segunda-feira, 26 de outubro de 2009

As coisas que ouvimos contar

O Pai casou no ano de 1943.
Estiveram três anos à espera que recuperasse de uma constipação na garganta. Fez tratamentos no Hospital Termal Rainha D. Leonor nas Caldas da Rainha.
Concluiu as obras aqui em casa e a partir do dia seis de Março desse ano passou a viver aqui com a Mãe. Ambos organizaram a sua vida e a sua casa como puderam e com o que cada um possuía.
Todos os dias à noite o Pai ia visitar o seu irmão mais velho, o Joaquim e os sobrinhos bem como a cunhada Joaquina que ele considerava como sua mãe.
Alguns dias sentados à lareira perdiam-se em conversa enquanto a Tia Joaquina fazia a ceia.
A Mãe ficava sozinha em casa e começou a sentir-se mal pois parece que o Pai a trocava por outra família. Um dia encheu-se de coragem e disse-lhe:
- Luís, assim não pode ser. Não me casei contigo para me deixares aqui sozinha. Se queres ir visitar os teus familiares vai, mas não ficas por lá tanto tempo, porque quem fica mal sou eu.
Aos poucos o Pai foi vendo e aceitando o conselho da Mãe e finalmente acabou por desistir de os visitar todas as noites.
As nossas raízes não são fáceis de esquecer.
Admirei sempre a frontalidade da Mãe conversando, chamando a atenção e resolvendo os problemas na hora certa.
E se o Pai não tivesse ouvido o alerta da Mãe o que teria acontecido....?
Fez hoje 66 anos que nasceu o Henrique, o mais velho dos quatro e a vida também ajudou o pai a ligar-se cada dia mais à sua própria família.

6 comentários:

  1. Linda, esta peregrinação ao passado, cheia de encantamento e de judiciosos conselhos a quem quer viver feliz num lar onde impera a tolerância, a compreensão, o respeito mútuo!

    UMA LIÇÃO MAGISTRAL!

    ResponderEliminar
  2. Estas narrativas pessoais são muito do meu agrado. São reveladoras da nossa matriz e, se contadas desta forma quase íntima, têm ainda mais valor.

    Abraço
    João

    ResponderEliminar
  3. Palavras sublimes!Palavras cheias de conhecimento por meio de sentidos de uma determinada realidade.

    Bjo,
    Fatima

    ResponderEliminar
  4. Recordar é viver. Parabéns ao teu irmão Henrique pelos seus 66 anos.

    Um abraço

    ResponderEliminar
  5. Histórias de vida que são a nossa memória.
    Gostei.
    Um abraço

    ResponderEliminar
  6. Gostei dessa frontalidade da tua mãe. No seu ato, deu provas de ser tolerante - ao expor o seu desencanto depois de algum tempo - e de saber abordar o problema com firmeza. Assim as coisas se resolvem bem...

    ResponderEliminar

Cada comentário é uma presença de amizade