sábado, 31 de outubro de 2009

As coisas que não esquecemos


A nossa Escola Primária tinha início em 07 de Outubro todos os anos.
Sou da era de 1950.
Hoje chamam-lhe Escola do Ensino Básico.
Nem sei porque lhe mudaram o nome. Hoje muitos meninos já sabem tantas coisas quando vão para a Escola. O básico aprendem nos Infantários.
Logo de manhã saíamos para a Escola correndo pelos carreiros e caminhos e juntando-nos aos outros meninos que faziam a mesma caminhada.
Numa sacola às costas levávamos o caderno do deveres, os livros e uma ardósia.(pedra)
A ardósia era um pequeno quadro onde nós fazíamos os exercícios com a ajuda de um ponteiro. Fazíamos, apagávamos e voltávamos a fazer até que estivesse bem feito e certo.
Lembro ainda a mãe a perguntar:
_Vejam se levam aí o caderno dos deveres !......Neste caderno eram marcados pela professora todos os trabalhos que tínhamos de fazer em casa.
Hoje dizem - TPC -
Quantos dias fizemos os nossos trabalhos à luz da candeia e outras vezes com a luz da fogueira. Nem sei como conservávamos os cadernos ainda tão limpos........
Ai se algum de nós se esquecesse...... Não havia contemplações nem desculpas.
A Senhora Professora era uma pessoa muito importante e não tinha que dar satisfações a ninguém.
_ Hum ! Esqueceu-se ?.... Dê cá a sua mão !
De uma assentada levava logo umas réguadas. Até se perdia todo o frio que pudesse haver.
Se houvesse um laivo de que não doeu bastante, a Senhora Professora pedia a outra mão e então a dose era a dobrar.
Queixar-me ? A quem ?
Se dissesse alguma coisa em casa ao pai ou à mãe então era o fim. Ainda apanhava mais!......
Castigos que nem é bom lembrar.
Entrava-se às nove horas e sentados dois a dois em cada carteira ali estávamos até às dez e trinta minutos. Havia um intervalo para o lanche.
Esta segunda parte era até às doze e tinta minutos. Vínhamos a casa comer uma sopa e voltávamos novamente para lá.
Recomeçávamos às catorze e terminávamos às dezasseis horas.
Não havia intervalo pois tínhamos de copiar os trabalhos para casa.
A nossa professora naquele tempo tinha todas as classes na mesma sala. Da primeira classe até à quarta classe. Não sei como fazia tudo mas a verdade é que o ia conseguindo.
Ninguém fazia barulho. Nem pensar em ser muito esperto pois era castigado e logo na hora.
Na quarta classe, o último ano tínhamos já decorado o nome de todos os rios e seus afluentes de Portugal Continental e os principais rios das Ex-Colónias Prtuguêsas do Ultramar.
Decorávamos ainda as linhas de Caminho de Ferro de Norte a Sul do País. As Serras e as cidades portuguêsas.
Decorados ainda todos os pronomes, advérbios, verbos irregulares e ainda a História de Portugal= nome e cognome dos Reis, e ainda as regiões e a sua fauna e flora.
Relembro os nossos jogos de rapazes na hora do recreio.
Para além do pião e do arco, lembro o jogo das nações.
Este jogo era característico e ajudava-nos a decorar os nomes de todas as nações
Fazíamos círculos na terra e dentro de cada circulo ficava uma nação representada por um aluno. Quando uma nação invadia o circulo da outra começava a guerra. No meio da batalha pedia-se ajuda a outra nação aliada e os invasores faziam o mesmo. A luta só terminava quando o invasor entrasse novamente no seu circulo.
Jogo do =agarra e foge= ou o jogo da barra/ bandeira. Uma Bandeira era posta num ponto guardado pelos soldados.
O inimigos procuravam conquistá-la e logo que lhe deitavam "a unha" fugiam. Depois seguia-se a perseguição para reavê-la.
Não havia aulas de música nem ginástica, mas depois destas corridas estávamos bem de saúde.
Ninguém ficava amuado ou parado num canto.
O jogo da peçonha também era divertido e proporcionava-nos momentos de grande esforço físico.
Havia ainda o jogo de =saltar ao eixo= e =saltar à corda=
Jogo de tracção = uma corda e seis ou mais de cada lado a ver quem cedia primeiro ao esforço.
Por vezes, lá aparecíamos com uns arranhões nas pernas, braços ou mesmo na cabeça, mas ninguém ficou doente por isso e criámos grandes amizades que ainda hoje conservamos.
Não havia papás a levarem os meninos à escola. Cedo aprendemos o caminho e mesmo sem relógio nunca chegámos atrasados.
Bons tempos !........
luiscoelho.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Aos poucos sinto que nos afastamos
Tens o futuro nos teus olhos azuis
Tens garra nas tuas iniciativas
De quanto vivemos e sonhamos.
Corres apressadamente pelo dia
Trabalhando e lutando sem parar
Aperfeiçoando os conhecimentos
Presentes ou passados a renovar.
Sabes como te amo e te quero bem
Sem reclamar nada do que te dei
Para que fizesses uma boa viagem.
Lamento quando não tive tempo
Para cantarmos juntos as tuas baladas
Dedilhando a viola nas noites de Inverno
Revivendo a saudade de amor fraterno.
Lamento quando não tive tempo
De jogarmos às damas ou monopólio
E até das bolinhas de sabão ao vento.
Agora deves correr, amar e viver
Carregando as malas da vida a sorrir.
Guardo a saudade de te ver partir
Que escondo nos dias de te ver chegar
E também aquele desejo de te acompanhar
Vivendo e sentindo todos os teus passos
Emprestando-te um ombro nos fracassos
Procurando mais as pequenas vitórias
Mostrando sempre esse bom coração
luiscoelho

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As coisas que ouvimos contar

O Pai casou no ano de 1943.
Estiveram três anos à espera que recuperasse de uma constipação na garganta. Fez tratamentos no Hospital Termal Rainha D. Leonor nas Caldas da Rainha.
Concluiu as obras aqui em casa e a partir do dia seis de Março desse ano passou a viver aqui com a Mãe. Ambos organizaram a sua vida e a sua casa como puderam e com o que cada um possuía.
Todos os dias à noite o Pai ia visitar o seu irmão mais velho, o Joaquim e os sobrinhos bem como a cunhada Joaquina que ele considerava como sua mãe.
Alguns dias sentados à lareira perdiam-se em conversa enquanto a Tia Joaquina fazia a ceia.
A Mãe ficava sozinha em casa e começou a sentir-se mal pois parece que o Pai a trocava por outra família. Um dia encheu-se de coragem e disse-lhe:
- Luís, assim não pode ser. Não me casei contigo para me deixares aqui sozinha. Se queres ir visitar os teus familiares vai, mas não ficas por lá tanto tempo, porque quem fica mal sou eu.
Aos poucos o Pai foi vendo e aceitando o conselho da Mãe e finalmente acabou por desistir de os visitar todas as noites.
As nossas raízes não são fáceis de esquecer.
Admirei sempre a frontalidade da Mãe conversando, chamando a atenção e resolvendo os problemas na hora certa.
E se o Pai não tivesse ouvido o alerta da Mãe o que teria acontecido....?
Fez hoje 66 anos que nasceu o Henrique, o mais velho dos quatro e a vida também ajudou o pai a ligar-se cada dia mais à sua própria família.

domingo, 25 de outubro de 2009

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Uma pereira carregada de frutos e ao mesmo tempo com novas flores o que só deveria acontecer na Primavera. Estamos a 25 de Outubro de 2009.

Estrelas cadentes


Hoje vi uma estrela cadente
Caindo lá perto onde moro.
Parei ali naquele instante
Pois a estrela espalhava luz
Num rasto de puros diamantes
Que o olhar atento seduz.
Tanto brilho me chamou à razão
Fui a correr colher uma pedra
Que queria guardar numa mão
Pensei logo colher muitas mais
Sem ver onde poderia encontrar
Tão belos e reluzentes cristais.
O amor são estrelas vivas
Que passam pelo nosso olhar
Quando amamos e somos leais,
São diamantes de rara beleza
Que desejamos cada dia mais
Como dons de alta nobreza
luiscoelho

tenho sede

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Tenho sede dos teus beijos
No meio do nosso jardim
Quando nos nossos desejos
Dizias que me amavas assim

Tenho sede do teu abraço
Tão apertado e gostoso
Quando nele me enlaçavas
Com carinho tão charmoso

Tenho sede do teu olhar
Quando nele me prendias
Com aquele brilho constante
Sempre que tu querias

Tenho sede da tua mão
Quando a minha segurava
Bem perto do coração
Do modo que eu gostava

Tenho sedo do teu andar
Tão graciosa e bonita
Meus pensamentos paravam
Por seres bela e pequenita

Tenho sede muita sede
Do amor que nós vivemos
Só depois de o perdermos
Vimos o valor que lhe demos.
luiscoelho

sábado, 24 de outubro de 2009

Painel de azuleijos representando a vida no primeiro Moinho de Papel em Leiria - 1411
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sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Vem beijar-me

Porque me bates com palavras
Me insultas com o olhar
E te esqueces de falar ?
Sabes bem como te amo
E corro para te abraçar
Vem agora me beijar.
Porque me prendes com silêncio
Nesta dor que não tem fim
Por saberes tudo de mim
Porque só te sei amar ?
Vem agora me abraçar
Deste mundo nada mais quero
A indiferença eu não tolero
Pois só quero ficar contigo
E que sejas meu amigo
luiscoelho

acordar

Quando os dias nascem belos
Acredito no Sol nascente
Procuro em cada momento
A vida na sua corrente
Com mais alegria e sabor
E que me dê de presente
Música em sons de movimento.
Quando os dias nascem belos
Não quero ver a tristeza,
A fome e tanta pobreza
Espalhada pelos ventos
Nos pântanos da maresia.
Quando os dias nascem belos
Acredito na aragem fresca
Que nos beija em segredo
Afagando os pensamentos
Onde desaguam os rios
De acordar em cada dia
Na paz dos bons momentos.
luiscoelho

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Esperança

Muitas madrugadas lidas
De poemas e prosas tecidas
Na alvorada que os dias acordam
Sonhos belos, simples e pequeninos
Como uma criança a renascer.
Querendo um dia ser alguém
Amar, construir ou ir mais alem
Nas coisas que a vida mostra
Nos sonhos como nascentes
Transformados em correntes
De desejos e alguma sorte.
Destino, estrada ou caminho
Fado, sorte em pergaminho
E tudo faz com muita arte.
Parte na aventura da esperança
Tão pura no olhar desta criança
Procurando longe e perto
Quanto seu coração alcança.
luiscoelho


sede de amar

Madrugada calma de recordações frias,
Noites perdidas em viagens vividas,
Pensamentos emergentes e inconsequentes
Momentos e movimentos parados no tempo.
Quero agarrar e abraçar esta madrugada
Quero guardar para sempre na alma do vento
Que me leva e me trás como presente
Aquele silencio que se rasga sentido e lento.
Madrugadas cantadas, choradas
No desejo que nasce gemendo o dia,
Arrastando em voos que agora se fazem
Aos santuários onde os desejos jazem
Corroídos pela indiferença cega que mata
Mas nunca aos vivos seus desejos farta.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Posted by PicasaDepois do almoço fui ver os antigos colegas. Desde o dia 01 do corrente mês que estou deste lado. Voei para a liberdade. Não tenho horários de trabalho para cumprir.
Uma recepção calorosa e uma saudade que fez doer.
Deixo aqui algumas flores do meu jardim agradecendo a simpatia, amizade e fazendo votos de que as boas coisas da vida nunca acabem. Saudoso abraço.

Liberdade

Hoje vou sair de casa
Na hora que entender
O tempo que quiser
Vou visitar os amigos
Os novos ou mais antigos
Para a todos abraçar.
A noite foi muito longa
Acordei sobressaltado
Por sonhos magoado
Revi-me novamente
No lugar de antigamente
Quase a ser humilhado.
Sei que isso não é verdade
Não suporto a falsidade
Nem a dormir nem acordado.
A amizade é um tesouro
Que guardo bem guardado
Cá no fundo do meu peito
A amizade é pura e bela
Pois nunca se vê defeito
Mas em tudo se revela.
Já aprendi a voar
Bem alto, longe desta janela
E no silêncio sobrevoar
O olhar desta e daquela.
luiscoelho

terça-feira, 20 de outubro de 2009

As nossas romãs estão quase maduras
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quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Encontro de Amigos Em Arrimal - Porto Mós - 2009/09/26

Posted by PicasaOs verdadeiros amigos
Nunca esquecem as raízes
Conservam as suas origens
Vivendo em diferentes países.

sábado, 3 de outubro de 2009

O Poema Acontece

O meu poema acontece na noite escura
Caminhando pela estrada à procura
Daquele olhar com o sorriso de saudade.
O meu poema acontece na paixão adormecida
Transportada no vento e de asas guarnecida
Daquele amar que no tempo dá felicidade.
O meu poema acontece nas rosas dos jardins
Florindo sempre mais belas que os jasmins
Daquele amar que o amor não quer perder.
O meu poema acontece em cada madrugada
Mais fino e mais belo que a própria alvorada
Naquela luta que o meu desejo será vencer.
O meu poema vai correndo como um rio
Formando muitas gotas num só fio
Murmurando em cada canto o seu lamento
O meu poema vai caindo lentamente
Nestes traços de papel teimosamente
Transformados na força do pensamento.
luiscoelho

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Aposentado

O meu último dia, chegou com uma madrugada morna. Um Outono diferente de tudo o que estamos habituados pelos dias quentes e secos.
Neste Outono o calor parece vir de África, cheio de mistérios e magia nestas madrugadas coloridas que nos enchem de sonhos e desejos.
O meu coração estava mais apertado e as pulsações eram a triplicar. Por vezes tinha que respirar fundo para me controlar e nunca deixar de sorrir aos meus amigos e colegas de profissão. Amigos de longas datas e muitas histórias. Companheiros nas guerras e lutas.
Sempre prontos a recomeçar em cada dia. Ultrapassando divergências e vivendo todos no mesmo ideal. Aprendendo sempre mais, para melhor servir .
A Segurança Social é dar e receber
Foram quase quarenta anos.
1970 - Serviço Militar em África - Guiné
1975 - Jnaneiro - Escola Comercial. Em Setembro ingressei na carreira de Administrativo na Caixa de Previdência e Abono de Família do Distrito de Leiria.
1976 - Contencioso
1980 - Contabilidade e Contas Correntes.
1986 - Secção de Processamento de Doença
1988 - Secção de SVIP - Juntas Médicas para a reforma por Invalidez
1992 - Secção de OPII- Organização de Processos para a reforma por Invalidez ou Velhice
2009 - Final da caminhada.
Balanço final
Muito bom. Muita camaradagem.
Espírito de partilha e responsabilidade. Interajuda e novos conhecimentos.
Fiz parte da história desta casa e dos seus contribuintes e beneficiários.
Vivemos a alegria das nossas lutas por salários mais justos e partilhámos a tristeza quando perdemos alguns benefícios. Assistência na ADSE. - Número de anos e mais idade para a aposentação. Mais objectivos e classificações pouco justas e pouco claras.
Erros - Era impossível não os cometer.
Não poderei julgar os meus Chefes directos ou indirectos. Se nem tudo foi perfeito como seria este desejo final devo olhar também pelo que aceitei sem reclamar, pelo que disse sem pensar e por tudo o que fiz menos perfeito ou incompleto.
Neste abraço final incluo todos os Funcionários que ficam e continuam a nossa obra e todos quantos já partiram. Todos estarão sempre no meu coração.
Para todos envio um abraço - o maior que algum dia sonhei poder oferecer.
Um obrigado a todos pelo carinho, simpatia, dedicação, amizade e respeito que fizeram destes dias e anos os melhores da minha vida.
Um beijo que nunca nos nos esquecerá e dará força a quem tem de continuar.

Entreguei o requerimento no dia 2009/07/03 ao início da tarde. Telefonei duas vezes para a CGA e fui bem atendido. Dia 26 de Setembro, ligaram-me para casa, a informar que estava tudo concluído. Dia 27 de Setembro chamaram-me à Secção de Pessoal para me dar conhecimento do fax a informar os Serviços que a partir de Outubro/2009 seria pensionista. Dia 28 de Setembro telefonei à minha chefe e dei-lhe conhecimento (a Guida estava de férias). Aos poucos fui arrumando a secretária e dizendo adeus a todos. Dia 30 de Setembro as minhas colegas da Secção fizeram-me uma surpresa com um lanche para todos. Foram saindo e deixaram-me só. Limpei a secretária e as gavetas e peguei nos meus sacos e saí tão feliz como quando entrei em 1975 tambem neste mês.

Luís Rodrigues Coelho

(luis.r.coelho@hotmail.com)