguém lhe prometeu castigos. Apenas lhe fizeram ver os seus erros e que esta era a melhor forma de não voltar a fazê-los.

A vida continuou com o mesmo programa. Foram-se dividindo todas as preocupações de casa e da escola.
Os mais pequenos foram crescendo deixando os pais participar  nas suas conquistas e sonhos.

Nesse Natal (1989) conseguiram ter o carro novo. Era o mais barato da Opel, mas para todos foi a melhor prenda.

Luíscoelho

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma carta



(foto do google)


Passava já da hora do almoço, quando o carteiro chegou ali a casa dos tios com uma carta. Os cães não gostavam do carteiro. Ficavam doidos. Cercaram-no sempre a rosnar e se não fosse o dono ter-lhe -iam mordido a sério.

O carteiro parece que já estava acostumado com estas manifestações caninas.
- Então o que é isso...tanto barulho para nada...Eu não vos faço mal... Estejam caladinhos!

Era um homem forte e corado. Trazia uma sacola de cabedal a tiracolo e vinha numa motorizada vermelha.
Fazia-me muita confusão como é que ele conseguia dar a volta por toda a freguesia que era muito grande.

Tinha que saber os lugares todos e depois onde moravam as pessoas a quem devia entregar as cartas.
Chamava com força:
- Correio....Correi...o...Co...rreio...

Se não havia ninguem metia a carta por debaixo da porta principal.
Depois continuava com a sua corrida de mota até entregar todas as cartas.

Ali em casa dos tios fez o mesmo. Entregou o correio e seguiu o seu caminho, pedindo que açaimassem os cães porque eles poderiam fazer mal a alguém.

Era uma carta do Armandito que tinha sido hospitalizado para uma operação ao estomago.
Tinha ido para Coimbra e depois da operação ainda ficavam uns dias em recuperação.

O tio começou a ler a carta e logo nas primeiras palavras parou de ler impedido pelos soluços.
Os outros filhos que estavam por perto começaram também num grande pranto.
Ele apenas leu:
- Querido pai e manos, espero que se encontrem bem de saúde quando receberem esta minha carta.....

Pensei que o rapazito estivesse pior. Tanta gente a chorar só por aquela primeira frase....
O tio limpou a cara com as costas da mão, respirou fundo e continuou.

- Eu também cá vou indo bem, mas com muitas saudades de todos......
Novamente os soluços aumentaram e parou a leitura da carta. Bem, por este andar, vão chorar muito ainda, a menos que a carta seja pequena.
   
- Isto são apenas alguns dias aqui. Depois estaremos todos juntos.....
- E quando é que ele sai do hospital pai, perguntou a Maria Júlia...?
- Coitadinho do meu irmãozinho... e choraram todos mais uma vez...

Quando conseguiu chegar ao fim da carta, suspiraram de alívio e  começaram a dar beijos no envelope que depois apertavam contra o peito dizendo :
- Meu rico filho, meu rico filho...!

- Oh pai, agente vai visitá-lo se ele não vier para casa nesta semana?... Vamos..!?
- Não temos dinheiro para essas viagens e ele deve ter alta já na próxima semana.

Depois foram contando aos vizinhos  e aos outros familiares que tinham tido notícias do Armandito e que estava tudo a correr bem.

- Choramos tanto, tanto...Ferrou-se-nos uma saudade que nem ficávamos bem se não desabafássemos as lágrimas todas. Parece que rebentávamos. Era o mais novo de oito filhos e eram todos muito amigos.

As pessoas respondiam:
- O pior já se passou. Agora é preciso que recupere  e que fique bem de saúde.

No início da semana o Armandito teve alta médica e o tio foi de autocarro (camioneta) buscá-lo.
Agora ninguém chorava.
Alguns olhavam para ele tentando descobrir se estava inteiro ou se lhe faltava algum bocado.

Doeu muito menino...? Graças a Deus que já tudo se passou.
Olha, agora come e bebe para te fazeres um homem...!
Luíscoelho