domingo, 31 de janeiro de 2010

socialismo...?

recebi esta manhã este e-mail.



"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade. Cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber. O governo não pode dar para alguém aquilo que não tira de outro alguém. Quando metade da população entende a idéia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."
Adrian Rogers, 1984

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

procurando as letras

Posted by Picasa
Construo um poema enquanto leio
E busco em ti as letras que me faltam
Nas palavras suaves, finas e delicadas
Nas sombras que deixaste desenhadas
E nas canções que cantaste por amor
Quero escrevê-las todas num só canto
Onde não entre o desgosto nem pranto
E tudo seja amor com muito encanto.

Seguindo o risco das letras nas palavras
Refaço a vida, soltando os pensamentos
Recordo as imagens vividas em viagens
E encontros trazidos com os ventos
Recordações de frescas paisagens.
Outros dias perdidos de ausência triste
Sonhando cantavas alegres melodias
Tão belas e certas nos cantos que fazias
Que o nosso olhar nesse canto se perdia
Pensando em ti, a mais bela das meninas

luiscoelho

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Nora da vida



A tarde acabava, a luz se esvaía
Numa penumbra lenta quase vazia
Seguindo apressada os passos do tempo
Passados e presentes neste movimento
Que agora acordava triste e tão lento
Num sono pesado onde nada se via.


O mar agitado que em azul se afunda
De amor puro que nos banha e fecunda
Traz as noites vadias perdidas no vento
Que se rasgam em silêncio e encantamento
Da vida passada num só pensamento
Onde tudo e nada em desejo redunda.


E a noite teima em adormecer o luar frio
Que se espalha ao redor sem arte nem brio
Tantos momentos que se querem viver 
Que nem em pensamentos se podem ver
E aquele amor que na hora fugiu
Foram sonhos e água que da nora caiu.


A noite continua os sonhos perdidos
Nos dias de luta e angustia sofridos
Por todos amada e nunca esquecidos


luiscoelho

domingo, 24 de janeiro de 2010

Cabelos brancos





Recordo os teus cabelos de prata
Finos e longos, esvoaçando ao vento
Tecendo lembranças de fina traça
Alongando os dias de suave encanto
Lembrando figuras em movimento
Cheias de amor, luz e sentimento.


Recordo os teus cabelos brancos
De ondas suaves presentes do tempo
E da chuva que esconde todo este pranto
Correndo em cascatas de pensamentos
Enchendo a alma de gratas saudades
De amor que que foi vida e felicidade.


Recordo os teus cabelos suaves e finos
Escondendo as rugas de marcas profundas
Que marcam a dor do amor sem destino
Como sombras que lhe seguem os rastos
Que trocaram  as esperanças antigas
Pela verdade cruel de serem amigas.
luiscoelho

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Padre


Posted by Picasa


Henrique Fonseca, nasceu a 07/Abril/1931. Depois de concluir a Escola Primária entrou para o Seminário onde estudou e entregou a sua vida a Deus.
Homem simples, trabalhador e muito dedicado à obra de Deus, da Igreja e dos irmãos.
Os seus ouvidos e o seu oração pareciam procurar constantemente a paz e a concórdia e também a bondade e a misericórdia de Deus. Sabia ouvir!
Não dava conselhos como quem despacha uma receita. Levantava questões para que pudéssemos pensar e tomar as melhores opções e atitudes.
Viveu como peregrino, sempre com a sua bagagem pronta. Ia para onde fosse necessário ou o seu superior o enviasse.
Recordo-o como meu professor de História e nestes últimos anos com Pároco aqui na nossa terra.
Aqui criou grandes amigos que acompanhou com grande simplicidade e desprendimento.
Era fácil colher o seu sorriso, mas era impossível torná-lo inimigo de alguém. Só tinha uma preocupação falar de Jesus a todos e transmitir-nos aquela força interior que o levava a amá-Lo com todas as suas forças e dons espirituais.
Recordo-o no funeral de um rapaz que era de outro grupo religioso - Jeovás - Dispensaram os seus serviços, porem, acompanhou o cortejo fúnebre até ao cemitério rezando em silêncio.
Rezou por aquele rapaz como rezava diariamente  por todos nós.
Muitos padres e pastores desta Igreja viva deverão tê-lo como exemplo. Procurou servir e nunca servir-se da sua posição para alcançar honras ou bens materiais.
Nasceu sem nada e parte  apenas com a saudade de tudo o que a ele nos ligava.
Ontem partiu na sua última viagem ao encontro do seu grande amigo JESUS
Jesus abre-lhe as portas do descanso eterno onde repousam os bons e os justos.
luiscoelho 

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pagas e não bufas

Esta semana, saí cedo de casa, para ir fazer uma transferência bancária.
Quando estava para introduzir o cartão, reparei que a máquina Multibanco dizia = em manutenção = 
Como estava numa dependência do Banco, e estava na hora de atendimento ao público, dirigi-me ao balcão pois a transferência, tinha um caráter urgente.
Dirigi-me a um funcionário muito novo ainda, e muito concentrado também no seu trabalho.
Depois de lhe explicar que tinha muita urgência em fazer aquela transferência. A minha filha, estava à espera daquele dinheiro para pagamento de propinas e outras despesas.
Simpáticamente respondeu:
- Posso fazer-lhe a transferência, mas vai ter custos. Informou!
- Mas, eu não tenho culpa, que a caixa multibanco não funcione. As contas são deste mesmo banco. Respondi!
- Mas estas, são as nossas regras, retorquiu
Parece-me que seria lógico, o banco fazer aquela transferência, dado que a máquina estava avariada ou em manutenção. 
O tão apregoado serviço de atendimento ao cliente ficou apenas no papel e, os meus pontos de vista, não coincidiram com os do funcionário do banco.
«Se queres ...pagas...e...não bufas!»
Saí porta fora e fui procurar outra caixa multibanco.
Não sustento chulos que nos sacam os últimos cêntimos.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Os pensamentos formam um rio


Os pensamentos formam um rio
Correm velozes no tempo presente
Trazem-me as tuas lembranças amigas
E aquele perfume desfeito na mente
Que eu canto agora ao sol e ao frio
Com muita tristeza mas sempre com brio

Os pensamentos têm mãos que não servem
Não seguram nem prendem a felicidade
Daqueles momentos que felizes se vão
Na corrente do tempo que ao amor se devem
Porque assim quisemos com toda a verdade
Amar perdidos e ficar retidos só por lealdade.

Os pensamentos têm pés que não andam
Que vieram perdidos na corrente do rio
Fazendo a lembrança num tempo passado
Repetindo os passos de um tempo vadio
Eles fazem as ondas onde nasce o desejo
Caindo na areia sedenta por um só  beijo
luiscoelho 

sábado, 16 de janeiro de 2010


Posted by Picasa

Virgínia Rodrigues

A Virgínia, era a quarta e a última filha do casal Rodrigues Carnide.
Na data em que nasceu, início de 1900, eram poucas as meninas, nestes meios rurais, que iam à escola aprender a ler e a escrever. Estas coisas das letras eram só para os rapazes.
A Virgínia teve sorte, talvez por ser a mais nova. Frequentou e com bom aproveitamento a Escola Primária até ao final da terceira classe.
Contavam por aqui, que a Senhora Professora, não tinha nenhuma escola aqui nesta terra onde casou. 
Foi o seu marido, que em terrenos seus, lhe mandou construir uma casa, com uma sala de aulas, bancos e carteiras para que pudesse leccionar aqui na terra, que passou também a ser sua pelo casamento.=  Encarnação Mota Pereira
Nestes tempos o Ministério da Educação não andava à guerra com os professores e estes faziam o que era possível e também os impossíveis, pelos seus alunos.
O objectivo principal do Professor, era que todos os alunos aprendessem e que nunca faltassem à escola. Sabiam ensinar-lhe regras de saúde e boa educação, desporto e cortesia, respeito e ajuda.
A Virgínia andava tão feliz na escola que decorava tudo e cedo começou a escrever sem erros.
Aquilo que muito gostava eram as suas brincadeiras nos recreios. As cantigas de roda....e então aquelas amigas novas com quem gostava tanto de estar.   
Um dia, a professora, mandou-lhe um recado para a sua mãe vir à escola, falar com ela..
No dia seguinte, a Srª Emília, estava lá com a sua filha.
- A Srª Professora mandou-me chamar e, eu quero saber, se a minha "piquena" fez algum disparate. Se fez, pode castigá-la à vontade, continuou a Srª Emília.
- Não se trata nada disso. Pelo contrário, a sua menina é uma óptima aluna!...
Chamei-a cá, porque quero pedir-lhe que a deixe cá ficar até fazer o exame da quarta classe. Continuou a Professora.
-Oh! oh!...Nem pense nisso, retrucou a Srª Emília. 
A minha filha, já sabe ler e escrever e já lhe chega o que sabe. Preciso dela em casa para me ajudar!....
Por mais razões que a Srª Professora lhe apresentasse a decisão estava tomada.
Chegaram as férias e a menina arrumou os livros.
As sua canetas, agora, passaram a ser outras. Cedo, iria ver as suas mãos delicadas a ficarem feridas com os trabalhos de casa e nos campos. 
Manhãs a cavar terra dura, para semear a horta ou, a lavar a roupa no ribeiro. 
Não se esqueceu dos livros que sempre guardou com muito carinho, mas nem aos domingos podia sentar-se e ler aquelas histórias que a tinham fascinado na sua meninice.
Ouvi a saudosa mãe contar esta história muitas vezes.
Guardei os livros que encontrei e de quando em vez gosto de os abrir e sonhar no tempo.
luiscoelho

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

escrever - AMOR



Quero escrever-te  um poema
Com a luz que vejo nos teus olhos
Esventrando-me em desejos
Que se cruzam num dilema.
Quero escrever-te amor quero
Com a tinta vermelha dos meus dedos
Colada no encanto dos teus beijos
Onde escrevo todos os meus desejos
E tantos, tantos dos meus medos
Desenhando as feridas e os sonhos
Onde o amor é a força e é o tema
Daquilo que já  vivemos e amámos
Quero, quero amar-te com as letras
Estas que tu vês e que perdidas ficam
Nos desejos que do silêncio gritam
Nos sonhos que me prendem e se agitam
Quero amar-te hoje e em toda a parte
Soltando tudo quanto eu quero dar-te
Com amor e tudo mais se tiver arte
luiscoelho

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A ceifa do trigo


Amanheceu lentamente numa temperatura invulgar. Os primeiros raios de Sol, entraram-nos pelo quarto, fazendo-nos esconder num jogo de ir, ou ficar mais um pouco, naquele conforto.
A ansiedade venceu. Saltámos da cama para viver mais um dia na quinta.
Esfregámos os olhos e vestimos roupa para andar no campo.
Nesta altura, já o avô havia ordenhado as vacas e, agora, andava a levar-lhe molhos de feno seco, para irem roendo durante a manhã.
Corremos para a cozinha. A avó já devia ter a fogueira acesa. 
Tudo era encanto e deslumbramento.
Aqueles troncos a arder com grandes panelas de ferro à volta. Coisas da avó!
Estávamos em finais de Julho e, as temperaturas durante o dia são muito altas.
Toda esta zona, no coração da Beira Alta apresenta esta característica: - Muito frio ou muito calor.
Naquela manhã, o tempo estava simpaticamente agradável e parecia-nos estarmos num clima mediterrânico.
Na mesa grande da cozinha havia café quente  e outra bilha com leite também quente.
Havia ainda na mesa, fatias de presunto, pão e queijo fresco, paio e rabanadas para que todos pudessem comer livremente..  
Com uma mesa assim até parecia dia de festa, mas aqui , em casa da avó, era uma coisa normal.
O Pão era fresco. Foi cozido na véspera, no forno grande, e estava delicioso.
O avô, e outros homens lá da aldeia, trocaram o café por um naco de presunto com pão e beberam duas malgas de vinho da adega.
A Avó, já havia saído para o campo. Hoje era dia de cegar o trigo. Vinham algumas pessoas ajudar e outros vinham ganhar o dia = jorna.
Começavam o trabalho, ainda antes do nascer do Sol. Se tudo corresse bem e ninguém lhe faltasse deveriam cortar metade da seara.
Acabámos o  pequeno almoço, e fomos também para lá.
Os ceifeiros, formavam uma linha recta e dobrados para o solo, iam cegando com a foice (citoira) o trigo maduro.
Para trás, ficavam pequenas camadas de palha que a "Canalha" os mais novos, iam juntando para se fazerem  os molhos. 
Os homens mais mais velhos, com um desembaraço desconhecido, escolhiam uma mão cheia de palhas que dividiam em duas partes e retorcendo-as faziam o "vencilho" para apertar os molhos.
O Sol, já ia alto, quando pararam para uma pequena merenda. Muitos, vinham sem tomar o pequeno almoço e era costume fazer esta pausa.
Recomeçaram logo de seguida mas, a fadiga e o calor, parecia desanimá-los.
Então, a avó, vendo a situação de cansaço, começava uma cantiga e todos cantaram com ela. Homens ou mulheres todos cantaram num coro próprio.
De quando em vez levantavam as costas para aliviar a dor e para respirar com outra intensidade.
Este canto, parecia dobrar a seara na ondulação triste das vozes.
Um dos mais novitos ia com a bilha da água  ou com o pichôrro do vinho, correndo o grupo, para quem quisesse beber.
Paravam ao meio dia, e iam almoçar a casa. Contavam uma hora para o almoço, e outra para a sesta. Aquele descanso, era como que um recarregar de baterias. Alguns diziam:
_O almoço foi bom mas, a sesta foi ainda melhor!
As tardes, eram talvez mais pesadas, pelo calor e também pelo cansaço.
A meio da tarde, paravam novamente para uma "bucha" - merenda.
Sentavam-se como podiam e de preferência à sombra. A Ti Carminda, servia-lhes uma fatia de pão com uma posta de bacalhau frito, com ovo e farinha de trigo. Quem não gostava, comia queijo fresco ou presunto e, também havia, quem comesse de tudo.
A merenda, demorava mais ou menos 30 minutos.
Oh pessoal isto não é sesta!...Temos de ir ao trabalho....Dizia um dos mais velhos.
O tempo, começava a arrefecer e, as cantigas ao desafio iam ao rubro. Imaginação e escárnio de uns para os outros, até por vezes à desconfiança.
A noite, vinha suavemente e o cansaço tomava conta de todos.
Oh Ti Carminda, não fazemos serão hoje.....Aqui não se ouvem as trindades... dizia um outro....amanhã tambem é dia......e assim sucessivamente para concluir o dia.
Vocês é que sabem! Quando quiserem podem ir. Já não se vê.... respondia ela!
A canalha, já tinha desaparecido com a cegueira da brincadeira.
A avó, trazia o cesto com os restos da merenda, pousava-o num canto da cozinha e começava a fazer a ceia.
Num pote de ferro ao lume coziam as batatas, enquanto cortava as folhas de couve muito finas para o caldo verde. Parecia que a avó não tinha andado por lá a cegar o trigo, pois fazia tudo com desembaraço e sempre a sorrir para todos.
Alguns mais velhos, ajudavam a pôr os talheres na mesa e, entretanto estava a ceia pronta.
O avô, que tinha ido tratar das vaquinhas e ordenha-las já estava também a chegar.
Depois da ceia, o cansaço chamava-nos para a cama, mas a avó, ainda iria ficar mais tempo arrumando tudo e preparando as coisas para o dia seguinte.
Mais tarde, vieram as máquinas e faziam tudo mais rápido e sem tanta despeza, mas o avô partiu e os campos ficaram ao abandono.
Hoje, recordamos aquelas datas e todos aqueles sabores mas, nada mais podemos fazer naqueles campos cobertos de mato.
luiscoelho 

terça-feira, 12 de janeiro de 2010


Em finais de Novembro, a Beladona, oferecia-nos este espectáculo colorido. Agora depois da geada ficou reduzida a uns talos pretos.
Posted by Picasa

Partidas


Não há palavras nem conforto
Nos presentes há dor e sofrimento
Nos que partem há luz e pensamento
E Deus será o nosso entendimento
As estrelas brilham no firmamento
Oferecendo-nos olhares errantes
Elas são dor nestes dias inconstantes
Que sangram vivos cá por dentro
Nesta vida que se some e nos consome
Aumentando a nossa dor e aquela fome
Devorando os nossos dias com ausência
Não quero guerras vespertinas
Quero amar tudo quanto tu amavas
Viver os sonhos que nos davas 
Ouvir a música no som da tua voz
Naqueles cantos que fazias para nós
Quero viver a vida que tiveste 
Na partida repartida e sempre agreste
Quero amar a vida com vigor
Com a força que nos dá a própria dor.
luiscoelho

domingo, 10 de janeiro de 2010

Raízes

No planalto da encosta de Penedono, com vista para a Serra da Lapa e para a encosta de Sernancelhe, vivia a família Amante Paixão.
Pessoas simples, honestas e lutadoras. Como se dizia na altura, juntaram os trapinhos e foram viver numa daquelas casas modestas, com uma única divisão. Em poucos metros quadrados, adaptaram  a sua vida de todos os dias.
A lareira, ficava cerca de 30 centímetros abaixo do nível do sobrado da casa. No outro extremo em frente da lareira,  ficava uma cama com algumas mantas tecidas de farrapos.
Na parte inferior da casa, acomodavam os animais, bois ou um burro se houvesse
Sentados no sobrado, aqueciam os pés à lareira, enquanto a mulher cozinhava o caldo das couves para a ceia.
Pobreza muito sofrida, no meio daquelas serranias ventosas de longos Invernos com neve branca ou o calor quente e seco do Verão.
As grandes pedras, que faziam as paredes exteriores da habitação, eram travadas por outras pedras mais pequenas e também por algum barro amassado para tapar as frestas maiores.
Procuravam ainda encostar a construção a um penedo de granito, para se protegerem dos ventos gelados do Inverno.
Os dias, começavam cedo e geralmente já com as tarefas previamente combinadas para cada um.
Vieram os filhos que rapidamente encheram a casa e lhe conferiram mais vida diariamente.
Dividiram então o exíguo espaço com uma divisória de madeira, de um lado para os pais e do outro para os filhos. Até à idade escolar, dormiam todos juntos.
A primeira, de oito filhos, nasceu em 1921. Menina desembaraçada e de uma inteligência prodigiosa.
Cedo começaram a dar-lhe as tarefas de casa e de cuidar dos irmãos.
Quando devia ir à escola para aprender a ler, os pais,  já tão habituados aos seus trabalhos que lhe recusaram esse direito. A menina, nem duvidou da bondade de seus pais. Aceitou em silêncio e viu todos os seus irmãos mais novos a aprenderem a ler e a escrever.
Eram muitos à mesa e a menina já sabia fazer muitas coisas. Decidiram então, mandá-la servir para uma casa de senhores abastados.
 Mais uma vez, aceitou aquelas ordens, sem perguntar porque tinha de ser assim. Porque tinha de ir para longe dos seus irmãos ?
Os anos foram passando e os rapazes da aldeia andavam de olho na moça. 
Desembaraçada e sempre procurando aprender todas as coisas que lhe pareciam ser o melhor dote de uma donzela. Aprendeu a fiar o linho e depois a tecê-lo.
Aprendeu a fazer a sua própria roupa e a apresentar-se sempre bem cuidada.
Tinha sempre a resposta pronta e certa. Nunca se envergonhou de dizê-la bem alto, se fosse necessário.
O pai, quis fazer-lhe o casamento com um moço rico e bem parecido. Desta vez,  a rapariga não aceitou e opôs-se mesmo ao seu pai.
Não meu pai, não quero casar-me com esse rapaz. Há coisas que o pai não vê. 
A Carminda estava muito longe de imaginar a triste sina que a esperava dois anos mais tarde.




                                                       2ª Parte


                                                  
Passado algum tempo, a Carminda apaixonou-se de verdade. Os seus pais concordaram com este casamento. Existia uma preocupação. Casar os filhos e deixá-los "arrumados" .
Quando se tratava de raparigas, a preocupação dos pais, ainda era maior.
A escolha caiu sobre um moço sem pais e carpinteiro de profissão. Bem falante e bem parecido de olhos azuis  e um porte elegante. Vivia na casa que era de seus pais e foi para lá que levou a noiva.
Trabalhavam ambos no campo, procurando aí a sua subsistência.
Numa horta que cultivavam para lá do ribeiro plantavam e colhiam as hortaliças para confeccionar a sopa.
Carne, só a comiam quando o Caciano caçava um coelho ou outra peça que enxergasse por perto.
Os filhos,  vieram encher a casa e dobrar as dificuldades diárias.
Cada dia mais sozinha para tratar da casa, dos filhos e dos campos. O Caciano, tinha mais dias de trabalho por fora, fazendo madeiramentos para as casas ou reparando as alfaias do campo: carros de bois, arados ou mesmo fazendo-os de novo.
A família do Caciano, queria mandar em casa e nos filhos da Carminda, ao que ela, soube impor-se desde a primeira hora, criando lutas e guerras sem nexo que tinham por base a inveja.
O marido, começou também a voltar para casa cada vez mais tarde e sem parte do salário.
Um dia, a mulher, adormeceu os filhos e decidiu ir procurá-lo.
Saíu perdida na escuridão da noite e foi descobrindo o caminho até à taberna.
_Então Caciano, não vens para casa ? Ainda não são horas....? Disse-lhe ela de uma assentada.
Não sabia que as suas palavras estavam a acordar uma fera que se lhe atirou com uma fúria desmedida e quase descontrolada.
 Todos os homens se levantaram e saíram para suas casas.
- A senhora sua mulher tem razão Caciano! É tarde, e nós também vamos embora.
Ele sentiu-se humilhado por este gesto e maltratou-a com palavras frias .
Ela respondeu-lhe muito abertamente: 
- Podes ficar descansado! A partir de hoje, nunca mais te venho procurar. Podes ficar até toda a noite e toda a semana. Gasta tudo quanto ganhaste durante o dia e quando precisares da tua família volta para casa.
Parece que os teus filhos e eu já não temos valor algum................
A custo, guardou as lágrimas que teimavam em sair dos olhos abruptamente, seguindo juntos pelo caminho a coberto da noite.
Durante algum tempo, ele voltava cedo para casa e lá se foram entendendo mas, aos poucos deixou-se vencer pelos comentários dos outros homens e voltou a fazer as mesmas cenas.
Cada dia, com o apoio dos filhos, a Carminda tomava as rédeas do governo da casa, e lá ia procurando viver com o que a terra lhe dava e com um rebanho de algumas ovelhas, que os mais velhos guardavam nos montes. À noite, depois da ordenha, fazia uma coalhada que transformava em queijos muito saborosos. 
Outras vezes, e para fazer face ao crescimento das despesas, vendia alguns sacos de castanhas  ou batatas.
Os ciumes do Caciano, feriam-na demais . Ele,  já não sabia o que lhe dizer.
_ Não vendes mais batatas a esse preço.....não pagam a despesa  e podem faltar aqui em casa......
_ Fica descansado, respondia-lhe. Imagina que é uma parte tua e outra minha. Eu, apenas vendi a minha parte, e sabes onde gastei o dinheiro - em roupa para os nossos filhos.....Aí o Caciano ficava vencido. Os filhos, eram tudo quanto ele mais amava na vida.
Os anos passaram muito ràpidamente e cada dia o desconforto era maior. 
Os filhos começaram a sair de casa. Serviço militar e França. Em quatro anos, casaram quatro filhos.  
O Caciano, pensou também emigrar, mas a saúde já era pouca e a vida era dura demais por lá.
Arrancou do Porto numa madrugada com destino a Estugarda - Alemanha mas, não aguentou um semestre.
Pegou em algum dinheiro que tinha, e pediu a um amigo -" se vais escrever para a tua mulher, manda-lhe este dinheiro e ela que o dê à minha Carminda para comprar pão para os filhos".
Mais tarde, perguntou se ela tinha sido entregue desse dinheiro, ao que a Carminda respondeu:
-Oh Caciano, então tu achas que eles alguma vez me davam o dinheiro...?
Foste dá-lo de mão beijada e de cabeça ôca. Porque não me escreveste tu .....?
As palavras faltavam-lhe e só via que já não podia mais recuperar aquele dinheiro.
Veio ainda para França, onde procurou a sua filha mais velha mas, a saúde foi-se deteriorando e acabaram por lhe comprar um bilhete de comboio que o trouxe para Portugal.  
A sua incapacidade agravou-se ainda com um acidente de caça. 
Numa bela manhã, ao saltar um ribeiro com a arma carregada , esta disparou e decepou-lhe metade da mão direita.
A sua Carminda, com todo o sangue frio que possuía, arrancou o avental e embrulhou aquela mão esfarrapada. Aparelhou o cavalo das primas e correram ambos para o Médico.
Perdeu a mão mas, não perdeu o vício da caça. Logo que as dores abrandaram, lá ia ele novamente em busca de uma lebre ou mesmo um coelho.
Num dia de festa, voltaram para casa já noite. 
O Caciano sentiu-se mal e disse à mulher. Vou me deitar !
Caiu na casa de banho, e ela, sozinha, arrastou-o para a cama, ainda com vida mas, acabaria por falecer em poucos minutos.
Já tinham os seus oito filhos todos casados e tinham passado o último Verão juntos. A situação apanhou-os desprevenidos . 
A mulher, estava muito debilitada mas, com a sua coragem, conseguiu vencer ainda esta última prova.
Arrumou as coisas, e  foi a França visitar os filhos e passar um tempo por lá. 
Hoje, está cansada e doente. A sua casa, ameaça ruir. Os filhos, esqueceram-na. Alguns, querem por força levá-la para um lar. Que será de mim...? Pergunta, entre soluços e lágrimas.
Os lares, podem até ser muito bons mas, eu não gostaria de morrer lá. Dei tudo aos meus filhos e hoje voltam-me as costas porque já não consigo segurar as minhas urinas nem andar com desembaraço.
- Já não presto para nada e não consigo fazer nenhum trabalho....vai exclamando como uma súplica criada no fundo da alma.
Não lhe peço muito. Quero apenas uma sopa e um canto sossegado para dormir.
Acabou de fazer 89 anos no dia 24 de Dezembro.
Nesse dia contou todos os telefonemas que lhe fizeram e quantas prendas recebeu.
Os seus olhos redobraram de esperança. 
Quem sabe se os filhos lhe acarinham este seu último desejo.
Talvez possa viver em paz os últimos dias. 
Esta é, sem dúvida, a prenda que vai guardando só para si mas, que nós adivinhamos no seu olhar quando paramos para lhe ouvir todas estas histórias contadas na primeira pessoa.
Avivámos mais a fogueira que docemente se foi extinguindo.
Afinal, queimamos parte das nossas raízes.
Luiscoelho

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Natal e Ano Novo

O Natal é tão bonito
É uma data sem igual
Nasceu Jesus em Belem
Para nos livrar do mal
Novo ano, vida nova
Diz o povo e com razão
Querendo sempre mais vida 
Que poderá vir ou não.
A esperança brilha de novo
Desejando muito amor
Nascem tantas coisas novas
Que nenhuma seja de dor.
As ofertas terminaram
Como a troca de presentes
De todos fomos amigos 
Sendo agora muito ausentes.
Muitos propósitos fizemos
Alguns erros reparámos
Outros porem esquecemos
Mais rápidos do que devemos.
Estas datas bem amadas
E de todos muito queridas
Sejam sempre respeitadas
E jamais sejam esquecidas 
luiscoelho




quarta-feira, 6 de janeiro de 2010




Jasmim, a beleza e a simplicidade reunidas nesta planta
Posted by Picasa

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

pensamentos partidos

Os pensamentos arrefeceram
Levados na brisa da manhã
Em ondas  paradas de neve
Procurando uma vida loucã.
Divididos e partidos de leve
Os pensamentos soltam gemidos
Presos e muito comprimidos
Na alma triste e sombria.
Voam nos ventos da saudade
No desejo de mais felicidade
Partem cedo deste cais
Soltos e livres de verdade
Procurando talvez outros ais
Noutros cantos com encanto
Repletos de bondade e lealdade.




segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

esste sono

Este sono que me foge
Me acorda e me alerta
Trás um cansaço dobrado
E o olhar me desperta
Nas crianças abandonadas
Nos velhinhos em perigo
Com a esperança destroçada,
Pelas guerras frias e nuas
De palavras sem amor
E sempre, sempre tão cruas
Que só aumentam a dor.
Este sono que me foge
Vagueando pelo tempo
Já me cansa o pensamento 
Por tantos dias vividos
Sem amor sem esperança
Tantas noites a vaguear

Desejando descobrir
A cura para este mundo

Voltar de novo a sorrir
luiscoelho

Santo António dos Olivais - Coimbra
Posted by Picasa


Santo António dos Olivais - Coimbra
Posted by Picasa

domingo, 3 de janeiro de 2010

As poupas

Nos meses de Verão = Julho e Agosto = havia "Doutrina" Junto à Igreja Paroquial de Souto da Carpalhosa. 
Hoje dir-se-ia = aulas de Catequese.
Os Seminaristas em férias ajudavam o Senhor prior nesta tarefa.
Depois do almoço lá íamos nós subindo a encosta das Picotas.
É um monte elevado que nos ficava a nascente e nos encurtava o caminho.
Por outro lado não corríamos o perigo de andar na estrada nacional 109 que liga Leiria à Figueira da Foz. Quase sempre caminhávamos em grupo subindo pelos carreiros de terra batida.
Havia dois salões muito grandes onde sentados em bancos corridos  iamos repetindo em coro todas as orações e actos de Fé, Caridade, Contrição. o Credo, a Salvé Rainha e todo quanto se dizia naquele tempo.
Num dos Salões ficavam os rapazes e no outro ao lado ficavam as meninas.
Devíamos ser mais de 80 no total.
Havia ainda um terceiro salão mais perto da Igreja para os alunos do último ano de Doutrina.
Estes últimos eram preparados para fazer a Profissão de Fé e o Crisma.
Recordo aquelas tardes desses meses em que o calor mais se fazia sentir, mas também ouvindo aquela cantilena que nos fazia pender a cabeça para os lados. 
Os Catequistas batiam-nos com uma cana na cabeça e aí abríamos os olhos num misto de raiva e vergonha.
Terminada esta fase de aprendizagem éramos submetidos a um exame oral = a exemina =
Se soubéssemos tudo passávamos e poderíamos fazer a Primeira Comunhão ou a Comunhão Solene. 
Numa destas tardes seguia com o David, quando nos lembrámos de ir ver se a poupa já tinha os filhotes criados e bons para levarmos para casa.
Meti a mão e o braço na toca da Oliveira e agarrei a primeira. Puxei-a para fora. Muito bonita e já criada. Então com maior desembaraço fui procurar a segunda ave.
Agora acontecia um problema maior e mais difícil de resolver.
Teríamos de voltar a colocar os pássaros no ninho e ir à catequese ou então faltar à catequese e guardar os passaritos.
Optamos pela segunda hipótese.
Ficámos por ali escondidos a guardar os passaritos e fazendo tempo para que os outros voltassem tambem para casa.
Combinámos ainda que este segredo nunca o contaríamos a ninguém. E, assim foi. Respeitámos este acordo e nunca ninguém soube do nosso plano.
Os passarinhos, coitados, acabariam por morrer por falta de alimentação cuidada.
As poupas são muito bonitas mas não se podem engaiolar.
Os nossos pais nunca souberam que nessa tarde nós não fomos com os outros à doutrina
luiscoelho

Queria amar-te na vida

Queria amar-te na vida
Como te amo nos sonhos
Saber-te sempre minha amiga
Nestes dias tão tritonhos.
Queria beijar os teus olhos
No mais fundo que puder
Recebendo o teu sorriso 
Em tudo quanto te der.
Queria olhar-te de frente
Na vida que nos reune
Sem medo de ser ausente
Quando o silêncio presume.
Queria sentir as tua mãos
Procurando os meus segredos
Deixando as minhas em troca
Entrelaçar os teus dedos.
E as nossas bocas cantando
Aquelas canções com vida
Que sendo tão verdadeiras 
Nunca poderão ser esquecidas
luiscoelho

sábado, 2 de janeiro de 2010

Anoitecer

O vento frio e gelado
Anoiteceu os pensamentos
Arrastando-os lentamente
Em ondas furiosas
Que se debatiam serenamente
Nas rochas invisíveis dos sentimentos
Mas continuavam presentes
Em tantos desejos ardentes
Revolvendo íntimos segredos
Habitando-nos como presas.
As ondas de maior ausência
Voltavam sempre ao passado
Dos nossos planos secretos.
O cansaço venceu 
A dor daqueles momentos
E adormecendo sonhou
Coisas lindas de outros tempos. 
luiscoelho



sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010

Amanheceu devagar
E o vento soprou com dureza
Na chuva a lavar a terra
Mas trouxe ao coração a certeza 
E o desejo de muita paz.
Nossos olhos se fixaram 
Na busca de mais amor 
Acordaram com o frio da manhã
Fugindo sempre da dor.
A esperança amanheceu
Mais suave e musical 
Afagou as cordas dos pensamentos
De belo som divinal 
O Sol foi surgindo amarelado
Despedindo-se do Ceu estrelado
Como um sonho foi ficando
Neste desejo de um Ano Novo
Mais próspero e renovado
luiscoelho