sábado, 16 de janeiro de 2010

Virgínia Rodrigues

A Virgínia, era a quarta e a última filha do casal Rodrigues Carnide.
Na data em que nasceu, início de 1900, eram poucas as meninas, nestes meios rurais, que iam à escola aprender a ler e a escrever. Estas coisas das letras eram só para os rapazes.
A Virgínia teve sorte, talvez por ser a mais nova. Frequentou e com bom aproveitamento a Escola Primária até ao final da terceira classe.
Contavam por aqui, que a Senhora Professora, não tinha nenhuma escola aqui nesta terra onde casou. 
Foi o seu marido, que em terrenos seus, lhe mandou construir uma casa, com uma sala de aulas, bancos e carteiras para que pudesse leccionar aqui na terra, que passou também a ser sua pelo casamento.=  Encarnação Mota Pereira
Nestes tempos o Ministério da Educação não andava à guerra com os professores e estes faziam o que era possível e também os impossíveis, pelos seus alunos.
O objectivo principal do Professor, era que todos os alunos aprendessem e que nunca faltassem à escola. Sabiam ensinar-lhe regras de saúde e boa educação, desporto e cortesia, respeito e ajuda.
A Virgínia andava tão feliz na escola que decorava tudo e cedo começou a escrever sem erros.
Aquilo que muito gostava eram as suas brincadeiras nos recreios. As cantigas de roda....e então aquelas amigas novas com quem gostava tanto de estar.   
Um dia, a professora, mandou-lhe um recado para a sua mãe vir à escola, falar com ela..
No dia seguinte, a Srª Emília, estava lá com a sua filha.
- A Srª Professora mandou-me chamar e, eu quero saber, se a minha "piquena" fez algum disparate. Se fez, pode castigá-la à vontade, continuou a Srª Emília.
- Não se trata nada disso. Pelo contrário, a sua menina é uma óptima aluna!...
Chamei-a cá, porque quero pedir-lhe que a deixe cá ficar até fazer o exame da quarta classe. Continuou a Professora.
-Oh! oh!...Nem pense nisso, retrucou a Srª Emília. 
A minha filha, já sabe ler e escrever e já lhe chega o que sabe. Preciso dela em casa para me ajudar!....
Por mais razões que a Srª Professora lhe apresentasse a decisão estava tomada.
Chegaram as férias e a menina arrumou os livros.
As sua canetas, agora, passaram a ser outras. Cedo, iria ver as suas mãos delicadas a ficarem feridas com os trabalhos de casa e nos campos. 
Manhãs a cavar terra dura, para semear a horta ou, a lavar a roupa no ribeiro. 
Não se esqueceu dos livros que sempre guardou com muito carinho, mas nem aos domingos podia sentar-se e ler aquelas histórias que a tinham fascinado na sua meninice.
Ouvi a saudosa mãe contar esta história muitas vezes.
Guardei os livros que encontrei e de quando em vez gosto de os abrir e sonhar no tempo.
luiscoelho

8 comentários:

  1. Boas recordações meu amigo.
    A escola a que te referes e que como bem sabes ficava a poucos metros da casa dos meus pais, acabou por cair em ruinas.Quando eu era "puto" ainda lá entrei algumas vezes á procura de cadernos e livros que tinham ficado abandonados.
    Gostei de me teres feito recordar a escola velha...

    No momento em que comento o teu post estou a poucos metros da tua casa mas não tarda nada tenho de regressar "á base". Ainda querias ir ás festas de Sto Amaro comprar um bolo para os meus pais mas com esta chuva tenho medo que me caia o resto do cabelo.

    Um abraço

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  2. Meu amigo
    Comovente história, mas antigamente era mesmo assim.

    Beijinhos
    sonhadora

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  3. Uma historia de familia,bonita .Ainda por aqui se faz isso,familias de poucas posse escolhem um filho pra estudar,os outros contentam-se com o que a vida lhes-dê,as mulheres são as menos favorecidas,aprendem cedo a costurar,bordar,cozinhar enfim prendeas domesticas;tambem precisam casar logo,tudo isso é questão de cultura.Agradeço a Deus por ver que estão mudando os pensamentos por cá.nós mulheres estamos preparando nossas filhas e netas pra vencer,inclusive o preconceito;luigar de mulher é sim na cozinha...mais por prazer e não por imposição cultural e familiar.
    Linda sua historia,poderia ter tido um final diferente.
    Tudo que fazendo,pensamos ou sentimos precisa e deve ser livre,e espontaneo pra ser bom. abraços de paz amigo.

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  4. desculpe a mensagem a cima caiu duas vezes por isso eliminei.

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  5. Há um tempo em que é preciso
    abandonar as roupas usadas,
    que já têm a forma do nosso corpo,
    e esquecer os nossos caminhos,
    que nos levam sempre aos mesmos lugares.
    É o tempo da travessia:
    e, se não ousarmos fazê-la,
    teremos ficado, para sempre,
    à margem de nós mesmos

    Fernando Pessoa

    Te desejo um lindo domingo com muito amor e carinho
    Abraços

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  6. Olá Eduardo
    Felizes dos que têm um passado e o vivem num presente de paz e harmonia.
    Recordo tudo quanto me fez ser homem e marcaram um caminho seguro.
    Retribuo os votos de bom fim de semana.

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  7. Mais uma excelente história!
    Quanto ao Ministério da Educação daquele tempo se preocupar com a nossa formação e não criar conflitos com os professores, isso é outra história...

    Abraço
    João

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