terça-feira, 22 de novembro de 2011

Reconstruir

(foto google)

São duas horas da manhã. Está frio e o ar húmido. Gostaria de dormir um pouco mais, mantendo-me no calor da cama, mas os pensamentos e os acontecimentos, as políticas e as notícias de cada dia remexem comigo.

Ontem, quis construir um lago, no jardim, ao lado do poço.
Havia uma torneira que corria  directamente para a terra levando a água por uma regueira  para a horta.

Todos os meses semeio e replanto novas coisas para consumo próprio: couves, alfaces, repolho, cenouras, brócolos, alho francês, pimentos e tudo o que se pode criar na terra durante o ano. Este tipo de horta agora renascido nas grandes cidades.

Aquela água é aproveitada para manter as plantas viçosas e bonitas. Depois a água que sobra vai regar as outras árvores: laranjeiras, macieiras, cerejeiras, damasqueiro e oliveiras.

Por outro lado preciso de ter um reservatório de água para uma emergência. Alguns dias a corrente eléctrica falha e ficamos sem água para nós e os animais. 

Tinha pensado em comprar um ou dois sacos de cimento e construir ali um tanque para lavar as verduras antes de as trazer para a cozinha. Iniciei aquele trabalho no Verão passado, mas por ter muito trabalho deixei as obras paradas.

Ontem fui buscar areia, num carro de mão. Juntei o cimento e misturei tudo até ficar com uma cor cinzenta de chumbo. Adicionei água e fui mexendo até que ficasse uma massa moldável e consistente.

Ali perto havia um monte de pedras de paredes antigas.
Escolhi algumas e lá fui dando forma a um lago pequeno. Reboquei as paredes interiores para conservar o lago vedado e no exterior colei as pedras mais pequenas e de formas bizarras. 

É pedra vulcânica arrancada nas encostas onde os meus avós plantaram as vinhas que agora foram abandonadas.
Esta pedra foi transportada, em carros de bois para a construção das suas habitações. 

No final do dia a chuva começou a cair com bastante intensidade. Não sei se o trabalho se perdeu.
Se, hoje, o tempo estiver bom, irei completar aquela tarefa e reparar o que a chuva danificou antes de secar.

Estou ansioso por ver a água a correr numa cascata como se fosse uma nascente natural e depois encher o lago de água cristalina transbordando em queda livre para a horta mais abaixo. 

Se conseguir haverei de anexar aqui uma foto. 
Gosto de trabalhos manuais. Ajudam-nos a entrar num mundo de sonhos e de encanto onde só as crianças e os simples habitam sem maldade nem guerras....
Precisamos todos de entrar nesse mundo, de ser pacíficos, cordatos, honestos e trabalhadores em prol de uma sociedade melhor e mais justa.
Luíscoelho

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Viagem ao Estoril

(foto google)

Em meados de Outubro recebi um convite para um espectáculo no Casino Estoril. O preço era acessível e o programa aliciante. Assistir às melhores coisas, dos melhores espectáculos de Filipe La Féria.
  
Fizemos a nossa reserva e no dia e hora marcada seguimos num autocarro com mais cinquenta e quatro pessoas. O mesmo autocarro que nos haveria de trazer de regresso a Leiria no final do espectáculo.

No programa estava incluído o jantar, bufet, no restaurante do próprio casino. Depois do jantar, andámos um pouco por ali a ver as máquinas e os jogadores.
Tinha uma imagem escurecida de um casino. Nunca na vida tinha entrado naqueles ambientes. 
Entrei sem medos de perder ou ganhar dinheiro. Não iria jogar,  nem arriscar o meu dinheiro naquelas máquinas.

Um salão grande com todo o tipo de máquinas. Alguns jogadores sentados procuravam a sorte. Pessoas pouco identificadas com a penumbra do local. Havia diversas máquinas e diversos preços.

Cada jogador aposta com uma esperança, ganhar e multiplicar os ganhos, mas os prémios parecem ser apenas uma miragem.
Nestes recantos senti medo. Medo de quem se arrisca a perder tudo com a ilusão de ganhar.

Segurei, com mais força, o braço da minha mulher e caminhamos para outra zona sem jogo. Uma área mais aberta, com mais luz e indicando já a entrada para o salão do espectáculo.

Senti-me mais leve, com uma respiração mais cadenciada.
Mas se eu não ia jogar nem tinha intenções disso, porquê tanto nervosismo...??  Sem querer absorvi parte daquela ilusão que se vive junto de cada máquina.

Entrámos na sala do espectáculo e sentámo-nos. Era o 3º balcão.
Mal me sentei, os meus intestinos começaram a dar uma volta. Fortes dores de barriga e bátegas de suor que corriam livremente  pelo rosto e um pouco por todo o corpo. 
Nunca me havia acontecido uma situação destas...

Disse à minha mulher que estava mal disposto e ela segredou-me que saísse e procurasse uma casa de banho, rapidamente.
Passei por detrás das duas filas de cadeiras, desci três lanços de escadas e perguntei a uma das empregadas onde era o WC.
- Além, pergunte aqueles empregados junto da entrada.....

Quase nem foi preciso perguntar mais nada. Indicaram-me  o caminho com muita delicadeza.
Quase a rebentar entrei, fechei a porta e libertei-me daquela aflição. 
- Que alívio e que liberdade...!

Se a liberdade tem preço, hoje senti o seu valor.  
Aprendi ainda quanto vale uma decisão na hora exacta.
O meu grande prémio estava ganho. Com suor, é certo, mas o resultado final, deixou-me muito feliz.
Se me atrasasse mais uns minutos, nem sei bem o que teria acontecido...mas dá para imaginar...

Hoje, revivendo aqueles acontecimentos, dá para rir... parece anedota...mas, na hora, as cores eram muito diferentes. Ufa....
Luíscoelho

sábado, 12 de novembro de 2011

25 - aniversário









Mensagens de rosas, imagens, frases, recados de rosas para orkut


Vinte anos é muito tempo
Com mais cinco ainda mais
Desejamos-te o dobro 
E o dobro desse dobro 
Ou talvez ainda mais. 


Não te damos ouro nem prata
Nem coisas que isso comporte
Mas desejamos-te muita saúde 
Bons amigos, muita vida e boa sorte
E tudo aquilo que a vida tem 
Se souberes viver com Norte.


Beijinhos de todos nós aqui presentes
Recordando os que no tempo são ausentes. 
Luís Coelho, Zézinha, David,Vanessa e Zé Tó


(poema à minha filha que hoje completa um quarto de um século) 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Maria (primeira parte)


(foto google)

Menina e moça a trouxeram da sua aldeia, da sua casa e da sua família. Prometeram-lhe um mundo de felicidade e bem estar. 
Era uma moça vistosa, bonita e simpática.
O patrão, era um homem rico. Viúvo há bastantes anos, desde o nascimento da sua filha. 
A Maria cedo se viu dona de uma casa que não era a sua. Sozinha tinha de dar conta da cozinha, dos quartos e das roupas. Era muito trabalho.

O patrão era dono de uma das casas mais ricas desta região. Era uma casa agrícola mas tinha também uma parte comercial. Revenda e comércio de adubos, roupas e mercearia.
Havia trabalhadores fixos e outros que eram assalariados ao dia ou à semana. Trabalhadores a seco. Não tinham direito às refeições.

Cedo a Maria viu as manhas e artimanhas do patrão. Estava sempre a exigir mais trabalho sem recompensa nem pagamento.
Nesta casa não havia horários para os empregados terem os seus dias de folga ou as horas para descanso. Tinham de estar sempre disponíveis para todo o serviço e com boa cara.

Cedo a Maria conheceu a violência do seu amo que a forçava e a violava a seu belo prazer sempre que lhe apetecia.
Ela era franzina e não conseguia fazer-lhe frente e ele era manhoso e mau. Depois de a trancar num quarto obrigava-a a todas as sevícias de que era capaz. 
No fim exigia silêncio absoluto

A Maria vivia assustada pelos abusos diários e pelas dores que lhe causava, mas deixou-se vencer pelo medo. 
Se falasse ninguém iria acreditar nas suas palavras. Ele era um empresário rico e muito temido. 

Em troca do silêncio foi-lhe prometendo uma casa. 
- Um dia serás uma senhora e poderás viver a tua vida!...
A Maria viu outras moças serem abusadas pelo patrão e aqui as ameaças foram ainda maiores e mais graves.
- Se abrires a boca mato-te. Ficarás sem nada do que te prometi e ninguém acreditará no que disseres....

Foram longos anos de sofrimento silencioso até ao dia em que o velho morreu. Ela também tinha envelhecido. Estava magra e nem as roupas escondiam o seu corpo gasto. 
Pensava no seu íntimo - Agora, que irá ser de mim...?!
As filhas são herdeiras de tudo. Ele não passou de um mentiroso que se aproveitou de mim.

No testamento apareceu uma doação de "usufruto" de uma casinha em ruínas para a Maria. Por morte dela esta casinha pertenceria aos netos do falecido. 

Depois do funeral do patrão a herdeira mais velha, viúva e sem filhos, mandou a Maria, empregada, para a rua. 
- Tens a tua casa vai para lá... Aqui não ficas...
Esqueceu-se de uma vida de trabalho e dos abusos de que ela foi alvo. Ingratidão!... 
-Vou viver de quê...??? Ninguém me pagou, não me fizeram descontos para a Caixa de Previdência...

- A Senhora sabe dos abusos que o seu pai me fez? Julga-me culpada? Engana-se. 
Fui vítima, sem ninguém para me defender....Não podia falar, nem podia fugir....O mal estava feito e todos os dias eu tinha de suportar as dores e o desgosto sem me conseguir libertar daquelas garras.
- Não quero saber de mais nada, respondeu-lhe a herdeira. Hoje mesmo vais sair daqui. Desenrasca-te!

A Maria mudou-se levando consigo algumas coisas que lhe foram oferecendo. Reparou a habitação. Construiu uma casa de banho, e uma pequena horta.

Um dia vieram os herdeiros desta casa com uns papeis para  ela assinar, conta a Maria.
- São coisas das Finanças, não se preocupe. É uma hipoteca. 
Na sua boa-fé assinou sem ler nem pedir ajuda aos entendidos.
A Maria assinou a sua renuncia de usufruto em favor dos herdeiros.
Passados alguns meses, como os herdeiros não pagaram as dívidas, a casa e o quintal foi vendido em hasta pública.

Agora anda desesperada e nem sabe o que vai ser da sua vida.
- Enganaram-me, abusaram-me e agora despejam-me na rua sem nada... A vida foi madrasta má.
- Que mundo cão....que vida triste...
Não se vêem as lágrimas... percebe-se a sua dor e desilusão.
As cores são de um sangue ainda vivo a manchar-lhe os dias ....
Luíscoelho
Nov/2011